Capítulo 12. Lembranças

Olhando as imagens, percebeu uma foto que continha a família dos dois sócios, juntos, com suas famílias, na frente do  prédio ainda em construção. 

Na frente de todos, uma menininha, com seus seis anos, em um vestido branco, solto, sorria feliz, segurando a mão do pai e do garoto ao seu lado, ele.

Seus olhos arderam, por segurar as lágrimas que queriam cair. Estavam todos na foto e parte deles já haviam falecido. Naquela época, todos ainda moravam no interior, na cidade de Brusque, no sul. Foi lá que quase se afogou no rio que inundou e foi salvo. 

Tudo indicava que foi Elizane Dumont, a sua salvadora, mas ela sumiu depois que o salvou e nunca mais a encontraram, pelo menos, até agora. Será que Elizane apareceu? Ronald não teve coragem de encontrar com ela, pelo medo de mais uma decepção, já que outras apareceram e não eram ela.

Não compreendia o porquê dela ter sumido por todo esse tempo e só agora, aparecer. Contemplou aquelas fotos com carinho e fechou as páginas. Lembrou que Marluce não se lembrava de sua infância, será que o mesmo aconteceu com Elizane? Se perguntou.

Voltou a olhar a imagem das câmeras e viu que Marluce foi para a sala do diretor.

*

Marluce bateu na porta e recebeu autorização para entrar.

— Boa tarde, senhor. Me chamou?

— Sim, Marluce, sente-se. Estou esperando um cliente importante e quero que você seja responsável por esse projeto. Vou lhe passar as informações antes dele chegar. Já encaminhou seu projeto para o concurso?

— Sim, senhor, tinha acabado de enviar, quando Lúcia chegou.

— Aliás, onde ela está?

— Foi demitida pelo CEO.

As sobrancelhas do diretor franziram, mas ele continuou seu trabalho, não discutiria as ações do CEO. Pegou o telefone e chamou Michele.

— Michele lhe servirá como secretária, além de Mindy, ela é meio doidinha, mas é ótima nos serviços gerais.

— Já tenho uma equipe, elas devem gostar, já que vivem no meu pé.

O diretor sorriu, é sempre assim quando um funcionário se sobressai com seu trabalho.

— Você tem trabalhado muito bem e elas te admiram, aproveite.

Depois disso, o diretor começou a passar para ela todos os dados do novo cliente, sobre a empresa e os produtos que produziam, os dados da aceitação do público e o aumento que queriam atingir. Michele chegou e recebeu seus comandos.

— Conheço esses produtos e as embalagens não são atrativas, deveriam mudar. Também devemos focar no público alvo, eles estão sendo comercializados para crianças, mas crianças preferem sabores mais leves e estes têm muito tempero, o alvo deveria ser jovens e adultos.

— Muito bom, Marluce. Anotou, Michele?

— Sim, senhor. Aliás, a recepção avisou que o cliente está chegando.

— Estamos prontos, vá recebê-lo, Michele.

Michele retornou com o cliente, um homem de estatura mediana, com a barriga maior do que sua blusa, que estava esgarçada. O cheiro de sua pele gordurosa, fazia ele parecer um dos salgadinhos que fabricava.

O diretor o recebeu de pé e ela também, porém se abstendo de apertar sua mão, disfarçando que lhe servia uma bandeja com café e água, que Michele havia trazido.

— Seja bem vindo, senhor Cristóvão. Estávamos discutindo como melhorar suas vendas.

O homem deu um imenso sorriso amarelado de salgadinhos. Michele tentou se manter longe das mãos do homem, pois já tinha percebido que ele era grudento.

A reunião teve continuidade e o homem gostou de tudo, principalmente das duas mulheres e depois que tudo foi dito, marcaram um novo encontro, para mostrar o projeto e se ele aprovasse, assinariam o contrato.

Infelizmente, foi mais complicado se livrar do homem, que queria levar todos para um restaurante e foi nessa hora que Douglas apareceu, mágicamente, para acompanhar o homem com uma desculpa.

Marluce e Michele se jogaram nas cadeiras, aliviadas pelo homem ter saído.

— Me desculpe, diretor, mas esse homem é asqueroso. — disse Michele.

— Eu não o conhecia pessoalmente, tratei tudo com o diretor de Marketing dele. Desculpe, talvez fosse melhor uma equipe de homens.

A conta era grande e envolveria um grande capital, com uma polpuda comissão.

— Não há necessidade, daremos conta, desde que não precisemos sair com ele. Aqui dentro poderemos controlar a situação. — disse Marluce.

— Ok, então, prepare tudo para daqui a sete dias, vamos tentar encerrar logo isso.

— Sim, senhor. Se eu conseguir terminar antes, lhe aviso. Obrigada pela preferência, diretor. 

Depois de agradecer, ela saiu seguida de Michele. Chegou a sua sala e notou que alguém esteve lá.

— O que será que tanto vasculham na minha sala?

Michele escutou e olhou em volta, sem perceber nada fora do lugar.

— Como você sabe que alguém esteve aqui? Me parece tudo no lugar.

— É a atmosfera…sinto a diferença…é algo que acostumei a perceber, por causa do casal que me adotou, eles eram idosos e eu precisava estar sempre atenta.

Michele não entendeu o que uma coisa tinha a ver com a outra e ficou calada. 

— Por onde quer começar?

— Preciso que pesquise a criação dos salgadinhos, peça a eles que tragam algumas caixas do produto, distribua no departamento e colha informações. Peça ao RH alguns modelos com idade entre 16 e 25 anos e convoque uma reunião com a equipe de artes. 

— Agora? — perguntou Michele, assustada com o tanto de trabalho.

— Não, só deixe anotado, para fazer amanhã. Não esqueça que Mindy está a nossa disposição.

Michele sorriu, satisfeita com a nova função, servir Marluce era bem melhor do que servir Núbia. O ambiente ao redor do acionista, era sempre pesado e cheio de artimanhas e complôs, nada de trabalho real. Além é claro, da Núbia ser péssima em seu trabalho.

— Vamos embora, já passou do final do expediente. Até amanhã, Michele.

— Até amanhã, Marluce, será um prazer trabalhar com você.

Marluce sorriu, pegou sua bolsa e saiu. Sabia que encontraria Ronal esperando, mas estava cansada para sair. Todo o movimento do dia, foi demais para sua cabeça e tudo que queria era chegar em casa, tomar banho, comer e dormir.

Mas ele estava lá, esperando com seu carro e desceu para abrir a porta para ela. A sorte era que o movimento de saída dos funcionários já havia passado e os únicos a verem os dois saindo, foram os seguranças e Michele.

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