Capítulo 16

Júlia:

Kevin se levanta e eu levanto junto.

— Não sei se consigo convencer ele a esperar. — Kevin fala.

— Eu juro que vou pagar.

— Vou conversar com ele, se cuida.

Acenei e levei Kevin até o portão. Voltei e fui direto para a cozinha terminar o almoço.

Almoçamos e passei a tarde assistindo alguma coisa. Verificava como minha mãe estava e chamei ela para ficar comigo, mas ela não quis. Logo anoiteceu e ouvi o barulho do portão sendo aberto, temos o costume de colocar o cadeado no portão e trancar a porta somente para dormir. Pensei que fosse meu pai chegando e antes que eu pudesse levantar do sofá a porta é aberta bruscamente.

Eu me ajeito no sofá com medo. Era o Lucas vulgo caveira, ele já tem quase quarenta anos, estava com dois homens armados e o Kevin, que mexeu os lábios se desculpando silenciosamente.

— Você não está levando minha ameaça a sério, garota?

Ele se aproxima parando na minha frente. A dívida nem é minha meu Deus.

— Eu vou pagar essa dívida do meu pai, me dê pelo menos uma semana.

Ele sorri sem humor nenhum e se senta, eu me afasto dele.

— Uma semana? Tá achando que eu sou algum idiota?

Balanço a cabeça em negação. Ele coloca medo em qualquer um.

— Se tá achando que é a boazona, e que o dinheiro vai cair do céu para me pagar, eu quero a porr4 do meu dinheiro em vinte e quatro horas.

Eu ainda vou viajar com o Cristian, como vou conseguir esse dinheiro em vinte e quarto horas?

— Em vinte e quatro horas. — confirmo e ele se levanta.

— Agradeça ao meu filho Kevin, por livrar vocês. Eu não deixo ninguém que me faz de besta vivo, muito menos sua família.

Ele fala e sai, todos acompanham até o Kevin. Eu tento. Eu tentei segurar o choro, mas aquele nó que se forma na nossa garganta sempre que prendemos o choro, sabe? Parecia me sufocar. Eu chorei, chorei, fui ao portão e tranquei tudo. E ainda chorando eu adormeci ali no sofá.

***

O que eu faço?

Foi a primeira coisa que pensei ao me levantar do sofá, o lugar onde dormi. Eu lembro do Cristian te dito que o motorista me daria um número, mas isso foi antes, ele não me deu número de contato nenhum. Eu nem sei onde é a empresa dele, e não teria coragem de aparecer lá. Mas é caso de vida ou morte.

Peguei meu celular e digitei o nome: Cristian Miller, na barra de pesquisas.

Não tem quase nada sobre ele, só que ele é bilionário dono de empresa aérea. Eu não quero nem imaginar o que ele faz por trás, para ter uma arma e ter matado aquele homem a sangue frio.

Anoto o endereço da sua empresa. Eu vou ter que ir lá, não vai ter jeito. Vou na esperança dele me salvar pela segunda vez.

Coloquei um vestido preto colado ao corpo, com uma jaqueta jeans, fiz uma maquiagem e deixei meus cabelos soltos. Estava bonita, não queria ir de qualquer jeito, sempre gostei de me arrumar, mesmo não tendo muitas condições nem roupas caras.

Como ainda tenho dinheiro na conta, chamei um carro de aplicativo. Ainda é manhã, deixei minha mãe em casa como ela costumava ficar para eu ir trabalhar.

O carro para, eu desço vendo aquele prédio gigante, percebendo que é frente ao shopping que vim outro dia e eu não tinha percebido. Me dirigi até lá. Vejo o cara que estava ao lado de Cristian no evento, ele conversava no telefone, próximo ao balcão da recepção.

— Bom dia, gostaria de falar com o Cristian Miller, por favor!

— Tem hora marcada diretamente com ele?

— Não, mas... — ela me interrompe.

— Perdeu seu tempo, o senhor Miller não atende ninguém sem marcar hora com ele. Para ser sincera, nunca vi ele atender ninguém diretamente na sua sala.

Fico nervosa, nem tenho certeza se ele vai me atender mesmo que eu fale meu nome.

— Poderia dizer meu nome, e ver se ele pode me atender? — quase implorei.

— Não, aqui não funciona assim. Se fosse alguém próximo a ele, teria o número dele e não estaria aqui. Vai embora e não perca seu tempo.

E agora o que eu faço? Eu pensei em insistir mais, não queria ir embora, o homem que falava ao telefone se aproximou.

— Qual é o problema? — ele pergunta para a recepcionista.

— Ela diz querer falar com o senhor Miller, eu mandei ela ir embora, já que ele não atende ninguém desconhecido.

— Por que não passou a informação para mim que sou assessor dele? ou ligou para a sala dele?

— Sei que o senhor Miller não iria atender, poupei meu tempo.

Eu estou perto, mas apenas observo.

— Seu trabalho é fazer as coisas direito, não poupar tempo.

A moça da recepção fica constrangida com a voz grave dele e ele se vira para mim.

— Sou assessor e amigo do Cristian, me chamo David, espere aqui, Júlia.

Ele fala e sai andando até o elevador. Como ele sabe meu nome? O Cristian deve já ter falado de mim para ele, já que estavam juntos no evento.

Pai amado, ele deve saber de tudo. Que eu vou me vender ao Cristian.

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