CHACE LAWSON
Depois de dar todas as entrevistas possíveis para a mídia e desviar das perguntas invasivas
sobre Ocean estar assistindo meu jogo, que foi uma partida contra os Titans, time do exnamorado dela, me sento no banco do vestiário, já de banho tomado. Estou sozinho aqui e feliz
porque ganhamos mais um jogo.
Cole irá buscar Kyle para ir jantar na minha casa. Thomas deve estar com ele enquanto os
outros caras do time preferiram ir para suas casas descansar.
Combinamos de nos reunirmos na terça para um almoço em equipe com o técnico, e todos
concordaram.
Visto minha roupa patrocinada pela Louis Vuitton e pego a chave do carro no meu armário.
Foi um bom jogo, só é uma pena que eu não tenha conseguido quebrar a cara do idiota do Mark
no gramado, já que por conta das nossas posições, não jogamos juntos ao mesmo tempo. Teria
sido mais emocionante.
Ele merece, não só por ter feito minha amiga de trouxa, mas também por ter instruído seus
colegas de time a me marcarem o jogo todo. Anos nesse esporte me deram experiência para saber
o que faz parte da partida e o que não faz. Aquele infeliz, com certeza, quis me ferrar.
Um babaca!
Escuto alguém entrando no vestiário e em seguida aplausos soam no ambiente.
Leva menos de um minuto e Mark Gallagher aparece na minha frente, com o semblante
repleto de deboche e o brilho perverso em seus olhos mais intenso do que quando me encararam
no campo mais cedo. — Veja só se não é o running back que vem recebendo toda a atenção dos holofotes —
comenta enquanto se aproxima. — Tanto do mundo do esporte quanto do mundo da música.
Bato a porta do armário com força e o encaro com cara de poucos amigos.
Sempre o odiei e nunca entendi por que Ocean se apaixonou por um babaca desse, era
óbvio que ele quebraria o coração dela.
— E você é o quarterback que está sendo esquecido — provoco e vejo sua mandíbula se
contrair. Fala o que quer, escuta o que não quer, esse é meu lema. — O que quer no meu
vestiário? — Seu nome está gravado na porta? — Finge surpresa. — Desculpa, não percebi.
Pego minha mochila em cima do banco e dou um passo para me afastar do idiota, mas sou
interrompido pela sua mão no meu peito. — O que você quer? — esbravejo, irritado pra caralho.
Não sou um moleque impulsivo, mas me dá vontade de arrebentar a cara dele. — Está fodendo a Ocean? — pergunta de forma nojenta e com um sorriso perturbado.
Fecho minhas mãos em punho. — Sempre soube que você queria comê-la. — Ele ri e dá
batidinhas no meu peito. — O ciúme em relação a mim, a sua ausência na maioria dos encontros
que ela marcava para nós três, e seu olhar nojento em cima dela, como um cachorro perto de uma
cadela no cio.
Respiro fundo, sabendo que ele só quer me tirar do sério.
Terei muitos problemas se socar a cara desse imbecil. — Somos amigos — friso bem a última palavra. — Meu problema com o relacionamento
de vocês sempre foi você. Sempre soube que é um homem com masculinidade frágil e que não
aguenta uma mulher fazendo mais sucesso do que você.
Ele aperta o tecido da minha camisa, com raiva, mas seguro suas mãos e as afasto da
minha roupa, antes que ele a deixe mais amassada. — E você me prova isso agora, vindo até aqui para arrumar briga porque não aguenta
perder e ser humilhado apenas pela presença da sua ex-namorada torcendo na área VIP pelo
melhor amigo dela. — Sorrio mais aliviado ao ver que o atingi em cheio e dou uma batidinha em
seu ombro, só para deixá-lo mais puto. — Não se preocupe, se algum dia eu tiver a oportunidade
de foder a Ocean, farei de uma forma que ela nunca irá se lembrar que se envolveu com um
brocha como você.
Os olhos do babaca se arregalam, enquanto tenta processar como eu sei disso.
