CAPÍTULO 19

Quis trocar algumas palavras com James, o guarda costas que mostrava medo em seus olhos enquanto dirigia e dava olhares para o seu namorado através do espelho retrovisor. Chris sentado ao meu lado no banco de trás recebia todos eles. O espelho retrovisor foi o maior inimigo de Chris naquele trajeto.

Não pude arrancar a verdade de Chris pois certamente, ele se recusaria a contar, já que obviamente estava sob a ameaça de Megan, que continha mistério em seu olhar.

O carro que fomos era um que poderia se misturar com os outros da avenida movimentada. Poucas vezes saímos para nos juntar à pessoas completamente desconhecidas devido a nossa segurança e mais, pela de Megan, mas naquela noite, minha esposa parecia estar tranquila quanto a isso, o que visivelmente era estranho.

— Espero que você não desmaie! — Megan foi rude em suas palavras direcionadas a James, que nada disse.

E enfim, Megan ordenou que James estacionasse o carro próximo a uma calçada de uma lanchonete que possuía um letreiro vermelho.

Pensei profundamente: Lanchonete?

Primeiramente, James saiu do carro e Chris o acompanhou, e então, eu dei a minha atenção aos azuis escuros ainda misteriosos.

— Vamos viver um pouco, Stella? — disse com carinho.

— Vamos, amor.

Megan saiu do carro e abriu a porta para mim, que sem mais delongas, entreguei a minha mão para a mulher sorridente e despreocupada. Certamente, Mercier iria repreendê-la por ela estar nas ruas sem nenhuma proteção, tecnicamente a proteção dele. Não soube se ele sabia daquela saída, pois Megan não abriu o bico para mim.

— Por que você continua com esse mistério, amor? — perguntei, vendo James e Chris ao nosso lado nos seguindo para dentro da lanchonete.

— Por que a pressa?

— Megan… eu não quero uma pergunta como resposta!

E Megan deu um sorriso silencioso.

Chegamos próximo ao balcão, onde vimos um homem de cabelos enroladinhos se levantar do chão com copos brancos possuindo tampas, pareciam recipientes para se colocar milkshakes. Certamente o que ele segurava tinha infelizmente caído.

Havia algumas pessoas sentadas às mesas e concentradas em suas refeições e para elas, somente eu e Chris demos a nossa atenção.

Megan, com um semblante agradável para o homem, falou:

— Chippis, por favor.

O homem ergueu a sobrancelha de maneira surpresa, repetindo o que eu acabei fazendo por não saber o que eram “ Chippis ”. Seria aquilo uma palavra passe?

— Siga por aquela porta branca — disse, assim que apontou com a cabeça para onde certamente seriam os banheiros daquele lugar — e você encontrará o que está procurando.

— Obrigada — ela agradeceu e me puxou para seguir os seus passos.

Sim, era um código que só ela conhecia.

Todos passamos pela porta branca e seguimos em passos normais por um corredor com pouca luz, como um daqueles corredores em filmes de terror. Eu fiquei com um pouco de medo de seguir aquele caminho ainda não explorado pelos meus passos, no entanto, Megan estava ali para me fazer seguir sem receio ou apreensões.

Notei no trajeto, que a respiração de James estava cada vez mais desregulada. Qual era o problema dele? Nem mesmo Chris, que era o maior medroso, se mostrava daquele jeito.

E enfim, Megan abriu a porta preta que possuía um letreiro pequeno que dizia: Chippis. Todo aquele mistério começou a ficar bizarro e infantil. Qualquer intrometido que entrasse pela porta branca, acabaria encontrando aquele letreiro ridículo.

E quando passei pela porta, me deparei com uma mulher ruiva de coque e mechas caídas sobre o seu rosto pálido, olhos azuis claros e redondos, com braços repletos de tatuagens maneiras e vestida num macacão jeans. Uma linda mulher.

A verdade explodiu na minha cabeça e ali, eu entendi o porquê do desespero de James, ele levaria várias agulhadas numa só noite. Sorri do pobre James mentalmente. Chris, por outro lado, convenceu o namorado e a chefe. Impressionantemente ele conseguiu, mas com certeza teve que ter muita coragem e determinação para convencer Megan, já que nunca na galáxia, a mesma o ouviria. Eu, eu concordaria, pois confiava em Megan para fazê-lo.

Depois que os meus olhos viram toda a arte estampada nas paredes que formavam aquele espaço naquele belíssimo estúdio de tatuagem, notei que a ruiva estava paralisada olhando para Megan. Ela analisou todo o corpo da mulher calada e misteriosa a sua frente e tudo pareceu acontecer em câmera lenta. Eu analisando a ruiva, Megan sendo encarada como se fosse uma atriz de Hollywood, Chris sorrindo para o medo estampado nos olhos de James e o mesmo tentando não chorar.

— Olá, Chippis — disse Megan e tudo ali no ambiente voltou a normalidade, como se o relógio do tempo tivesse sido magicamente concertado.

— Armstrong? — e um sorriso enorme e alegre estampou no rosto daquela que se chamava Chippis, mostrando também o mover lento de uma de suas orelhas. — Você?... Você por… aqui?

Era mais que claro que Megan a surpreendeu.

— Sim, eu por aqui após anos… resolvi rever amigos de longas datas.

— Você está maravilhosamente sexy… como sempre.

Meu ciúme acabou me fazendo encarar a ruiva. Armas se fizeram necessárias naquele momento.

