CHACE LAWSON
É sempre decepcionante quando perdemos um jogo.
É irritante e estressante, para dizer o mínimo.
Enxergamos no rosto dos nossos torcedores o quão triste eles estão com a partida que
fizemos e tudo torna mil vezes pior. — Houve algum aspecto específico do jogo que contribuiu para a derrota dos Octopus? —
a jornalista pergunta para nosso quarterback. — A outra equipe jogou muito bem, precisamos reconhecer os méritos dela. Houve
momentos em que poderíamos ter mudado a nossa abordagem, e isso é algo que vamos analisar — Clyde responde, calmo como sempre, mas sei que ele está pensando em mil formas de isso
não acontecer de novo. — Como os jogadores estão lidando emocionalmente com a derrota? — Dessa vez a
mulher olha para mim, buscando uma resposta. — É sempre frustrante não ganhar uma partida, mas usaremos esse sentimento como
motivação para melhorar. — Vamos vencer o Super Bowl! Esse é o pensamento obsessivo dos
Octopus. — Complementando o que Clyde disse, essa derrota nos mostrou áreas em que
precisamos de melhoras, e vamos trabalhar nisso.
A mulher parece satisfeita com a resposta. — Agora uma pergunta mais pessoal, Lawson. — Automaticamente estremeço. Todas
essas perguntas passam por Gracie, minha prima, agente e publicitária. O que ela teria deixado
passar? — O mundo da música e do futebol enlouquece semana passada com sua resposta no
podcast. A amizade entre você e Ocean sempre foi comentada na internet, e quando era
questionado, nunca deixou de expressar o quanto a admirava como uma irmã, mas na última
segunda-feira, parece que houve uma mudança brusca no seu posicionamento. Diga-me, seria
possível o sonho de muitos fãs ser verdadeiro e vocês estarem apaixonados um pelo outro?
Sorrio forçado, querendo matar Gracie Kostel.
Trabalhar com família é uma merda!
Quem deixou ela cuidar da minha carreira? Amor de primos o caralho. — Somos melhores amigos ainda. — Tento buscar algo que os convença disso. — Ainda — a jornalista frisa, sorrindo. — Você deixou claro que tem um crush em Ocean.
Maldita seja a minha prima que permitiu essas perguntas! — De qualquer forma, eles são apenas bons amigos e não têm nada a esconder. — Clyde
me salva ao responder, colocando o braço ao redor do meu ombro. — A amizade deles é a força
do nosso garotão aqui.
É claro que a mulher quer perguntar mais sobre, não só pelo engajamento que dará para a
emissora, mas porque está extremamente curiosa. Minha sorte é que o tempo de entrevista acaba. — Vamos? — O quarterback aponta para a saída da sala de entrevistas.
Quando estamos fora da vista dos jornalistas, aperto seu ombro e lhe lanço um meiosorriso.— Obrigado! — Não foi nada, cara! Sei como esses jornalistas podem ser vampiros com sede de sangue — brinca enquanto caminhamos até o vestiário. — Seu desempenho no jogo não tem nada a ver
com Ocean não ter comparecido, né?
Nego.
Minha amizade com a loirinha parece ter voltado ao normal, como se nada do que eu disse
naquele quarto antes que ela saísse correndo de mim, tivesse acontecido.
Ela passou a semana dirigindo o clipe de seu último single, e parecia animada com todos
os spoilers, fotos e gravações que me mandava. Feliz e normal, como se eu não tivesse feito
nada.
Ocean, provavelmente, nem deu importância ao que falei.
Conseguir conquistar ela será mais difícil do que imaginei. — Fica tranquilo! Ela não veio nos últimos cinco anos, e meu desempenho só melhorou.
Uma coisa não tem nada a ver com a outra.
Clyde solta uma risadinha. — Eu sei. Só estou provocando.
Ele pisca antes de entrar no vestiário.
Não consigo evitar e pego meu celular no bolso da calça, pronto para enviar uma
mensagem para Ocean, quando vejo que já tem uma não lida na caixa de entrada.
Meio-metro mais fofo do mundo: Estou na sua casa com uma compressa de gelo para seu
tornozelo machucado e o frago frito que tanto ama, não demore. Você deu tudo o que podia
hoje, não se chateie.
Apenas uma mensagem e tenho vontade de chorar ao mesmo tempo que quero apertá-la
contra meu peito e não soltar mais.
O jeito que seu contato está salvo faz todo sentido, porque ela é o meio-metro mais fofo do
mundo.
É por atitudes como essa, que a amo mais do que apenas um amigo.
Não é apenas um desejo sexual ridículo.
