Capítulo cinco

Não sei se foi uma óptima ideia ter dito para as meninas ontem que quero ir à boate com elas, nunca fui a uma e nem sei como é que as coisas funcionam lá, a única coisa que sei é que o lugar é agitado e barulhento e espero não me arrepender depois por ter mudado de ideia. Mas talvez uma boate um lugar monstruoso como sempre imaginei, talvez seja um bom lugar pra se divertir e diversão é o que preciso agora. Não sei quando é que será o meu casamento, pode ser daqui a poucos dias ou daqui a poucas semanas, então devo aproveitar a minha vida de solteira e fazer até o impossível para os últimos dias serem inesquecíveis para mim.

O meu único desejo é que acabe o que ainda nem começou, tenho medo de conviver com uma dura, insensível e fria, eu recebo amor, carinho e proteção desde que nasci e me assusta muito a ideia de ter que ser tratada com indiferença, mesmo por alguém que não conheça. Acho que eu devia ter permitido que a minha mãe falasse o nome do meu futuro marido, ela disse que é um CEO bilionário, então talvez eu saiba alguma coisa sobre ele, uma coisa boa ou má, assim eu estaria preparada para lidar com ele. Mas talvez seja melhor assim, talvez seja melhor eu não saber nada sobre ele, porque talvez ele seja uma pessoa nojenta e se eu souber talvez desista do casamento e essa não é a melhor opção para a minha família.

Não sei o que vestir para ir a uma boate, mas não pretendo ser quem não sou, não irei vestir roupas curtas e nem justas, não quero chamar a atenção dos homens, principalmente em um lugar tão agitado como uma boate, as pessoas são malvadas e podem aproveitar-se de nós, o Wilson não irá connosco, será uma noite somente de meninas, além disso, não nos falamos desde ontem e eu não irei mandar mensagem para ele, foi muito insensível comigo e eu ainda estou magoada.

Suspiro fundo e levanto da cama tentando pensar em coisas positivas, hoje eu não tenho que pensar em como a minha vida está mudando, mas sim em distrair um pouco a minha mente.

Retirei do meu armário um vestido tubi soltinho da cor azul com o comprimento abaixo do joelho e vesti sem pressa alguma, talvez essa não seja a roupa adequada para aquele lugar, mas como disse antes, não serei o que não sou. Para a ocasião decidi colocar saltos altos pretos e escolhi uma bolsinha preta com brilhantes em todo o seu redor, parei em frente ao espelho e fiz no meu cabelo um coque bonito e elegante. Coloquei no meu pescoço um fio de ouro puro que comprei quando estava na França com os meus pais e levei brincos de safira que ganhei da minha mãe no dia do meu aniversário. Fiz uma maquiagem leve no meu rosto e passei gloss nos meus lábios.

Estou simples, como sempre, mas muito linda também, não gosto de nada escandaloso e não gosto de vulgaridade também, deve ser por isso que minhas primas não são próximas de mim, elas gostam de chamar a atenção por onde passam e amam esbanjar dinheiro, coisa que dificilmente faço.

Os meus pais estão na sala de estar conversando abraçadinhos no sofá e gargalhando de alguma coisa, eles são um casal perfeito e um dia quero poder viver um amor assim. Os dois foram feitos um para o outro, são almas gêmeas e todo mundo que os conhece sabe bem disso.

- Fico tão feliz por vê-los assim - sentei-me no meio deles e ambos me abraçaram.

- Nós também filha, os últimos não tem sido fáceis para nós.....

- Mas agora será tudo diferente pai.

- Graças a você.

- Não diga isso mãe, eu faria qualquer coisa por vocês.

- Nós também, sabe disso né?

- Sim, eu sei sim.

- Então, pra onde está indo?

- Irei sair com as meninas.

- Boa noite sra. e sr. Brown.

- Boa noite filhas, como estão?

- Bem e vocês?

- também. A Mia disse que irão sair um pouco.

- Sim, iremos distrair um pouco a mente dela.

- Fazem bem, mas por favor cuidem bem do meu tesouro!

- Do nosso tesouro amor, do nosso tesouro.

- Tem razão querida - sorriu - por favor cuidem bem do nosso tesouro!

- Ela está em boas mãos - olhei para as duas e sorri baixinho.

- Nós já vamos - levantei-me do sofá e beijei a bochecha dos dois - tenham uma óptima noite.

- Vocês também.

- Divirtam-se garotas.

- Deixem isso connosco - a Michelle piscou o olho, fazendo-me os meus pais rirem.

A Michelle e a Abigail não cuidarão bem de mim, disso eu tenho certeza, essas duas são loucas e farão o que for preciso para fazerem da minha noite muito agitada, acho que voltarei para a casa amanhã como uma louca, com a roupa amarrotada e com os cabelos desajeitados. Essas duas são imprevisíveis e nunca se sabe o que esperar delas.

