Capítulo 15. Pequeno Traidor

Gina não teve pena, conhecia as artimanhas do velho e não se deixaria culpar por algo provocado por ele mesmo.

— Não tenho culpa se ele continua querendo jogar com nossas vidas. Não sou a causa de sua doença e mesmo doente, ele continua maquinando  com a vida dos outros.

— Tenha um pouco de piedade, senhorita. Ele está idoso e doente. — pediu Gomes.

— E ele tem piedade de alguém? Tudo que ele quer é manipular os outros para conseguir o que quer. Tal pai, tal filho. — acusou ela, olhando de lado para Carson.

Carson não gostou de ouvir aquelas acusações, mas ela estava certa, seu pai manipulava a todos, como se a vida fosse um jogo com personagens que ele podia mexer a seu bel prazer. 

Nestor, mais calmo, olhou para aqueles dois tições fumegantes e sabia que não podia fazer mais nada para interferir ou perderia a companhia de seu neto, então pediu:

— Por favor, Gina, não vá embora, deixe eu passar os meus último dias com meu neto.

— Chantagem, agora? — perguntou ela, sem aceitar o apelo do suposto moribundo.

— Só um pedido, aceitarei se você não puder, mas por favor, fique. — suplicou Nestor.

Carson também queria que ela ficasse, talvez conseguisse fazê-la aceitá-lo.

— Eu deixo você ficar no meu quarto e não a importunarei, mas por favor, fique, pela saúde do meu pai.

Jason percebeu que havia algo estranho acontecendo no escritório e foi até lá. Ficou ouvindo atrás da porta e não gostou de saber que sua mãe queria ir embora, isso atrapalharia seus planos, então entrou no recinto e como uma crianças fofa, foi até o seu avô, abraçou-o e disse:

— Fique bem, vovó, eu não vou embora.

“ Esse pequeno traidor, ficou do lado do avô ao invés do meu, o que mais ele vai me aprontar? “ Pensou Gina.

Ela virou-se e saiu do escritório, não tinha mais argumentos, já que seu filho resolveu ficar. Foi para seu quarto e removeu a mala de lá, deixando-a no corredor. Verificou a tranca da porta e passaria a trancá-la toda noite.

Enquanto isso, na cozinha, o chef Pierre discutia com Marina sobre o espaço na cozinha.

— Senhorrrrita, esta cozinha serrrr minha, retirrre-se, por favor.

— Tem espaço suficiente para nós dois, basta você ficar no seu canto que eu fico no meu.

— Nom serrr possíverl, sou o chief desta cuisine, retirrrre-se.

— Continue falando, quando você parar, eu já terei terminado o jantar. Estou obedecendo aos meus patrões.

Pierre era um homem bem apessoado, com 46 anos e estava acostumado a ser tratado com bastante deferência.

Marina estava com 42, era solteira, esbelta, bonita e gostava de se cuidar, por isso não aparentava a idade que tinha. Amava cuidar de Gina e Jason e não cederia a um francês com mania de grandeza.

Pierre, quando viu que não conseguiria a remover da cozinha, e estava perdendo tempo, iniciou seus preparativos, separando o lado dele do dela.

O jantar conseguiu ficar pronto, porém, a cozinha era uma mistura de aromas totalmente diferentes. Os pratos requintados de Pierre, não combinavam com o tabuleiro de lasanha de Marina.

Quando todos estavam sentados à mesa e viram os pratos, se entreolharam, intrigados, principalmente, Carson.

— Mas o que é isso? — perguntou, sem se dirigir a ninguém especificamente.

— Comida, ué? — respondeu Gina.

— Obá! Lasanha, eu gosto muito. Põe pra mim, mãe?

Gina serviu o filho e deixou Marina servir Nestor, que parecia ansioso para experimentar, também.

— Eu contratei um chef Michelin e vocês vão comer lasanha?

— Está uma delícia, filho, devia experimentar, ou não, é melhor ficar com a comida do seu chef, mesmo.

— Até o senhor, pai? Será que essa comida faz bem para o seu coração?

— Não estrague o meu apetite, filho, ou pedirei que se retire.

Gina conteve o sorriso de prazer ao ver aquele homem adulto, sendo repreendido pelo pai. A lasanha estava uma delícia, enquanto ela não fazia ideia do que tinha no prato preparado por Pierre.

Carson se calou e saboreou o prato do chef, mas o cheiro da lasanha entrava por suas narinas e atrapalhava seu paladar, pois não  combinavam. Sentia o aroma de uma coisa e seu paladar identificava outra, isso fez sua comida parecer insípida.

Largou o garfo no prato e colocou-o de lado. Pediu à copeira outro prato e serviu-se de lasanha. Ninguém falou nada e ele comeu com gosto. Teria que rever a contratação de Pierre ou fazer ele se entender com a cozinheira de Gina, ou seria uma confusão em todo jantar.

Ao contrário de Carson, que estava preocupado, Nestor estava muito feliz. Seu neto o alegrava com seu comportamento livre e a comida era uma delícia. Sia casa a muito tempo não tinha tanta vida.

Longe dali, estava tudo sendo preparado para os planos de Jason, serem realizados. Muitas caixas entraram em um furgão e partiram, levando o equipamento caro,para seu destino, a mansão. 

No dia seguinte, chegou à mansão e logo após, chegou a equipe de instalação. Jason estava na escola, mas a equipe já tinha as coordenadas de montagem e a autorização. Gomes não pôde fazer nada, só deixar que entrassem e instalassem o que considerou ser os video games do menino.

A equipe foi rápida e eficiente, deixando tudo pronto e limpo. Gomes olhou os lugares por onde eles passaram e não encontrou nada de diferente, pois as pequenas câmeras com sensores, estavam bem ocultas.

Os computadores, smart tvs,  processadores e restante dos equipamentos necessários, estavam instalados no sótão. O serviço foi tão bem feito, que a fiação estava toda oculta e a instalação elétrica foi adaptada para todo o excesso que os aparelhos precisariam.

A operadora contratada para fornecer a banda larga de internet, chegou a tarde e instalou os cabos e vendo o cuidado da instalação dos aparelhos, também fez um serviço cuidadoso, deixando tudo impecável.

Quando Jason chegou da escola, seus olhinhos brilharam, satisfeitos, pois tudo foi executado como queria e mais rápido do que esperava. Para isso, deu uma grande gorjeta, junto com o pagamento.

Depois de se trocar, correu para o sótão e ligou tudo, apreciando o som e as imagens coloridas nas telas. Feliz, rodopiou e deu gritinhos, batendo palmas.

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