Não consigo dormir.

                                                                       OCEAN BAILEY

Não consigo dormir.

Penso em incomodar Chace ao meu lado, mas pela forma como seu braço descansa na

minha cintura, parece que ele está dormindo.

Consigo entender por que da minha insônia assim que descanso minha cabeça nos

travesseiros.

Sinto um grande buraco no peito por não ter a pessoa que gostei e que há cinco anos, me

permiti abrir meu coração para ele.

É diferente de sentir falta.

E eu não me sinto sozinha, não quando tenho meus melhores amigos comigo.

Mas sinto que não fui boa o bastante para que Mark continuasse comigo.

Afinal, qual o problema que eu tenho? Tive cinco namorados e nenhum deles deu certo.

Será que nunca encontrarei alguém que me ame pela forma que sou? Que abrace toda a

bagagem que vem comigo? Que seja paciente, gentil, amoroso e bom?

Sinto-me uma idiota por achar que Mark era essa pessoa.

No início, foi tudo tão... mágico. Como nos tornamos uma música tão triste? Do tipo que

não aguenta o replay muitas vezes seguidas?

Um caroço sobe na minha garganta, e até tento evitar chorar, mas tudo é muito recente e se

tem uma coisa que aprendi com meus términos, é que preciso viver cada fase deles.

A que estou vivendo é sempre a pior.

Sempre penso que nunca irei encontrar alguém como ele... — Ei, meio-metro. — Chace se move ao meu lado e me vira de frente para ele. Meu amigo

já me viu chorando antes, mas é sempre ruim ter alguém te olhando nesses momentos. Mas ainda

assim, se existe alguém que confio para mostrar minhas vulnerabilidades, esse alguém é ele. —

Por que está chorando?

Fungo enquanto o running back tenta limpar as lágrimas que escorrem pelo meu rosto.

— Sabe como é... meia-noite, mente vazia e insônia. — Todos os recentes acontecimentos.

Mark Gallagher.

Ele solta um suspiro que mais soa como frustrado do que benevolente.

Tudo bem. Eu entendo.

Deve ser chato para ele estar aqui me consolando pela quinta vez por mais um

relacionamento que não deu certo. — Não consigo parar de pensar que talvez seja para eu ficar sozinha — admito, tentando

parar de chorar. — Não diga bobagens. — Ele limpa meu rosto. — Você é nova ainda. Pense que esse

término vai gerar mais sucesso com as músicas que vai compor e, consequentemente, vai ficar

mais rica.

Acabo soltando uma risada pelo jeito tão natural dele falar.

Dou um tapa no peito dele e o loiro segura minha mão, a levando para perto do rosto e a

beijando. Seu gesto de carinho me causa um estremecimento que sobe pelos meus braços em

arrepios.

Ele é sempre mais carinhoso quando estou solteira, e tenho certeza de que o ordinário se

aproveita disso.

Desço meu olhar pelo seu corpo quase todo coberto pela coberta e pelas roupas, mas isso

não me faz esquecer do que vi assim que cheguei em casa. Desde quando Chace havia criado

tanto gominho no abdômen? Quando, exatamente, que ele ficou ainda mais malhado? Fiquei um

pouco surpresa, não vou mentir. Ainda que já tivesse o visto sem camisa no passado, nada pode

ser comparado com como ele está nos dias de hoje.

É impressionante...

Por que estou pensando nisso? — Estou errado? — Não está! Gravei a demo de uma hoje, assim que estiver no meu celular, mando para

você — digo, voltando para o assunto principal. Música.

Ele sorri. — Essa é a minha garota.

É sempre impossível continuar chorando quando meu amigo está por perto, e esse é um

dos motivos que o amo tanto. Sempre quando estamos juntos, é leve e me lembra de casa, de

antigamente, quando nossa maior preocupação era como iríamos persuadir nossos pais a nos

deixarem dormir juntos. — Acha a nossa amizade estranha? — pergunto e sei que é do nada, pois ele me olha sem

entender. — Tirando que não nos beijamos e nem transamos, parecemos namorados de vez em

quando.

Esqueço-me de que com Chace não se pode falar muitas coisas sérias e acabo ficando sem

palavras quando ele responde: — Por quê? Quer me beijar e transar comigo?

Minha mente também fica branca ou azul, como a tela do Windows quando o sistema

morre. Acho que o safado percebe pela minha cara o quão perplexa estou e começa a gargalhar. — Idiota! — Tento soltar minha mão do agarre da dele para dar outro tapa, mas não

consigo.

Ele é forte. — É o meu jeitinho. — Você e esse jeitinho que não leva nada a sério. — Um idiota, como pode ser meu

melhor amigo? — Por que está achando nossa amizade estranha? — ele resolve perguntar quando nem

tenho resposta para isso. — Você está solteira, eu estou solteiro. Não existe problema em dormir

com o amigo, pare de ver malícia ou irei achar que quer meu corpo nu.