- Indo à boate de um vestido soltinho, sério isso Mia?

- Você fala como se não conhecesse ela Abigail, eu já sabia que ela não abriria a mão dos seus vestidos - deu de ombros.

- Sabes que ela tinha de estar sexy, como uma mulher de verdade, não como uma princesinha.

- Ah, cala a boca Abigail - falei sorrindo.

- Estás parecendo uma princesinha, uma filhinha de papai.

- Pare de implicar com ela Abigail!

- Dá próxima nós as duas iremos escolher o que a Mia irá vestir.

- Tudo bem, como você quiser.

- Eu não sou a boneca de vocês - reclamei.

- Claro que não, mas será na próxima vez.

- Suas idiotas - revirei os olhos e entramos no meu carro.

A Michelle e a Abigail não vieram dos seus carros, elas nunca saem de carro quando vão à boate e eu sei exatamente o porquê, elas gostam de beber até esquecerem-se que são pessoas, até esquecerem-se o caminho de casa e até dos próprios nomes. Já perdi a conta de quantas vezes elas ligaram-me para pedirem que eu fosse buscá-las nas suas aventuras noturnas, estou falando de boates, de shows e de festas, elas nunca ficam em casa e depois sobra para a Mia. Antes elas ligavam para o Wilson e ele ia ao encontro delas, mas acabou cansado de ser babá e desliga o celular todas as madrugadas de domingo, ele é esperto e sabe que essas duas sempre ligam a essa hora. Eu também poderia fazer o mesmo, mas não consigo, sou a amiga mais próxima delas e não quero que elas fiquem em perigo.

Estou no coração pulsante de Nova Iorque, envolvida por uma atmosfera de pura extravagância e sofisticação. A boate onde me encontro com as minhas amigas é um verdadeiro oásis de luxo e elegância, exalando charme em cada centímetro de sua impecável decoração.

Os móveis exibem um design impecável, de linhas modernas com toques clássicos. Poltronas estofadas com tecidos suntuosos oferecem conforto enquanto exalam um ar de opulência. Mesas de vidro espelhado, adornadas com delicadas peças de cristal, refletem a grandiosidade do ambiente ao redor.

Os bares estão repletos de uma vasta seleção de bebidas, dispostas em prateleiras iluminadas, que exibem suas garrafas brilhantes e convidativas. Bartenders habilidosos deslizam entre os clientes, criando obras-primas líquidas em taças reluzentes. O som dos copos tilintando ecoa pelo ambiente, adicionando um toque musical ao ambiente animado.

Nunca entrei em uma boate, mas duvido que exista uma melhor que essa.

- Que lugar mais lindo! - falei com os olhos brilhando.

- Essa boate é muito sofisticada Mia, acho que deu para perceber apenas com a decoração, muitos famosos frequentam este lugar, desde CEO’S, cantores, artistas plásticos, Advogados…

- Já entendi Michelle, eu já entendi.

- Acho melhor sentarmos e pedirmos algo pra beber.

- É uma óptima ideia.

Dirigimo-nos para o balcão e sentamo-nos nas cadeiras que estavam vazias, arrancando olhares de algumas pessoas que estão cá.

- Boa noite, senhoritas, o que vão beber?

- Queremos uma garrafa inteira do whisky mais caro da casa - a Michelle e a Abigail me olharam com os olhos arregalados e com as sobrancelhas erguidas.

- É pra já - sorriu e retirou-se.

- O que foi isso Mia? Você por acaso ficou louca?

- Quero fazer desta noite uma noite inesquecível, nunca bebi sim, mas tudo tem a sua primeira vez, certo?

- Deixa ela Abigail, a Mia está mais que certa em querer beber, ela vai se casar com um homem desconhecido e tem razões de sobra para encher a cara.

- Nós dissemos aos pais que cuidaríamos dela.

- Eu sei cuidar de mim mesma Abigail.

- Mas….

- Aqui está o pedido de vocês - o Barman deixou a garrafa e três copos no balcão.

- Obrigada, pode raspar o meu cartão - retirei da minha bolsa o meu cartão e o entreguei.

- Não demoro.

- Tudo bem.

Abri a garrafa de whisky e despejei no meu copo uma quantidade generosa, olhei para o líquido por breves segundos e depois levei-o para a boca. Porra! Essa merda queima demais, a minha garganta está fervendo e os meus olhos estão lacrimejando, nunca pensei que essa bebida fosse forte, já senti o cheiro em casa quando o meu pai pediu que eu servisse para ele, mas o gosto é sem dúvidas mais forte que o cheiro.

