Naty,
A vida deu uma reviravolta e eu que não queria me envolver com ninguém
estou agora namorando. Rô é tudo que eu sempre sonhei encontra na vida, mas
confesso que as mentiras que sou obrigada a contar estão me sufocando.
Tenho medo da sua reação ao descobrir que sou a Dona
do morro, ainda não sei sua opinião em relação a quem vive nesse meio e tenho
medo de como reagirá ao descobrir tudo isso.
Não quero lhe perder, ele desperta o melhor de mim,
sem contar a forma que ele me trata, sempre tão carinhoso, tão compreensivo,
cada detalhe torna difícil não o amar.
Minha vida cheia de mentiras e riscos
pode colocá-lo em perigo, até pensei em separar e mesmo sendo egoísta da minha
parte eu não consigo por fim em algo que me faz tão bem.
Os meses estão passando na velocidade da
luz, minha agenda e do Rô é um completo desencontro, mas em meio as
adversidades conseguimos nos conectar.
Um ano de muita loucura, o conselho vem
me pressionando quanto ao delegado, as percas de mercadoria e as dificuldades
em reestabelecer as coisas desde a invasão.
Sabrina segue presa, embora seja réu
primária está sendo marcada por agir como meu braço direito, eu faço o que
posso para ajudá-la, mas nada se compara a liberdade.
Hoje completo um ano de namoro com
Romero, mas o conselho marcou uma reunião para falar sobre o maldito delegado,
já sabemos quem é, conseguimos imagens melhores e informações relevantes, mas
não consegui um plano eficaz para eliminá-lo.
O homem esconde bem seus passos, nenhum
bar, vício vacilo pela cidade. Ele simplesmente sai da delegacia e some no
caminho como um fantasma.
Infelizmente sou obrigada a cancelar meu
encontro com Romero, mas ele também não poderia comparecer por algum problema
no banco em que trabalha, isso me deixa um pouco mais tranquila, pois estava me
sentindo culpada.
Faço algumas ligações, estabelecemos
novas metas e elaboramos nossa rota, tudo muito bem detalhado, dessa vez não
tem erro.
Organizo as coisas sobre minha mesa, me
despeço do pessoal e apago a luz trancando o QG, olho no celular e são 03:00 da
manhã de uma terça-feira.
“Odeio terças”, penso enquanto
guardo as chaves na bolsa e subo na moto. Sinto alguém se aproximar e levanto
os olhos, ficando perplexa com a pessoa em minha frente.
— Romero? — Pergunto incrédula.
— Helena? Naty! — Ele fala tão perplexo
quanto eu.
— Você é o Romero delegado? — Pergunto depois do choque, não é possível,
como não percebi isso?
— Você fez tudo de caso pensado? — Ele
pergunta sem baixar a arma.
— Não! Eu nuca imaginei, como poderia? —
Respondo e começo a encaixar algumas coisas, não sei como não percebi antes.
Romero abaixa a arma, seu rosto é um
contraste de raiva e decepção, seus olhos estão vermelhos e apesar da escuridão
eu consigo enxergá-lo com perfeição.
Ouço vozes e passos se aproximando, em
instantes isso aqui será palco de outra guerra, não posso agir de forma
imprudente, não quero que meus guris façam algo com ele.
— Eu
me rendo, pode avisar seu pessoal que você me prendeu, jamais faria algo que
possa te machucar, embora essa mentira já tenha te ferido o suficiente. — Falo
unindo meus pulsos e colocando-o frente a ele.
Seu
olhar gelado corre sobre mim, sua expressão de desdém me arranca um calafrio,
mas contrariando tudo que imaginei ele dá um passo em minha direção e beija
meus lábios.
—
Saia daqui agora, quando estiver me um local seguro e longe desse morro, me
manda uma mensagem, temos muito o que conversar.
— Me perdoa! — Peço e as vozes estão
mais próximas.
— Sai daqui agora Helena! — Ele diz e eu
aperto os passos em um beco escuro.
Sem olhar para trás faço meu caminho lavando a face
com lágrimas, preciso sair daqui sem causar alarde, se antes eu já sentia falta
da Sabrina, hoje ela está me fazendo ainda mais.
