Sombras do Passado

Dormimos não sei por quanto tempo, somos acordados por minha mãe batendo na porta, dizendo que o jantar está servido.

— Você quer tomar um banho antes do jantar? — pergunto.

— Não, tomamos banho depois, não vamos deixar seus pais esperando.

— Ok.

Meus irmãos estão aqui com minhas cunhadas, só a Bia que não está aqui, porque está em lua de mel, está viajando para Turquia.

— Boa noite. — falamos juntos.

— Boa noite. — ele nos respondem também juntos.

Vou beber um uísque junto com meu pai e meus irmãos, e as mulheres ficam na sala conversando.

— Como estão as coisas no escritório meus filhos? — meu pai pergunta.

— Tudo ótimo pai. — Alex diz.

Alex e eu somos criminalistas, assim como nosso pai, Fabrício é trabalhista.

— Essa moça parece ser gente muito boa. — meu pai diz olhando para Raquel.

— Ela é pai e muito inteligente também, futura advogada, só falta pegar a carteirinha da ordem.

— Ofereça uma vaga no escritório a ela filho.

— Claro que sim pai, ela tem tudo pra ser uma das melhores, pena que não quer ser criminalista, que ser trabalhista.

— Manda ela pra trabalhar comigo, Caio, ela vai aprender mais sobre a área que quer seguir. — Fabrício diz.

— Sai fora! Deixa minha garota em paz, exatamente onde ela está.

— Tá com ciúmes?

— Não! Mas deixe a loira exatamente onde ela está, trabalhando comigo.

— Nunca mais havia te visto tão empolgado com uma mulher Caio, desde a... — Alex para de falar.

— É! Essa mulher tem uma luz própria, não sei, tem algo nela que me prende.

— Sei bem o que é! — Fabrício diz em tom de deboche.

— Muito engraçado. — digo dando um tapa em sua cabeça.

— Vamos jantar? — minha mãe nos convida.

Estamos todos aqui, menos Raquel e Paloma, que ficaram para trás conversando, minha mãe volta para chama-las e vêm as três juntas.

Paloma vai ocupar seu lugar ao lado de Alex e Raquel vem se sentar ao meu.

— E pra quando vai ser o casamento filho? — meu pai pergunta e Raquel olha para mim esperando minha resposta.

— Estamos nos conhecendo ainda pai, não é o momento, Raquel também ainda é muito jovem, acabou de se formar.

— E qual o problema nisso? Eu conheci sua mãe em um dia, no outro fui pedir a mão dela para o seu avô e dois meses depois já estavamos casados e lá se vão 36 anos.

— Os jovens de hoje não tem pressa querido, estão muito focados em suas carreiras, e também nós somos de outra época, hoje em dia eles não precisam esperar pelo casamento, já dormem no mesmo quarto antes disso.

— A carreira é só uma desculpa, eu mesmo me formei enquanto tinha que trabalhar para sustentar vocês e vejam só onde cheguei, hoje vocês têm tudo, porque a mãe de vocês e eu não nascemos em berço de ouro, lutamos muito para vocês terem o que tem.

— Eu sei pai, e agradeço por isso, mas isso é algo que pode esperar, nós não estamos com pressa não é Raquel?

— Não. — ela responde.

— Caio seus irmãos estão todos casados, só falta você, até sua irmã mais nova já casou.

— Casamento não é o mais importante pai.

— Eu não quero você enrolando a filha dos outros, eu não gostaria que fizessem isso com sua irmã.

— Mas eu não estou pai, até já conheci a mãe e as irmãs dela.

— E o pai?

— Eu não tenho pai senhor Fernando, meu pai faleceu faz onze anos.

— Sinto muito, agora que quero que você apresse as coisas mesmo, você precisa cuidar dessa menina, espero que ano que vem vocês já tenham uma data.

— Nós teremos pai.

— Assim espero.

— Vamos fazer a oração e comer? — minha mãe pergunta.

Meus pais são muito religiosos e nos ensinaram a ser também, sempre nos ensinaram a rezar e agradecer por tudo, principalmente pelo alimento.

Ela fecha os olhos e agradece pela vida de todos e depois pelo alimento.

Após o jantar levo a loirinha até o jardim para ver a piscina aquecida. Seria bom estar sozinho aqui com ela, com certeza iria comê-la aqui e agora.

— Não leve em consideração o que meu pai falou. — digo.

— Você deveria ser sincero com ele e dizer que não quer casar.

— Não posso, ele é muito tradicional, se você namora é pra casar, ele nos criou assim, ele ficou horrorizado com o que aconteceu com a Bárbara, ele mesmo me ajudou e escolher o anel de noivado que daria ela. — lembrar disso ainda me deixa triste.

— Sabe Caio, eu acho que quando voltarmos pra casa devemos esquecer tudo isso que aconteceu e seguir nossas vidas.

— Por que diz isso?

— Eu não quero continuar, se você puder me colocar para trabalhar com outra pessoa eu agradeço.

— Não gosta de ficar comigo?

— Gosto, só que estou gostando mais do que deveria.

— Raquel! Pra quê envolver sentimentos? Nos damos bem, o sexo é bom, o que mais precisa?

— Eu não consigo controlar o que sinto.

— Bom, sendo assim não podemos seguir com isso, eu não posso te dar o que deseja.

— Ótimo.

— Caio semana que vem vamos fazer o chá revelação do bebê e Paloma quer que vocês venham. — Alex diz se aproximando.

— Nós iremos. — digo olhando para ela e ela sai nos deixando sozinhos.

— Está tudo bem? — Alex pergunta.

— Está.

— Ela parece chateada.

— Coisa de mulher, sabe como é?

— Caio não desperdice a oportunidade de ser feliz, talvez sua chance seja essa moça, deveria ter esquecido a Bárbara a muito tempo.

— Sabe aquelas pessoas que grudam em você e não querem sair?

— Graças a Deus que não! Curti muito minha vida, mas quando encontrei Paloma, eu soube que era ela e ainda bem que ela também me escolheu, sou muito feliz com minha esposa e agora com a chegada do meu filho, não troco minha vida por nada nesse mundo, e você! Já está na hora de sossegar, casar e formar uma família, aproveite que a vida está te dando uma chance. — apenas assinto e não digo nada. — Bom, eu vou indo, boa noite.

— Boa noite.

As palavras do meu irmão ficam martelando em minha mente, mas eu não posso seguir a diante com ela, eu não quero me apaixonar outra vez, não para depois ter que vê-la indo embora, por que meu passado tem sombras de mais e a loirinha não parece ser o tipo de pessoa que aceitaria ter alguém sempre entre nós.

Eu já tentei com todas as minhas forças, mas a ruiva dos infernos está sempre presente em minha mente, as vezes passo horas lembrando do dia que a vi com meu melhor amigo, mas também não tivemos só momentos ruins, fomos muito felizes juntos, mas ele sempre esteve comigo e com meu amigo ao mesmo tempo, isso deveria ser o suficiente, para não pensar mais nela, mas quem disse que eu consigo.

Quando chego no quarto, a loirinha já está dormindo, tão linda com esses cabelos loiros espalhados pelo travesseiro.

Tudo seria tão simples se tivesse sido você desde o começo loirinha, tudo seria diferente, penso isso enquanto acaricio seus cabelos com cheiro de morango.

Decidi não tomar banho pois está muito frio, apenas vou ao banheiro, escovo os dentes e deito ao lado dela.

Logo adormeço, é sempre mais rápido e fácil de dormir quando ela está por perto.

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