Capítulo Dezessete

Viktor

Enfrento, um ritmo parasitário me devorando por dentro. Todo o meu ser tem apenas uma preocupação - Ivana.

Imagens do passado passam pela minha cabeça, um desfile cruel de lembranças cruéis. Vejo a sepultura de Ivana, terrivelmente fresca em minha mente. Vejo-a jazendo à minha frente, sem vida, e sinto o mesmo medo me agarrando como garras de águia.

Não posso perdê-la de novo...

Não posso.

Ivana... Ela é o núcleo do meu universo. Por mais zangado ou magoado que eu esteja, o fato é que nunca tive a capacidade de deixá-la ir.

O Médico se inclina sobre ela, movendo-se rapidamente enquanto examina Ivana. Meu coração está batendo forte pelas tensões que enfrento, um ritmo parasitário me devorando por dentro

Ao longo do corredor, posso ouvir os passos dos soldados enquanto observo ansiosamente o médico trabalhando. Ele movimenta-se tão rapidamente, exalando uma energia focada e competente

Ela começa a despertar lentamente, deixando minha preocupação inquieta se transformar em um alívio genuíno

- Senhor- o médico se vira para mim, sua expressão focada finalmente suavizando um pouco.

-Parece que sua esposa teve uma queda de pressão. É bastante comum em condições de gravidez, principalmente se ela estivesse muito ansiosa ou preocupada. No entanto, eu recomendaria que ela não fosse mantida nesta cela, pois tais ambientes podem desencadear mais ansiedade nela"

A notícia parece um bálsamo para a ferida, acalmando minhas preocupações instantaneamente. Eu entendo. Devo admitir que fiquei aliviado ao ouvir que não foi nada grave

Eu volto minha atenção para Ivana, seu olhar me encontrando. Ela parece fraca e cansada, mas ela está aqui. Comigo.

A amo, mesmo em meio à raiva e ressentimento,

"Ama-la depois da morte é fácil", penso. "Mas amá-la em meio a vida... Isso é o verdadeiro teste".

Ivana

Na suavidade cinzenta da cela, apenas Viktor e eu permanecemos. Minha respiração parece pesada em meus pulmões e, ao observar o rosto endurecido de meu marido, sinto um medo frio se infiltrar em meu coração.

- Viktor, por favor, me escute ...- começo, percebendo a respiração profunda de Viktor e a carranca em seu rosto. Uma onda de medo passa por mim, mas eu me forço a continua

- E u não aguento mais... eu sei que você está com raiva e eu entendo, mas precisamos conversar. Eu tenho o direito de me explicar antes de você decidir o meu destino, não é?

Viktor não responde. Seu rosto permanece inexpressivo, mas posso ver como seus punhos se apertam a cada palavra que eu digo. Meus olhos se enchem de lágrimas enquanto continuo.

- Eu ainda sou a mãe de seu filho... por favor, não estou pedindo por mim... mas pelo bem dessa criança...- minha voz tremula falha de emoção e eu coloco minha mão sobre meu ventre protetoramente.

Pela primeira vez, Viktor parece desarmado. Ele solta um suspiro audível, então sua voz endurece novamente.

- Marko já me contou tudo... Ainda assim você não deveria ter nos enganado, deveria ter vindo a mim e me explicado a situação que estava enfrentando e não forjado a gravidez. Acha que eu seria tão cruel a ponto de não ajudar a mulher que salvou a minha vida?

A intensidade de suas palavras me atinge e lágrimas transbordam de meus olhos.

- Eu sinto muito, estava tão desesperada que não sabia o que fazer, o medo me fez não pensar direito. Só pensei em sobreviver, e isso custou tantas vidas... meus pais... minha tia... Zora... todos eles se foram por causa do meu medo e precipitação. E como se não bastasse, arrastei Mila para isso também e agora a vida dela também poderia estar em risco- As lágrimas escorrem livremente por meu rosto e minha voz mal consegue passar das minhas emoções.

Viktor fica em silêncio por um momento e então se vira para mim.

- De todas as pessoas que você perdeu, a única que realmente merecia morrer era Zora. Ela era aliada de Juan, irmão de Manuel, o homem que você matou. Zora iria te entregar para Juan para que ele pudesse se vingar pela morte do irmão.

Sua revelação me atinge como um choque elétrico. Nunca pensei que Zora pudesse me trair dessa maneira. Ela era minha amiga, minha confidente. Como ela poderia?

Viktor continua

Quanto à esposa do meu irmão... eu não farei nada com ela. O erro dela foi reparado, pois ela me ofereceu as informações necessárias e foi por isso que eu consegui te encontrar

O alívio que sinto ao ouvir essa confirmação é quase esmagador. Pelo menos Mila está segura. Pelo menos ela não será prejudicada por minha causa.

Enquanto olho nos olhos de Viktor, posso ver que, apesar de tudo, ele ainda se importa. E nesse momento, tenho um pouco mais de esperança de que possamos encontrar uma saída dessa escuridão que nos envolveu.

- Me perdoe por não ter confiado em você, ter te enganado por tanto tempo- começo, olhando nos olhos de Viktor

- Agora posso ver claramente, que se tivéssemos simplesmente dialogado... tantas coisas poderiam ter sido evitadas... tantas mortes... e também a sua traição a mim. Isso me machucou muito.

Viktor solta um suspiro pesado, se sentando na cadeira ao lado da cama. Sua carranca tensa se desfaz, e possivelmente pela primeira vez, vejo vulnerabilidade em seus olhos.

- Quando descobri a verdade, minha vontade era meter uma bala na sua cabeça. Por isso não voltei para casa aquele dia e fui para a boate me embebedar. O resto você sabe...

O peito se aperta com a brutal honestidade de suas palavras.

- E valeu a pena?- minha pergunta sai mais como um sussurro. A lembrança daquela noite ainda está fresca, alimentada por uma mistura de dor e ciúme.

- Eu sequer me lembro daquela noite... de qualquer forma, consegui conter minha raiva pelo menos por algumas horas... se não fosse assim, eu teria te matado aquela noite.

A brutalidade de suas palavras me atinge, e mesmo sabendo que são verdadeiras, não consigo suprimir a tristeza em minha voz quando respondo.

- A morte doeria menos. Mas eu entendo seus motivos, Viktor. Embora isso não justifique sua atitude, a culpa foi minha por ter deixado as coisas chegarem a esse ponto

Viktor esfrega as têmporas, parecendo tão cansado e confuso quanto me sinto.

- Tenho alguns assuntos para resolver. Mais tarde, mandarei os soldados te buscar, você ficará em casa até o nosso filho nascer- Viktor diz, levantando-se da cadeira.

Agradeço com um sorriso triste.

- Obrigada. - Qualquer lugar, percebo, é melhor que essa cela.

Viktor assente, seu olhar intenso fixo em mim. E mesmo com toda a dor, a amargura, e a tristeza entre nós, vejo o amor em seu olhar.

 Ainda há amor.

A porta se fecha atrás dele, me deixando sozinha com meus pensamentos. Penso em tudo que foi dito e feito. Nele, em mim, em nós.

E, por um momento, permito-me esperar, permito-me acreditar que talvez, apenas talvez, ainda haja uma chance para nós.

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