Capítulo 15

Naty,

A vida deu uma reviravolta e eu que não queria me envolver com ninguém

estou agora namorando. Rô é tudo que eu sempre sonhei encontra na vida, mas

confesso que as mentiras que sou obrigada a contar estão me sufocando.

Tenho medo da sua reação ao descobrir que sou a Dona

do morro, ainda não sei sua opinião em relação a quem vive nesse meio e tenho

medo de como reagirá ao descobrir tudo isso.

Não quero lhe perder, ele desperta o melhor de mim,

sem contar a forma que ele me trata, sempre tão carinhoso, tão compreensivo,

cada detalhe torna difícil não o amar.

Minha vida cheia de mentiras e riscos

pode colocá-lo em perigo, até pensei em separar e mesmo sendo egoísta da minha

parte eu não consigo por fim em algo que me faz tão bem.

Os meses estão passando na velocidade da

luz, minha agenda e do Rô é um completo desencontro, mas em meio as

adversidades conseguimos nos conectar.

Um ano de muita loucura, o conselho vem

me pressionando quanto ao delegado, as percas de mercadoria e as dificuldades

em reestabelecer as coisas desde a invasão.

Sabrina segue presa, embora seja réu

primária está sendo marcada por agir como meu braço direito, eu faço o que

posso para ajudá-la, mas nada se compara a liberdade.

Hoje completo um ano de namoro com

Romero, mas o conselho marcou uma reunião para falar sobre o maldito delegado,

já sabemos quem é, conseguimos imagens melhores e informações relevantes, mas

não consegui um plano eficaz para eliminá-lo.

O homem esconde bem seus passos, nenhum

bar, vício vacilo pela cidade. Ele simplesmente sai da delegacia e some no

caminho como um fantasma.

Infelizmente sou obrigada a cancelar meu

encontro com Romero, mas ele também não poderia comparecer por algum problema

no banco em que trabalha, isso me deixa um pouco mais tranquila, pois estava me

sentindo culpada.

Faço algumas ligações, estabelecemos

novas metas e elaboramos nossa rota, tudo muito bem detalhado, dessa vez não

tem erro.

Organizo as coisas sobre minha mesa, me

despeço do pessoal e apago a luz trancando o QG, olho no celular e são 03:00 da

manhã de uma terça-feira.

“Odeio terças”, penso enquanto

guardo as chaves na bolsa e subo na moto. Sinto alguém se aproximar e levanto

os olhos, ficando perplexa com a pessoa em minha frente.

— Romero? — Pergunto incrédula.

— Helena? Naty! — Ele fala tão perplexo

quanto eu.

— Você é o Romero delegado?  — Pergunto depois do choque, não é possível,

como não percebi isso?

— Você fez tudo de caso pensado? — Ele

pergunta sem baixar a arma.

— Não! Eu nuca imaginei, como poderia? —

Respondo e começo a encaixar algumas coisas, não sei como não percebi antes.

Romero abaixa a arma, seu rosto é um

contraste de raiva e decepção, seus olhos estão vermelhos e apesar da escuridão

eu consigo enxergá-lo com perfeição.

Ouço vozes e passos se aproximando, em

instantes isso aqui será palco de outra guerra, não posso agir de forma

imprudente, não quero que meus guris façam algo com ele.

           — Eu

me rendo, pode avisar seu pessoal que você me prendeu, jamais faria algo que

possa te machucar, embora essa mentira já tenha te ferido o suficiente. — Falo

unindo meus pulsos e colocando-o frente a ele.

            Seu

olhar gelado corre sobre mim, sua expressão de desdém me arranca um calafrio,

mas contrariando tudo que imaginei ele dá um passo em minha direção e beija

meus lábios.

            —

Saia daqui agora, quando estiver me um local seguro e longe desse morro, me

manda uma mensagem, temos muito o que conversar.

— Me perdoa! — Peço e as vozes estão

mais próximas.

— Sai daqui agora Helena! — Ele diz e eu

aperto os passos em um beco escuro.

Sem olhar para trás faço meu caminho lavando a face

com lágrimas, preciso sair daqui sem causar alarde, se antes eu já sentia falta

da Sabrina, hoje ela está me fazendo ainda mais.

