Capítulo Quatro

Viktor

Minha mente está turva, e meu coração parece ter sido arrancado do peito. A dor que me consome é insuportável, uma ferida profunda e pulsante que parece nunca cicatrizar. Eu não consigo acreditar em tudo o que aconteceu, tudo o que Ivana fez, e, apesar disso, o amor que sinto por ela ainda queima dentro de mim, como um fogo voraz.

Meus olhos estão embaçados, as lágrimas obscurecendo minha visão.Tudo parece girar ao meu redor, e a dor em meu peito é esmagadora. É como se meu mundo tivesse desmoronado, e eu estivesse caindo em um abismo de desespero

A raiva também está presente, misturando-se à dor. Como Ivana pôde fazer isso comigo? Como ela pôde me enganar de maneira tão cruel? A gravidez falsa, a suposta morte do nosso filho... todas essas mentiras e manipulações. Ela destruiu nossa relação, minou minha confiança, e eu me sinto tolo por ainda amá-la, apesar de tudo.

E agora, ela tirou sua própria vida. A dor na minha alma é inimaginável, um buraco negro que ameaça me engolir.

Continuo agarrado ao médico, o ameaçando e dizendo para que ele traga novamente Ivana para mim , então sinto alguém me puxar para longe do médico

De repente, sinto dois tapas no meu rosto. Minha visão começa a clarear, e eu vejo o rosto de Marko, meu irmão mais velho, à minha frente. Atrás dele está Filip, meu irmão mais novo.

-Por favor, irmão, volte a si - ouço Filip dizer com urgência.Eu sinto como se estivesse perdido em um pesadelo, minha mente turva pela dor e raiva.

Meu olhar volta para meu irmão mais velho, Marko, que me olha seriamente e me faz sentar em uma cadeira

- Fique com ele... eu vou cuidar de tudo- Marko diz a Filip, antes de sair . Marko também perdeu sua primeira esposa e filho, então sei que ele compreende a minha dor ,embora Marko não goste de demonstrar

Filip me entrega um copo de água e se senta ao meu lado colocando uma mão em meu ombro

Levo o copo de água aos lábios, mas mal consigo beber. Minha garganta está apertada demais, e a dor em meu peito é insuportável.

Minha mente começa a vagar pelos momentos felizes que compartilhei com Ivana. Ela era uma mulher excepcional, linda, forte e corajosa. Seu sorriso era a luz do meu dia, e sua presença, a minha felicidade.

Os dias felizes juntos, a viagem à costa da Croácia, onde caminhamos de mãos dadas pelas praias de cascalho. As noites românticas em que ela preparava o meu prato favorito, cientes de que eu não conseguia resistir ao seu talento culinário.

Ivana era a minha vida, meu apoio, minha âncora. Eu construí o meu mundo ao redor dela, e agora, é como se o mundo tivesse desabado sobre mim. A traição, as mentiras, a morte dela... é difícil aceitar que tudo isso aconteceu, que a mulher que eu amava, que eu ainda amo, tenha feito isso.Minhas mãos tremem enquanto seguro o copo de água, minhas lágrimas finalmente escapando e se misturando com a bebida. Eu daria qualquer coisa para voltar no tempo, para corrigir tudo isso, para ter Ivana de volta nos meus braços, como nos velhos tempos.

Minhas pernas tremem quando finalmente me levanto do banco desconfortável no hospital. A mão firme de Filip está no meu ombro, me apoiando. Estou exausto, não apenas fisicamente, mas emocionalmente destroçado. A dor que sinto é como uma ferida aberta, latejante e constante, impossível de ignorar.

Tenho que fazer os preparativos para o enterro de Ivana. É uma tarefa que nunca imaginei que teria que enfrentar, e a simples ideia de enterrá-la é insuportável. Mas é o mínimo que posso fazer por ela agora.

Filip me guia com cuidado pelo corredor do hospital. Minha mente está turva, e mal consigo processar o que está acontecendo ao meu redor. As pessoas passam por mim, médicos e enfermeiras continuam suas rotinas, mas meu mundo está em câmera lenta, como se estivesse afundando em um pesadelo interminável.

Filip me leva para fora do hospital, e o ar fresco me atinge como um soco. . Sinto como se estivesse vendo o mundo de outra perspectiva, como se tudo estivesse distorcido e irreal.