Não é uma mentira, pois me lembro do dia que minha amiga me ligou e disse em uma das
nossas atualizações de fofocas sobre a vida um do outro, que seu namorado havia brochado.
Lembro de ter me sentido vitorioso e pensado que isso nunca aconteceria se estivesse comigo. — Até um próximo jogo, amigo — digo com tanto deboche, que até mesmo um
desconhecido captaria.
Pego minha mochila e caminho em direção à saída do vestiário.
Se tem uma coisa que Ocean ama fazer quando se junta com os amigos, é cozinhar. Ela
saiu do estádio com meus pais assim que o jogo acabou e veio aqui pra casa para fazer o jantar,
porque queria receber eu e meus amigos com pelo menos alguma coisa pronta para matar nossa
fome.
Fico feliz por ela se lembrar que estômago de jogador após uma partida é como um buraco
negro, que só suga comida.
Cole, Kyle e Thomas chegam junto comigo e somos recepcionados pelo cheirinho gostoso
que vem da cozinha assim que colocamos o pé dentro de casa. — Vou mesmo comer a comida de Ocean Bailey? — Kyle pergunta, ainda sem acreditar.
Às vezes, me esqueço o quanto ela é fã da minha amiga. — É bem provável que agora que vocês dois estão juntos, Ocean a adote como uma amiga
— comento, me referindo a ela e Cole, e isso faz a felicidade da modelo. — Inclusive, estou feliz
por vocês finalmente terem assumido o namoro para o mundo.
Fiquei um pouco surpreso quando entrei no Instagram ontem e vi que meu melhor amigo
havia postado uma foto com Kyle e uma legenda de uma das músicas românticas da minha
loirinha.
Os fãs ainda estão surtando com a postagem. — É uma pena que Kyle não tenha conseguido ir ao jogo — Thomas comenta. — Acho
que as pessoas estavam esperando por isso.
Concordo com ele em um movimento com a cabeça. — Vou ver se Ocean precisa de ajuda — digo e aponto para a sala. — Cole, já é de casa,
então, faz o favor de deixar sua namorada e nosso pirralho à vontade.
O moleque revira os olhos. — Eu não sou criança, você sabe disso, né?
Aproximo-me dele. — Para mim, você acabou de sair do berço, e é exatamente por isso que está proibido de
querer minha melhor amiga.
Ele arqueia as sobrancelhas. — Ela me achou bonitinho. — E você vai levar apenas como um elogio. — Dou um tapinha fraco em seu rosto e
sorrio. — Tenho certeza de que você entendeu.
Afasto-me dele e caminho até a cozinha, escutando a risada exagerada do Fisher. O filho
de uma boa mãe se diverte muito com minha triste situação de friendzone, o que me faz
questionar por que ainda o tenho na lista de melhores amigos.
Encontro a cantora na sala de jantar, terminando de arrumar a mesa. — Por que não me esperou para ajudá-la?
Ela está tão concentrada, que acaba se assustando com minha voz. — Faz tempo que não cozinho para meu melhor amigo, e achei que seria uma boa
recompensa, já que você ganhou o jogo e fez aquele touchdown incrível no final da partida para
mim — explica, me lançando um dos seus sorrisos lindos e que mexem com meu coração. —
Além disso, vocês demoraram muito, o jantar já está quase pronto.
Ocean coloca a última taça ao lado de um prato, alinhado como todos os outros e depois, se
aproxima de mim. Abaixo minha cabeça para olhá-la melhor quando para na minha frente. Em
seus olhos, não consigo ver nada além de um brilho orgulhoso. — Você foi muito bem. — Me abraça apertado. — Obrigada por ter dedicado aquele
touchdown para mim. — É porque você estava lá.
Fecho meus olhos e abaixo mais a cabeça, só para aspirar o cheiro gostoso de seu
shampoo. É doce, frutado e suave, com nuances florais sutis. Ele me lembra as flores do
pessegueiro, quando desabrocham na primavera. — Já estou recebendo minha recompensa — acabo murmurando, sem pensar.
