Capítulo onze

É hoje. Hoje é o dia do meu casamento e mal consigo acreditar nisso, mal consigo acreditar que a partir de hoje deixarei a mansão dos meus pais para ir viver com alguém que ainda não conheço, para viver com um homem de trinta e cinco anos, um homem treze anos mais velho que eu. O meu coração dói tanto, sinto um vazio dentro de mim e não há nada que eu possa fazer para arrancar do meu peito está doer que está me matando lentamente, não há nada que eu possa fazer para tirar de dentro de mim essa angústia e esta mágoa que estão roendo a minha alma devagarinho, é uma dor profunda que nunca havia sentido antes e espero que tudo isso passe um dia.

Ontem eu não fui à faculdade, fiquei o dia todo trancada no meu quarto, não queria falar com ninguém e não queria ver ninguém também, eu estava inconsolável e os meus pais tiveram de sair da empresa pra virem pra cá, pois a dona Olívia ligou para eles e falou que a menina deles não queria comer de jeito nenhum. Os meninos vieram pra cá depois de terem saído da Universidade, mas não pude recebê-los, apesar de terem insistido muito, eu não estava nos meus melhores dias e queria ficar sozinha, eu precisava disso e acho que no fundo eles acabaram por entender.

Infelizmente tive de ir comprar o meu vestido de noiva na quarta-feira com a minha mãe, com a Michelle e com a Abigail, eu não estava e nem estou feliz, afinal, não é um casamento de verdade, é um casamento por contrato e a empolgação era bem menos, na verdade não havia empolgação nenhuma, era evidente a tristeza no meu olhar e acho que a dona da loja percebeu isso.

Estou com o meu pai na limusine branca que ele mandou alugar, vestida de noiva e com os olhos cheios de água, estou linda e a maquiagem e o penteado que as profissionais fizeram em mim é de tirar o fôlego, qualquer noiva no meu lugar estaria pulando de felicidade, estaria com os olhos brilhando de emoção, estaria com um sorriso radiante no rosto, estaria com o coração na mão por causa da ansiedade. Mas a Mia Carl não está assim, a Mia Carl está triste e destroçada, a Mia Carl queria estar na cama lendo um perfeito livro de romance, a Mia Carl queria estar sorrindo como sempre faz.

Sinto que serei outra pessoa nos próximos dois anos, sinto que não serei aquela menina sorridente que espalhava alegria por onde quer que passasse, sinto que não serei a garota que via sempre o lado bom das coisas. Estou com uma imensa vontade de chorar neste momento, estou com uma imensa vontade de gritar e de tirar de dentro de mim toda essa dor e raiva que estou sentindo neste momento, estou com vontade de sair deste carro, tirar este maldito vestido e correr livremente pelas agitadas ruas de Nova Iorque, ir no Central Park, comprar um sorvete de chocolate e deitar na relva verde sem se importar com o amanhã, sem se importar com a situação da minha família. Mas infelizmente não posso fazer isso, porque a situação da minha família realmente importa para mim e eu não posso ignorar tudo e fugir como uma covarde, aceitei essa proposta e irei até o fim.

- Pronta para entrar na igreja?

- Você sabe que não pai - suspirei cansada, derrotada.

- Oh, minha pequena, sinto tanto por ti - pegou na minha mão e as beijou delicadamente - vai conseguir perdoar os seus pais algum dia?

- Eu não tenho nada pra perdoar pai, eu entendo a situação da nossa família e vocês não tem culpa de nada, serão apenas dois anos e depois serei novamente uma mulher livre e pronta para escolher o amor da minha vida.

- Ou talvez o amor da sua vida venha a ser ele, vocês viverão juntos por dois anos e talvez nasça um amor sincero neste período.

- Ah, pai, você está viajando na maionese - sorri verdadeiramente pela primeira vez durante dias - o que o senhor falou é uma verdadeira bobagem.

- Mas serviu pra fazer você sorrir - tocou o meu rosto delicadamente e beijou a minha testa - promete não perder o brilho? Promete que será sorridente como sempre foi? Promete ao seu pai que fará de tudo para se dar bem com o seu futuro marido?

- Prometo tentar pai, eu prometo.

- Boa garota - tocou a ponta do meu nariz com o seu dedo como ele costumava fazer quando eu era criança - está na hora de entrar.

- Tudo bem pai.