Pisco os meus olhos algumas vezes e pigarreio, tentando aliviar um pouco a queimadura na garganta, ainda quero beber, então preciso estar pronta para a próxima rodada.

- Está tudo bem Mia?

- Ela não está bem Michelle.

- Estou bem sim Abigail, apenas estou tentando me acostumar com o álcool.

- Certo, mas vê se não exagera.

- Pode ter certeza que irei sim exagerar - sorri e despejei outra quantidade generosa no meu copo.

As meninas entreolharam-se boquiabertas e deram de ombros, acho que já perceberam que nada do que elas forem a dizer hoje irá funcionar, as duas não tem porquê se preocupar comigo, sou maior de idade e quero apenas curtir, afinal não é isso que elas sempre insistiram?

Seguro o copo com a mão direita e despejo todo o líquido de uma só vez na minha boca, fecho os olhos por um momento e sorrio ao perceber que estou me acostumando com o sabor forte da bebida. Hoje eu não quero ser a mulher certinha que todos dizem que sou, não quero ser a mais séria das meninas, a mais sensata e nem a mais consciente de nós três, não quero ser a princesinha do papai e muito da mamãe, hoje quero ser uma mulher que não pensa nas consequências do amanhã, quero ser a mulher que pouco se importa com a boa postura, hoje quero me divertir, quero beber e aprontar um pouco. Hoje eu quero esquecer que irei casar com um homem de trinta e cinco que mal conheço o nome.

Já faz algumas horas que estou bebendo como uma louca e rindo como uma louca também, bebemos a primeira garrafa de whisky e agora estamos na segunda, as meninas só beberam uma rodada até agora, mas eu já bebi vários copos, elas disseram que não pretendem engrossar, pois devem cuidar bem de mim, assim como disseram aos meus pais.

A minha cabeça está girando muito e eu acho que estou ficando maluca, estou vendo duas Michelle e duas Abigail também, todas elas tem a mesma roupa e se comportam do meu jeito. Não sei se conseguirei ficar em pé assim que for a levantar desta poltrona e espero que ninguém esteja tirando fotos minhas e das meninas, não quero sair nas páginas das revistas de fofoca e nem nas redes sociais.

Levanto da poltrona e seguro as pernas da Abigail para não correr o risco de cair, ela me olha com um sorriso divertido no rosto e limpa os olhos com o dorso da mão.

- Pra onde está indo Mia? Você está tão fora de si.

- Estou indo dançar, a noite está apenas começando.

- Parece que sim.

- Cadê a Michelle?

- Ela está na pista de dança, rebolando gostoso para um moreno gostoso.

- Sua louca. Também estou indo pra pista, não quer ir junto?

- Vou só responder uma mensagem aqui, já já encontro-me com vocês.

- Está bem.

Não sei se estou em condições para dançar, mas sinceramente falando espero que sim, ainda são duas da madrugada e eu não quero sair daqui tão já, a noite foi reservada especialmente para mim e não está nos meus planos desperdiça-lá.

Os meus olhos avaliam a pista de dança e dão de cara com a Michelle, ela está dançando com um homem muito bonito, ele é alto e musculoso e segura firme a cintura da minha amiga, ajudando ela a se movimentar com mais lentidão. Então é isso que as duas fazem sempre que vão a uma boate? Uau! Acho que nunca irei me acostumar com esse tipo de curtição, é divertido sim, mas é muito ousada.

Os meus pés estão na pista de dança e o meu corpo se move lentamente no ritmo da música sensual que o Dj decidiu colocar, os meus olhos estão fechados e as minhas mãos nas laterais do meu corpo, sinto a adrenalina transbordar nas minhas veias e o meu sangue circular com mais rapidez, a minha respiração está perdida no meio de tanta gente e a mente está viajando para outros lugares diferentes da terra. Os meus lábios exibem um sorriso tranquilo, encantador e o rosto transparece uma calma que a horas não sentia.

Sinto mãos fortes na minha cintura e no mesmo instante viro o meu corpo para ver o dono de um toque tão firme. É um homem de uma estrutura média, seus cabelos são loiros e não dá pra ver direito a cor dos seus olhos devido os lasers coloridas que iluminam a boate, ele é bonito e está sorrindo para mim. Retribuí o sorriso e fiquei de costas para o homem desconhecido, comecei a movimentar sensualmente o meu corpo e senti suas mãos me explorando, gosto do jeito como ele está me tocando e não quero que pare nunca, preciso disso e preciso que ele me beije também.

- Deixe de aproveitar-se dela seu idiota - a Abigail pegou o meu braço sem delicadeza alguma e me afastou do homem.

- Eu não estava fazendo isso.

- É melhor você sair daqui se não quiser que eu arrume um escândalo.

- Que mulher mais louca - revirou os olhos e saiu da nossa presença.

