Capítulo 11 Narrado pela Ayla

Uma boa conversa e uma boa companhia têm o poder de acalmar, divertir e relaxar.

Hoje eu tive uma boa conversa e a companhia foi a melhor de todas. Nunca imaginei desabafar sobre algo tão pessoal com alguém que eu conheço há pouco tempo. Mas admito que isso me fez muito bem. É bom conversar com alguém que não considere os seus medos e suas frustrações algo estúpido e que não minimize os seus problemas.

Infelizmente, o meu almoço não terminou da maneira que eu esperava. Minha mãe me ligou e pediu para que eu voltasse para casa.

Ela disse que precisava de mim, não poderia dizer não. Apesar de não concordar com muitas atitudes dela, eu não vou simplesmente virar as costas para ela no momento em que ela mais precisa de mim.

Cheguei em casa e encontrei minha mãe na sala. Ela estava literalmente afogando as mágoas em um copo de bebida. Seu olhar estava sem brilho e vazio. Odeio vê-la dessa forma. Não vou deixar que ela se destrua dessa forma.

— Não gosto de te ver assim, mãe. Eu falei, me sentando ao seu lado e pegando o copo de sua mão.

— Eu sei, Ayla... Eu estou com medo. Estou vendo a minha família ser destruída e não sei como lidar com isso. Eu não gosto do rumo que a minha vida está tomando. Estou vendo tudo o que nós levamos anos para construir sendo tratado como algo sem importância. Estou tentando entender onde foi que eu errei. Procuro todos os dias uma explicação para justificar todo esse descaso do seu pai. Minha mãe falou, com os olhos cheios de lágrimas.

— Mãe, isso não está certo. A senhora não pode fazer isso, não pode aceitar uma culpa que não lhe pertence. Nem sempre tudo vai estar ao seu alcance. A senhora não pode tentar justificar os erros dele. Ninguém pode se responsabilizar pela falta de caráter dele.

— Você não entende, filha. É difícil aceitar que o homem por quem me apaixonei já não existe mais. Ele jurou que nada nunca iria nos fazer mal, disse que cuidaria de nós, que faria de tudo para manter nossa família unida, e agora ele, que jurou amar e proteger, é quem está destruindo tudo. E tudo isso para quê? Para ficar com uma garota que tem metade da minha idade. Ele está trocando tudo por uma simples aventura. Eu jamais faria isso com nossa família - minha mãe falou, me surpreendendo.

Eu não sabia que a amante do meu pai era tão jovem, nem tampouco que minha mãe já conhecia essa mulher.

— Eu sei que a senhora jamais faria isso. Sei que a senhora sempre colocou a família acima de tudo, mas agora acho que chegou o momento da senhora se colocar em primeiro lugar, mamãe. Não dá para a senhora ficar se destruindo por alguém que não te merece. O Arthur é um covarde que vive de aparências, e se a senhora permitir, ele vai ficar brincando com vocês duas. Chega de amar quem não te merece. Você precisa voltar a se amar, voltar a ser sua prioridade.

— Não é tão fácil assim. Você não entende, você é apenas uma criança que não tem experiência. Você ainda não sabe nada da vida. As coisas não são tão fáceis quanto você pensa - minha mãe falou um pouco irritada. Sei que ela está magoada, mas isso não dá a ela o direito de me magoar.

— Infelizmente, eu não sou mais uma criança, mãe, e às vezes eu não queria entender tudo isso. Mas a senhora está certa, eu nunca passei por isso, não posso opinar e nem te dar conselhos. Mas a senhora sabe que não dá para segurar alguém que escolheu partir, existem pessoas que não foram feitas para ficarem, não importa o quanto você tente e se esforce. Mas isso é um processo seu, então leve o tempo que for necessário para entender que ciclos se encerram e isso não é algo ruim. A senhora e a sua felicidade devem vir sempre em primeiro lugar, porém não precisa se preocupar que eu, apesar de tudo, sempre vou estar aqui porque eu sim te amo de verdade e sempre vou fazer de tudo para te ver bem.

Depois disso, fui buscar a Alice e, diferente de ontem, não tive pressa de voltar para casa. Fomos ao parque e depois fomos ao cinema e depois fomos lanchar. Não quis que a Alice visse a nossa mãe naquele estado.

Quando anoiteceu, voltamos para casa. Depois do banho, a Alice foi dormir e eu também fui deitar, mas tive dificuldade para pegar no sono.

Estava pensando em tudo que a Ísis disse sobre o amor não ser mal, mesmo assim, eu ainda tenho medo. Não acho que algum dia entregarei o meu coração 100% para alguém. Acho que amar alguém é dar a essa pessoa o poder de te destruir.

Mas talvez eu só não tenha visto exemplos de amores sinceros e, graças a isso, eu criei barreiras e levantei muros contra tudo isso por medo de passar por tudo isso que os meus pais estão passando.

A coisa mais triste que existe deve ser ver a pessoa que te amou e que você ama ir deixando de te amar aos poucos. Ou ver essa pessoa fisicamente ao seu lado, mas ter a mente e o coração focados em outra pessoa.

Também há a possibilidade de você amar alguém que nunca vai te amar da mesma maneira... Quer dizer, imagine você passar a vida ao lado de alguém por conveniência, por medo de ficar sozinho.

Mas sem dúvida alguma, o meu maior medo é encontrar alguém que destrua todas as minhas convicções sobre o amor, me mostre como esse sentimento pode ser verdadeiro, como isso pode realmente ser bom e depois, por algum motivo, simplesmente não queira mais ficar na minha vida e nem fazer parte da minha história.

"Sua tarefa não é buscar o amor, mas simplesmente buscar e encontrar todas as barreiras dentro de você que você construiu contra ele".

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