Ocean levanta o rosto de forma abrupta, e meu coração quase para quando ficamos a
milímetros de distância. Minha respiração tranca na garganta e nem o ar consegue sair pelo nariz
quando vejo sua boca tão perto da minha.
Eu seria imprudente se a beijasse, né?
Porra! — Qual? — Ocean pergunta.
Qual o quê? Do que estávamos falando?
Encaro seus olhos azuis brilhantes e só vejo a dúvida ali, que foi expressa com sua
pergunta. Mesmo que consiga sentir o calor que emana de sua pele por estarmos tão próximos,
não parece que os milímetros de distância têm algum efeito sobre Ocean. — Qual é a sua recompensa, Chace? — ela pergunta em um tom divertido.
Ah, é isso!
É sobre isso que ela está falando. — Você — admito, sentindo completamente sozinho aquela tensão ao nosso redor. — De
volta nos meus jogos.
Ela puxa o ar e, por míseros segundos, acho que ao notar o quão próximos estamos, seus
olhos desviam em direção à minha boca.
A loira aproxima a mão direita do meu rosto, causando-me um estremecimento quando seu
polegar encosta o cantinho dos meus lábios.
Porra!
Se ela continuar com isso... Eu não me responsabilizo pelos meus atos. — Sempre invejei seus lábios.
É como levar um banho de água fria.
Afasto-me como se tivesse levado um choque.
E eu levei.
Um choque de realidade.
Preciso respirar fundo e fingir rapidamente que nada aconteceu entre nós, porque,
realmente, nada aconteceu. A encaro e lanço meu melhor sorriso divertido para a loirinha à
minha frente. — Vai ficar apenas os invejando. — Formo um bico com meus lábios e mando um beijo
em sua direção, a fazendo rir. — Vou chamar o pessoal para jantar.
Ela concorda e fujo daquela sala, pensando em passar no banheiro antes, só para colocar
meus pensamentos em ordem.
A mulher é sua melhor amiga, Chace Lawson!
Não fode tudo!
— Então vocês são melhores amigos desde que nasceram? — Thomas pergunta enquanto
comemos a refeição gostosa que Ocean preparou para nós. — Isso parece até inacreditável. Se eu
não tivesse uma melhor amiga desde quando era criança também, não acreditaria. — Tem? Como é o nome dela? — A curiosa não consegue se conter e pergunta. — Aimée — responde e busco na memória, tentando lembrar de onde já ouvi falar desse
nome. — Ela é filha do Sebastian Sinclair.
Claro. Quem não conhece Aimée Sinclair? Agora me sinto um idiota por não ter lembrado
desde o início. A garota é tão famosa quanto o pai.
Meu rival.
Mas diferente do Mark, Sebastian é um rival que respeito e admiro. O time dele, os
Dolphins, conquistou vários Super Bowls, e ninguém, nem mesmo os Octopus, consegue vencêlos.
O mais perto que conseguimos, foi no ano passado, quando chegamos na final e perdemos
com uma diferença de dois pontos.
Nos últimos quatro anos, temos chegado na final, mas nunca conseguimos derrotá-los.
Mas neste ano será diferente, sinto isso. — Acho que já devo tê-la visto por aí — Ocean comenta e toma um pouco de vinho.
Fico um pouco hipnotizado quando afasta a taça de bebida e limpa seus lábios com a
própria língua, como se fosse algo simples. Tudo bem, é algo simples, mas não para mim, porra!
Desde quando passei desejá-la constantemente dessa forma?
Merda!
Eu sempre a quis. Essa é a verdade que carrego, o pecado que cometo todos os dias, e o
carma que me perseguirá para o resto da minha vida. — Posso fazer uma pergunta? — Kyle questiona, mais animada e soltinha do que uma hora
atrás. Arrisco dizer que ela é fraca para vinho.
