OCEAN BAILEY
Eu sou louca.
Confirmo isso ao entrar na área VIP do time dos Octopus, onde Cora e Edie Lawson já
estão sentados, bebendo água enquanto esperam o jogo do filho começar. Sinto que todas as
câmeras do estádio estão sobre mim, o que é bem compreensível, pois estou com a camisa do
time do meu melhor amigo, prestes a ver uma partida de futebol americano entre ele e meu exnamorado.
O que eu bebi?
Foi isso que minha RP gritou pelo celular quando falei sobre a decisão que tomei.
Sou uma pessoa gentil, mas quando me magoam e passo por aquela fase extremamente
triste de “por que isso acontece só comigo?”, consigo me tornar o pior pesadelo da pessoa.
Essa sou eu.
Dona de diversas personalidades que podem, sim, ser o paraíso ou o inferno de alguém.
Às vezes, sinto que Edina finge que esse traço da minha personalidade está morto.
Dei a chance ao Mark de viver o paraíso comigo, então, por que ele, de todos os meus ex’s,
não conheceria o inferno que é me ter como ex-namorada?
Uma música falando sobre meus sentimentos e mostrando como ele foi idiota comigo, não
é nada comparado a aparecer em seu jogo, e torcer para o cara que ele odiou durante nossos
cinco anos de namoro.
O que eu ganho com isso? Matar a saudade de ver meu melhor amigo jogar, é claro, pois
não estou nem um pouco a fim de me preocupar com o Mark. — O dia hoje vai ficar para a história — o Sr. Lawson diz, sorrindo para mim. Ele é tão
terrível, não me admira que seu filho seja igual. — Sente-se, querida, logo o jogo vai começar.
Sento-me ao lado dele e sorrio para o casal que são praticamente meus segundos pais. — Peguei pipoca para nós — Cora avisa, me entregando um saco de pipoca com manteiga. — Estou um pouco nervosa com esse jogo.
— Octopus vai ganhar, querida — Ed tenta acalmar sua mulher. — É claro que vai — afirmo. — Eu até vim vestida a caráter.
Sr. Lawson olha para a camisa do time que tenho desde que Chace começou a jogar e sorri. — Roxo fica bem em você, querida. — Obrigada! — Agradeço.
Também acho.
Amo essa cor e fico aliviada pelo uniforme do time ter essa cor e os detalhes brancos, pois
se fosse preto, seria a coisa mais estranha do mundo. — Edina e seu pai estão bem com o fato de você ter vindo ao jogo hoje? — Ela pergunta. — Meu pai entende perfeitamente e ficou triste por não conseguir comparecer, mas Edina
teve alguns surtos. Tenho certeza de que ela ganhou alguns cabelos brancos com a minha
decisão.
Os dois dão risada. — Seus fãs estão certos por te apelidar de “Terror da Edina”.
Dou de ombros, colocando minha melhor expressão de inocente no rosto enquanto uma
bandeja de bebidas é estendida em minha direção por um dos funcionários da área Vip. Pego o
copo de algum drink e agradeço antes de me voltar para meus tios. — Eu estou de folga, o que ficaria fazendo? — pergunto para eles, justificando minha
vinda. — Prefiro ver meu melhor amigo jogando, já que faz tempo que não tenho essa
oportunidade. — Chace sentiu sua falta — tio Ed diz. — Espero que quando arrumar alguém novamente,
meu filho seja amigo dele para que você possa continuar vindo aos jogos.
Suspiro.
Essa é a parte difícil.
Chace nunca fez esforço para se dar bem com meus namorados. A última vez que
perguntei o que isso significava, ele me disse que era porque todos eram babacas e acabariam me
machucando, que eu não sabia escolher homem. Discutimos muitas vezes por causa desse
comportamento, mas adivinhe? Ele estava certo.
Cheguei a ser traída por um deles.
Esse é o nível da minha lista de ex-namorados.
De covardes a traidores. Tenho de todo o tipo.
Bebo o líquido, sentindo o álcool descer ardendo pela garganta.
Aceno para alguns fãs que estão na arquibancada e não param de apontar a câmera do
celular e acenar para mim. Elas surtam com meu comportamento, me fazendo sorrir. Faço um
coração com as mãos do jeito que consigo, pois estou com minha bebida, e deixo-as ainda mais
surtadas.
Alguns minutos depois os jogadores entram no gramado e meu coração acelera quando
vejo Chace atrás do quarterback do time, com passos confiantes como sempre, e simpático ao
acenar para todos os lados, tentando dar atenção para os torcedores presentes no estádio.
Se me perguntarem por que nunca consegui ficar brava com esse idiota por muito tempo,
terei que culpá-lo. Temos de verdade uma relação incrível, pois todas as nossas discussões que
fizeram com que ficássemos bravos um com o outro, não durou por muito tempo.
Sempre acabamos nos perdoando.
Chace direciona seus olhos na área VIP, e sorri quando nossos olhos se encontram.
Nossa ligação é muito profunda e mesmo agora, faz o meu coração acelerar.
