Capítulo sete

Os primeiros raios solares faz-me ter a certeza que já estamos no domingo e que o dia está apenas começando. Os meus olhos estão desfocados e a minha cabeça dói muito, o meu corpo está fervendo de dor também, é como se um caminhão tivesse passado por cima dele e eu não duvidaria se alguém me dissesse isso, não sei o que fazer para esta dor passar e acho que preciso ligar para as minhas amigas pra saber o que devo fazer, elas com certeza estão acostumadas com essa terrível dor e saberão o que me dizer.

Por que fui beber desse jeito hein? Eu nunca tinha bebido antes e exagerei demais na minha primeira vez, era pra ter sido uma noite divertida e na verdade foi, mas agora estou sofrendo com as consequências da diversão. Não sei como cheguei em casa e muito menos no meu quarto, bebi muito e não lembro de muita coisa, as únicas coisas na qual me lembro é der bebido muito, de ter dançado para um jovem e de ter beijado um homem. Puta merda? O quê? Eu beijei mesmo um homem? Merda! Como isso aconteceu e por que fiz isso? Ah, não! Será que alguém filmou aquele momento? Será que estou sendo motivo de piada nas redes sociais? Ou será que estou sendo insultada por talvez ter beijado um homem casado? Ah, maldição! Eu sou uma azarada mesmo, sou uma azarada. Eu não devia ter beijado um homem desconhecido, na verdade não devia ter beijado alguém ontem, mas eu estava tão irritada com a ideia de ter o meu primeiro beijo com o meu futuro marido que acabei beijando aquele homem. Pensando bem acho que fiz a coisa certa, aquele homem da boate beija muito bem e me beijou como se as nossas vidas dependessem daquilo, ainda lembro-me do que senti quando as mãos tocaram as minhas coxas, foi algo tão bom, tão incrível, tão quente. Gostaria de repetir, mas eu não lembro-me do rosto dele, apenas das sensações, não sei se o cara era bonito, se era alto, médio ou baixinho, se era forte ou magro, ou se era uma figura importante, a Michelle disse que aquela boate é frequentada por famosos, então não sei dizer se beijei uma figura pública.

Pego no meu celular e entro nas redes sociais. Talvez ele seja uma figura importante e talvez alguém tenha fotos ou filmado aquele momento, seria perfeito para mim saber quem foi o homem que teve o privilégio de beijar uma garota que nunca havia sido beijada antes, eu quero apenas ver o rosto dele, não irei segui-lo e nem pedir que nos encontremos novamente. Ah, para a minha desilusão não tem nada aqui, as minhas redes sociais estão tranquila, como sempre e não há nada de anormal. Frustrada e decepcionada por não ter encontrado o homem da boate, levanto-me da cama e sigo até ao banheiro. Preciso urgentemente de um banho quente e relaxante, sei que a água será capaz de ajudar o meu corpo e também a minha mente.

Depois de um banho relaxante com óleos e sais de banho, vesti um short e uma camiseta. Não sou fã de roupas curtas, mas estou em casa e ninguém além dos meus pais me verá assim, os funcionários não trabalham nos domingos e não me verão deste jeito, eles são seres humanos também e necessitam de descanso.

Falei com as minhas amigas a poucos minutos atrás e elas disseram-me para tomar um café muito forte e beber muito água durante o dia para acabar com a ressaca, farei o que elas ordenaram e nunca mais na vida irei beber, nunca mais mesmo.

Espero que os meus pais não tenham visto o meu estado na madrugada de hoje, eu estava embriagada e tenho a certeza que eles não gostariam de me ver assim.

Chego na cozinha e preparo café forte, não gosto de café, mas infelizmente não tenho outra opção, preciso acabar com esse mal estar e com essa preguiça que está dominando o meu corpo.

- Bom dia filha, eu estava mesmo para ir no seu quarto.

- Bom dia mãe, como descansou?

- Bem, mas não sei se posso dizer o mesmo de você, a sua cara está horrível Mia - falou sorrindo.

- Ah, eu sei mãe, eu sei.

- Andou bebendo não é? Você detesta café.

- Só um pouquinho.

- Tudo bem - acariciou o meu rosto e beijou a minha bochecha - aqui dentro tem o seu contrato de casamento, leia com atenção e depois assine - estendeu para mim uma pasta de documentos e eu a peguei.

- Quando é que será o casamento?

- Daqui a seis dias.

- DAQUI A SEIS DIAS? - passei as mãos pelos cabelos e senti lágrimas nos meus olhos.

- Por favor fique calma Mia, o amigo do seu esteve aqui ontem a noite e deu a nós esse contrato, ele ligou essa manhã e perguntou se vocês podiam se casar no sábado que vem, nós aceitamos porque o dinheiro será depositado somente depois do casamento e não podemos mais esperar filha, o banco está em cima da gente e não queremos correr o risco dos juros aumentarem.

- Está bem, como vocês quiserem mamãe - deixei o meu café na mesa e saí da cozinha correndo.

