Capítulo 10. Almoço

Douglas enviou para Marluce um convite para o almoço, feito pelo CEO. Encomendou a comida, verificou as novas salas, o ânimo dos funcionários e voltou para a sua sala, encontrando Núbia. Só então ele examinou os documentos que ela viu.

— Realmente, não há nada demais, ela não pode usar essas informações contra o CEO.

Saiu com as pastas nas mãos, para informar o patrão e encontrou Núbia saindo da sala.

— Olha o cupincha chegando. Você é um homem bonito, Doug, muitas mulheres ficam olhando quando você passa, por quê você prefere homens?

— Uh? — perguntou ele, de olhos arregalados.

— É, só pode ser gay…

— Eu não sou gay!

— Então, pare de babar os ovos do Ronald. — disse ela séria e saindo rebolativa, pelo corredor.

Douglas ficou furioso com a mulher abusada, mas retornou a sua postura fria e entrou na sala, percebendo que Ronald também estava aborrecido.

— Desculpe, senhor. Ela entrou na minha sala e viu as pastas que a secretária deixou lá.

— Tudo bem, eles teriam que saber mesmo. Só não quero que ela descubra sobre Marluce.

— Por causa da aposta que o senhor não aceitou? — perguntou Douglas, sorrindo com ironia, pois achava tudo uma idiotice.

— Não me lembre disso, eu não aceitei, mas ela continua me cobrando. Apesar de me cobrar, não a vejo se esforçar para arranjar um namorado.

— Ela acredita que você nunca se casará.

— Ou que se casará comigo, creio que foi por isso que fez a aposta.

— Então, ela não pode sequer desconfiar de sua paixão.

Ronald olhou para Douglas, sem acreditar que seu acessor foi tão desmedido e falou aquilo em voz alta.

— Eu disse para você ser discreto e você faz essa declaração? E se entra alguém? Vá, saia daqui, chega desse assunto.

Tudo que Ronald queria, era voltar as imagens do computador.

*

Marluce achou melhor aceitar o convite para o almoço e esclarecer logo a situação entre eles. Assim que deu a hora, ela fechou tudo para sair e foi impedida pela Michele.

— Vim te buscar para almoçarmos juntas.

— Desculpe, Michele, mas vou sair, não vou almoçar no refeitório.

Michele fez uma cara triste, apesar de estar, na verdade, curiosa.

— Posso ir com você, ou terá um encontro.

Marluce suspirou, irritada.

— Pare de empatar o meu caminho, não entendi ainda, quando você se tornou minha amiguinha. Sai!

Michele ficou vermelha, sem saber como responder sem denunciar sua situação e só saiu da frente, deixando a outra passar. Marluce foi para o elevador, entrou rapidamente, aproveitando que ele estava parado no andar e fechou a porta, impedindo Michele de ir atrás.

Para despistar, ela desceu até o térreo e depois esperou para subir no outro elevador, seguindo para a sala do CEO. Antes mesmo de bater, a porta foi aberta por Douglas, que a convidou a entrar.

— Boa tarde! — cumprimentou ela, o CEO que fingia olhar uns documentos.

Ronald levantou a cabeça para olhá-la e sorriu, como se não tivesse percebido sua entrada, disfarçando sua ansiedade. Levantou-se, foi até ela e segurou suas mãos, beijando uma de cada vez.

— Boa tarde, que bom que aceitou meu convite.

Observou-o, desde que entrou, e percebeu seus disfarces e sua maneira antinatural de agir. Queria desmascarar sua atitude, mas não podia fechar todas as possibilidades, então foi na onda dele.

— Eu agradeço o convite e será bom para esclarecermos algumas coisas.

Ele não conseguiu disfarçar o choque, ao ouvir que ela quer “ esclarecer “ algumas coisas.

— Venha, vamos almoçar antes que esfrie.

Ela viu a mesa posta e sentiu o aroma delicioso que exalavam os alimentos. Sua fome pareceu aumentar e ela sentou-se rapidamente.

— Parece tudo uma delícia, gosto de ensopados e cozidos e estes parecem uma delícia.

Ele sentou-se à frente dela e começou a servi-la, perguntando o que gostava.

— Não precisa me servir, eu mesma o faço. — pediu ela.

— Eu gosto de cuidar de você.

— Não quero ser grossa, mas eu gosto de me servir eu mesma.

— Está bem, sirva-se à vontade, então. 

Ele sorria apesar de se sentir um pouco desprezado.

Começaram a comer em silêncio, pois Marluce comia com prazer e sem se preocupar com a etiqueta. Pegou uma costelinha com molho barbecue e destrinchou-a com os dentes, sujando ao redor da boca com o molho.

Ronald observou aquela maneira de comer e não sabia se estava com nojo ou queria lamber o molho de sua boca. Ela notou que ele parou de comer e olhava para ela e riu.

— Sua cara é cômica. Seu bobo, eu sei que estou sendo deselegante, mas é muito bom comer assim. Não vejo por que preciso ser tão restrita, quando estamos só nós aqui. Coma, está uma delícia.

Então, ela lambeu os dedos e continuou a comer.

— Você é muito diferente, mas eu gosto e queria lamber todo esse molho a volta de sua boca e dedos.

Marluce arregalou os olhos, surpresa com o descaramento do homem,as após a surpresa, ficou vermelha e abaixou a cabeça, rindo envergonhada.

— Nossa! É melhor você não falar essas coisas. Foi sobre isso que vim lhe falar. Somos muito diferentes e não tenho vergonha de ser quem eu sou. Não vou me tolher, para agradar uma sociedade materialista, que julgam as pessoas pela aparência.

— O que você quer dizer com isso?

— Que não devemos nos envolver. Vivemos em mundos diferentes e não estou disposta a ser saco de pancadas por sia causa.

Ele ficou uns segundos fitando seu rosto corado e analisando o que ela falou e de forma alguma aceitou.

— Não aceito nos separarmos por causa de discriminações e convenções arcaicas. Sei que você gosta de mim, ficou claro ontem, que sentimos a mesma coisa.

— Você não está me ouvindo. Acho que você está só querendo mudar de ares, trocar as modelos por uma caipira sem noção.

— Não fale assim de você mesma, não se deprecie, assim você me deprecia também. Você é diferente sim e é por isso que gosto de você. Você é natural e autêntica, não tem rodeios para falar o que sente e não faz o que todos querem em prejuízo de si mesma. Gosto do seu caráter.

Ela sorriu com o discurso dele, que acertou em cheio na descrição dela.

— Você é terrível!

— Terrível é a sobremesa que tem para nós. 

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