Pego
um Uber e até penso em ir para um hotel, mas sei que Romero vai até em casa e
eu não posso adiar essa conversa para outro momento. Ele é o amor da minha vida
e se houver algo que eu possa fazer por nós eu farei.
Entro
em casa, tomo um banho e lavo a alma com as lágrimas, visto um roupão e me jogo
no sofá, com o dia amanhecendo ouço batidas na porta, sei que é o Romero e ele
tem a chave, se não entrou certamente está muito magoado comigo, com razão.
Abro
a porta com olhos inchados, Romero está destruído, olho com ternura. Queria lhe
abraçar e dizer que o amo, mas não é o momento, pela primeira vez na vida não
sei como agir ou falar.
Dou
passagem e ele entra em silêncio, suspira profundo deixando evidente seu
ressentimento.
Confesso que tenho até medo de saber o
que ele está pensando, vou deixá-lo falar para então expor minhas dúvidas.
— De você eu quero a verdade, apenas a
verdade, posso contar com isso? — Ele pergunta com a voz firme me olhando nos
olhos.
— Sim! — Respondo convicta.
— Você sabia que eu era o delegado? —
pergunta sem rodeios.
— Não, embora soubesse o nome, nem nos
piores pesadelos imaginei essa coincidência. — Respondo sincera.
— Mandou me matarem? — Pergunta com
rancor.
— Sim
e não, mandei matar o delegado só não sabia que vocês eram uma só pessoa. — Respondo
sentindo uma lágrima descer em meu rosto.
— Agora me diz uma coisa, acha mesmo que
posso acreditar em alguém que faz…. que é….! Merda! Droga! — Ele grita confuso,
se afasta e joga alguns objetos de decoração contra a parede.
— Pronto, já destilou a sua raiva? Agora
me diz você, por que eu devo acreditar que não fez de caso pensado? Não se sai
por aí dizendo que é líder de morro, mas existe honra em dizer que é delegado,
informação que você fez questão ode omitir mais de um ano. — Falo autoritária, mesmo numa situação como
essa não vou baixar minha guarda ele que me prenda.
Romero me observa em silêncio, um peso é
tirado do meu peito assim que coloco para fora tudo que está me sufocando.
— Acha mesmo que se fosse de caso
pensado você já não estaria morto? Que se fosse de caso pensado eu baixaria
minha guarda todas as noites que passamos juntos? Se você está sendo sincero,
fomos vítimas de uma infeliz coincidência. — Continuo no mesmo tom, porém sinto
minha voz sendo embargada pelo choro.
— Helena, você é inteligente o
suficiente para saber que se fosse calculado você já estaria presa a muito
tempo, você é meu prêmio, minha consagração e a chave para voltar para minha
cidade. — Ele grita violentamente.
A dor de uma faca cravada nas costas, um
misto de emoções que me sufoca me deixando fraca e confusa.
— Não
consigo simplesmente fingir que nunca lhe amei, se na vida amei alguém de
verdade esse alguém é você. Amei não, amo. — Digo abaixando a cabeça e
permitindo o choro que já me domina. — Como será de agora em diante está em
suas mãos.
De costa
para mim, Romero permanece em silêncio por alguns minutos, a angústia e o
desespero tomam conta do meu corpo, então ele se vira, me olha com tristeza e
retira as algemas do bolso.
— Eu entendo e respeito a sua decisão,
quero que se lembre com carinho de mim e saiba que tudo que vivemos foi real,
não levo arrependimento ou mágoas. — Falo e ergo os punhos, eu aceito as
consequências.
Romero
segura em meus braços e olha dentro dos meus olhos, sinto uma emoção correndo
em meu corpo e ele joga a algema com força no chão.
— Droga! Merda! Droga! — Diz tomando
meus lábios. — Não posso te prender! Eu não consigo pensar em você dentro de
uma prisão.
Ele me puxa para perto de si e me beija
com tesão, me pegando em seu colo, me leva até minha cama e então nos amamos
com paixão.
Depois do amor ficamos deitados fazendo
carinho um no outro. As horas passaram e eu só percebi depois de meu corpo
gritar por comida.
— Podemos pedir algo ou então faço um
macarrão para nós. — Romero sugere e eu sorrio.