Ocean é paciente, gentil, cuidadosa e move o mundo para ver quem ama feliz. Ela sabe
como fico triste quando perco um jogo, não é mau humor, é triste para um caralho porque sinto
que não dei tudo de mim.
Eu e a loirinha temos isso em comum.
Queremos sempre dar o nosso melhor em tudo, mas quando decepcionamos pessoas que
nos admiram, seja em um álbum de músicas novas ou em uma partida de jogo, nos sentimos
péssimos.
Eu nunca conseguiria deixar de amar essa mulher.
Ela me conhece melhor do que eu mesmo.
Entro em casa e sou recepcionado pelo cheirinho gostoso do frango frito que sou
completamente apaixonado. Consigo perceber só pelo aroma, que Ocean os comprou no meu
restaurante favorito e isso me arranca um sorriso. — Você demorou. — A loirinha está sentada no sofá com um balde da minha comida
favorita e o balança com um sorriso no rosto. — A sua sorte é que chegou agora.
Caminho até o sofá e me sento ao seu lado, ainda conseguindo retribuir o sorriso que ela
me lança. — Sabe como me mimar, hum? — E isso me deixa ainda mais apaixonado.
Pego um frango e mergulho no molho em cima da mesinha de centro. Levo à boca sem
dizer nada, me sentindo mesmo um lixo humano pelo jogo perdido.
Sei que teremos mais oportunidades e que foi apenas uma partida ruim, mas, poxa... Podia
ter sido melhor.
Ocean coloca o balde ao lado dos potinhos de molhos e se vira para mim, abrindo seus
braços logo em seguida. — Vem. — Convida. — Sou toda sua hoje.
Não.
Ela não é toda minha.
E acho que no fundo, a loira sabe disso.
Mesmo assim, me aninho ao redor de seus braços, ignorando o fato de ser 30 centímetros
mais alto do que ela e muito mais largo com meus músculos. Chega a ser engraçado seus
bracinhos finos ao redor do meu corpo. — Não se culpe tanto, foi uma diferença de dois pontos.
Tenta me consolar, só que aí vai um probleminha sério em Ocean Bailey: ela é ótima com
letras de músicas sobre amor, paixão e perda. Perfeita em me adular. Corajosa em se jogar em
seus relacionamentos com o coração aberto. Mas ela é péssima em consolar uma pessoa, até
mesmo se esse indivíduo for seu melhor amigo, que conhece desde quando nasceu. — Sempre são os malditos dois pontos. — Foi assim no Super Bowl passado e neste jogo
também. — E você continua péssima em consolar uma pessoa.
Ela bate nas minhas costas e me afasta, demonstrando uma expressão ofendida em seu
rosto.— Só estou sendo realista, não é o fim do mundo, e vocês nem foram desclassificados. —
Ocean pega um pedaço de frango e mergulha no molho, e em um piscar de olhos, estou com ele
enfiado na minha boca. — É melhor você comer, assim não fica falando o que não sabe. Sou
muito boa com as palavras, um amor de pessoa.
Dou risada do seu convencimento, mastigando a comida que ela me dá na boca neste
instante. — Segura. — Manda. — Você não é mais um bebê.
Termino de mastigar antes de falar, mas não o seguro. — Seu melhor amigo perdeu o jogo. Por que você não o alimenta direito? — A olho com a
minha expressão mais pidona possível.
Ela revira os olhos. — Você é muito abusado — ela retruca, mas não nega meu pedido.
A loirinha se aconchega melhor no sofá e coloca uma almofada em seu colo, batendo nele,
me convidando para deitar sobre ela. Neste momento, sinto-me como se tivesse ganhado uma
partida de futebol, e não consigo esconder meu sorriso quando deito minha cabeça na almofada.
Ela é perfeita.
Eu a amo. — Depois diz que não sabe por que parece um cachorrinho. — Ela move sua mão livre até
meu cabelo e começa a acariciar meus fios enquanto aproxima a mão que segura o frango até
minha boca e me alimenta. — É tão carente e mimado, que não sei como sua mãe o aguenta há
27 anos.
Semicerro os olhos em sua direção e enquanto mastigo, faço cosquinhas em sua barriga,
arrancando risadas dela.
Como assim não sabe? Ela me aguenta por todo esse tempo também. — Ai! Para com isso. — Ela manda e eu obedeço, como sempre. — Como está seu
tornozelo? Pareceu feio quando você caiu.
Quase fecho meus olhos com o carinho que ela permanece fazendo nos meus cabelos. — Não foi tão ruim assim. — A tranquilizo. — Estava vendo o jogo? — É claro. Acha mesmo que eu perderia? — Me aninho melhor em seu colo, amando
poder voltar a dividir esses momentos mais íntimos com ela. E fico um pouco mais tranquilo
vendo que nada mudou nesses cinco anos em que não compartilhamos tanta intimidade por conta
de seu ex-namorado. Será que minha loira também sentiu falta? — Sinto muito pelo jogo, sei que
para você, é importante ganhar cada partida.