            Pego

um Uber e até penso em ir para um hotel, mas sei que Romero vai até em casa e

eu não posso adiar essa conversa para outro momento. Ele é o amor da minha vida

e se houver algo que eu possa fazer por nós eu farei.

            Entro

em casa, tomo um banho e lavo a alma com as lágrimas, visto um roupão e me jogo

no sofá, com o dia amanhecendo ouço batidas na porta, sei que é o Romero e ele

tem a chave, se não entrou certamente está muito magoado comigo, com razão.

            Abro

a porta com olhos inchados, Romero está destruído, olho com ternura. Queria lhe

abraçar e dizer que o amo, mas não é o momento, pela primeira vez na vida não

sei como agir ou falar.

            Dou

passagem e ele entra em silêncio, suspira profundo deixando evidente seu

ressentimento.

Confesso que tenho até medo de saber o

que ele está pensando, vou deixá-lo falar para então expor minhas dúvidas.

— De você eu quero a verdade, apenas a

verdade, posso contar com isso? — Ele pergunta com a voz firme me olhando nos

olhos.

— Sim! — Respondo convicta.

— Você sabia que eu era o delegado? —

pergunta sem rodeios.

— Não, embora soubesse o nome, nem nos

piores pesadelos imaginei essa coincidência. — Respondo sincera.

— Mandou me matarem? — Pergunta com

rancor.

           — Sim

e não, mandei matar o delegado só não sabia que vocês eram uma só pessoa. — Respondo

sentindo uma lágrima descer em meu rosto.

— Agora me diz uma coisa, acha mesmo que

posso acreditar em alguém que faz…. que é….! Merda! Droga! — Ele grita confuso,

se afasta e joga alguns objetos de decoração contra a parede.

— Pronto, já destilou a sua raiva? Agora

me diz você, por que eu devo acreditar que não fez de caso pensado? Não se sai

por aí dizendo que é líder de morro, mas existe honra em dizer que é delegado,

informação que você fez questão ode omitir mais de um ano. —  Falo autoritária, mesmo numa situação como

essa não vou baixar minha guarda ele que me prenda.

Romero me observa em silêncio, um peso é

tirado do meu peito assim que coloco para fora tudo que está me sufocando.

— Acha mesmo que se fosse de caso

pensado você já não estaria morto? Que se fosse de caso pensado eu baixaria

minha guarda todas as noites que passamos juntos? Se você está sendo sincero,

fomos vítimas de uma infeliz coincidência. — Continuo no mesmo tom, porém sinto

minha voz sendo embargada pelo choro.

— Helena, você é inteligente o

suficiente para saber que se fosse calculado você já estaria presa a muito

tempo, você é meu prêmio, minha consagração e a chave para voltar para minha

cidade. — Ele grita violentamente.

A dor de uma faca cravada nas costas, um

misto de emoções que me sufoca me deixando fraca e confusa.

        — Não

consigo simplesmente fingir que nunca lhe amei, se na vida amei alguém de

verdade esse alguém é você. Amei não, amo. — Digo abaixando a cabeça e

permitindo o choro que já me domina. — Como será de agora em diante está em

suas mãos.

      De costa

para mim, Romero permanece em silêncio por alguns minutos, a angústia e o

desespero tomam conta do meu corpo, então ele se vira, me olha com tristeza e

retira as algemas do bolso.

— Eu entendo e respeito a sua decisão,

quero que se lembre com carinho de mim e saiba que tudo que vivemos foi real,

não levo arrependimento ou mágoas. — Falo e ergo os punhos, eu aceito as

consequências.

         Romero

segura em meus braços e olha dentro dos meus olhos, sinto uma emoção correndo

em meu corpo e ele joga a algema com força no chão.

— Droga! Merda! Droga! — Diz tomando

meus lábios. — Não posso te prender! Eu não consigo pensar em você dentro de

uma prisão.

Ele me puxa para perto de si e me beija

com tesão, me pegando em seu colo, me leva até minha cama e então nos amamos

com paixão.

Depois do amor ficamos deitados fazendo

carinho um no outro. As horas passaram e eu só percebi depois de meu corpo

gritar por comida.

— Podemos pedir algo ou então faço um

macarrão para nós. — Romero sugere e eu sorrio.