- O que está acontecendo?

- A Mia está dançando com um desconhecido.

- Você está parecendo a minha babá Abigail.

- Mas nós fazemos isso sempre que estamos em uma boate.

- Mas ela é a Mia, a nossa Mia, Michelle.

- Você está fazendo tempestade em um copo de água.

- Deixe a Mia em paz!

- É, eu estava me divertindo e você estragou tudo, eu teria o meu primeiro beijo Abigail porra!

- Você sempre disse que queria que o primeiro beijo fosse inesquecível, que gostaria que fosse com alguém que ama.

- Mas isso não irá acontecer e sabe porquê? Porque terei de beijar o meu futuro marido no dia do casamento e eu não vou ter o meu primeiro beijo com uma cara de trinta e cinco anos.

- E o que vai fazer?

- Beijar qualquer homem ainda hoje.

- E como fará isso?

- Estou indo na área VIP, escolherei a vítima lá mesmo.

- Não tem que fazer isso Mia.

- Ninguém irá me impedir e por favor não venham atrás de mim! - falei decidida e fui em direção à área VIP.

Eu não vou dar para aquele homem que mal conheço o privilégio de ter o meu primeiro beijo, prefiro beijar qualquer outra pessoa nesta boate, menos a ele é claro, é um idiota e não devia ter aceitado a proposta do pai.

A minha vida está irreconhecível para mim, tudo está desmoronando e alguns dos meus sonhos estão morrendo muito rápido. Eu também sonhava em ter o primeiro beijo com a minha primeira paixão, com o meu primeiro amor, não com um homem de trinta e cinco anos e nem com um desconhecido, mas não tenho outra opção e preciso fazer isso.

Ao adentrar a área VIP, sou imediatamente envolvida por uma aura de exclusividade e sofisticação. A decoração exala um fascínio indescritível, deixando-me extasiada com sua beleza e requinte.

Os guardiões da porta, elegantes e impecavelmente vestidos, me concedem a entrada para esse paraíso restrito, onde apenas os privilegiados têm o privilégio de adentrar. Assim que meus pés tocam o solo do recinto, sou cativada por um ambiente que transborda luxo e bom gosto.

Os móveis de design exclusivo revelam uma elegância imponente, onde tudo se une à estética requintada. Sofás estofados com tecidos luxuosos convidam ao relaxamento, enquanto poltronas ergonômicas proporcionam conforto supremo. Mesas de mármore polido, cuidadosamente dispostas, ostentam taças de cristal reluzentes e garrafas de champanhe, como símbolos de um luxo inigualável.

Um bar exclusivo, ornado com acabamentos brilhantes e iluminados, é o epicentro da área VIP. Os Barman do mundo preparam coquetéis divinamente elaborados, brincando com sabores e texturas que dançam em perfeita harmonia.

Começo a caminhar lentamente e vejo um grupo de homens reunidos em um sofá vermelho luxuoso, são cinco no total e todos eles estão bem vestidos. Ajeito o meu vestido e o meu penteado enquanto caminho sensualmente, engolindo em seco na medida que vou me aproximando deles, estou prestes a fazer a maior loucura da minha vida e não quero que dê errado.

Chego no meu destino e sento-me nas pernas de um homem muito bonito, na verdade ele não é bonito, ele é lindo e me encara sem entender nada, os seus cabelos são castanhos e os seus lábios carnudos, assim como os meus. Esse homem não me é estranho, acho que o conheço de algum lugar, parece que ele é uma figura importante, mas não estou lembrando qual é exatamente a sua profissão.

- Você? - perguntou depois de ter me olhando com atenção.

- Nos conhecemos? - ele balançou a cabeça negativamente e tentou levantar-se, mas eu não deixei.

- O que pensa que está fazendo?

- Sentando no seu colo.

- Eu sei disso, quero somente saber o porquê.

- Porque me deu vontade e porque pretendo fazer mais do que isso - sorri e agarrei o seu pescoço, aproximei o meu rosto do dele e colei os nossos lábios.

Meu Deus dos céus! Porquê estou beijando um desconhecido hein? Nunca beijei ninguém antes e nem sei como o fazer, deve ser por isso que este homem não está movendo os seus lábios.

- FICOU LOUCA MULHER?

- Ai não! - exclamei sorrindo - você por acaso é gay? Um desses senhores é o seu namorado?

- Não sou gay, pare de falar bobagem!

- Então porquê não me beija?

- Porque não estou com vontade.

- Eu sou linda e tenho lábios lindos e convidativos, então você é gay sim, é gay, é gay, é gay.

- Cala a boca mulher, eu já disse que não sou.

- Você é gay sim, é gay, é gay, é gay - continuei cantarolando se me importar com os ataques nervosos deste homem sedutor.

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