Ela olha para Ocean, esperando pela confirmação. — Claro. — Nunca rolou nada entre vocês? Sei que amizade entre homem e mulher pode acontecer,
mas... Nunca rolou nem um beijinho na adolescência? Vocês têm muita química... Eu vi aquela
noite no show.
Deixo a loirinha com a tarefa de responder isso e bebo meu vinho, olhando-a, já com a
ideia do que sairá de sua boca. — Não! Seria como ficar com um irmão, muito estranho e nojento. — Sua comparação é
péssima e exagerada, nós dois sabemos disso quando ela me olha e lança um meio-sorriso.
Outro banho de água fria.
Corro risco de virar um cachorrinho molhado 100% dos dias da minha vida. — Sabe... se eu não estivesse extremamente apaixonada pelo Cole, teria inveja por você ter
um melhor amigo — Kyle comenta, atraindo minha atenção. — Vocês devem se conhecer como
ninguém e saberiam exatamente como amar um ao outro. Histórias de melhores amigos que se
apaixonam são sempre as minhas favoritas em filmes.
Lanço um olhar para Fisher, querendo desesperadamente que ele cale a boca da sua
namorada, mas o idiota me ignora e continua comendo com tanta diversão brilhando em seus
olhos, que sei o quanto está achando hilário esse jantar.
Sinto que Ocean está me olhando e finjo minha melhor cara de paisagem ao dizer: — Nunca nos vimos dessa forma.
Mentira atrás de mentira.
Até quando vou ficar mentindo?
Pego a taça de vinho e viro de uma só vez, sabendo que sou alvo dos olhares de todos na
mesa.
Como posso ser tão covarde?
Apenas eu tenho o poder de mudar essa situação, mas simplesmente não consigo.
Sei que é porque tenho sentimentos e estaria envolvendo o coração da minha pessoa
favorita nessa história, e me preocupo demais com ela. Não quero brincar com o coração dela.
Mas, porra!
Eu posso fazê-la feliz, será que ela não consegue enxergar isso? — De qualquer forma, não quero um namorado tão cedo — Ocean comenta, quebrando o
siêncio que se instaurou entre nós. — Longe da mídia, vou aproveitar a minha vida de solteira.
E eu sei que ela fará isso.
Só de pensar nela transando por aí com qualquer cara, me sobe uma onda de calor, que me
faz querer quebrar tudo.
Óbvio que minha amiga pode fazer com seu corpo tudo o que quiser, mas eu me sentiria
melhor se ela me usasse.
Sirvo minha taça de vinho até o topo e bebo grandes goles, quase secando-a novamente.
Sinto que Cole está me observando, mas não o encaro de volta. — Conheço vários lugares legais para você ir — Kyle diz e tenho vontade de vomitar. —
Posso te passar depois. — Ótimo!
Ocean parece animada.
Ela vai mesmo começar a se relacionar apenas casualmente? E se isso vazar na mídia?
Sei muito bem o quanto uma mulher sofreria nas mãos desses julgadores vivendo uma vida
como essa.
Se um homem transa sem compromisso, ele é considerado um ícone fodedor, apenas um
cara buscando experiência. Agora se uma mulher faz o mesmo, ela é considerada uma puta.
Engulo em seco.
Vou ver esse filme de novo.
Ela com novos caras, provavelmente se apaixonando por um deles, meu coração partido, e
eu me afundando em qualquer boceta para tentar me sentir menos fodido.
Encaro minha melhor amiga.
Seria tão melhor se ela me usasse.
O pensamento me ocorre novamente e me vem à mente, uma ideia tão absurda quanto estar
apaixonado por essa mulher há mais de dez anos.
Não sei se é por conta do vinho ou por conta da estúpida covardia que cansou de fazer seu
trabalho em mim em relação à Ocean, mas a ideia parece criar vida na minha mente.
Tudo só depende de mim, não é mesmo?
E qual mulher em sã consciência, não gostaria de ficar comigo?
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Atualizado até capítulo 38
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