Sorrio de lado. — Vai ser melhor da próxima vez. — É claro que vai. — Soa animada. — Você é Chace Lawson.
Se eu sou o maior fã dessa loirinha, ela é a minha maior fã, e isso nunca mudou. — Nesses cinco anos, você sentiu minha falta? — pergunto, pois tenho dificuldade de
manter tudo guardado para mim.
Já basta guardar o que sinto por ela. — Que tipo de pergunta é essa? Nunca paramos de nos falar.
Será que explico? Ou deixarei tudo muito evidente?
Apesar de ter decidido que vou demonstrar meu interesse e tentar conquistá-la, não quero
que Ocean se assuste e corra de mim como fez naquela manhã. — De dormir comigo, de me abraçar a cada momento, de sermos mais íntimos. — Fodase, ela precisa começar a perceber que eu senti falta, e não foi como um amigo. — Que tipo de pergunta é essa? — Ela bagunça meu cabelo. — Se serve de consolo, senti
sua falta, Chace. Estar com você é sempre como estar no meu lar, sabe? Confortável, familiar e
seguro.
Sinto em suas palavras o quanto ela me ama, mas não como a amo.
Isso é tão... decepcionante. — Tinha ciúmes do Mark? — Ela é direta e se eu estivesse comendo, teria me engasgado.
É claro que eu tinha, só não sei se estamos falando do mesmo tipo de ciúmes.
— Não gosto dele. — Não é uma mentira, odeio aquele cara. — Bom... eu também não gosto mais dele — comenta, com um sorriso travesso nos lábios.
Que vontade de beijá-la!
Tenho certeza de que é melhor eu nem saber como é beijar essa boca, pois ficaria viciado
no momento em que a tocasse com a minha. — Então, você sentia ciúmes de Mark. — Ela me tira dos meus desvaneios quando
continua falando.
A loira aperta minha bochecha como se eu fosse uma criança. — Fofo! Achou que eu abandonaria meu melhor amigo por causa de algum homem?
Sentia sua falta também, por isso minhas brigas com Mark se tornaram mais frequentes.
Meu coração acelera.
Ela ao menos tem noção das coisas que fala? — Como assim? — Não sou idiota, sabia que não gostava dele, mas queria estar contigo mesmo assim.
Tanto que, na última vez que vim na sua casa, nós brigamos porque ele não achava certo eu me
encontrar sozinha com outro homem.
Filho da puta.
Por isso ela não veio me ver na outra semana, como prometeu que viria. — Então, eu cansei... Se o cara que estou não pode aceitar e nem faz o possível para
entender minha relação com você, então não o quero na minha vida.
Isso está errado. Eu que deveria estar conquistando o coração dela, não a loirinha me
deixando ainda mais apaixonado do que já sou. — Saiu com alguém nesses últimos dias? — pergunto, pois além da ideia do sexo casual,
Ocean não me disse nada sobre novos encontros. — Conhece Liam Cole? — O ator? Sinto medo do que ela vai falar a seguir quando
movimento a cabeça em um sim. — Ele me convidou para jantar ontem à noite, mas não rolou
química. — Você foi?
Sento-me no sofá no automático e a encaro, um pouco zangado.
E a história de “vou ser solteira para sempre”?
Ela dá de ombros. — Sou solteira, por que não iria?
Porque você é minha!
O pensamento obsessivo me vem à mente sem que eu consiga controlar. — Por que não iria? — Forço um sorriso ao repetir sua pergunta.
Preciso agir ou então essa mulher vai achar que está apaixonada por outro carinha, que por
sinal, o odiarei assim que me apresentar como namorado.
— Estou bem, não precisa ficar fazendo isso — falo pela terceira vez nos últimos cinco
minutos em que Ocean está passando a compressa de gelo no meu tornozelo. — Nem está
doendo mais. — Deixa de ser resmungão.
Sorrio, e então desisto de insistir. Eu gosto quando ela cuida de mim, não vou mentir.
A loirinha cuida do meu tornozelo com muito cuidado, me fazendo arrepiar quando suas
mãos pequenas e delicadas encostam em alguma parte da minha perna.
Acabamos vindo para o quarto depois de esvaziar o balde de frango, e admito que não
conversamos muito depois que ela me falou sobre o encontro com o tal Liam. Não consigo
esconder quando algo não me agrada, e é por isso que quebro o silêncio no cômodo: — O que quer dizer com “não rolou química”? — Hum? — Ela fica sem entender por um segundo, até que parece compreender quando
pensa um pouco. — Ah, sobre o Liam... Só não rolou. Ele é legal, até mesmo um cara divertido,
mas não senti atração alguma. Se continuarmos nos encontrando, podemos ser apenas bons
amigos.
