Capítulo 5 Narrado pela Ísis

Mandei mensagem para Kelly e pedi para ela ir lá para casa. Precisava contar para ela que finalmente encontrei a garota. Agora, mais do que nunca, eu precisava dos conselhos da Kelly.

Os conselhos dela são bons? Não, não são.

Mas eu não tenho outra opção. É melhor um conselho ruim do que não ter conselho nenhum, além de que eu preciso desabafar.

— Eu sei que você me ama, mas não acho que você tenha me chamado aqui porque sentiu saudades. — A Kelly disse enquanto assistíamos TV e comíamos pizza.

— Você está certa. Te chamei aqui para te contar que agora eu descobri o nome e o sobrenome da garota. — Eu falei e a Kelly deixou de olhar para a TV e passou a me encarar.

— Isso é muito bom. Agora é só mandar confeccionar os convites para o casamento. — A Kelly disse enquanto me encarava. — A propósito, como você descobriu o nome dela e, o mais importante, qual é o nome dela? — A Kelly questionou enquanto desligava a TV e se ajeitava confortavelmente no sofá.

— O nome dela é Ayla Mebarak e ela é minha aluna. — Eu falei e a Kelly sorriu.

— Tadinha da garota. Ela tentou fugir de você e ainda assim acabou indo parar na toca do leão. Mas é como dizem, né? Azar para ela e sorte para você. — A Kelly falou em tom de brincadeira.

— Não sei se para mim isso é realmente sorte.

— É sorte sim. Você passou a semana toda indo naquela boate para tentar encontrar essa garota e agora ela aparece na sua vida como sua aluna. Você deveria aproveitar essa oportunidade e dar uma boa lição nela. — A Kelly falou de forma divertida, deixando subentendido a que tipo de lição eu deveria dar a ela.

- Eu gostaria muito de dar algumas lições a ela, mas isso seria antiético, inapropriado e poderia me trazer muitos problemas. E tem um detalhe muito importante: talvez a Ayla não esteja muito interessada em mim. Eu falei, listando alguns dos meus temores.

- Por que você pensa isso? E não me diga que é por causa dela ter ido embora sem se despedir, porque eu não acredito que foi isso. - A Kelly disse, me analisando.

- Não foi só isso. Ainda que o fato dela ter ido embora sem se despedir, sem dizer o seu nome e sem termos uma conversa possa ser considerado uma maneira dela dizer que só estava interessada em viver apenas o momento. O que afirma a minha teoria dela não ter interesse em mim é o fato da Ayla ter sido a primeira a sair da sala e nem ao menos me procurou para termos uma conversa decente.

- Sei bem o tipo de conversa "decente" que você quer ter com ela. Mas sinceramente, não acho que você deva ficar se preocupando com isso, deixa as coisas fluírem naturalmente. - A Kelly falou de forma atenciosa.

- Kelly, ela é a minha aluna, isso é errado e é antiético.

- Não penso dessa forma. Você ficou com ela antes dela se tornar a sua aluna, ela é maior de idade e a única coisa que você tem que fazer é não matar ela de tédio com as suas aulas chatas. E quem sabe assim ela não resolva passar a noite com você de novo, aí você dá o troco nela e sai sem se despedir. - A Kelly disse, como se tivesse planejado o melhor plano do ano.

A Kelly é inacreditável, até parece que eu seria capaz de fazer isso. Não sou assim, por mais que a ideia de dar o troco seja tentadora, eu não vou fazer isso.

Mas em partes, ela tem razão. Eu conheci a Ayla fora da universidade e tivemos um envolvimento antes dela ser minha aluna. Meu único medo é que distorçam o que aconteceu entre nós.

— E se meus superiores ficarem sabendo disso e considerarem minha atitude antiética, abuso de poder e assédio? O que faço se isso acontecer? Perguntei, confessando um dos meus temores em voz alta.

— Não acho que essa menina vá fazer algo para te prejudicar. Também não acho que essa situação seja tão grave. Tenho certeza de que envolvimentos entre universitários e professores são algo bem comum, mesmo que não se fale muito sobre isso. A Kelly disse, tentando me confortar.

Depois de conversarmos mais um pouco, Kelly se despediu de mim e foi embora. Ela tem que acordar cedo para trabalhar e, por esse motivo, não insisti para que ela ficasse mais.

Ter amigos para desabafar é sempre bom. Apesar das brincadeiras, Kelly sempre me deixa mais tranquila. Resolvi deixar as coisas fluírem. Se Ayla quiser agir como se nada tivesse acontecido, vou entender e respeitar essa decisão.

Mas ficaria muito mais contente se ela quisesse conversar sobre tudo que aconteceu naquela noite, talvez reviver o momento. De qualquer forma, não vou pressioná-la.

No dia seguinte, para minha surpresa, assim que entrei na sala, Ayla estava sentada na primeira fileira. Ela estava conversando com uma garota que estava ao seu lado.

Pela proximidade e pela maneira íntima que estavam conversando, acredito que elas sejam muito próximas. Talvez sejam amigas ou algo mais. Agora entendo o motivo dela não dar tanta importância para aquela noite.

— Bom dia a todos, gostaria de silêncio e da atenção de todos. Acredito que nos intervalos vocês tenham tempo de sobra para colocar a conversa em dia. Caso o tempo não seja suficiente, eu sugiro que não usem as minhas aulas para prolongar conversas inacabadas. Estamos entendidos? Eu perguntei para a turma, mas meu olhar estava fixo na Ayla.

Depois de um sonoro "sim", dei início à minha aula.

— Hoje, no nosso segundo dia de aula, gostaria de começar apresentando alguns livros que considero essenciais para quem deseja se aprofundar no estudo do Direito Criminal. Primeiramente, sugiro a obra "Código Penal Comentado". Esse livro é referência no estudo do Direito Penal. Outra indicação importante é o livro "Manual de Direito Penal". Essa obra é muito didática e vai facilitar o entendimento de conceitos e princípios do direito criminal. Ao longo desse semestre, irei indicar outros livros. Com relação à distribuição das notas ao longo do semestre, podemos dividi-las em três momentos principais. Teremos provas escritas, que compreenderão cerca de 60% da nota final. Além disso, teremos trabalhos individuais ou em grupo, que representarão aproximadamente 30% da nota. Por fim, as participações em sala de aula e atividades complementares serão responsáveis pelos 10% restantes.

É importante ressaltar que a participação nas aulas é fundamental, pois além de contar para a nota, é uma oportunidade de tirar dúvidas, debater os temas abordados e aprofundar o conhecimento.

— Por hoje é isso, pessoal! Convido todos a continuarem se dedicando aos estudos e aproveitar o semestre. Qualquer dúvida, estou à disposição.

Assim que encerrei a aula, comecei a organizar minhas apostilas e arrumar meu material.

Para minha surpresa, diferente de ontem, a Ayla era a única que continuava na sala. Ela continuou sentada em seu lugar.

— Senhorita Mebarak, a aula já terminou. Eu falei chamando a sua atenção.

Ela se levantou do lugar onde estava e caminhou até mim. Ela se colocou diante da minha mesa e, a julgar pela maneira impaciente que ela mexia nos acessórios que enfeitavam suas mãos, eu diria que ela estava nervosa.

— Eu posso conversar um pouco com a senhora? Ela me questionou receosa.

Não gostei dela ter me chamado de senhora, me senti muito velha e não gostei disso.

— É claro que podemos conversar. Estou sempre à disposição para esclarecer qualquer dúvida dos meus alunos.

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