Capítulo 13. Meu Quarto

O jantar de domingo foi divertido, com todos comendo com prazer e fartura. Nestor estava feliz e isso alegrou o mordomo que gostou do movimento na casa. A chegada daquela criança deu vida ao ambiente, antes, tão depressivo.

— Sabe, Jason, sua avó, mãe de sua mãe, fazia purê de batatas com carne moída para mim, quando era folga da cozinheira. Eu gostava muito e hoje matei a saudade. Que outros pratos você gosta?

— Eu gosto muito de massa. Lasanha, panqueca, espaguete,mas o que mais gosto é frango frito no balde.

Todos riram.

— Mas esse sua mãe não deve deixar você comer, com certeza! — disse Nestor, sabendo que fritura, ainda mais feita fora de casa, não era saudável e Gina não concordaria.

— É, só quando tem comemoração e eu posso escolher, que ela deixa.

— Vocês comemoraram, essa semana?

— Sim, fomos ao mercado e mamãe comprou dois baldes. — disse Jason, feliz, mostrando o tamanho dos baldes com os braços.

— Puxa, queria estar lá com vocês. Pena que meus dentes, que são meus, mas não são meus, não aguentam esse tipo de alimento.

Jason não entendeu o que ele quis dizer, mas Gina sim e riu gostoso da confissão de Nestor sobre usar dentadura.

A noite terminou agradável e todos foram dormir em paz. Antes, Jason pediu ao avô:

— Preciso que o senhor assine os contratos.

— Que contratos?

— Do acordo que fizemos para eu morar aqui.

Nestor ficou impressionado com a mente empresarial do menino.

— Onde está o contrato?

— No seu computador, vamos lá que eu te mostro. O senhor pode usar meu tablet e minha caneta.

O velho franziu a testa sem entender nada, não estava acostumado com essas modernidades, mas Jason era só uma criança, não devia ser nada sério, pensou.

— Vamos lá, então.

Gina sorriu, sabendo que seu filho estava aprontando e que o avô não fazia ideia da expertise do neto. Não falou nada, pois não estavam ali para confraternizar com o “inimigo”. Tinha certeza que Nestor também estava tramando contra eles.

Nestor olhou a imagem do contrato no computador e tentou ler, sem conseguir, as letras miúdas.

— Não consigo ler e como se assina isso?

— Está tudo certo, aí diz que o senhor Deixa eu fazer a festa e colocar meus games na casa e também me autoriza a comprar o que precisar. Tá bom assim?

— Você é muito inteligente, me diz como assino.

Jason colocou o tablet dele, já conectado e deu a caneta digital, mostrando como o avô devia fazer. Nestor, sem receio de assinar, por confiar que a criança não faria algo para lhe lesar, assinou no aparelho e viu sua assinatura aparecer no documento.

— Que coisa interessante, você me surpreende cada vez mais. Seu pai também sempre foi muito inteligente para os negócios. É só isso?

— Sim, obrigado, vovô.

Os dois se despediram e seguiram para seus quartos. Nestor estava instalado em uma suíte no primeiro andar, para não se esforçar subindo a escada. Era um quarto confortável, que passou por uma reforma e era nem grande.

Depois de se refrescar, deitou e dormiu tranquilo, enquanto Jason entrava em seu computador e acionando os contratos, encaminhou todo o plano já esquematizado, dado o play. Sorriu, feliz, pois tinha certeza de que seria um sucesso.

Gina por sua vez, foi até a antiga saleta de costura e descobriu que foi transformada em um escritório com um sistema de computador e internet de primeira linha e sem perguntar se podia, já que lhe deram liberdade, sentou-se na poltrona confortável e ligou tudo.

Assim que ficou online, programou a segurança do sistema e entrou em sua conta. Abriu as contas da empresa e viu que não haviam mais as interferências.

— Será que o autor corrigiu ou a equipe de TI da empresa conseguiu acertar? Melhor para mim. Primeiro vamos tirar a credibilidade.

Ela digitou rápido pelo teclado, preparando cada ação para parecer um descuido e não haver provas de quem foi o responsável pela falha. Simplesmente tirou um dos avisos de perigo, dos rótulos do produto mais vendido por eles, uma cera automotiva.

— Este será seu primeiro crime contra o consumidor, vamos ver como você vai resolver. — murmurou ela, sorrindo para a tela.

Ela fechou sua página, apagou todos os seus vestígios e subiu. Foi dar boa noite ao filho, que já estava pronto para dormir.

— Boa noite, querido. — ajudou-o a se cobrir.

— Boa noite, mãe.

— Sei que você aprontou com seu avô, espero que não seja nada contra a lei ou eu mesma te enquadro.

— Não pense assim de mim, mãe. Tudo que eu faço é certo, só é melhor para mim.

— Não me dê desgosto, filho.

— Eu te amo, mamãe e vou sempre cuidar de você. Boa noite. — desconversou o menino.

— Durma bem. 

Ela beijou sua testa e saiu, apagando a luz e fechando a porta. Jason fechou os olhos e dormiu facilmente, assim como Gina, satisfeita por iniciar sua vingança. 

No dia seguinte, Gina levou o filho à escola e marcou com Marina para buscá-lo e levá-lo de volta a casa em um carro de aplicativo. Como a casa era mais distante da escola, levavam mais tempo para ir e voltar, teria que comprar um carro para Marina ou utilizar um do senhor Rodrigues.

Carson sentiu-se aliviado quando soube que os problemas causados pelo invasor sumiram. Verificou as contas e não encontrou nada de errado, estava para fechar um grande contrato para distribuição das ceras automotivas e não podia ter falhas ou perderia muito dinheiro.

No final do dia, ele entrou em seu carro, satisfeito pelo contrato assinado e foi para a mansão de seu pai. Sua mala estava no porta malas e quando estacionou, Gomes se aproximou para ajudar,as ele negou.

Entrou na casa, arrastando a mala e subiu as escadas, batendo com ela nos degraus. Sentiu a atmosfera da casa diferente e perguntou a Gomes, que o observava:

— Meu pai está bem? 

— Sim, senhor.

— A casa está diferente, aconteceu alguma coisa diferente?

— Está tudo bem, senhor. Tem certeza de que não quer ajuda?

— Hurrrghh… — resmungou ele em resposta e continuou subindo.

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