Capítulo Sete

Ivana

Estou escondida entre as árvores, na estrada próxima à casa da senhora que me acolheu.Algumas horas atrás entrei em contato com Mila. Ela me assegurou que tinha o que eu havia pedido e que enviaria tudo para a caixa postal de uma prima. A prima de Mila levaria os itens até um ponto combinado comigo, tudo para evitar suspeitas.

A espera é sempre tensa, mas finalmente, algum tempo depois, avisto um carro branco se aproximando. Uma mulher desce do veículo, parecendo procurar algo ou alguém. Respiro fundo e a chamo . A mulher se aproxima e pergunta se eu sou Ivana. Confirmo com um aceno de cabeça, e ela vai até o porta-malas, retirando uma caixa.

- É da parte da Mila - ela diz , entregando a caixa a mim.

Agradeço com um sorriso e assisto enquanto a mulher parte apressada . Então, adentro a mata para abrir a caixa. Quando a abro , encontro o que Mila havia preparado para mim: um disfarce completo, um celular com chip , roupas novas, uma identidade falsa e até mesmo um envelope com dinheiro. Mila foi generosa além das minhas expectativas.

Com gratidão no coração, começo a me transformar. Troco minhas roupas, coloco a peruca ruiva e as lentes de contato pretas. A identidade falsa agora me nomeia como Susana Bassi. Sorrio com ironia ao perceber que essa já é a segunda identidade que assumo . Minha vida é um emaranhado de segredos e mentiras, mas pelo menos agora eu tinho os meios para tentar escapar novamente.

Com minha nova identidade registrada no celular que Mila providenciou, chamo um táxi que me levará até o aeroporto mais próximo. Enquanto me dirijo para lá, começo a pensar no destino que escolhi: a Itália. O dinheiro que Mila me deu é suficiente para pagar a passagem e até mesmo um hotel ou aluguel de uma casa por alguns meses, dependendo dos valores. Vou precisar abrir uma conta bancária e converter o dinheiro, mas isso é o de menos.

Chegando ao aeroporto, sigo os procedimentos de check-in e segurança, sempre com a identidade de Susana Bassi. Quando finalmente entro no avião e ele decola, sinto um suspiro de alívio. Agradeço mentalmente a Mila por sua generosidade.

Aliso minha barriga. Ainda não é perceptível a gravidez, mas sei que, em breve, isso mudará. Gostaria que as circunstâncias fossem diferentes, que minha história com Viktor não tivesse se tornado essa teia de mentiras. Mas agora, meu foco é proteger o bebê que carrego e tentar recomeçar em um lugar onde ninguém me conheça, onde eu possa viver em paz.

Viktor

Estou nervoso, à beira da insanidade. Minha mente não para de revisitar os eventos de algumas horas atrás. Aquele coveiro, nosso aliado , ligando para Marko . Ele havia escutado gritos vindos do túmulo de Ivana e viu homens próximos, junto com uma mulher. Eles discutiam um plano. Marko me avisou imediatamente, sua voz também carregada de tensão.

Eu estava no limite da paciência e do desespero, a incerteza me corroendo por dentro. Marko disse que mandou o coveiro ficar de olho, mas não interferir até que nós chegássemos. Eu odiava esperar, odiava não estar lá naquele momento, minha esposa estava supostamente viva

Nós fomos até o cemitério, eu e Marko, com nossos homens, prontos para enfrentar qualquer ameaça. Quando chegamos encontramos homens enterrando um caixão, falando sobre um suposto plano, mas o corpo dentro dele não era o de Ivana. Era de outra mulher

O coveiro, escondido, nos contou que um homem e uma mulher haviam levado Ivana. Pior, parecia que ela havia ido com eles por vontade própria. O coveiro acompanhou a cena escondido, coletando informações preciosas. Ele conseguiu pegar a placa do carro em que Ivana entrou.

Marko, enfurecido, mandou que seus soldados levassem os homens para o calabouço, onde eles pagariam por seus pecados, e nos colocaríamos as informações necessárias , enquanto isso, eu estava determinado a encontrar Ivana, custasse o que custasse. Rastreamos a placa do carro em questão em questão de minutos. Meu coração batia com tanta força que eu podia sentir a pulsação nos ouvidos. Ivana estava lá fora, em algum lugar, e eu faria de tudo para encontrá-la.