— Você me deve um macarrão. — Respondo
satisfeita.
— Promessa é dívida! — Ele fala e vamos
para a cozinha.
Preparamos um talharim ao molho
bolonhesa, e comemos como se nada tivesse acontecido algumas horas atrás.
Com a fome saciada, recolho os pratos e
coloco na pia, Romero me abraça por trás e me vira dando-me um beijo.
— Precisamos continuar nossa conversa! —
Ele fala e eu baixo os olhos.
—
Hum! Continue. — Respondo voltando para
lavar minhas mãos.
Seco
a água em um pano de prato e fixo meus olhos no dele, sei que é necessário e já
consigo pressentir o fim, mesmo que eu não deseje isso.
— Para que possamos dar certo, você não pode
continuar no crime. — Ele fala sério.
— Ainda que eu queira sair, sabemos que
não é assim que funciona, sem mencionar que a própria organização me mata assim
que descobrir meu envolvimento com você. — Respondo realista, não adianta eu me
iludir, essa relação está fadada ao fim.
— Se os
entregarem estará segura. — Ele fala entrelaçando os dedos aos meus.
—
Sério isso? Me surpreendo com essa sua suposição, principalmente por vir de
você que libera os “X9” para que sejam punidos por nós. Acha mesmo que comigo
será diferente? Tenho até medo de como será. — Respondo franca.
— Deve haver uma maneira de ficarmos
juntos, sem se intrometer nos assuntos um do outro. — Ele fala me beijando a testa.
— Eu te amo, Romero. Nunca pediria para
mudar por mim, tudo o que quero é continuar sendo sua. — Digo retribuindo o
carinho.
— Sabe o que fode? Sou encarregado de
lhe prender, perderei minha carreira se descobrirem nosso relacionamento. — Ele
fala apreensivo passando a mão em seu queixo.
— Jura? A facção tem me pressionado
todos os dias pelo seu pescoço, acha que vai acontecer o que quando
descobrirem, se descobrirem. — Rebato preocupada com essa possibilidade.
—
Helena, nunca duvide do meu amor por você, mas eu realmente preciso de um tempo
para digerir tudo isso, você é a pessoa mais incrível que eu conheci na vida,
se cuida enquanto isso, promete? — Ouço as palavras dele e meu coração se
dilacera.
Com
um beijo carinhoso nos lábios Romero sai me deixando só, a vida me deu uma
rasteira e eu preciso me levantar, por mais que eu o ame e agora saiba quem de
fato procuro, preciso dar um rumo ao meu destino.
Os
dias tomaram um sabor amargo de solidão, embora ainda pressionada pela
organização, eu jamais seria capaz de tentar contra a vida de quem eu amo, e se
para protegê-lo eu precisar trair o crime, certamente o farei.
Seguindo
os orientações do Romero, passo os dias administrando o morro a distância, não
é seguro eu voltar e eu já estava querendo ficar longe um tempo então ninguém
estranhou.
A polícia aos poucos reduziram as
entradas na comunidade, e aos poucos tenho reerguido os prejuízos passados. O
Papa me indicou uma nova assistente supercompetente e isso tem facilitado muito
minha vida, ela só é um pouco violenta, mas é bom que equilibra.
— Mana eu já falei, a senhora é peixe
grande, precisa ficar de longe, para isso temos nossos afilhados, instrui
certinho que o corre flui beleza. — Papa me puxa a orelha outra vez.
— É eu sei, mas eu tinha que viver isso,
agora vou seguir seu conselho. — Concordo sabendo que é o certo.
A
vida é cheia de altos e baixos e eu não estou me aguentando de saudades do
Romero, já que ele não me manda mensagem eu vou mandar, ele já teve tempo
suficiente para pensar na vida e na gente.
Eu mando uma mensagem e o meu coração se
enche de medo, dúvidas e arrependimento por esse passo. O que farei se
Romero escolher sua carreira e me prender? Realmente ele vale todo esse risco?
Por que justo ele? O único homem que me faz sentir completa.
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Atualizado até capítulo 61
Comments
Ariel Pires
Agora vêm as dúvidas sobre o futuro…
2024-04-23
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