Capítulo 4

Júlia:

Em passos lentos me arrastei até a entrada de casa, estou chegando mais cedo que o horário que costumo chegar. Não paro de pensar no que vou fazer de agora em diante. Vender doces e picolé na praça? Era o que fazia a alguns meses atrás. Será que vou voltar a fazer isso? O salário na cafeteira não era tão bom, mas bem melhor do que ficar no sol rachando para receber uns trocados.

— Tô cansada disso, droga de vida. — me sento na calçada para pensar um pouco na minha vida que era uma bosta. Depois de chegar a conclusão de que não haveria nada que eu fizesse, eu entrei.

Fui diretamente para o quarto ver como minha mãe estava, ela estava sentada com seus braços abraçados aos joelhos, olhando para o nada. Da bandeja que deixei pela manhã, apenas o copo de suco estava vazio o restante no mesmo lugar.

— Oh mãe... — eu tento evitar mas as lágrimas já estavam escorrendo. — Não saiu da cama hoje de novo?

— Desculpa, desculpa, desculpa, desculpa... — ela repete a mesma palavra e se balança. Não aguento mais!

— Tá tudo bem, vem, vamos tomar banho. — enxuguei as lágrimas com raiva, ódio. Não da minha mãezinha, mas dá situação, ódio por me sentir incapaz, raiva por termos que viver na miséria sem dinheiro para quase nada, eu estava cansada de tudo.

Queria ter chutado o balde e aceitado a proposta daquele cara. Que se dane! Se poderia usar minha beleza ao meu favor, iria fazer isso. Mas, nem pensei na possibilidade de eu voltar atrás com a resposta que dei, apenas rasguei aquele cartão e não lembro nem o nome do lugar.

— Vem mãe.

Ela não tinha se movido do lugar, destravei com cuidado os braços que envolviam seus joelhos e a levantei. Dei banho nela e cuidei como se eu fosse a mãe. Eu tento ser forte, mas as vezes eu também preciso de cuidados.

Ninguém nunca viu as crises de ansiedade e de pânico que tenho sozinha. Foram tantas, que acabei conseguindo me acalmar por conta própria, e quando não consigo, só lembro de sentir um aperto no coração, um sufoco e uma falta de ar tão forte que acabava apagando, acordava achando que tinha morrido, mas estava de volta a minha vida fracassada de novo. Aconteceram isso várias vezes, ninguém estava lá. Apenas eu.

— Vou preparar algo para comer, não comeu nada hoje. — falo terminando de secar seus cabelos. Minha mãe estava calada e quieta, eu já me acostumei com essa versão.

Sai do quarto deixando ela deitada. Levando a bandeja com as coisas que provavelmente não serviria mais para o consumo. Quando chego na sala me surpreendo com meu pai andando de um lado para o outro.

— Até que enfim né pai. — falo com um certo sarcasmo deixando a bandeja na mesa.

— Filha...você tem algum dinheiro para seu pai? — ele se aproxima de mim e parece nervoso e impaciente.

— Pai, já vivemos na miséria, eu compro as coisas com meu dinheiro do jeito que dá, porque depois que entrou nesse maldito vício, nunca vi dinheiro nenhum seu.

— Filha, eles vão vir atrás de mim. — ele coloca a mão na cabeça e sai andando indo para o quarto parecendo um lunático.

— Pai não dá mais, tô cansada disso, se quer acabar com a sua vida, vai sozinho e deixa eu e a mamãe em paz. — eu o sigo e ele entra no quarto deles e começa a vasculhar as gavetas.

— Sua mãe deve ter algum dinheiro aqui não tem? — ele parecia um louco enquanto jogava tudo no chão.

— Pai, não tem nada aí. — as lágrimas estavam presente em meu rosto.

— O que está fazendo Noah? — minha mãe se levanta, vou para a frente dela porque já sei onde isso iria acabar, ele ficaria descontrolado e agredia quem visse pela frente. Achei que ele viria para cima de nós, mas tinha deixado minha bolsa em cima da mesinha do quarto, seus olhos foram diretamente para lá. Tentei ser rápida e pegar primeiro, mas ele foi mais rápido e jogou todo conteúdo da bolsa no chão, inclusive o envelope com o único dinheiro que eu tinha. Foi o que ele pegou primeiro tirando e verificando as notas.

— Pai...por favor. Eu fui mandada embora, só tenho esse dinheiro até ver o que vou fazer. — eu chorava sem parar porque sei que ele não daria importância.

— Eu juro que devolvo.

Foi a última coisa que ele disse antes de sair pela porta correndo. Eu me ajoelhei no chão chorando em desespero.

— Porque não disse que tinha sido demitida? — minha mãe pergunta voltando a sua pouca normalidade. Eu só conseguia chorar e catei as coisas do chão. De longe um papel pequeno chamou a minha atenção e a para a minha surpresa era o cartão idêntico ao que eu tinha rasgado. Mas atrás tinha uma escrita de caneta.

"Tinha certeza que iria descartar o primeiro, esse é caso mude de ideia"

Em que momento aquele cara jogou isso na minha bolsa?

Não queria saber o que aconteceria, mas aceitar a proposta daquele homem seria a resolução dos meus problemas.

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Comments

Kelly Sartorio

Kelly Sartorio

eita

2024-04-12

7

Janaira mary cardozo Cardozo

Janaira mary cardozo Cardozo

acho que a dona ficou com ciumes

2024-03-10

1

Maria Tereza Nunes Avila

Maria Tereza Nunes Avila

Que triste a situação dela e da mãe dela 😢 😢

2024-03-06

1

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