Minha mente volta à realidade, e a fúria queimando dentro de mim é insuportável. Ivana, minha esposa, se jogou no rio. Não consegui encontrar um único vestígio dela. A ideia de que ela teria realmente cometido suicídio me atormenta, mas algo não se encaixa.

Aqueles homens no cemitério, estariam eles ajudando Ivana a escapar? Talvez eles a tenham auxiliado depois que ela pulou no rio. O pensamento me deixa ainda mais furioso. Eu não entendo o que está acontecendo

Suspiro irritado e entro no calabouço onde um dos homens que estava no cemitério está suspenso por cordas. Marko permitiu que eu o interrogasse, algo que raramente acontece, já que normalmente é ele quem cuida desses assuntos.

Pego um punhal da mesa de centro e cravo nas costas do homem. Ele grita de dor, mas não vou parar até conseguir as respostas que preciso.

- Qual era o plano? - pergunto com raiva, pressionando o punhal com mais força.

- Vá para o inferno - o homem murmura com ódio.

- Não antes de você - debocho, cortando a carne do homem.

- Fiz uma pergunta... Foi minha esposa que pediu ajuda a vocês? Para onde estavam a levando? - questiono, a raiva fervendo em mim enquanto encaro o homem que está prestes a pagar por suas ações.

- Do que adianta tudo isso? Sua esposa já está morta - o homem debocha, desafiando-me. A raiva ferve dentro de mim, e dou um soco no rosto dele. O sangue borbulha em minhas veias

Caminho até a mesa no centro da sala e pego um alicate. Faço um sinal para o soldado que está no canto se aproximar. Ordeno que ele abra a boca do homem. Começo a arrancar os dentes do homem um por um, enquanto ele geme de dor. Cada grito é uma música para meus ouvidos enfurecidos.

Quero saber quem eram as pessoas que ajudaram minha esposa. Ivana não teria sido capaz de planejar tudo sozinha. Ainda assim, tenho uma centelha de esperança de que ela esteja viva. Meus sentimentos em relação a ela estão confusos, oscilando entre ódio e amor.

- Ela não era o que você... pensava... - o homem murmura entre soluços de dor.

- Ela matou... o meu chefe... o irmão dele queria vingança... - ele finalmente confessa, e isso me surpreende e confunde.

- Quem era o seu chefe? - pergunto, puxando os cabelos do homem. Ele puxa o ar com dificuldade.

- Manuel Ramirez, Ivana matou o chefe da maior gangue da Espanha... ela fugiu depois disso, e Juan procurou "Sara", a assassina de seu irmão, por toda a Espanha por anos... até que a encontrou na Sérvia, com um novo nome... e casada com você - revela o homem. Fico tão surpreso que nem mesmo sei o que pensar sobre isso.

Por que Ivana, em sã consciência, mataria alguém tão poderoso? Acreditava conhecê-la bem, mas agora descubro que até mesmo o nome dela era falso. É como se estivéssemos falando de uma pessoa completamente diferente da que conheci.

- Onde está Juan agora? - pergunto com raiva.

O homem fica em silêncio, mas não desisto. Continuo a torturá-lo até que finalmente ele revela a localização de Juan e seus homens. Após obter todas as informações necessárias, dou um tiro na cabeça do homem

A verdade sobre Ivana me atinge como um soco no estômago. Afinal, minha vida, minha família e meu casamento foram construídos sobre uma rede de mentiras e segredos que agora começam a se desenrolar perigosamente.

Observo o homem morto, a cabeça pendida para o lado, um último suspiro escapando de seus lábios. Ordeno ao soldado mais próximo que limpe tudo, e me viro para ir em direção à porta, mas me assusto ao ver Meu irmão mais velho, está parado ali, como uma sombra sinistra à espera.

Me viro para encarar meu irmão Marko, e ele me surpreende com sua ordem firme:

- Você irá com os soldados até o suposto esconderijo de Juan. Vamos encontrá-lo, Viktor. Todos envolvidos nisso devem pagar.

Assinto, entendendo a gravidade da situação. A vingança está prestes a se desencadear, e não há espaço para hesitação

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