Capítulo 4. Gurra Fria

A mãe de Gina, Laura, foi ao seu encontro e a ajudou, não permitindo que seu descontrole a fizesse cometer um ato tão irreversível, como tirar a própria vida. Consolou-a, dizendo que um filho era uma benção e ela estaria ao seu lado o tempo todo.

Infelizmente, sua mãe foi acometida de um câncer e faleceu dois anos depois que Jason nasceu e ela ficou só com o apoio de Frida.

— Temos dois caminhos a seguir: atacar e dar parte deles à polícia ou esperar e contra atacar com o que temos. — disse Frida, andando pelo escritório.

— O velho me ameaçou com dinheiro, disse que o dinheiro sempre vence.

— Ele não está errado, mas existem várias maneiras do dinheiro vencer, não só a dele. — disse Frida, com um sorrisinho de quem tem uma carta na manga.

As duas continuaram traçando sua estratégia de ação, enquanto o advogado dava entrada no processo de guarda e Carson lia o dossiê e descobria que o herdeiro de quem o advogado falou era seu filho.

— Eu tenho um filho? Então…

Só então caiu a ficha: aquela mulher linda na porta da casa de seu pai, era Regina. Ficou mais desnorteado, precisava falar com alguém e chamou os amigos, Leo e Gerson.

A porta do escritório se abriu e eles entraram, menos de dez minutos depois, vindo de seus departamentos. Leo era contador e Gerson advogado. Como conseguiram se formar, ninguém sabia, mas eram bons funcionários.

— O que aconteceu, cara, pra nos chamar assim? — perguntou Leo, preocupado com a agitação do amigo.

— A assombração da minha vida voltou e trouxe bagagem. — disse Carson, usando uma expressão de desdém que não condizia com o que estava sentindo.

— Regina? — perguntou Leo, que conhecia bem o amigo.

— Sim. Preciso de ajuda, a situação é difícil e não sei o que fazer.

Ele contou os planos do pai e mostrou o dossiê aos amigos.

— Puts, ela teve um filho? Você é o pai? — perguntou Gerson, abismado.

— Claro que ele é o pai, olha a idade do garoto. Não acredito que ela tenha tido mais alguém, depois daquela noite.

A lembrança daquela noite emudeceu os três. Carson lembrou do motivo de ter feito aquela agressão e resolveu ligar para o pai.

— “ O que é garoto, meu advogado já esteve aí? “

— Quero lhe perguntar uma coisa: como você sabia o que eu fazia na faculdade?

— “ Você é estupido ou o quê? Eu contratei um vigia para me manter informado, era um dos zeladores do prédio. Por quê? “

— Nada, tchau. — desligou.

A culpa o abraçou e constrangeu, tornando-o apático e desconsolado. Afundou-se na poltrona, com a cabeça baixa e expressão de derrota, como se nada tivesse solução.

Os dois amigos olharam para ele, sem entender.

— O que foi agora, Carson? — perguntou Leo.

— Não foi ela… meu pai pagava o zelador para me vigiar.

— PQP…

Leo sentou-se no sofá, segurando a cabeça, os cotovelos apoiados nos joelhos.

— O que nós fizemos? — questionou-se Gerson.

— Eu fiz, vocês só me ajudaram. Fui um cretino. O que eu faço agora?

— Depende do que te dói mais, o remorso, perder a empresa e a fortuna do seu pai ou perder o direito de ser pai do seu filho. Porque a mulher, você perdeu a quase sete anos atrás. — ponderou Leo, focado no dinheiro, que era sua área.

— Isso, taca sal na ferida! Pisa bastante, mas se eu perder tudo, vocês vão comigo.

— Por que nós temos que perder tudo também? Somos funcionários da empresa, não seus. — reclamou Leo.

Carson não sabia mais se tinha sido uma boa ideia, chamar seus amigos, pois eles não estavam ajudando em nada.

— Se vocês não puderem me ajudar, vão embora!

Gerson percebeu que a situação necessitava de uma análise séria, não era mais um joguinho divertido da época da faculdade, era o futuro deles em jogo e tinha uma criança no meio.

— Eu não entendo de direito de família, mas seu pai disse que vai tornar o neto seu herdeiro, então, creio que o primeiro passo é reconhecer a paternidade. Posso falar com um conhecido para ver isso para você. 

— Foi por isso que perguntei o que dói mais. Você quer reconhecer esse filho ou fará isso só por causa da herança? — argumentou Leo.

Carson não parou para analisar a questão, não estava disposto a perder todo o trabalho que teve nos últimos anos, administrando a empresa.

— Chame o seu colega, urgente.

— Tem certeza que quer fazer isso? — insistiu Leo.

— Não vou perder tudo por causa de uma criança. Vou reconhecê-la e a mãe pode continuar com a guarda, não vou precisar ficar com ele.

Leo não entendeu a frieza do amigo. Se fosse um filho dele, faria questão de estar com ele. Na época em que Carson teve a ideia de se vingar de Regina, ele não concordou, mas como não conseguiu demover o amigo da ideia, ajudou para poder controlar a violência.

A imagem do canivete cortando a pele delicada, sempre o perseguia, mas foi graças a ele, que os cortes foram superficiais. Depois, também foi graças a ele, que ela acordou vestida e conseguiu sair do apartamento, que foi alugado por ele.

— As vezes penso que você continua na faculdade. Se precisar contabilizar as perdas, me chama, estou indo. 

Depois de falar, saiu e ouviu as reclamações de Carson, dizendo-se abandonado.

Gerson conseguiu falar com seu colega, que ao saber quem era o cliente, concordou em ir até o escritório, imediatamente.

— Ele está vindo, enquanto isso, vamos clarear a situação, aproveitando que Leo saiu.

— O que é, você também vai me fazer cobranças?

— Vou te falar como amigo. O que nós fizemos foi muito grave. Eu fui o responsável por drogar a garota, mas se ela não foi ao hospital e fez exame, não tem como provar. No entanto, se ela guardou as roupas e tirou fotos das marcas que você deixou, vale como prova de violência contra a mulher. Juntando o DNA da criança, tu tá ferrado.

— Posso ser preso?

— Crime de lesão corporal prescreve depois oito anos e dependendo do entendimento do juiz, você pode ser preso.

— Então, se eu requerer a guarda ou qualquer direito, ela pode alegar que foi violentada e me ferrar? Mas não foi exatamente um estupro.

— Mas você  não tem como provar. Talvez o seu pai esteja certo e seja melhor você tentar se acertar com ela, assim você não perde nada.

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