Então é isso? Irei casar daqui a uma semana? Tinha como a minha vida piorar? Eu pensei que o casamento seria daqui a um mês, não daqui a uma semana, não dá pra preparar um casamento em seis dias, é pouco tempo e não será possível fazer muita coisa. Bom, mas isso não importa, o casamento não é de verdade, é um casamento por contrato, não existem sentimentos entre nós os dois, até porque não nos conhecemos e é impossível gostar, se apaixonar ou amar alguém que nunca vimos. Estou com muita raiva dos meus pais agora, entendo que eles precisam desse dinheiro, mas eu tinha o direito de escolher a data ou pelo menos de opinar sobre o assunto, eu não sou uma boneca de pano e eles não podem simplesmente tomar tais decisões sem o meu consentimento, não gostei da atitude deles e quero muito que saibam disso.

Entro no meu quarto e sento-me na cama com os pés cruzados, deixo a pasta dos documentos ao meu lado e começo a chorar baixinho. O meu coração está doendo muito e a minha alma também, eu não mereço isso, não mereço passar por esta situação e na verdade ninguém merece, é frustrante alguém mandar na sua vida, é frustrante alguém tomar as decisões por você como se você não tivesse capacidades para fazer isso, estamos no século vinte e um e ninguém decide com quem devemos nos casar, mas infelizmente a empresa da minha família faliu e eu tenho de casar com um homem de trinta e cinco anos.

Limpo as minhas lágrimas com o dorso da mão e respiro fundo, preciso ler a droga do contrato do meu casamento e para isso tenho que estar calma. Retiro os papéis de dentro da pasta e começo a ler lentamente, o contrato tem duas páginas e creio que não levarei muito tempo para o analisar.

Terminei de ler o contrato e dou graças a Deus porque as regras não são difíceis de cumprir, na verdade são fáceis e espero que o meu futuro marido não dificulte tudo. Não é coisa de outro mundo, mas o que me chamou atenção é que li várias vezes que o “casal” deve ficar fora dos escândalos, se existe esse ponto no contrato é porque o CEO, o meu futuro esposo, é alguém que sempre está na mídia e não deve ser por boas razões, com certeza é um homem que gosta de chamar atenção e este simples detalhe faz-me ter a certeza que viveremos como gato e rato.

Arrumo tudo novamente na pasta de documentos e deixo sobre a cabeceira, o cansaço vence-me e permito-me viajar para outros lugares distantes do planeta terra.

Sinto o meu corpo sendo balançado de um lugar para o outro e sinto raiva por isso, a minha mãe com certeza não é, ela é delicada e com boas maneiras, nunca me acordou dessa forma e acredito que nunca o fará, então se não é a minha mãe com certeza são as meninas, a Michelle e a Abigail. Gostaria de dormir por mais tempo, estou cansada e tenho de recuperar as forças, uma vez que o dia de ontem foi bastante agitado.

- Acorde Cinderela! - as duas continuam balançado o meu corpo de um lado para o outro.

- O que vocês querem? Será que não posso ter um minuto de paz?

- Levanta e deixe de ser preguiçosa! - levantei-me a contragosto e encarei as duas com a cara fechada.

- Andou chorando de novo Mia?

- Irei casar daqui a seis dias.

- O quê?

- Tão rápido?

- Sim, os meus pais precisam do dinheiro já, então eles aceitaram a data proposta pelo pai do meu futuro marido sem ao menos me consultarem.

- Não é justo.

- Sim, na-não é justo mesmo - gaguejei e desabei em lágrimas.

- Vem cá - as duas me abraçaram e beijaram o topo da minha cabeça.

- Tudo vai ficar bem Mia.

- Sim, tudo vai ficar bem.

- Assim espero meninas, assim espero.

É em momentos como este que precisamos mais dos nossos amigos, não sei o que seria de mim agora a Michelle e a Abigail não estivessem dispostas em me apoiar, elas são boas amigas e estão fazendo de tudo pra me animar um pouco.

- Mia nós queremos falar com você sobre um assunto um pouco delicado - começou a Michelle assim que nos separamos do abraço. Olhei para ela sem entender nada e percebi o quão preocupada ela estava.

- O que foi? Por favor fale logo, você está me assustando.

- É sobre o seu primeiro beijo.

- Ufa! Menos mal, pensei que fosse algo muito importante.

- Mia você não se lembra do homem que beijou?

- Não meninas e nem me importa mais lembrar dele, tenho coisas mais importantes para pensar.

- Mia você beijou…..

- Eu não quero saber Michelle, por favor vamos deixar esse assunto pra lá, nunca mais verei o homem que beijei, então não importa saber quem ele é, além disso, casarei no sábado e por mais que o beijo tenha sido marcante para mim não poderei repetir.

- Não lembra do cara, mas lembra do beijo? Nossa Mia, você é tão safada!

- Cala a boca Abigail - falei corando.

- Gostou do beijo?

- Eu amei o beijo Michelle, aquele homem tinha uma pegada tão quente - suspirei ao sentir um arrepio gostoso na barriga. As duas entreolharam-se aflitas e balançaram a cabeça negativamente.

- Tem certeza que não quer saber do homem que você beijou na boate?

- Tenho sim Abigail, eu tenho sim - respondi decidida.

Do que adiantará saber acerca do homem que beijei na boate? Eu irei casar daqui a seis dias e não fará diferença conhecê-lo, o beijo foi realmente intenso e especial para mim, mas eu jamais irei vê-lo novamente, então prefiro não me iludir com ele, se calhar é um homem casado e não quero sentir um peso na consciência por talvez ter beijado alguém comprometido.

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