- Viktor, você precisa descansar um pouco. Você está esgotado - Filip diz com preocupação

Eu assinto, incapaz de articular palavras. Minha garganta está apertada, e as lágrimas continuam a escorrer pelo meu rosto, silenciosas e implacáveis. Não quero descansar, não quero fazer nada além de segurar Ivana novamente, mas sei que tenho que seguir em frente, mesmo que seja uma tarefa quase impossível.

Nossos passos nos levam até o carro. Filip abre a porta para mim, e eu entro sem dizer uma palavra. Sinto como se estivesse em um transe, observando o mundo passar pela janela do carro, mas não realmente fazendo parte dele.

O silêncio dentro do carro é ensurdecedor. As palavras não podem expressar a magnitude da minha dor, e Filip parece entender isso. Ele mantém um olhar atento em mim

Finalmente, chegamos à minha casa, um lugar que antes era nosso refúgio, nosso lar. Agora, parece vazio, um eco vazio das memórias felizes que compartilhamos aqui. Saio do carro e olho para a casa, a tristeza me engolindo.

Filip me segue até a porta, e entramos juntos. Não há festa de boas-vindas, não há sorrisos calorosos, apenas o vazio imenso que Ivana deixou para trás. A casa está quieta, como se também estivesse de luto.

- Descanse um pouco . Eu cuidarei dos preparativos para o enterro. Você só precisa se recuperar - Filip diz com gentileza, sua mão ainda apoiada no meu ombro.

Eu concordo com a cabeça. Subo as escadas até o quarto que costumava ser nosso e me jogo na cama, afundando no colchão macio. O quarto cheira a Ivana, seu perfume ainda pairando no ar. Lágrimas rolam pelo meu rosto, e eu me deixo levar pela tristeza avassaladora que me envolve.

Neste momento, tudo o que desejo é estar ao lado dela novamente, mesmo que seja apenas em memória. A dor da perda é insuportável, mas não tenho escolha a não ser enfrentá-la

Zora

Estou no velório de Ivana, cercada por membros da máfia, os rostos sombrios que compõem o submundo perigoso que Ivana conhecia tão bem. Marko e Filip, os irmãos de Viktor, também estão aqui, seus semblantes pesarosos refletindo a dor e preocupação com o irmão . Mas, apesar da tristeza que paira no ar, Viktor é o mais afetado. Seu olhar está distante, perdido em algum lugar além do alcance dos vivos.

Eu continuo com meu teatro, lágrimas falsas escorrendo pelo meu rosto enquanto me curvo sobre o caixão de Ivana. É um papel que preciso desempenhar perfeitamente, sem margem para erro. Se houver qualquer suspeita, qualquer sinal de que Ivana ainda está viva, todo o plano pode desmoronar.

Olho para Ivana, sua pele pálida e fria, seu corpo imóvel sob o caixão. Apenas eu sei que ela ainda está viva, apenas eu conheço o segredo que a mantém nesse estado. É uma sensação estranha, sabendo que a mulher que fingimos estar morta é minha "amiga ", a pessoa que ajudei a enganar o homem que ela ama.

Tentei me aproximar de Viktor durante o velório, oferecer meu ombro para ele se apoiar em sua dor, mas ele me ignorou, como fez no hospital. Ele continua imerso em sua própria tristeza, sua atenção completamente consumida pela ausência de Ivana. Eu sinto uma onda de raiva. Como eu vou tomar o lugar de Ivana se Viktor nem mesmo me nota?

Mantendo minha atuação, seguro o caixão de Ivana e soluço, tentando chamar a atenção de Viktor. Mas seus olhos permanecem fixos em sua esposa falsamente morta.

Chega o momento de enterrar Ivana, observo o caixão ser abaixado na cova. Viktor está ali, segurando as lágrimas , e eu me sinto uma farsa, mas é uma atuação que deve ser mantida. Eu o acompanho até o final do enterro, segurando minha tristeza falsa enquanto os outros se despedem de Ivana.

Quando o último deles se afasta, eu me afasto com eles, mas não completamente. Deslizo para trás de uma lápide alta e isolada , minha respiração contida enquanto fico escondida. A tarde vai embora lentamente, e meu coração está acelerado, sabendo que o tempo está se esgotando.

" Está tudo limpo" - Envio uma mensagem para Juan

Meu celular vibra silenciosamente, e eu vejo a mensagem de Juan.

" Espere o sinal."

Olho para a lápide de Ivana, esperando o momento certo. O cemitério começa a ficar vazio, e as sombras se alongam à medida que o sol se põe. É um lugar tranquilo, mas ainda existem alguns visitantes, e eu preciso ter certeza de que não há ninguém por perto.

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