CAPÍTULO 14...

IGOR...

Ser um advogado de renome e ao mesmo tempo, o chefe de um morro, é um pouco contraditório. Mas esse sou eu. Há anos o meu velho pai, que ultimamente está mesmo velho, conseguiu revolucionar esse lugar.

O morro não é mais visto como um lugar de má índole, onde apenas os marginais vivem. Hoje somos encarados como boas pessoas, e é daqui que hoje em dia sai os melhores profissionais.

Chego em casa depois de um dia cheio no escritório, graças a Deus — e a minha boa competência —, consegui reverter o contrato que iria colocar o meu melhor amigo numa furada.

A minha casa fica na mesma rua que os meus pais, não moro na cidade, onde a maioria das casas exala luxo e requinte, moro aqui em cima, no morro, próximo das minhas raízes.

Passo na casa dos meus pais, e assim que entro, sou recebido pelos meus sobrinhos gêmeos, Luara e Luan, filhos da minha irmã mais velha, Sofi. Pego eles no colo e sigo até o sofá onde a minha mãe está sentada falando sobre o casamento da Laura.

— Boa noite, família.

Todos respondem, mas os gêmeos não desgrudam de mim, sempre amei criança, e ser o tio preferido deles me enche de orgulho. A minha irmã é uma excelente professora de balé, já recebeu vários prêmios como bailarina profissional, mas os olhos dela brilham como diamante quando vê os seus alunos apresentando.

O meu pai se aproxima de mim e aperta o meu ombro, um sinal de que quer conversar comigo em particular, então o que faço é acompanhar ele.

— Estamos tentando reunir as provas suficientes para te inocentar, filho... Mas aquela ratazana é muito esperta.

— Eu sei... Não entendo como ela conseguiu tudo isso, pai... Nunca dei brecha a ela.

— Eu sei, filho — o meu pai aperta o meu ombro.

— A mãe está decepcionada comigo... Da pra ver estampado no rosto dela...

— Ela está só um pouco preocupada com tudo isso, não está decepcionada com você. Ela conhece o filho que tem. Você sabe como a sua mãe é, ela sente tudo, e ela vê o quanto você está jogando duro pra conseguir provar que a Mariana está só sujando o nosso nome.

Assinto concordando com o meu pai, pois, mesmo ele sendo bem chato na maior parte das vezes, ele sempre tem razão, e a mãe é assim mesmo...

— Tô indo pra casa... Tô com umas ideias na cabeça, e vou logo avisando, vocês vão ganhar uma netinha em breve.

— Do que você está falando, Igor? — a minha irmã mais velha entra na cozinha com a Luara e a sua expressão me faz rir — não me diga que vai assumir a criança que aquelazinha da Mariana diz está esperando!

— Claro que não, louca. Agora se me dão licença... Tenho planos para colocar em ação.

Saio da casa dos meus pais deixando todo mundo curioso, mas não vou falar agora sobre a Carla, preciso primeiro me livrar da Mariana, e essa eu já até sei pra onde vou mandar, ela que tente interromper os meus planos.

.

Acordo e depois de fazer todos os meus exercícios, ligo para uma floricultura do centro, peço para entregarem um buquê de flores, as mais delicadas que eles tiverem, e com uma mensagem assinada apenas com um "I".

Estou saindo de casa para ir até a loja do Pedro, quando o meu celular toca, é ele, atendo no mesmo instante.

— Fala.

— Bom dia pra você também.

— Perdão, amorzinho. Como foi a sua noite, dormiu bem?! Espero que tenha sonhado comigo — falo imitando uma voz mais fina.

— A minha noite foi maravilhosa, obrigado. Escuta, lembro que você falou de uma vaga numa escola que a tia Lia é sócia.

— Sim, onde a Sofi é professora de balé. Porquê?

— Vou demitir a Anny.

— Como é?! Onde porra tu tá com a cabeça, irmão?!

— Nesse momento... Pensando numa bahiana linda, que ontem me deu o melhor chá da minha vida. E que eu vou tratar de colocar um anel de compromisso o mais rápido possível.

— Ah, meu Deus... Ele foi fisgado pela bahiana... Que chá o quê, meu irmão?! Ela te deu foi uma chave de perna, isso sim.

— Um chá, chave de perna, oração a Olodum, não sei. Só sei que estou amarradinho nela. Consegue arrumar a vaga pra ela?!

— Consigo. Vou falar com a Sofi, e te retorno. Agora já que estamos falando de favor...

— Já tirou a Mariana de campo?

— Quase...

— Então não. Tire ela de campo e eu faço questão de desenhar as alianças, faço até por um preço bem baixinho. Mas enquanto ela estiver no jogo, eu não ajudo.

— Tem horas que me arrependo por você ser o meu melhor amigo.

— Não há como me tirar da sua vida, somos primos e você é padrinho do meu filho.

Reviro os olhos e desligo, era só o que me faltava... Entro no meu carro e dirijo até a escola onde a Sofi da aulas, peço para falar com ela e assim que liberam a minha entrada, recebo uma notificação de um dos caras que estão me ajudando a tirar a Mariana da minha vida, abro um sorriso enorme quando vejo o que ele me manda.

— Sorrindo desse jeito a essa hora da manhã... Ganhou na Telesena?

— Melhor que isso, irmãzinha.

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