CAPÍTULO 6

[ … ]

— Quer saber de alguma das minhas aventuras agora, amor?

— Sim, me conte.

Megan deitou a cabeça no meu colo depois de dar um último gole em uma cerveja e cair na cama. Eu comecei a tocar os seus lindos fios negros enquanto usava a cabeceira como apoio para as minhas costas. Já era noite em Florença e tínhamos acabado de chegar de um passeio que durou umas horas da nossa tarde, um passeio por alguns jardins de lindas flores que eram cultivadas para a produção de perfumes.

— Ouça-me com atenção, está bem?!

— Está bem, querida.

— Aos dezoito, eu estive curtindo com amigos e colegas passageiros. Houve uma vez em que me desafiaram a me jogar de um helicóptero dentro do mar. — de início percebi que aquela história iria ser boa — Eu aceitei o desafio, no entanto, me joguei depois de ter visto dois lá embaixo. Eram loucos e eu acabei me tornando um deles.

— Imagino. — falei e sorri para o seu rosto singelo abaixo do meu.

— Eu não era corajosa, mas ao mesmo tempo… ninguém zombava de mim. Eu ia lá de cabeça erguida e fazia. A adrenalina sempre foi a minha paixão.

— Ah é? — Sei que ela notou o meu ciúme, pois sorriu e apertou os olhos.

— Antes de você aparecer, é claro.

— Agora estou mais satisfeita. — e fiz um carinho em seu nariz.

— Sempre tive que estar em alerta por ser a filha de um homem que não tinha amor a ninguém. Eu usava aquilo para estar longe, não ser um alvo fácil, mas enquanto eu me distanciava, eu acabei perdendo um pouco do carinho da minha mãe, a distância nos esfriou… conversávamos por ligação, mas não era a mesma coisa.

— Sinto muito, amor.

— Ah, Stella… há muita coisa enterrada no passado.

— Temos o tempo do mundo. — e ela deu um sorriso embriagado para mim, enquanto que eu não parava a massagem em seus cabelos.

— Imagine que a primeira vez que concordei em descer de trenó nas montanhas do Alasca, foi quando percebi que eu jamais poderia ter uma vida normal.

— Como assim?

— Bem… eu meio que deixei-me levar por pensamentos negativos. Não via uma solução ou um escape para a minha verdadeira realidade. Todos os que me conheceram no passado nunca souberam o meu verdadeiro nome.

— Não diga! — ela sorriu de sobrancelha erguida e pegou a minha outra mão para dar beijos silenciosos e carinhosos.

O clima era de paz e já passava das 8pm. Nada incomum havia acontecido, tornou-se estranho. Pude sentir que aquele tempo de sorrisos demoraria a voltar.

— E como os seus amigos enganados te chamavam?

— Umm… em algumas vidas me chamaram de Ayla e em outra de Atena e assim por diante.

— Você foi mau.

— Fui tão mau que acabei os fazendo chorar com o meu falso desaparecimento.

— Você o que? — e ela gargalhou… — Desaparecimento?

— Quando eu percebia que não dava mais para curtir ao lado deles, eu simplesmente desaparecia.

— Não é difícil de acreditar, já que você é o que você é.

— Identidades falsas e vidas passageiras foram o que mais tive. Depois de acabar com esse ciclo repetitivo, eu me dediquei a vida que realmente me pertencia, certa de que eu era a filha de um homem mau. Me tornei a versão feminina dele e hoje sinto que não valeu de nada.

— Sei que é doloroso essas lembranças e não quero que se perturbe com isso, meu amor… — disse fazendo um simples carinho em seu queixo — se dedique apenas em me contar as suas experiências, aquelas em que você se divertiu.

— Está bem… deixe-me pensar um pouco…

Megan se calou por um momento e eu fiquei olhando para o seu corpo relaxado na cama.

— Quem foi a sua primeira? — perguntei de rompante e ela juntou as sobrancelhas, pareceu intrigar-se somente com aquele gesto.

— Por que quer saber sobre isso, princesa? — me olhou nos olhos e me deu um sorriso presunçoso.

— Ah… somente curiosidade.

— Achei que você gostaria de saber apenas das minhas aventuras.

— Um romance passageiro e verdadeiro pode ser considerado como uma aventura, não acha?

— Ah… não vejo problema em não considerar tal fato.

— Ok… então me diga quem foi a sua primeira.

— Me envolvi com uma garota do ensino médio, uma de dezoito anos… — semelhante não? — e no tempo eu ainda tinha 19. Ela era filha de uma professora de piano.

— Típico.

