Capítulo 6. Fofocas

No dia seguinte, Marluce estranhou os olhares, risinhos e fofoquinhas dos outros funcionários, mas não ligou e subiu para sua sala. Quando chegou, uma das secretárias do departamento, estava encostada em sua porta, esperando-a.

— Bom dia, posso lhe ajudar?

— Eu é que posso lhe ajudar. Estão todos comentando sobre você estar saindo com o presidente.

— Sim, ele me convidou e daí? Ninguém tem nada a ver com a minha vida.

— Bem, — ela olhou para as unhas — o pessoal está dizendo que o julgamento do concurso, não será justo.

— É mesmo? Diga a eles para falar com o presidente. Agora, saia da frente que tenho que trabalhar.

A secretária, de nome Michele, uma loira totalmente sem noção vestida de forma sensual, saiu rebolativa e dizendo:

— Grossa, além de vadia…

— E você é fofoqueira, além de sem noção.

Marluce entrou em sua sala e trancou a porta, antes que a outra entrasse ou chegasse mais alguém. Tirou o notebook da bolsa e pousou-o sobre a mesa, sentou-se e só então, notou que mexeram em suas coisas.

Ligou para a segurança:

— Bom dia, arrombaram minhas gavetas, podem investigar, por favor.

— Bom dia, senhora, estamos indo.

Quando o chefe de segurança chegou, não veio sozinho, estava acompanhando o presidente Ronald.

— Onde mexeram, levaram alguma coisa?

— Ainda não olhei, foi aqui nas gavetas.

Ela se afastou  depois de devolver seu notebook para sua bolsa e pendurá-la no braço.

— A senhora guarda alguma coisa importante nessas gavetas? — perguntou o chefe de segurança.

— Não, eu sempre levo meu trabalho comigo.

— Enquanto eles investigam, vou te levar para trabalhar em minha sala, ninguém ousará entrar lá.

Ela o olhou irritada, pensando: será que ele não percebia que ao invés de ajudar, estava criando confusão para ela?

— Desculpe chefe, mas prefiro tirar o dia para trabalhar em casa, enquanto arrumam aqui. — disse ela, não se deixando levar, pois era hora de trabalhar e não de flertar com o playboy.

— Tudo bem, pode deixar, você está trabalhando no projeto do evento? — perguntou ele, querendo que ela se aproximasse mais.

— Sim e é por isso que não deixo aqui, é arriscado. — respondeu Marluce, querendo sair logo de perto dele e daquele lugar. Não queria misturar suas prioridades.

Ele achou que seria uma ótima oportunidade de estarem próximos, mas não queria forçar a barra. Havia uma coisa que preparou para ela e não aceitaria recusas.

— Douglas, as chaves.

— Aqui está, senhor. — o assistente entregou uma caixinha para o patrão.

— Não gostei daquele lugar onde você mora, meu motorista também não e deixou seu veículo na garagem subterrânea.

— E? — perguntou ela, curiosa com o que ele aprontou.

— Mandei preparar um apartamento da empresa, para você. Aqui estão as chaves e não aceito recusas. Você pode ir para lá, é próximo e pode ir andando, se quiser.

Ela pensou nos prós e contras e achou que vinha bem a calhar, ter um endereço que não era suspeito. Resolveu aceitar.

— Ok, veio bem a calhar, não tenho tempo a perder no trânsito. — Pegou a caixinha, que tinha um cartão com o endereço e saiu.

Ronald ficou olhando para as costas dela, se afastando e resmungou:

— Ela nem se despediu…

— Também não agradeceu. — disse Douglas, imitando o patrão.

Ronald, então, assumiu a investigação e mandou reformar a sala de trabalho de Marluce, com tudo de mais moderno na área de computação e de propaganda e marketing.

Examinou, com o chefe de segurança, as imagens das câmeras e viu quem entrou na sala e tentou abrir as gavetas. Não foi uma pessoa só, foram três. Mandou demitir todos e chamou Michele a sua sala.

A secretária ficou nervosa e arrumou-se, querendo impressionar o patrão. Foi anunciada e entrou, encontrando-o assinando papéis.

— Pois não, senhor?

— Sente-se um instante.

Depois de meia hora, ele levantou os olhos dos papéis e olhou para ela.

— O que a fofoqueira da empresa me conta dos últimos comentários?

Arregalando os olhos e de boca aberta, ela se deixou levar pela surpresa. Ele esperou ela se recuperar e responder.

— Eu não sou assim, senhor!

— Não é o que mostra o vídeo de segurança — ele acionou o controle e abriu a tela, mostrando o vídeo onde ela abordou Marluce.

Ela ficou vendo a si mesma sendo tão afrontosa e ficou com receio do que ele faria com ela.

— Desculpe, senhor. Só queria avisá-la de que não deveria se conduzir de forma inconveniente, por causa do concurso.

— Eu a levar em casa, é um inconveniente? Então, você quer que eu limite meus atos, para vocês não ficarem pensando em calúnias contra seus colegas?

— Falando assim, soa muito estranho, senhor.

— Sei, pois daqui para frente, você guardará seus palpites para você e defenderá a senhorita Marluce. Caso contrário, já sabe…

— Sim, senhor, eu lhe agradeço a oportunidade, o senhor não se arrependerá. — Michele achou que ele estava sendo muito bonzinho e rapidamente consentiu.

— Pode ir.

Ela aproveitou e saiu correndo, enquanto Ronald acessava as imagens das câmeras, vendo para onde ela ia. Sabia que ela não estava agindo sozinha, mas não queria alarmar a outra pessoa.

Viu quando ela entrou na sala de quem ele desconfiava, era sua prima, uma das herdeira de poucas ações da empresa e estava doida para assumir as rédeas. 

Era formada em designer de moda, mas não tinha talento. Talvez quisesse participar do concurso, mas não sabia o que fazer e pensou em roubar da Marluce.

— Vá pensando, nunca que você vai me vencer.

— Como, senhor?

— Nada, Douglas. Quero que vigie Núbia, ela está tramando algo ruim e quero pegá-la no pulo.

— Sim, senhor.

— Ela foi para o apartamento?

— Hã? A senhorita Marluce? Sim, foi.

— Ela aceitou tão fácil…

— Creio que ela pesou na balança e percebeu uma boa oportunidade.

— É, pode ser.

*

Marluce seguiu para o endereço escrito no cartão. Andou dois quarteirões, examinou as lojas térreas dos altos prédios e achou uma delas muito interessante, de aluguel de roupas de festas. Entrou.

— Oi, senhorita, procura algo especial?

— Acessórios de palhaço, gola móvel, nariz, chapéu…

— Ah, sim, algo só para dar a aperência.

— Sim.

— Venha por aqui. Temos exatamente o que a senhorita quer.

Marluce saiu da loja satisfeita, no dia seguinte, mudaria o topo das hashtags fofoqueiras da empresa.

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