Reviro meus olhos. Estou dando a entender isso? — Uma coisa não tem nada a ver com a outra, sabia? — rebato. — Apenas fiz uma

pergunta. — Não acho — ele finalmente responde. — Estou confortável com isso e você? — Nunca estive desconfortável com você — admito e ele sorri. — Ótimo! — Fecha os olhos e entrelaça nossos dedos. — Vamos dormir agora. Meu

trabalho de fazê-la sorrir já está feito.

Cretino!

Antes de fechar meus olhos, inclino-me na sua direção e beijo a bochecha dele, sentindo-o

estremecer ao meu lado. Quase sorrio ao perceber que o peguei de surpresa. — Está se aproveitando de mim? — murmura. — Amo você, Chace Lawson — declaro. — Eu também, meio-metro. — Beija nossas mãos entrelaçadas. — Muito.

E então consigo fechar os olhos e dormir tão rápido como se não estivesse pensando em

todas aquelas coisas sobre não ser suficiente.

— Adivinha quem é a artista feminina mais reproduzida do Spotify atualmente? — meu pai

pergunta ao entrar no meu camarim com um sorriso que poderia rasgar seu rosto. — Essa não é

outra recompensa incrível para quem acabou de fazer mais um show esgotado?

Não consigo conter minha felicidade com a notícia e acabo pulando nos braços do meu

velho.— Estou tão feliz por tudo que está construindo, minha filha — ele diz com a voz

embargada. — Nada tira da minha cabeça que esse é o seu lugar. Sempre foi. — Obrigada, pai.

O homem que, além de desempenhar o papel de melhor pai do mundo, também é meu

empresário, me afasta pelos ombros e me olha de cima a baixo com orgulho. — Linda!

Ainda estou vestindo o body verde adornado do show e as botas de salto alto preta. — Fez um ótimo show, como sempre. — Estava um pouco nervosa — admito, me encostando na mesa que costumo me maquiar. — Foi o primeiro show que todos sabiam sobre o meu término. Senti que alguns dos meus fãs

estavam com pena de mim.

Há alguns dias, Edina enviou para a mídia, uma nota declarando meu rompimento com o

Mark, e isso ainda é o assunto mais comentado do momento. Meus fãs já não gostavam tanto do

quarterback quando estávamos namorando porque ele sempre evitava falar e ser visto comigo, e

agora com o término, estão procurando algum motivo para odiá-lo ainda mais. Todos querem

entender o porquê, já que apesar de tudo, parecíamos bem juntos. — Você vai superar isso, filha. — Eu sei.

Sempre fui boa em seguir em frente, e não vai ser agora que deixarei de ser.

Alguém bate na porta e, em seguida, a cabeça de Chace surge entre o vão. — Posso entrar? — É claro, filho — meu pai diz.

Se existe uma coisa que odeio, é a minha altura de 1,51m, que me faz parecer uma formiga

perto dos 1,80m de Chace, mesmo usando meus saltos de 10 cm. Agora mesmo, ele entra no

camarim e parece ainda mais alto do que já é.

Antes de se aproximar, noto que está escondendo algo atrás das costas e tento espiar,

inclinando a cabeça para a direita, mas não consigo ver o que é. — Curiosa — ele acusa e sorrio inocentemente. — Isso é para parabenizá-la pelo show

incrível, o recorde de artista feminina mais reproduzida, e para acalmar sua TPM que sei que

começa essa semana.

Minha risada fica presa na garganta quando ele me estende um buquê de Ferrero Rocher,

o meu chocolate favorito, com uma rosa vermelha no meio, entre todos os bombons de

embalagem dourada. — Sabe como mimar minha filha, hein? — meu pai zomba ao meu lado.

Olho para o running back, ainda surpresa com sua atitude. — Sabe que posso ficar mal-acostumada, né? — pergunto e me aproximo, pegando o

buquê da mão dele. — Nunca vou acreditar que sabe quando começo a entrar na TPM. — Chamo isso de muita intimidade, sabia? — Faz uma careta. — Muita! Chega a ser

bizarra.

Dou um tapa no ombro dele. — Obrigada! — Abraço o buquê. — Eu amei o presente. — Não queria ser chato e dizer que sempre avisei que você seria um sucesso, mas sabe que

não posso perder a oportunidade de me gabar. Eu avisei, meio-metro, e escute o que estou

dizendo, ainda irá dominar o mundo.

Meu pai se aproxima e aperta o ombro do meu melhor amigo. — Ela ainda pensa que não pode fazer isso quando, na verdade, já está dominando — meu

velho comenta ao me olhar com um sorriso enorme.

Não é que eu não confie no meu potencial.

É só que tudo ainda é muito maluco.

Há dez anos, ninguém me conhecia, e agora... sou uma artista extremamente popular. — Você não se chama Ocean à toa, minha filha — meu pai fala. — Sua mãe e eu

colocamos o nome do oceano porque sabíamos que seria grande em qualquer área que escolhesse

para sua vida. E olhe agora... como um oceano, você domina esse planeta, e suas estrelas do mar

estão sempre contigo.