— E eu acho que você deve prender mais as suas palavras dentro dessa sua boca… não quero ter que arrancar a sua língua.

E Chippis sorriu nada apreensiva.

— E continua fodidamente perigosa.

E o meu semblante se fechou mais ainda para a audácia daquela mulher, que parecia ter uns 25 anos.

— É desse tipo de coisa que a minha esposa adora em mim — Megan disse simplesmente e foi inevitável não receber um olhar analisador de Chippis.

Comecei a pensar minuciosamente em mandar James arrancar os olhos dela e somente nós dois saberíamos daquela maldade.

— Conheça a minha esposa — e Megan olhou para mim com amor — Stella Armstrong.

E Chippis sorriu com um sorriso largo, assemelhei aquele gesto a de um psicopata. Simplesmente assenti para ela, que ofereceu a mão de unhas longas e pintadas de preto.

— É um prazer conhecê-la — ela disse formalmente e logo senti o calor de sua mão, que foi delicadamente se soltando da minha.

Gostei do fato dela não querer ficar me tocando por muito tempo. Obviamente ela não se atreveria a dar em cima da esposa de Armstrong, como foi o caso de Alex. McCormick, como garantiu, desapareceu.

— Igualmente.

— Ah… o meu nome é Cecília.

— E de onde saiu Chippis? — Chris se manifestou e se aproximou de um dos desenhos nas paredes.

Observei rapidamente que havia uma outra porta e a mesma era de um modelo mais antigo, era parecida com o material que eram feito escotilhas dos submarinos. Era uma porta misteriosa?

— Foi Armstrong quem me apelidou e isso aconteceu há um bom tempo — respondeu e eu encarei a minha linda mulher que agora estava sentada numa poltrona no canto, próximo de umas garrafas de cervejas, que estavam sobre uma mesinha de centro de madeira nobre, sendo a mesma, avermelhada. — Ela sempre disse que o meu nome era muito longo para se pronunciar.

— E eu ainda penso do mesmo jeito, Chippis.

Todos riram por um breve segundo, menos eu, pois não vi necessidade de fazê-lo.

— Já conheci Stella, mas ainda preciso saber quem são esses dois cavalheiros calados e comportados.

— Eu sou Chris — meu amigo agradavelmente falou — e este ao meu lado é James… o meu namorado.

— Oh… vejo que somente eu é quem está solteira nessa noite.

— Não namora alguém porque não presta! — Megan soltou essa e Chippis a encarou — Estou apenas dizendo a verdade.

— Você também não presta e conseguiu se casar com essa deusa.

— Para Stella eu presto e… muito.

Senti as minhas bochechas esquentarem inexplicavelmente.

— E de onde se conhecem? — agi de rompante e sei que Megan notou uma mudança na minha voz, estava um tanto ríspida agora.

Megan franziu o cenho devido a minha insistência em saber sobre o seu passado e a encarei mais ainda. Eu não queria ter que olhar para o rosto de uma de suas possíveis namoradas do passado.

— Querida… Chippis é filha de um suíço ricaço que conheci em um negócio.

— E por que você mantém um estúdio de tatuagem escondido nos fundos de uma lanchonete… se é rica? — perguntou Chris, algo que certamente sairia da minha boca a qualquer momento se ele não tivesse sido mais ligeiro.

— Digamos que eu sou a ovelha negra da família. O cara que diz ser o meu pai nunca aceitou o meu estilo de vida e eu, como uma filha claramente rebelde, decidi tomar conta da minha vida.

— E você é feliz?!

— Eu faço a minha felicidade.

— Prático e você, amor… nunca mais teve contato com o pai dela?

— Foi apenas um negócio que fechamos e nunca mais o vi. Chippis e eu formamos uma boa amizade.

— Entendi, mas… qual foi o tipo de negócio que você teve com o pai dela?

— Ele foi apenas um comprador e nada mais.

O tal pai de Cecília ou Chippis, certamente não teve nada haver com o passado obscuro de Megan e isso era um milagre, pois eu não desejaria ter Chippis como uma inimiga, se Megan tivesse aprontado algo com o velho suíço, que para mim era desconhecido.

— Sem mais perguntas, amor — disse simplesmente e Megan me chamou com a mão para que eu sentasse no assento de couro preto ao lado dela.

Houve um silêncio em nossa pequena distância.

— Chippis? — chamou por ela, sem que olhasse para a mesma.

— Armstrong?

— Atenda os desejos de Chris e em seguida… será a minha vez mais a da minha mulher.

— Eu realizo e brilho, não se esqueça!

Megan não falou mais nada e ali, sentada, vi James e Chris começarem a trocar palavras com a brilhante tatuadora.

Megan encostou a boca na minha orelha e baixinho disse:

— A tatuagem que faremos terá um lindo significado, meu amor. Quero que quando você olhar para ela, você se lembre de mim e também do nosso amor e desejo que temos uma pela outra — deslizou a mão para a minha e juntamos ambas delicadamente — Em breve você estará longe de mim, mas estará também com a minha constante lembrança.

Ela afastou a boca e nos olhamos profundamente. Megan mostrou num único sorriso a sua empolgação em tornar aquilo realidade.

— Mas me diz — disse baixinho — por que obrigou James a passar por isso? Ele tem medo de agulha, Megan.

Megan sorriu tranquilamente e respondeu:

— Ele ama o seu best e por amor, ele deve ser capaz de fazer tudo, mesmo que seja algo extremamente assustador.

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