Megan apertou os olhos e sacudiu a cabeça.

— E bem… aconteceu um pequeno problema em nosso relacionamento de dois meses.

— Os seus problemas são atrativos.

— Mas eu sou mais, certo?!

Abaixei a cabeça para beijar os seus lábios em um selinho duradouro…

— Você sempre será mais atrativa.

— Acho bom… — fingiu estar emburrada e os seus olhinhos se fecharam — rum!

— Não duvide… acredite no que eu digo.

— Eu acredito em você.

— Certo… agora, continue. Qual foi o pequeno problema?

— Ela… a Kira me levou para a casa dela e lá fomos pegas por sua mãe. Kira ainda não era assumida, tinha medo de dizer a sua mãe supostamente antiquada que era lésbica e acabar sendo expulsa de casa.

— E a mãe dela? — Senti vergonha de Kira na pele — Ela fez algo com você?

— Digamos que sim.

— Estou começando a achar que esse pequeno problema não é tão pequeno assim.

Megan abriu os olhos e encarou a janela.

— A mãe dela viu que eu era um “ bom partido ” para a filha e muito atraente e tentou se aproveitar da situação, sem que a mesma soubesse, é claro.

— De que jeito?

— Ela só deixaria a filha dela ter um relacionamento comigo se em troca… eu aceitasse ter noites de amor com ela.

— Mais que mulher safada.

— Muito safada, mas também muito encantadora e por incrível que pareça uma mulher jovem.

— Megan?... — eu estava incrédula — você não?...

— Não, eu não tive nada com ela e por isso ela fez Kira se afastar de mim, colocando a culpa em mim e contando uma outra versão dos fatos.

— E Kira deu ouvidos à mãe pervertida dela?

— É. Eu gostava de Kira, mas ela não confiava em mim o bastante, nem mesmo acreditava em mim.

— Foi uma aventura e tanto, não é mesmo? — afirmei em um meio sorriso.

— Uma das mais estranhas e loucas da minha vida.

— Ainda bem que Kira não acreditou em você.

— Por que? — Se ergueu e se ajoelhou ao meu lado.

— Porque se tivesse acreditado, você nunca teria me escolhido para ser a sua esposa, mulher, namorada… a única da sua vida.

Megan semicerrou os olhos e mordeu o lábio em meio a um sorriso analisador.

— Você é um milhão de vezes melhor que a Kira e melhor do que qualquer outra que tenha passado pela minha vida. Você é jovem, cheia de vida, é linda, charmosa, sexy, viciante, me fascina e me deixa louca… — ela me puxou para os seus braços e eu acabei caindo sobre ela e com mais uma virada na cama, acabamos encontrando o chão com o corpo dela sendo a minha proteção. Sorrisos e gargalhadas em meio ao nosso desastre foram muitos. Ela me sentou corretamente sobre o seu abdômen e começou a fazer um carinho nas minhas coxas. Uns arrepios senti enquanto me enchia de sua beleza sob mim — nenhuma mulher foi capaz de me ter nas mãos, nunca conquistaram o meu coração e nunca me enlouqueceram de paixão como você o fez.

— Megan você também fez isso comigo.

— Mas para isso eu tive que usar da força… eu te obriguei a estar ao meu lado. Talvez tivesse sido diferente, se eu tivesse tentado te conquistar de outro jeito.

— Não traga ocasiões do nosso passado para o nosso presente, isso pode ser capaz de mudar o nosso futuro e eu não quero. Você provou ser digna de ser amada por mim. E pensando por outro lado, se você tivesse surgido um ano atrás na minha vida e se feito presente, eu iria pensar que você era uma aproveitadora, por ser mais velha e eu ser menor de idade. De todas as formas não iria funcionar, eu estaria comprometida e você não teria chances.

— Stella…

— Shh, me ouça! — e ela assentiu simplesmente — Não tente consertar o passado agora. Você errou sim, mas eu te dei o meu perdão. Você foi cruel, mau, e muito mal caráter.

E ela virou o rosto para a janela. Megan ficou calada por um momento e parou o seu carinho nas minhas coxas. Ela tinha que ser forte para encarar o seu passado.

Virei o seu rosto delicadamente e ela mostrou-se triste.

— Você errou e conseguiu consertar… — e Megan deu um sorriso de canto simples — muitas pessoas não são capazes de fazer o que você fez ou o que você faz. Elas são fracas e você foi forte e continua sendo, mas agora está sendo forte do jeito certo.

— Ah, Stella… é tão bom ouvir isso… — puxou-me para um beijo — obrigada por ser a minha salvação — e me beijou.

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