Capítulo 7. Palhacinha

Marluce chegou ao apartamento e ficou satisfeita com o que viu. Era confortável e elegante, sem ser pomposo. Tinha um quarto, sala, cozinha e banheiro, com uma decoração prática e com tudo que necessitava.

— Uau, ele se superou, tem até roupas e calçados nos meus tamanhos. Tô gostando desse negócio de ter dinheiro.

Depois de examinar tudo, se acomodou no sofá confortável, com uma latinha de refrigerante ao lado e trabalhou tranquila, cheia de inspiração, durante várias horas, até sentir fome.

No dia seguinte, já havia uma turma no hall de entrada da empresa, pronta para jogar seu veneno em Marluce, só por ela ter sido agraciada pelo presidente. Não conseguiram seu intento, quando viram a garota entrar, caracterizada de palhaça.

— Bom dia! — cumprimentou ela, em voz alta para que todos ouvissem.

O porteiro riu, seguido dos seguranças e da recepcionista, logo a risada foi total e ela se inclinou, agradecendo e rapidamente passou por todos, escorregando nas rodinhas de seu tênis. Entrou na fila do elevador, com todos olhando para ela.

O elevador abriu e a fila andou, até que a jovem que estava na sua frente, ocupou o último lugar vago e esticou o braço para dar tchau, com um sorriso de zombaria. Marluce sorriu de volta e segurou o pulso da jovem, puxando-a para fora e imediatamente, ocupando o seu lugar.

Enquanto a porta do elevador fechava, ela acenou para a jovem e depois pegou o celular e tirou uma self, com todos que estavam com ela no elevador. Aproveitou a subida do elevador e publicou a foto na página dos funcionários, com o título:

“ O que é melhor: ser palhaça ou fofoqueiro? “

Todos ficaram sem ação, até que os funcionários leais publicaram seu apoio à palhacinha, que ocupou o primeiro lugar nas publicações mais comentadas, como planejou.

No escritório, Ronald não conseguia evitar suas risadas. Douglas ficou preocupado e pegou um copo d'água para seu patrão, tentando acalmá-lo.

— Beba um pouco d'água, senhor. O senhor perderá o fôlego, rindo desse jeito.

— Mas foi hilário, Doug. Ela é demais, quem pensaria em mudar as coisas usando uma fantasia de palhaça? 

— É verdade, ela foi super original.

— Eu estava pronto para interferir, quando vi os grupos formados lá embaixo, mas não precisei.

— Foi a senhorita Núbia, ela tem outra secretária a ajudando.

— Fique de olho, não a deixe atrapalhar Marluce. Traga o meu café e mande um para ela também.

Douglas saiu para providenciar o café, dando ordens às secretárias, que correram para obedecer. Ele foi até o departamento de propaganda e marketing, sondar o ânimo dos funcionários após a aparição de uma palhaça, na empresa.

Apesar do patrão ter dado risada, a norma da empresa não permitia que andassem de fantasias no local, durante o expediente. Teria que a avisar, antes que alguém viesse exigir que expulsassem ela. 

Marluce não era tola, ela conhecia as regras da empresa, então, seguiu para o banheiro, assim que saiu do elevador e  tirou os elementos da fantasia. Foi para sua sala de cara limpa e levou um susto quando entrou.

— Mas o que é tudo isso?

— O CEO mandou trocar tudo, o computador é o último lançamento em tecnologia do mercado. — disse a secretária do setor, Mindy.

— Uau! Isso tudo é muito legal. E a segurança, acharam o invasor?

— Encontraram os invasores e foram demitidos.

— Os? Foi mais de um?

— Sim. Agora, os funcionários estão todos temerosos.

— Não precisam ter medo de nada se não fizerem nada de errado.

Toc, toc.

Bateram na porta, era Michele.

— Bom dia, dona palhaça, — bateu palma — você conseguiu mudar o tópico das fofocas.

— Não dá para deixar a trupe sozinha.

Toc, toc.

Michele saiu do caminho e um copeiro entrou com um carrinho trazendo o café da manhã.

— Café da manhã para a senhorita Marluce. 

Michele e Mindy ficaram em suspenso vendo a fartura na mesa e assim que o copeiro se retirou, olharam para Marluce, interrogativamente.

— O quê?

— Tem muita comida… — argumentou Mindy.

Marluce riu do interesse das duas e comentou:

— Então, não tem problema vocês comerem, mesmo que seja um privilégio do patrão?

— Bemmm… — Michele tentou inventar uma desculpa, mas não conseguiu.

— Vamos comer, estou com fome.

Marluce serviu-se e deixou que as duas também comessem. Estava achando ótimo aquele movimento, parecia uma festa. Não seria hipócrita de não aproveitar.

— Está uma delícia, obrigada Luce.

Marluce olhou Mindy e riu da intimidade com que a outra a tratou.

— Estão à vontade, desfrutando da regalia?

— Desculpe por ontem, Marluce, não foi por mal. — pediu Michele, sendo sincera, pois servir Núbia não lhe trouxe benefício nenhum, com Marluce estava bem melhor

— Ah, com certeza foi para o meu bem. Eu sei, mas agora, são vocês que estão desfrutando.

As duas pararam com a mão no ar, levando um pedaço de sanduíche à boca.

— Bem, você já deu um jeito nas fofocas, não é? — perguntou Mindy, com receio.

— Não importa, peguem seus cafés e saiam, preciso trabalhar.

As duas fizeram careta, pegaram o máximo que puderam e saíram, deixando Marluce rindo das duas.

Pegou seu copo de café, colocou no apoio da mesa e ligou seu novo computador. Para seu prazer, estava iniciado e tinha um programa de segurança máxima, ela precisou registrar sua digital e sua córnea e pronto.

— Isso sim é segurança, uhuuuuu!

Só então ela pegou seu pendrive, contendo os dados do trabalho que fez no dia anterior e inseriu no computador. As imagens estavam lindas e conseguiu trabalhar muito mais rapidamente. 

Ronald acompanhou tudo, através da mini câmera oculta que colocou na sala dela. Quando percebeu ela desligando tudo e pegando o pendrive, começou a arrumar suas coisas e saiu.

— Já vai, senhor? — perguntou Douglas, depois de observar seu chefe ficar o dia todo, vigiando Marluce.

— Sim, não precisa chamar o Ramon, vou dirigindo.

Enquanto Marluce saía, ele já estava na garagem e dirigiu o carro até a saída, esquecendo que a motoneta dela estava na garagem. Ele parou na frente da empresa e esperou por ela, até ver a scooter passar na sua frente, saindo da garagem. Não teve dúvidas, foi atrás.

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