É Melhor Assim...

Quando acordo, Raquel já está de pé, não faço ideia de que horas são.

— Já está de pé? Que horas são? — pergunto.

— 8:30.

— Por que acordou tão cedo?

— Dormi cedo.

— Vai querer ir comprar o vestido?

— Vou, mas posso ir sozinha.

— Ok.

Não vou insistir para ir com ela, se quer ir sozinha é porque não quer e não faz questão da minha companhia.

Ela pega um casaco e sai do quarto sem olhar para trás, acho que dessa vez eu consegui magoá-la de verdade.

P*rra!

Levanto, tomo um banho e visto uma blusa de mangas compridas, de cor marrom, uma calça jeans preta e um coturno também preto e desço para tomar café.

Por sorte não tem ninguém aqui, não estou afim de conversar. Hoje sou só eu e meus pensamentos e a certeza que dessa vez a loirinha vai sair de vez da minha vida e eu não farei nada para impedir, na verdade é melhor assim.

Tomo meu café e volto para o quarto, tiro o coturno e me jogo na cama.

Meu celular toca em cima da mesa de cabeceira, é uma chamada de vídeo de um número que não conheço. Penso em não atender, mas se tem meu número particular, deve ser alguém conhecido.

— Não desligue, por favor?

— O que quer? E quem te deu meu número?

— Temos amigos em comum, Caio.

— Eu não tenho nada para falar com você Bárbara, me deixe em paz!

— Por favor, Caio, só me escuta?

— Você tem cinco minutos.

— Após aquele dia do casamento, Maurício me deixou, nos divorciamos, e eu queria seu perdão.

— Eu já te perdoei, sou cristão e acredito no perdão, era só isso?

— Eu te quero de volta.

— Isso é impossível.

— Não é! Eu quero te ver de novo e repetir tudo o que fazíamos juntos.

Nessa hora Raquel entra no quarto muito séria, deixa umas sacolas e sai em seguida.

— Preciso desligar. — digo.

— Posso te ligar outra vez?

— Não.

— Eu não vou desistir, Caio.

— Deveria. — digo e encerro a chamada.

Saio do quarto e desço as escadas rapidamente, procurando por ela, a vejo do lado de fora, ela não está agasalhada, vai acabar ficando doente.

— Você vai ficar resfriada. — digo quando ela entra.

— Como se isso te importasse!

— Claro que me importo, quero te devolver para sua mãe em perfeito estado.

— Não precisa se preocupar comigo.

— Não sabia a que horas você ia voltar.

— Tanto faz!

— Por que está na defensiva?

— Não estou.

— Está sim.

— Você precisa pensar em uma forma de dizer para sua família que terminamos, essa é a última vez que faço isso.

— E o chá semana que vem?

— Eu não vou!

— Nem com um novo contrato?

— Chega de contratos! Esse foi o último.

— Ok, vou pensar em algo para falar para eles.

— Nós vamos embora amanhã?

— Vamos, disse que ficaremos com sua família.

Conversei sobre isso com minha mãe e ela adorou a ideia de eu ficar com a família da Raquel.

— Não precisa ir. — ela diz e eu não gosto, mas é melhor assim.

— Não quer que eu vá?

— Na verdade não.

— Tudo bem.

— Vamos fazer assim, fala que nós terminamos e eu vou embora hoje mesmo.

— É isso que quer?

— Sim.

— Tudo bem então, vou pedir para prepararem o jato, você ainda vai conseguir passar o Natal com sua família.

— Ótimo.

— Arrume suas coisas, o motorista vai te levar, tente sair sem ninguém te ver.

— Pode deixar.

Saio imediatamente sem olhar para trás, pois se eu ficar mais tempo ou se olhar para ela talvez eu acabe pedindo para ela ficar e é melhor assim. É melhor ela seguir sua vida e eu a minha.

Faço umas ligações e peço para preparem o jato para levá-la de volta e peço ao motorista para levá-la até ao aeroporto.

— Caio? — minha mãe me chama.

— Oi mãe.

— A Raquel come de tudo? Ou preciso fazer algo a mais na ceia para ela?

— Ela não vai estar na ceia mãe.

— Como assim?

— Ela foi embora.

— Como assim? O que aconteceu?

— É melhor assim mãe, acredite, estou a livrando de mim, é melhor ela encontar alguém melhor que eu.

— Melhor que você? Impossível meu filho, não conheço outra pessoa melhor que você, você é uma pessoa muito bondosa, ajuda tantas pessoas com as doações que faz, você é um homem de ouro Caio, a mulher que estiver ao seu lado terá muita sorte. — nego com a cabeça.

— Não mãe, isso nada tem nada haver.

— Você pode está desperdiçando sua oportunidade de ser feliz, esqueça essa Bárbara e siga frente meu filho, é pra frente que se anda. Essa moça, Raquel, parece ser muito boa, correta, séria, honesta.

— Ela é! E justamente por isso não posso continuar com isso.

— Deveria entrar no primeiro avião e ir atrás dela.

— Não mãe, está tudo bem, vou ficar essa semana aqui e descansar.

— Você é muito teimoso Caio, que cabeça dura! — ela me abraça, dá um beijo em minha bochecha e sai.

Sento no sofá da sala e fico pensando em tudo que já vivi até aqui, em 29 anos de vida. Já namorei por cinco anos com uma mulher que não me merecia e quase casei com ela.

Antes de ficar com Bárbara eu levava uma vida mas regrada e séria, tinha meus encontros e casos, mas não eram de uma noite só, escolhia alguém e ia ficando até onde desse, mas sempre deixava claro que não queria compromisso, mas que poderíamos ficar até onde fosse confortável para os dois.

Sempre eram as mulheres que terminavam comigo por começarem a nutrir sentimentos por mim, já que eu sempre deixei claro que minhas intenções eram apenas sexo, sexo sem compromisso. Cheguei a passar mais de seis meses com uma mulher só, mas ela começou a sentir coisas por mim e como eu não sentia o mesmo, ela caiu fora, muito inteligente da parte dela.

Nunca busquei romance em minha vida, até o dia em que encontrei aquela ruiva na balada, ela não tirava os olhos de mim e dançava olhando para mim, até que não resisti, me levantei e fui dançar com ela.

Óbvio que já conhecia Bárbara a muito tempo, é amiga de infância da minha irmã, mas jamais havia olhado para ela com outros olhos, mas na balada eu não resisti a ela.

Dali nós saímos direto para o meu apartamento e quando tr*nsei com ela pela primeira vez eu soube que a queria mais vezes, e assim fizemos, passamos um bom tempo apenas ficando, até que eu comecei a sentir coisas por ela e a pedi em namoro e ela aceitou. O que eu não sabia é que ela também se envolveu com meu melhor amigo, isso foi um golpe muito duro para mim.

Depois que terninei com ela comecei a beber muito e a frequentar baladas, bares e boates praticamente todas as noites, a procura de sexo sem compromisso, quase todas as noites acabei na cama com uma desconhecida que muitas vezes não lembrava nem o nome dela no outro dia.

Eu não posso sentir nada pela a loirinha, infelizmente eu sou assim, incapaz de sentir, se fosse só sexo, mas ela quer mais, elas sempre querem mais, então é melhor cada um ir para o seu lado.

É melhor assim...

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