Capítulo 20

O sol ainda brilhava no céu, lançando seus raios dourados sobre o acampamento, mas Maria sentia a tensão enquanto esperava por Luísa. A garota estava no refeitório, envolvida na celebração pelo retorno de Vitor, sem saber completamente sobre a gravidade da situação.

João Pedro foi designado para chamar Luísa ao escritório. Ele atravessou o acampamento, encontrando-a entre risos e brincadeiras, ela parecia leve. Ao se aproximar, Luísa notou a expressão séria de João e, instintivamente, o acompanhou até o escritório de Maria, sem que ele precisasse dizer nada.

Ao chegarem à porta, João Pedro colocou suavemente a mão no ombro de Luísa, lembrando-a do que conversaram na noite anterior.

João Pedro - Luísa, lembre-se da nossa conversa. Seja honesta consigo mesma e com a Maria. Isso é uma oportunidade para crescimento, beleza?

Luísa assentiu, com um nó na garganta.

Luísa - Eu sei, João. Vou encarar isso de frente. Tenho consciência do que fiz.

João Pedro sorriu encorajadoramente antes de abrir a porta do escritório. Luísa sorriu de volta, ele percebeu a tensão em sua expessão.

João Pedro - Vai lá, vai ficar tudo bem!

Ele fez um carinho leve no ombro de Luísa, que sentiu como se tudo ficaria bem mesmo.Ela respirou fundo e abriu a porta, entrando no escritório.

Maria estava sentada à mesa, olhando para Luísa com uma expressão séria, mas também com uma ponta de preocupação em seus olhos.

Maria - Luísa, por favor, sente-se!

Convidou Maria, apontando para a cadeira à sua frente. Luísa, nervosa, ocupou o lugar indicado, mantendo os olhos fixos na mesa.

Maria começou com delicadeza.

Maria - Luísa, precisamos falar sobre o que aconteceu na noite passada. Entendo que possa ter sido uma brincadeira mal interpretada por você, mas Vitor ficou ferido e precisou passar a noite no hospital.

Luísa abaixou o olhar, sentindo o peso da responsabilidade.

Luísa - Eu não queria que isso acontecesse, Tia Maria. Foi só uma brincadeira boba, eu não pensei nas consequências. Juro que não queria que o Vitor se machucasse, nem ele nem ninguém. Eu só fui no embalo, eu deveria ter parado o Léo.

Maria assentiu, compreensiva.

Maria - Entendo que você não quis machucar ninguém intencionalmente, mas é preciso que você compreenda a gravidade da situação. Estamos lidando com a segurança e o bem-estar de todos aqui no acampamento. Os pais de vocês confiam  suas vidas em nossas mãos, imagina como os pais do Vitor ficaram quando souberam do que aconteceu?

Luísa concordou, com os olhos úmidos.

Luísa - Eu sei, Maria. Eu sinto muito. Pedi desculpas ao Vitor, e preciso te pedir também.

Maria respirou fundo antes de continuar.

Maria - Sei que as brincadeiras são uma parte importante da diversão aqui, mas é necessário encontrar limites. Vitor é parte desta comunidade, assim como você, e todos merecem respeito.

Luísa assentiu novamente, dessa vez com mais firmeza.

Luísa - Eu entendi, Tia Maria. Eu prometo que vou pensar melhor antes de fazer qualquer coisa daqui para frente. Não quero causar mais problemas, e nem machucar ninguém.

Maria percebeu uma sinceridade nas palavras de Luísa e, ao mesmo tempo, uma ponta de esperança.

Maria - Espero que sim, Luísa. Este é um momento para reflexão e crescimento. Precisamos aprender com nossos erros para evoluir como indivíduos e como comunidade. Você é uma menina tão linda, tem tudo na vida. Seus pais te amam muito e fazem de tudo por você. Reveja suas atitudes, e principalmente, reveja suas companhias.

Luísa sabia de que companhia Maria estava falando. João Pedro, e Vitor já tinham lhe dado aquele mesmo conselho. Léo, seu atual ficante, seria o motivo para que ela estivesse se metendo naquela confusão toda? Ela pensou.

Ao sair do escritório, Luísa se viu novamente na agitação do acampamento. O retorno de Vitor era motivo de celebração, mas seus pensamentos estavam mergulhados na conversa que acabara de ter. Enquanto se juntava aos outros, ela tentava sorrir, mas a sombra da responsabilidade pairava sobre ela.

Enquanto isso, João Pedro, observando de longe, esperava que as palavras compartilhadas fossem sementes plantadas no coração de Luísa, gerando uma mudança real. O destino do acampamento dependia não apenas de repreensões, mas do crescimento pessoal de cada um de seus participantes. Mas para um deles, o pensamento era outro, Léo queria vingança.

Ao ver Luísa retornar para o refeitório, o garoto que estava fingindo estar arrependido, se levantou da mesa onde estava e foi até ela. Luísa estava conversando com Vitor e Ana, ainda tentando se enturmar.

Léo. - Oi gente!

Ao ouvir a voz de Léo, Luísa se virou na direção do garoto. Seu coração estava acelerado.

Vitor - Luísa, depois conversamos.

Vitor e Ana se preparavam para sair, quando Léo os interrompeu.

Léo - Espera Vitor, eu preciso falar com você. Na verdade eu preciso falar com todos vocês.

Léo pediu a atenção de todos que estavam presentes no local. O silêncio tomou conta do lugar, todos esperando que ele falasse. Com uma expressão de quem estava envergonhado e trsite, Léo começou.

Léo - Eu preciso me desculpar com o Vitor, e com todos vocês aqui. Eu fui um idiota, não deveria ter brincado daquela maneira. Na tentativa de me enturmar, de fazer amigos, acabei causando um acidente que machucou um colega. Por favor me desculpem e não culpem a Lú por isso, ela não teve culpa de nada.

Luísa olhou para Léo surpresa.

Léo - Ela tentou me parar, pediu para que eu não fizesse aquilo, mas eu insisti e acabei colocando ela nessa confusão toda. Lú, minha gatinha, me perdoe. Prometo não fazer nada disso novamente. Prometo aqui, na frente de todos vocês, que me esforçarei para mudar e aprender muito nesse lugar.

Ao terminar de falar, a maioria das pessoas ali bateram palmas entre gritos e assobios. Luísa abraçou Léo, ela estava feliz em vê-lo pedir desculpas assim na frente de todos. Enquanto os colegas se aproximavam de Léo para parabenizá-lo, João Pedro observava atento. Aquele teatro todo de Léo, não havia lhe convencido. Ele desconfiava de que tudo não passava de mais uma das armações do garoto.

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