Capítulo Seis

Viktor

Estou preparado para pular atrás de Ivana, minha raiva e dor são esmagadoras. Ela me traiu novamente, e não posso permitir que ela escape sem pagar pelo que fez. Mas, antes que eu possa saltar, sinto alguém me segurando por trás, me impedindo de pular. Quando me viro, encontro os olhos do meu irmão mais velho, Marko.

- Ela não vai morrer assim... não até pagar pelo que fez... temos que pegá-la - digo a Marko, com raiva e determinação.

Marko concorda com um aceno sério.

- Os homens já foram atrás, mas duvido que ela saia viva desse rio - ele diz

Suspiro irritado e frustrado. Não consigo entender por que Ivana fez tudo isso. O amor que sentia por ela agora é misturado com uma raiva profunda e confusa , tudo parece um pesadelo terrível. Mesmo com minha determinação de fazê-la pagar, uma parte de mim ainda se pergunta por quê. Por que ela nos fez isso?

 As perguntas atormentam minha mente enquanto continuo olhando para o rio escuro, onde Ivana desapareceu.

Ivana

A água do rio está escura e opaca, o que dificulta a visão tanto dos homens de Marko quanto a minha sob a água. Nado o mais rápido que posso, mantendo-me submersa por longos momentos antes de emergir para respirar. Sei que os homens de Marko provavelmente não trouxeram equipamentos para me encontrar debaixo d'água, o que me dá uma pequena vantagem

Após um tempo, minha exaustão começa a pesar. Não consigo mais nadar. Coloco a cabeça para fora da água, observando os arredores. Tudo está silencioso e tranquilo, com grandes árvores cercando o rio. Não tenho como ter certeza, mas parece que consegui escapar de Viktor.

Ainda tremendo e ofegante, decido sair da água. Não aguento mais nadar por muito tempo. Com cuidado, busco um lugar tranquilo para me esconder e esperar. Se Viktor e Marko ainda estão por perto, não quero que me encontrem tão facilmente.

Adentrando a densa mata, minhas roupas molhadas grudam em meu corpo, causando um arrepio de frio que percorre minha espinha. Estou desorientada, sem a menor ideia de onde me encontro, mas continuar andando é a única opção que tenho. Cada passo que dou é acompanhado por uma tristeza profunda que parece perfurar meu coração.

Como chegamos a esse ponto? Não era assim que eu imaginava que minha história com Viktor terminaria. Tínhamos passado por tantos desafios juntos, lutado contra inimigos e superado obstáculos. A dor da suposta morte do nosso primeiro filho ainda ecoava na vida de Viktor e eu percebia isso , uma ferida que parecia nunca cicatrizar por completo. E, no entanto, estávamos tentando novamente, ansiosos para receber um novo membro na nossa família.

Lembro-me da visita ao médico, quando descobri que tinha um problema no ovário que me impedia de engravidar. Viktor, sempre atento e questionador, perguntou como eu havia conseguido engravidar da primeira vez. Foi um momento delicado, e tive que contornar a situação, sugerindo que o problema provavelmente havia se desenvolvido após a primeira gravidez. O médico, ainda confuso com a situação, não desmentiu minha história. Na verdade, ele apoiou meu tratamento, e, após muito tempo, finalmente tive o resultado que tanto desejava : estava grávida

Tinha planejado uma forma especial de contar a Viktor, de surpreendê-lo com a notícia. Sabia que ele ficaria radiante, que nossa felicidade transbordaria quando soubesse que nossa família estava prestes a crescer. Mas agora, tudo isso parece tão distante e inalcançável. O amor que ainda sinto por Viktor está entrelaçado com a dor da traição e das mentiras, uma ferida que vai além da superfície.

Minha mão pousa suavemente sobre meu ventre, acariciando a pequena vida que cresce dentro de mim. Ser mãe era um sonho que eu sempre tive, e finalmente estava se tornando realidade. Mas, ao mesmo tempo, essa nova vida trazia consigo um dilema impossível

Continuo a caminhar, observando a densa vegetação ao meu redor. A incerteza do futuro paira sobre mim como uma sombra constante. Não sei para onde estou indo, não sei como isso vai terminar. Mas sei que não posso permitir que Viktor me alcance agora, não quando uma vida depende de mim. A gravidez trouxe uma nova responsabilidade, uma razão para lutar e sobreviver.

Se eu contasse a Viktor sobre a gravidez, se provasse que realmente estava grávida dessa vez . Viktor poderia até perdoar, mas Marko, meu cunhado, não seria tão misericordioso. Ele me condenaria à morte sem hesitar, e eu não poderia permitir que meu filho crescesse órfão de mãe.

O sol já esta começando a se pôr quando avisto ao longe o que parece ser uma pequena chácara. Um local remoto, mas minha única esperança de ajuda. Caminho na direção da chácara, com a esperança de que Mila, a esposa de Marko, possa ser minha aliada. Mila sempre se mostrara uma amiga fiel, a única que se opôs à decisão de Marko de me eliminar. Talvez, com sua ajuda, eu possa encontrar uma maneira de fugir

Aproximei-me da cerca de arame que circundava a casa e a ultrapassei com cuidado. Batendo à porta, aguardei, ansiosa e insegura sobre como seria recebida. Poucos minutos depois, a porta se abriu, revelando uma pequena senhora de cabelos brancos, já curvada pela idade.

