Capítulo 09

Ferrari abriu a porta do carro para que eu entrasse. Em seguida, dispensou o segurança que estava com ele. Ele trancou as portas, ligou a música do carro e o ar-condicionado.

— Está com tanto calor assim? — Indaguei, já que estávamos em São Paulo, e não estava fazendo tanto calor assim.

— Você me deixa quente, por esse motivo liguei o ar. — Disse cinicamente. Fingi que não ouvi e continuei olhando pela janela. Ferrari passou a viagem inteira olhando para mim, porém, eu o ignorei totalmente.

Meu celular tocou na bolsa, mas não me atrevi a atender.

— Não vai atender?

— Não estou com vontade.

— Acho que é o seu paquera, aquele com quem você saiu à noite. O tal Adriano.

Até o nome da pessoa com quem saí, ele sabe. Isso está se tornando cansativo para mim.

— Como sabe o nome dele? Penso que você não tem o que fazer, porque se tivesse, não teria tempo de estar de olho na vida alheia.

— Tenho muito o que fazer, baby. Por não gostar de dividir o que é meu com os outros, gosto de ficar de olho. Principalmente em você.

Engoli em seco. Quando eu ia abrir a boca para falar alguma coisa, Ferrari falou:

— Sabe, Sofia, seria triste para você se eu tivesse que tirar o Adrianinho do meu caminho. Sempre que algo me incomoda, eu resolvo. E você, ficaria triste por isso, não é mesmo? Vai depender de você, Sofia. Imagina a responsabilidade de um sangue inocente nas suas mãos?

— Não seria capaz de machucá-lo só para me punir.

Falei olhando para ele, que dirigia tranquilamente. Ferrari me mostrou um sorriso cínico e continuou a dirigir. Eu disse que ele não seria capaz, mas sei que ele tem coragem de sobra para estragar a vida alheia.

Não demorou muito, chegamos na frente de uma casa enorme. É muito linda por fora; fico imaginando como será por dentro. Ferrari estacionou o carro, e seguimos para dentro da casa. Paramos na cozinha luxuosa. Ele pegou nas minhas mãos, e estava tão confortável que até o momento, eu ainda estava segurando.

Fomos recebidos por uma senhora, que aparenta ter os seus 50 anos.

— Sofia, essa é Ana, a governanta dessa casa.

Ferrari nos apresentou, e eu falei com a mulher, pegando nas suas mãos. Mas, eu a olhei, balbuciando baixinho, pedindo ajuda a ela. Porém, Ana não entendeu.

— Você está bem, querida? Está tão pálida.

Ana perguntou, enquanto Ferrari pegou as minhas mãos, e me pôs novamente ao seu lado.

— Ela está bem, Ana. Só está com fome, não é, meu anjo?

Ferrari apertou a minha mão, para que eu confirmasse, e assim fiz. Contra gosto, mas eu fiz. Porque era evidente que eu não estava bem, depois que conheci esse sujeito.

— Vamos sentar, vou já servir o almoço.

Ana saiu da cozinha para outra área, nos deixando sozinhos. Ferrari me guiou para a enorme mesa de jantar. Fiquei com tanta vontade de sair correndo dali e gritar por socorro, mas decidi ficar quieta.

— Por que me intimida, Ferrari? Se pensa que fazendo isso vai me manter ao seu lado, está muito enganado. Nós mulheres gostamos de homens que nos deixam livres para respirar, e que nos conquistam com inteligência.

Falei entre dentes, com vontade de cair nele só de mordidas. Não dando tempo de Ferrari falar alguma coisa, uma equipe de garçonetes veio nos servir. Os seus uniformes eram impecavelmente lindos, na cor púrpura. Os botões e detalhes eram cor de ouro.

Os talheres e pratos combinavam perfeitamente com a cor das decorações da cozinha. Era tudo muito lindo, bem organizado, da forma que Ferrari é. Apesar de ele ser assim, tem as suas vantagens e gosta de tudo bem organizado, nos mínimos detalhes e perfeição.

Assim que a equipe de garçonetes saiu, Ferrari enfiou as suas mãos no bolso da calça social, e colocou uma caixinha de veludo preto em cima da mesa.

— Abra... — Ordenou ele. Ferrari estava impaciente, tanto que se levantou do lugar em que estava e abriu a caixa por mim. Ele sabia que eu não iria abrir. Assim que a caixa foi aberta, mostrou um colar de pedras de safiras, muito finas, na cor verde.

— São lindas, Ferrari, mas não posso aceitar.

— Vão ficar maravilhosas em você.

— Você é maluco.

Falei tentando me levantar da cadeira, mas foi impossível, quando se tem alguém tão próximo de você. Os braços fortes daquele homem estavam me prendendo no lugar, pude sentir o seu hálito mentolado, o cheiro bom do seu perfume madeirado tão próximo.

— Nunca vou ser sua, não tente me comprar com joias caras. E se me forçar a isso, serei capaz de te colocar de trás das grades.

— Veremos, Sofia, veremos…

Disse próximo ao meu ouvido, me fazendo arrepiar, quando senti o contato da sua boca com o lóbulo da minha orelha. Ferrari mordiscou o local com todo o cuidado.

— Quero fazer as coisas da forma certa. Portanto, eu gostaria de convidá-la para se casar comigo. Desejo que oficialmente você seja minha Sofia Vincent.

Ele possui uma habilidade surpreendente para desvendar segredos e detalhes que a maioria das pessoas não percebe. Parece que nada escapa ao seu olhar perspicaz.

Mesmo assim, o momento foi impactante. O som de cada sílaba ecoou no silêncio, como se ele soubesse mais sobre mim do que eu mesma. A sensação de vulnerabilidade era palpável, mas ao mesmo tempo, uma parte de mim sabia que estava diante de alguém excepcional.

À medida que ele avançava na conversa, sua confiança se destacava. Seu domínio sobre os detalhes era evidente, e isso me deixou ainda mais intrigada. Talvez, de alguma forma, essa conexão fosse inevitável.

No entanto, mesmo com todas as respostas que ele possuía, havia uma aura de mistério em torno dele. Algo que escapava à minha compreensão. E naquele momento, eu soube que estava prestes a embarcar em uma jornada inesperada, guiada por alguém que enxergava o mundo da forma dele.

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