Capítulo 5

Júlia:

O choro me consumiu. Eu estava sem dinheiro nenhum, tínhamos poucas coisas na dispensa e só tinha me restado alguns trocados em uma bolsinha, esse meu pai não conseguiu pegar.

Seguro o cartãozinho preto com letras prateadas. Olho para aquele endereço pela milésima vez, indecisa se devo ou não devo. Confesso que meu medo maior era que as pessoas pensariam mal de mim, eu acompanharia homens por dinheiro e mesmo que não dormissem com eles, eu sei o que o povo pensaria se soubessem.

Mesmo eu não sendo mais virgem e nem nenhuma santa. Perdi minha virgindade no último ano do ensino médio, eu nunca fui a pessoa popular da escola, tinha amigos, mas sempre fui reservada e estudiosa. Até chegar um cara novo, ele seria da minha turma, muito rápido ele se tornou o mais popular da escola e eu era caidinha por ele em segredo. Nunca pensei que ele se quer olharia para mim. Aos poucos ele foi se aproximando e me conquistando, quando vi já estávamos namorando, o casal mais inesperado do ensino médio, nesse tempo ele começou com umas provocações e toques mais ousados e eu estaria sendo hipócrita se dissesse que não gostava. Ele era um fofo comigo e não pensei duas vezes em me entregar, foi natural sem forçar nada. Ficamos juntos uns três meses apenas, a gente se pegava em todo lugar, foi o ano mais intenso da minha vida. De repente ele iria sair da escola porque seus pais tinham se separado, faltava poucos meses para acabar o ano letivo mas ele iria embora para outro país.

Acho que foi a partir daí que Deus olhou lá de cima e determinou que eu não seria feliz mais. Sofri muito com a partida dele e nesse mesmo ano, tudo começou a desmoronar, meu pai começou com vícios em jogos, deixava a gente sem nada porque todo seu salário era para pagar as pessoas que devia, então se sentindo sem saída começou a beber. Resultado: Hoje ele é um alcoólatra viciado em jogos. Minha mãe começou a ter uns surtos e na primeira tentativa de suicídio eu vi que ela precisava de ajuda. Depois disso foi só ladeira abaixo.

Me levantei do chão onde estava ajoelhada com o cartão na mão, recolhi as coisas e coloquei na bolsa levando comigo.

— Mãe, descansa eu já volto.

Deixo minha mãe no quarto e vou para o meu, olho as horas no celular e já são quatro horas da tarde, o cartão informa que o funcionamento era até às oito, se sair agora chego a tempo, mas na volta posso chegar muito tarde.

Coloquei o polegar na boca mordendo a ponta da unha um pouco nervosa. Me olhei no espelho, meu rosto estava tão palido.

— A vida é feita de escolhas Júlia. — falo de frente para o espelho ainda indecisa se devo procurar esse lugar e aceitar essa proposta.

Se eu não tentasse nunca iria saber, essa era a única solução para eu mudar de vida rápido, o que os outros iriam pensar, que se exploda.

Tomei um banho rapidinho e troquei de roupas, passei uma maquiagem bem leve para disfarçar a cara de choro. Depois de pronta sai e peguei o metrô para o centro da cidade. Após descer andei a pé e me dirigi ao local olhando os prédios gigantes. Um deles estaria a agência, no quinto andar assim como indicava no endereço.

Apresentei apenas o cartãozinho na recepção e me deixaram subir sem problemas, era um prédio comercial. Cheguei no quinto andar e a recepção era moderna, com cores escuras e letras prateadas se destacando assim como no cartão.

Me dirigi até lá, nervosa, no entanto determinada que essa seria uma boa escolha.

— Gostaria de falar com o senhor José por favor. — tinha apenas a recepcionista, ela era fortinha com óculos de grau e cabelos curtinhos.

— Senhor? — ela questiona abaixando seus óculos com a sobrancelha arqueada. Será que não é aqui, eu já quero desistir e ir embora.

— Sim, foi ele que meu deu esse cartão, não é aqui?

— Sim é aqui, questionei pelo "senhor", o José vai dá um piti se chamar ele de senhor. Aposto que ele disse só José. — ela fala e logo sorri, que susto, solto um suspiro de alívio.

— Sim, ele disse só José.

— Espera aí, vou avisar e ele já te chama.

Apenas acenei com a cabeça e me sentei em uma das cadeiras que tinham na recepção. Observei o lugar, tinha uma parede toda coberta com fotos de mulheres muito bonitas, que se destacavam não apenas pela beleza, mas pelas roupas luxuosas e corpos bem feitos. Fiquei me questionando várias coisas, iria tirar as dúvidas antes. A moça da recepção me chama, me levanto e ela me conduz até uma porta e pede para eu entrar. Bato e entro, encontro José sentado, ele se levanta juntando as mãos quando me ver.

— Tinha certeza que viria, só não pensei que fosse tão rápido. Sente-se.

Me sentei onde ele indicou, observando a sala toda como a curiosa que sou.

— Terra chamando... — ele estala os dedos e eu o olho caindo na realidade e me ajeitando na cadeira.

— Me chamo Júlia, desculpe. Vim saber como funciona esse trabalho. — Ele sorri largamente, coloca seus óculos e tira uns papéis de uma gaveta e me entrega.

— Essas são as informações importantes que precisa saber, esse é um modelo idêntico ao contrato que precisará assinar. Vou lhe adiantar com as coisas mais relevantes. O valor que vai receber depende das horas do acompanhamento, o mínimo que contratam é uma hora e o máximo cinco dias em caso de viagens de negócios.

— Não sei se tenho disponibilidade para viajar. — falo lendo o que tinha no papel.

— Você pode decidir ir ou não, mas garanto que ganha super bem nessas viagens, além de ganhar vários mimos dos clientes. Todos os clientes gostam de presentear com jóias, bolsas de grife, iPad, iPhone...a maioria são generosos.

Não ligo para isso, embora amaria se ganhasse alguma dessas coisas. O mais importante era o valor que iria receber por esses trabalhos.

— Quais são os valores de pagamento? Digo, do salário? — tiro o olho do papel e olho para José.

— O valor mínimo é dez mil, sendo o horário mínimo uma hora.

— Dez mil por uma hora acompanhando alguém? Caramba! Nunca tive nem metade disso na minha conta.

— Dez mil para eles são uns trocados querida. Cobramos dez mil por hora. O dinheiro é pago para nós e você recebe a maior parte, ficamos com 30%, é o custo da agência, você tá de acordo com essa porcentagem?

30% de dez mil ainda é muito, imagina por apenas uma hora, o que não consigo receber em uma semana. Uma certa ambição se forma dentro de mim, mas tenho que ter em mente que é somente até conseguir dinheiro para o tratamento psicológico da minha mãe e ter um dinheiro guardado até estabilizar minha vida.

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Comments

Babi

Babi

o problema é esse a ambição. Coloca um valor alto, porém na hora é tanta humilhação que o valor não compensa. É meu raciocínio

2024-05-05

3

Esther De S Passos

Esther De S Passos

Nessecitô Dançou. Barca furada. Fu....

2024-05-17

0

Ioneide Martins

Ioneide Martins

no aperto ou desespero somos capazes de qualquer coisa 🥺

2024-04-15

5

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