-Boa tarde, eu estava fazendo uma trilha com uns amigos e acabei me perdendo. Gostaria de saber se posso usar o telefone da senhora para ligar para eles - disse, tentando mostrar segurança e sorrindo, esperando que a senhora acreditasse em minha história.

A senhora me observou com certa desconfiança, seus olhos perspicazes buscando qualquer indício de que eu pudesse representar uma ameaça. Ela olhou ao redor como se quisesse certificar-se de que eu estava sozinha.

- O que aconteceu com suas roupas? - perguntou, observando as peças ainda molhadas que eu usava.

- Eu... acabei escorregando e caindo em um pequeno córrego na mata - expliquei, tentando parecer convincente.A senhora ficou em silêncio por alguns momentos, como se ponderasse sobre a situação. Finalmente, ela deu um pequeno sorriso.

-Tudo bem, entre. Vou pegar o celular.

Com um suspiro de alívio, agradeci à senhora e entrei em sua casa. Fui recebida por um ambiente muito bonito e aconchegante. A senhora parecia ser alguém amável e acolhedora.

- Tinha acabado de preparar um chá, você quer uma xícara? - perguntou ela, com simpatia.

- Não, obrigada - respondi, mantendo uma distância cautelosa.

A senhora desapareceu rapidamente no corredor e retornou com um celular em mãos.

- Aqui está. O sinal não é muito bom aqui dentro de casa, então eu te aconselho a ligar lá fora - sugeriu ela.

- Está bem, obrigada - respondi, concordando com sua sugestão. Não queria arriscar uma conversa com Mila dentro da casa da senhora.

Saí da casa e afastei-me um pouco, procurando um local onde o sinal do celular fosse mais forte. Disquei o número de Mila e, no terceiro toque, ouvi sua voz do outro lado da linha.

- Mila... sou eu, Ivana. Marko está perto de você? - perguntei rapidamente, preocupada com a possibilidade de alguém me ouvir.

Um silêncio tenso se instalou do outro lado da linha, e tudo o que pude escutar foi a respiração pesada de Mila.

- Olha, é muito desagradável fazer esse tipo de pegadinha. Vou desligar, passe bem - disse Mila, claramente irritada.

- Mila, espera! Sou eu. Eu forjei minha morte, mas deu errado. Marko e Viktor me perseguiram até uma ponte, na qual eu me joguei. Consegui nadar até a casa de uma senhora - expliquei rapidamente, desesperada para que ela acreditasse em mim.

Mila continuou em silêncio do outro lado da linha, e eu podia ouvi-la fungar.

- Eu fui na sua casa alguns dias atrás. Lembra? Eu te disse que Viktor tinha me traído e que eu também tinha cometido meus erros... - continuei, esperando que as lembranças a convencessem de que era realmente eu.

- Ivana... eu pensei que você estava morta... Marko disse que você havia se jogado no rio, e, apesar das tentativas, ninguém encontrou seu corpo. Viktor disse que não vai desistir até encontrar seu corpo... ou alguma pista sua .Até agora, não consigo entender se ele está triste ou com raiva - disse Mila, revelando sua preocupação.

Um sorriso triste se formou em meus lábios.

- Você está sozinha? Preciso te pedir algo, mas ninguém pode saber - pedi a ela.

- Estou no jardim. Os soldados estão longe, e Marko também - respondeu Mila.

- Preciso fugir... se Marko ou Viktor descobrirem que consegui escapar de novo, eles vão me encontrar e me matar... Você pode me ajudar? Preciso de uma identidade nova e disfarces - implorei à minha amiga.

- Ivana... isso é muito arriscado... se Marko descobrir... - começou Mila, preocupada.

- Eu sei... mas... é a única forma de eu poder cuidar do meu filho... - confessei, revelando o motivo de minha determinação.

- Filho?... Espera, Ivana, você está grávida? - exclamou Mila, surpresa do outro lado da linha.

- Sim, é por isso que quero tanto sobreviver - respondi, com a voz embargada pela emoção.

- Nossa, isso é fantástico e triste ao mesmo tempo, dadas as circunstâncias. Tudo bem, vou te ajudar. Não tenho muita prática com isso, mas vou arrumar um jeito. Já que sou a esposa do chefe da máfia, não deve ser muito difícil - Mila respondeu, com uma mistura de entusiasmo e preocupação.

- Obrigada, Mila... só se certifique de que Marko não descubra nada - implorei a ela, consciente dos riscos que correríamos.

- Pode deixar comigo. Onde você vai ficar, por enquanto? - Mila perguntou, preocupada com minha segurança.

- Verei se a senhora permite que eu passe esta noite aqui - respondi a Mila.

- Tudo bem, já sei mais ou menos o que fazer... Entre em contato comigo amanhã à tarde - Mila sugeriu, e eu concordei com um aceno de cabeça. Depois de me despedir dela, retornei à casa da senhora.

- Conseguiu falar com seus amigos? - a senhora perguntou assim que entrei na casa.

- Sim, mas eles não poderão vir me buscar agora. Eu poderia passar esta noite aqui. Posso dormir no sofá - expliquei, torcendo para que ela aceitasse minha presença.

- Claro que pode. É bom ter alguém para me fazer companhia. Tenho algumas roupas que minha neta deixou aqui. Acredito que possam servir para você. Venha, vamos trocar essas roupas - a senhora ofereceu com um sorriso gentil.

Agradeci à senhora por sua generosidade, e a segui pelo corredor

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