Capítulo dezoito

Sinto-me um pouco exausta, dormi tarde ontem porque estava vendo na tevê um programa de culinária, era uma espécie de competição entre os cozinheiros e eu não conseguia parar de ver. Miller foi dormir cedo e parece que está zangado comigo pela forma como falei com ele ontem a noite, sei que fui grosseira e fria com o meu marido e não quero justificar a minha falta de educação, mas eu estava com tanta raiva dele por ter violado o termo do nosso contrato que não pensei duas vezes em respondê-lo daquela maneira, fiquei com ódio por tê-lo visto beijar a Katherine, o meu sangue estava circulando com mais rapidez e a minha respiração estava um pouco fora do normal. Sim, talvez eu tenha ficado com ciúmes, mas isso é loucura, não faz sentido, não para mim, não sinto nada pelo Miller e não encontro respostas para o que estou sentindo dentro de mim.

Não sei se ele irá falar comigo hoje e se não falar tudo bem, talvez seja melhor assim, talvez seja melhor não nos aproximarmos, talvez seja melhor agirmos como dois estranhos e pra ser sincera assim é que é, o Miller é um completo estranho para mim e eu para ele, apenas conheço o seu nome e sei a sua idade, e ele sabe o mesmo de mim, conhece apenas o meu nome e se calhar nem sabe qual é a minha idade. Não sabemos nada um do outro, até porque nenhum de nós está interessado em conhecer o seu “parceiro”, eu acho.

Estou aqui pensando na conversa que tive com a Katherine no estacionamento da empresa do Miller, ela foi muito ousada e disse que os meus vestidos são ridículos, como ela teve a ousadia de falar aquelas coisas para mim? Ela acha mesmo que sou tão sem graça assim? Ela acha mesmo que não sou capaz de seduzir o Miller? Acha-me incapaz de fazer com que o Miller se apaixone por mim? Ah, ela está muito enganada e eu irei mostrá-la que sou capaz de seduzir o CEO mais bilionário dos Estados Unidos.

Sei que estarei entrando em um caminho sem volta, que talvez eu me queime sem perceber, mas eu não voltarei atrás, já tomei uma decisão e farei de tudo para seduzir, nem que seja um pouquinho, o meu marido.

Termino de vestir o meu vestido soltinho da cor rosa escuro e calço sandálias rasteiras brancas, pego no meu perfume de lírios e passo uma quantidade generosa no meu corpo e nos meus pulsos. Fico em frente ao espelho e faço uma maquiagem elegante, nada muito exagerado. Saio do quarto com a minha mochila e vou direto para a cozinha.

Assim que chego na cozinha vejo o Miller comendo sozinho, ele não me esperou, igual eu fiz com ele ontem, e não sei porquê, mas essa atitude dele deixou-me um pouco magoada. Sei que não tenho razões para reclamar, não depois do que fiz no jantar, não depois de tê-lo respondido de um jeito frio e rude.

- Bom dia, Miller. Como estás?

- Bom dia. Estou bem - respondeu curto e frio.

Ele ainda está zangado comigo, deu pra perceber no seu tom de voz. Não quero que a nossa convivência não seja saudável, quero que vivamos como duas pessoas normais e educadas.

Abri a geladeira, tirei uma maçã verde e levei-a para a minha boca.

- Vai comer só isso? A minha presença te incomoda tanto assim, Mia? Se quiser posso levar o meu prato e ir comer em outro lugar.

- Não Miller, a sua presença não me incomoda, muito pelo contrário - respondi sorrindo - irei comer alguma coisa na Universidade, não quero atrasar.

- Está bem, boas aulas.

- Obrigada - aproximei-me do Miller e fiquei ao seu lado, deixando uma pequena distância entre nós - posso roubar um pouco a sua comida? - perguntei baixinho no ouvido dele. Miller fechou os olhos lentamente e suspirou baixinho.

- Pode - respondeu depois de longos segundos. Peguei no garfo e na faca que estava no seu prato e cortei a sua panqueca doce, levando-a para a minha boca. Olhei para o Miller e percebi que ele não parava de encarar os meus lábios, será que o meu marido estava com vontade de beijar-me?

- Está muito bom, a dona Marian cozinha muito bem.

- Ela é uma cozinheira de mão cheia.

- Sim. Bom, eu já vou indo, até mais tarde.

- Tenha um óptimo dia.

- Você também Miller.

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