E lá vai ela colocar outro cara na friendzone.
Ocean deveria escrever uma música de como é boa nisso. — Entendi...
Ela larga a compressa de gelo no chão e pula ao meu lado na cama. Tento evitar olhar para
o pijama curto que está usando esta noite, só que é difícil quando o short sobe um pouco mais do
que o necessário.
Maldita atração.
Meu pau fica duro só de imaginar tudo o que faria se ela me permitisse, e a minha sorte é
que tem o lençol e a coberta por cima, tapando qualquer volume que poderia ser visto pelo lado
de fora.
Ocean também se cobre e se aninha ao meu lado, descansando a cabeça no meu peito e
abraçando minha cintura.
Muito bom ela não ter sugerido uma conchinha, seria extremamente complicado explicar o
porquê não posso abraçá-la por trás.
Respiro fundo.
Estou tão fodido! — O que foi? Você está toda hora suspirando. — Por sua causa! Não sei o que fazer por
sua causa! — Não é nada, meio-metro. Vamos dormir — sugiro e passo meu braço ao redor do seu
ombro, levando minha mão até seu cabelo e começando um cafuné, do jeitinho que fazia quando
éramos mais novos. Ela sempre gostou muito disso. — Obrigado por ter vindo aqui hoje!
Significa tanto ter ela ao meu lado, que nem me lembro mais o motivo pelo qual estava tão
irritado quando saí do jogo. — Sempre estarei aqui para abraçar você quando as coisas estiverem difíceis.
Sorrio fraco e beijo o topo da sua cabeça.
Eu poderia dormir abraçado a ela pelo resto da minha vida, e tenho certeza de que Ocean
não faz ideia disso, mas quando estamos dessa forma, me sinto o homem mais sortudo por ter tal
intimidade com a mulher que amo.
Talvez, no fundo do meu coração cafajeste, exista um homem romântico que gostaria de
viver seu romance com a única mulher que se imagina. — Ainda está brava comigo? — pergunto baixinho antes de pegar no sono. — Por causa
do podcast. — Não fico brava com você por muito tempo. — Isso é bom. — Mas por que disse aquilo? — Porque eu facilmente ficaria com você. — Ela estremece sob meu corpo e sinto que
tudo paralisa ao meu redor com as palavras que saíram da minha boca. Fui sincero pela primeira
vez depois de apenas sentir por tantos anos. — Você é o meu tipo, Ocean. O tipo de mulher que
eu não ficaria apenas por uma noite, a única que poderia me fazer assumir um relacionamento,
que seria capaz de me fazer usar um terno e subir no altar. Você sempre foi a única para mim.
O silêncio ensurdecedor começa a me sufocar, mas não me arrependo de dizer essas
palavras. Passei anos guardando isso para mim e agora estou cansado.
Ninguém sabe como é ver a mulher que você ama namorando um cara que não é você.
Agora imagina passar por essa dor cinco vezes? Imagina ter que acenar, sorrir e desejar
felicidade, quando, na verdade, está sentindo raiva e vontade de socar a cara do filho da puta
sortudo? Não, ninguém faz ideia de como é essa sensação.
Não sei como aguentei isso por tanto tempo.
Durante todos esses anos, saí com diversas mulheres, fodi com várias, mas nunca consegui
tirar Ocean Bailey do meu coração. Essa merda de amor parece ser do tipo insuperável, e estou
cada vez mais irritado com isso. — Acho que é melhor dormirmos — a loira murmura tão baixinho, que quase não escuto.
Não esperava uma resposta diferente dela.
Eu a conheço, sei que levará um tempo, mas pelo menos ela não se afastou de mim.
Tomei essa decisão de dar o primeiro passo e irei sair do estado de covardia. Vou ser
atacante em relação à minha melhor amiga, da mesma forma que jogadores são no campo de
futebol americano.
Na noite do jantar com meus amigos, quando estávamos na cama, mais especificamente
comigo executando meu plano de provocar qualquer reação dela que não fosse me deixar na
friendzone, notei que Ocean me enxerga como homem.
Eu vi.
Foram por míseros segundos, mas foi o suficiente para me deixar duro e quase beijá-la na
cama mesmo. Mas eu enxerguei.
E aquilo, junto com a vontade de não a ver mais sofrendo por caras escrotos e a frustração
por continuar sempre na friendzone, me motivou a tomar essa decisão arriscada.
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Atualizado até capítulo 38
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