CAPÍTULO 3...

THAWANY...

Fiquei brincando com o pequeno Noah por tanto tempo que perdi o horário, quando dei por mim, já estava atrasada para pegar a minha filha na escola.

— Senhor Jo...

— Pedro, Thawany. Você está cuidando do meu bem mais precioso, não precisa toda essa... Cordialidade.

— Ok... É que... Deu o horário de buscar a minha filha... Na verdade estou um pouco atrasada.

Ele olha para o horário no relógio e levanta as sobrancelhas.

— Nossa...

— Eu vou pedir um Uber, com licença.

— Uber? Não precisa. Eu levo você. Acredito que pedir um Uber vai te fazer atrasar ainda mais.

Assinto um pouco envergonhada. Saímos da loja e o Noah não desgrudou de mim, acho que ele acabou de trocar o papai pela babá. Coloco ele na cadeirinha e dou o endereço da escola onde a Luna estuda.

Ele dirige até lá e assim que chegamos, eu agradeço e saio do carro. A minha pequena assim que me vê, corre para os meus braços.

— Mamãe. Demolou.

— Desculpa, minha princesa. A mamãe tava trabalhando.

— Coseguiu tabalho?

— Sim, princesa. A mamãe conseguiu um trabalho.

— Ebaaa.

Pego ela no colo e vou caminhando até o ponto de ônibus, ouço uma voz forte me chamar, e quando me viro, o Pedro está me olhando com a expressão fechada e uma grande interrogação na testa.

— Onde está indo, Anny?

— Para o ponto de ônibus...

— Posso saber o porquê? — ele pergunta cruzando os braços.

— É... Para ir para casa, eu suponho...

— Prefere ir de ônibus, do que aceitar a minha carona? — ele levanta uma sobrancelha e eu sinto o meu rosto quente.

— Não é isso, senhor... Só... Imaginei que o senhor já tinha ido embora. Eu não queria incomodar ainda mais.

— Eu me ofereci para dar a carona, Anny, não é nenhum incomodo para mim.

Assinto e sigo ele até o carro, ele ajuda colocar a Luna no banco e garantir que o sinto está bem preso, pois, só há uma cadeirinha. Sento no banco ao lado dele, já que ele não deixou eu me sentar atrás com as crianças.

— Pode colocar seu endereço aí no celular — eu coloco, mesmo a contragosto e ele começa a dirigir — ela é linda, se parece bastante com você.

— Obrigada. Agradeço a Deus todos os dias, por ela ter apenas os olhos do pai...

— Qual o nome dela?

— Luna. É apenas por ela que ainda não desisti de tudo... — noto ele desviar o olhar da estrada e olhar para mim, quando paramos num semáforo — me desculpa estar tão falante e aberta de mais em relação a minha vida... Estou passando por tanta coisa que mal consigo guardar tudo para mim.

— Não tem problema. E não se preocupe, eu sou um bom ouvinte.

Olho para ele e há tanta intensidade no seu olhar, que é difícil não se sentir desnuda. É como se ele pudesse me despir com um único olhar, ler a minha alma.

Desvio o olhar e ele completa o percurso até a minha casa. Não moro num bairro nobre, mas também não é dos piores. O aluguel da casa onde moro é um pouco caro e estou pensando em procurar uma casa mais barata, mas...

É tão difícil encontrar uma casa que tenha boas condições para morar com uma criança de três anos, e que o aluguel seja de um valor que caiba no meu bolso.

Desço do carro assim que ele para, e abro a porta para pegar a minha princesa. O Pedro dá a volta no carro e para na minha frente.

— Obrigada por me trazer... Quer entrar para tomar uma água, ou um café?

— Poderia ser um chá também? — ele fala e vejo o canto da sua boca levantar um pouquinho, automaticamente sinto o meu corpo arrepiar.

— Se... Se preferir... — a minha voz sai cortada, entregando a minha surpresa em ouvir tais palavras.

Ele sorri e eu acabo de perceber uma coisa: caí no joguinho de sedução do meu patrão. Era só o que me faltava... Ele tira o pequeno Noah da cadeirinha e me acompanha casa adentro.

A Luna vai direto até os brinquedos dela que fica guardados num canto da sala, onde já deixo separado para ela brincar, noto o Noah pedir permissão ao pai para brincar com ela, e logo em seguida, ir.

Vou até a cozinha e começo passar um café na cafeteira, enquanto corto um pedaço do bolo de laranja que fiz mais cedo. Sirvo para o meu chefe e ele observa tudo ao redor.

— Imagino que não seja nada como os lugares luxuosos, que o senhor frequenta ou o bolo mais requintado... Não precisa comer se não quiser.

Ele deixa um sorrisinho torto desenhar no seu rosto. Logo em seguida, encara o meu rosto, e não sei o que dá em mim toda vez que ele me olha, mas... Me sinto perdida com o olhar desse homem.

— Não sou a favor de luxo e requinte, Anny. Gosto de simplicidade, conforto... Fui ensinado desde criança que luxo, poder e dinheiro não são nada comparados a honestidade, amor e perdão.

Olhando para ele agora, percebo que ele está mesmo a vontade na minha casa, não vi ele fazer expressões de nojo, repúdio, para nada... Olhava tudo apenas com curiosidade.

— Ele paga pensão? — pergunta olhando para a Luna.

— Eu não diria pensão... A não ser que 150 reais, nos dias de hoje, dê para sustentar uma criança de três anos. No início ele não queria pagar... Me obrigou a até mesmo fazer um exame de DNA para confirmar a paternidade... Mas... Aceitou quando ela nasceu. Desde então paga esse valor. Não conto as vezes que ele "esqueceu" ou não teve o "suficiente" para mandar. Tenho me virado como posso, para cuidar dela e não lhe deixar faltar nada. É um pouco difícil... Ela tem intolerância a lactose, é alérgica a alguns alimentos... Então...

— Entendo bem. O Noah também é intolerante. Consegue chegar lá em casa amanhã, antes das 8?

— Claro... Tenho só que pedir a minha vizinha para deixar a Luna na creche.

Ele olha para mim, e olha para a Luna brincando com o Noah, em seguida olha para a minha casa, como se procurasse algo, confesso que essa atitude me deixou um pouco incomodada.

— Arrume suas malas.

— O quê?! — falo com os olhos arregalados.

— Falei pra arrumar uma mala com coisas suas e da Luna.

Ok, agora esse homem pirou de vez! Onde que fui amarrar meu burro, senhor Deus?

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