Quando nomeei meus fãs dessa forma, me pareceu certo pelo significado do meu nome, e

inclusive, tenho uma música falando sobre isso, mas quando nossos nomes ficam juntos na

mesma frase, me dá mais certeza de que não podia ter escolhido melhor. — Querem me fazer chorar? Estou sensível. — Pai, ela está entrando na TPM, é melhor nem provocar — Chace comunica.

Ele tem essa mania de chamar meu velho de pai, assim como eu chamo os dele de tio e tia.

Mais uma pessoa bate na porta e dessa vez é Edina. — Oi, desculpa incomodar — diz ela. — Mas Athena está aqui, ela veio no seu show e

queria dar um oi.

Não escondo minha surpresa e olho para os dois homens da minha vida. — Viu? Falei que você é extremamente famosa. — Meu amigo se gaba.

Ela é uma cantora que admiro muito, com estilo musical mais alternativo e indie, além de

ser uma excelente compositora. Tanto a ponto de ser uma inspiração diversas vezes na minha

carreira.

Tranco a respiração quando a vejo entrar no camarim.

Alta, o cabelo com a raiz escura e o comprimento roxo, olhos verdes, o nariz fino e o rosto

bem desenhado. Ela parece uma personagem de filme. Athena está usando uma calça moletom

da mesma cor de seu cabelo e uma blusa regata estilo cropped preta, mostrando parcialmente a

barriga. Tão linda quanto as fotos da internet.

Nunca tive a oportunidade de conhecê-la pessoalmente e agora estou um pouco nervosa. — Oi, Ocean! — Ela sorri de forma simpática. — O show foi incrível e é um prazer

finalmente conhecê-la.

Ela se aproxima e sem que eu espere, me abraça apertado. — Agora entendo por que todo mundo não quer sair do seu show, é uma experiência única. — Obrigada! — Agradeço quando nos afastamos. — Sou uma grande fã sua, sabia? Seu

último álbum... é simplesmente incrível! — Ouvi você falar sobre ser minha fã em uma entrevista, e quase não acreditei. — Sorri

para mim e olha para o running back ao meu lado. — Oi... É Chace, né?

Ele acena. — Chace Lawson, prazer em conhecê-la. — Meu amigo estende a mão e ela aperta. — Não sou tão apegada ao futebol, mas quem nunca ouviu falar de você? Tem se

destacado como o melhor running back de todos os tempos.

A cantora também cumprimenta meu pai e depois se volta para mim. — Só passei aqui rapidamente, mas... — Ela segura a mão que não estou segurando o

buquê de chocolate. — Gostaria muito de conversar com você futuramente, quem sabe não

poderemos trabalhar juntas? Acho que temos letras profundas que fariam uma ótima

colaboração.

Arregalo meus olhos. — Sério?

Ela assente. — Claro! — Seria um sonho... Meu Deus! — Deixei meu número com Edina, pegue com ela e entre em contato comigo, ok? Preciso

ir porque tenho uma filha pequena para cuidar.

Navy... Esse é o nome da filhinha dela.

Se não me engano, Athena engravidou quando tinha 30 anos, mas não faço ideia se é

casada com o pai da criança ou não. Essa mulher consegue manter sua vida privada muito bem, e

não é como se eu ficasse procurando fofoca na internet sobre as pessoas do meu meio. — Eu vou ligar. — Ótimo!

Ela acena para todos e me dá mais um abraço antes de sair do camarim, acompanhada de

seu agente.

Olho para Chace, meu pai e Edina, ainda perplexa. — O que acabou de acontecer?

Minha amiga e RP se aproxima e não consegue esconder o sorriso. — Acho que é a vida dizendo que você é incrível a ponto de fazer uma parceria com um

dos seus ídolos.

Meu pai me abraça de lado pelo ombro e com outro braço faz o mesmo na cintura de

Chace.— O que acham de uma comida caseira lá em casa para comemorar?

Sinto meu estômago roncar no mesmo momento. — Você leu meus pensamentos.

Nós rimos.

Chace me olha e pisca para mim. — É melhor aproveitar minha presença hoje, porque amanhã serei 100% dos Octopus —

diz, se referindo ao seu time.

Não deixo de ficar triste.

Os treinos dele voltarão a ficar mais intensos e preciso focar nas letras do próximo álbum

que vou lançar. Nosso tempo será mesmo curto, mas acabaremos achando uma forma de nos

organizar só para nos vermos.

Nós sempre fomos bons nisso.

Mais populares

Comments

Leda

Leda

Amando o livro. Estória diferente e bem cativante.

2024-03-11

1

Ver todos
Capítulos

Baixar agora

Gostou dessa história? Baixe o APP para manter seu histórico de leitura
Baixar agora

Benefícios

Novos usuários que baixam o APP podem ler 10 capítulos gratuitamente

Receber
NovelToon
Um passo para um novo mundo!
Para mais, baixe o APP de MangaToon!