O meu pai tem mesmo uma imaginação fértil, é óbvio que o meu futuro marido não será o amor da minha vida, não nascerá nenhum amor sincero durante o período em que estivermos casados, farei tudo o que estiver no meu alcance para estar o mais longe possível dele e acredito que ele fará o mesmo também, não teremos nenhum tipo de contato físico e não nos veremos com frequência, então não haverá chances de nos apaixonarmos.

- És a mais linda de todas as princesas, de todas as noivas - o meu pai estendeu a sua mão e eu a peguei, ele me ajudou a sair do carro e olhou para mim orgulhoso. O meu pai cobriu a minha cara com o véu de noiva e beijou novamente o dorso da minha mão.

- Obrigada pai - cruzamos os nossos braços e começamos a caminhar para a entrada da igreja.

O meu casamento será na Catedral de St. Patrick, em Nova Iorque mesmo, A fachada da catedral é feita de mármore branco e apresenta uma série de torres e pináculos, criando uma aparência majestosa.

Ao entrarmos na catedral, somos recebidos por um interior igualmente impressionante. As colunas de mármore sustentam abóbadas altas e detalhadas, enquanto as janelas de vitral deslumbrantes deixam a luz colorida inundar o espaço.

Observo as pessoas ao redor e vejo alguns rostos familiares, os meus amigos estão sentados em um banco próximo do altar e sorriem para mim na medida que vou me aproximando, todos eles estão lindos, mas não dá pra ver com perfeição os seus figurinos.

- Cadê o noivo pai? - perguntei assim que olhei para todos os lados.

- Não sei filha, talvez ele esteja atrasado.

- Atrasado no próprio dia do casamento? - exaltei um pouco a minha voz, deixando as pessoas um pouco curiosas - era só o que me faltava.

- Fica calma filha, em breve ele estará cá.

- Eu vou matar o meu futuro marido pai, juro que irei matá-lo.

- Não esqueça de me chamar quando fizer isso - piscou o olho, roubando assim uma risada minha.

Estou com tanta raiva do meu futuro marido agora, onde já se viu atrasar no dia do próprio casamento? Geralmente as mulheres é que se atrasam, não o contrário. Tudo bem que não é um casamento de verdade, mas porra! Eu mereço um pouquinho de respeito e consideração, sei que nenhum de nós dois queria casar, mas nós aceitamos a proposta feita pelo pai dele e devemos ir até ao fim com a nossa decisão.

Aposto que o desgraçado teve uma perfeita despedida de solteiro, por isso mesmo é que está atrasado, ele é um ser vergonha e merece umas boas palmadas. Ah, espero que ele não tenha desistido da ideia de se casar comigo, os meus pais precisam do dinheiro e eu não suportaria ser motivo de piada durante dias ou até mesmo semanas, vi dois fotógrafos assim que cheguei e não quero que espalhem fotos minhas sem o meu noivo.

Ah, o cretino é um irresponsável, não me surpreende que o pai tenha arranjando uma esposa para ele, com certeza o meu futuro marido é um desses CEO,S que ficam trocando de namorada o tempo, que ficam trocando de companheira como se fosse roupa ou calçado.

Assim que parei no altar, cumprimentei o padre com um sorriso falso e encarei a minha mãe, ela sorriu e pediu com um gesto de mãos que eu ficasse calma, mas infelizmente não estou conseguindo fazer isso.

As pessoas que cá estão na igreja, olham-me com pena, como se o noivo não fosse aparecer, ele está uma hora e alguns minutos atrasado, mas isso não quer dizer que ele não virá.

Olho novamente para a minha frente e vejo um homem muito elegante entrando na igreja com o seu amigo, primo, vizinho ou sei lá quem quer que seja a pessoa ao seu lado, ele está muito bem vestido e tem um andar muito bonito. Os dois estão se aproximando cada vez mais de mim e sinto a minha respiração falhar quando os meus olhos dão de cara com Miller David Moore. Puta merda! Eu irei casar com Miller David Moore? Meu Deus, eu não acredito nisso, como os meus pais tiveram coragem de me entregar pra ele? Esse cara é o homem mais mulherengo de toda Nova Iorque, o cara sai com mulheres diferentes em cada noite e o seu nome sempre está na mídia, é um cretino e eu não quero casar com um homem que nem ele.

A minha respiração está falhando cada vez mais e os meus sentidos aos poucos vão se perdendo, a minha visão está embaçada e o meu peito sobe e desce rapidamente.

- A Mia vai desmaiar - foi tudo que ouvi antes da escuridão me invadir.

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