— Você me deve um macarrão. — Respondo

satisfeita.

— Promessa é dívida! — Ele fala e vamos

para a cozinha.

Preparamos um talharim ao molho

bolonhesa, e comemos como se nada tivesse acontecido algumas horas atrás.

Com a fome saciada, recolho os pratos e

coloco na pia, Romero me abraça por trás e me vira dando-me um beijo.

— Precisamos continuar nossa conversa! —

Ele fala e eu baixo os olhos.

            —

Hum! Continue. —  Respondo voltando para

lavar minhas mãos.

            Seco

a água em um pano de prato e fixo meus olhos no dele, sei que é necessário e já

consigo pressentir o fim, mesmo que eu não deseje isso.

            —  Para que possamos dar certo, você não pode

continuar no crime. — Ele fala sério.

— Ainda que eu queira sair, sabemos que

não é assim que funciona, sem mencionar que a própria organização me mata assim

que descobrir meu envolvimento com você. — Respondo realista, não adianta eu me

iludir, essa relação está fadada ao fim.

        — Se os

entregarem estará segura. — Ele fala entrelaçando os dedos aos meus.

          —

Sério isso? Me surpreendo com essa sua suposição, principalmente por vir de

você que libera os “X9” para que sejam punidos por nós. Acha mesmo que comigo

será diferente? Tenho até medo de como será. — Respondo franca.

— Deve haver uma maneira de ficarmos

juntos, sem se intrometer nos assuntos um do outro. —  Ele fala me beijando a testa.

— Eu te amo, Romero. Nunca pediria para

mudar por mim, tudo o que quero é continuar sendo sua. — Digo retribuindo o

carinho.

— Sabe o que fode? Sou encarregado de

lhe prender, perderei minha carreira se descobrirem nosso relacionamento. — Ele

fala apreensivo passando a mão em seu queixo.

— Jura? A facção tem me pressionado

todos os dias pelo seu pescoço, acha que vai acontecer o que quando

descobrirem, se descobrirem. — Rebato preocupada com essa possibilidade.

            —

Helena, nunca duvide do meu amor por você, mas eu realmente preciso de um tempo

para digerir tudo isso, você é a pessoa mais incrível que eu conheci na vida,

se cuida enquanto isso, promete? — Ouço as palavras dele e meu coração se

dilacera.

            Com

um beijo carinhoso nos lábios Romero sai me deixando só, a vida me deu uma

rasteira e eu preciso me levantar, por mais que eu o ame e agora saiba quem de

fato procuro, preciso dar um rumo ao meu destino.

            Os

dias tomaram um sabor amargo de solidão, embora ainda pressionada pela

organização, eu jamais seria capaz de tentar contra a vida de quem eu amo, e se

para protegê-lo eu precisar trair o crime, certamente o farei.

            Seguindo

os orientações do Romero, passo os dias administrando o morro a distância, não

é seguro eu voltar e eu já estava querendo ficar longe um tempo então ninguém

estranhou.

A polícia aos poucos reduziram as

entradas na comunidade, e aos poucos tenho reerguido os prejuízos passados. O

Papa me indicou uma nova assistente supercompetente e isso tem facilitado muito

minha vida, ela só é um pouco violenta, mas é bom que equilibra.

— Mana eu já falei, a senhora é peixe

grande, precisa ficar de longe, para isso temos nossos afilhados, instrui

certinho que o corre flui beleza. — Papa me puxa a orelha outra vez.

— É eu sei, mas eu tinha que viver isso,

agora vou seguir seu conselho. — Concordo sabendo que é o certo.

            A

vida é cheia de altos e baixos e eu não estou me aguentando de saudades do

Romero, já que ele não me manda mensagem eu vou mandar, ele já teve tempo

suficiente para pensar na vida e na gente.

Eu mando uma mensagem e o meu coração se

enche de medo, dúvidas e arrependimento por esse passo. O que farei se

Romero escolher sua carreira e me prender? Realmente ele vale todo esse risco?

Por que justo ele? O único homem que me faz sentir completa.

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Ariel Pires

Ariel Pires

Agora vêm as dúvidas sobre o futuro…

2024-04-23

1

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