Não sei se pela adrenalina de estar aqui hoje em um jogo como esse, ou porque
simplesmente é meu melhor amigo no gramado, me olhando como se nunca pudesse dar um
presente melhor como este de estar presente no seu jogo.
Mesmo a metros de distância um do outro, consigo senti-lo como se estivesse perto de
mim, bem na minha frente. Ele está feliz porque estou aqui e isso me deixa aliviada.
Sei que as pessoas já devem estar falando sobre nós, mas nunca dei a mínima para o
mundo lá fora, não será agora que darei.
Sempre fomos nós dois contra o mundo, e não é porque somos famosos que mudaremos
isso.
Não me lembrava por que odeio tanto futebol americano.
Não até assistir duas horas de jogo entre os Titans e os Octopus.
Porra!
Esse esporte sempre foi tão violento assim? Tenho certeza de que gerei novos memes para
meus fãs, pois não consigo me conter. Sou uma pessoa muito expressiva, e a cada colisão entre
Chace e um jogador do time de Mark, sinto que meu coração vai parar.
O placar do jogo está 21 para os Octopus e 17 para os Titans.
Para mim, o jogo já pode acabar agora.
Mas ainda falta um quarto de 15 minutos.
Abraço tia Cora, que está tão nervosa quanto eu. — Não está achando esse jogo mais violento do que os outros? — pergunto para a senhora
ao meu lado. — O que você esperava? Seu ex-namorado é quarterback dos Titans e Chace o odeia ainda
mais por ter quebrado seu coração.
Mordo meu lábio para não sorrir.
É engraçado como as coisas funcionam. Há alguns meses, chorei nos braços do meu amigo
porque Mark e eu tínhamos terminado, porque ele não me amava o suficiente para me entender e
querer viver o resto da vida comigo, mas agora... Quando olhei meu ex entrando no estádio mais
cedo, não me causou absolutamente nada.
Sinto-me tão indiferente, que tenho pena dele e de mim.
Dele por ser um estúpido e perder alguém como eu, e de mim, por ter perdido cinco anos
da minha vida com alguém que só me iludiu. Porque foi isso que ele fez.
Foco minha atenção no jogo, observando Chace driblar os defensores dos Titans e com sua
agilidade e força, rasgar a defesa do time rival para acumular as jardas e garantir os avanços para
os Octopus.
Meu amigo é tão expressivo quanto eu e não consegue disfarçar sua cara de emburrado
quando se aproxima de um jogador rival. Consigo enxergar daqui o grandão o fuzilando e,
conforme o jogo avança, tenho receio de que ele acabe sendo expulso da partida por conta das
vezes que aparenta querer avançar em um deles. Sinto que algo está acontecendo, mas não faço
ideia do que seja.
Sei que é um jogo baseado em conseguir território e colisões fazem parte, mas por mais
que não tenha outra forma que meu amigo pode seguir na partida, tenho medo do que pode
acontecer com sua imagem. E se falarem que ele está marcando o time de Mark demais?
O jogo se desenrola com essa tensão estranha que parece ser sentida apenas por mim. No
último quarto, os Octopus continuam na frente e conseguem mais uma vantagem quando Chace
rompe a defesa dos Titans e alcança a zona de pontuação.
Ele faz um touchdown, dando mais seis pontos para seu time.
Solto um grito ao mesmo tempo que tia Cora e a abraço apertado. — A senhora viu aquilo? — pergunto, feliz com a jogada incrível do meu amigo. — Meu filho é o melhor! — Ela não esconde o orgulho.
Os torcedores comemoram, orgulhosos e felizes, pois sabem que a chance desse jogo ser
revertido é nula. A vitória é dos Octopus, e todos sabem disso.
Chace olha para a área VIP e mesmo com o capacete, consigo enxergar seus olhos em
mim, me encarando. Ele aponta para si mesmo, no rumo de seu coração e depois para mim.
Sorrio, sentindo minhas bochechas ficarem vermelhas, enquanto vibrações começam sem
aviso na região do meu estômago, com o gesto de ele dedicar aquela jogada para mim.
Nos próximos minutos, vejo os Titans tentarem reverter o placar, mas não conseguem
porque a defesa do time é perfeita.
O jogo termina e os jogadores do Octopus comemoram a vitória com os torcedores.
De longe, vejo meu amigo com o uniforme de número 31 e, parecendo sentir meu olhar,
ele vira o rosto em direção a área VIP e me encara . Aceno, sem conseguir esconder meu sorriso
orgulhoso.
No telão do estádio minha imagem aparece, mesmo assim, não me envergonho por
demonstrar o quanto admiro aquele cara no campo, e continuo acenando e sorrindo, recebendo
sua resposta assim que ele olha para a filmagem.
Ele acena de volta e retribui meu sorriso.
Sinto olhares me queimando, mas não procuro Mark no campo. A única pessoa importante
para mim nesse estádio, está na minha vida há 27 anos e me conhece como ninguém.
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Atualizado até capítulo 38
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