No primeiro quarto de quinze minutos do jogo, o ataque fica por conta dos Texugos, que partem com toda sua inclemente agressividade pra cima dos Serpentes, que cravam todas as forças pra sustentar sua defesa. A torcida eufórica dos dois lados rompe os ares do campo com seus berros ensurdecedores. É claro que até o final da partida não sairei com meus tímpanos ilesos, mas é meio que uma coisinha de nada. Estou direcionando toda a minha energia pra Liam, Blake e Johnny, o trio estelar, empenhados em uma batalha pesada.
- Vai lá, Liam! Seja rápido! Esses caras não tão brincando! – grita Steve depois que meu irmão, segurando a bola, é interceptado por um safety antes de passar das últimas jardas.
- Eles voltaram mais competitivos do que nunca! Esses Serpentes! Os Texugos não podem apanhar! Não na própria casa! – comenta Francis, elevando a voz pra que possamos entende-lo.
Não assisti aos jogos anteriores. Isso tudo é novo pra mim. Ao mesmo tempo que o momento pode estar sendo admirável do meu ponto de vista, meus amigos estão temerosos. Eu sei. Nosso time precisa ganhar. Eles merecem. Estamos aqui pra isso. Torcer.
Os caras tentam uma segunda jogada. A barreira completa por 6 rapazes fortões dos Texugos bate de frente com a formação dos Serpentes, gerando o empurra-empurra. Johnny arremessa a bola, que cai nas mãos de Liam, mais uma vez. Obstáculos vem e ele vira um míssil, abrindo alas pra um...
- Touchdown! – comemora toda a torcida.
Em seguida, mais 6 pontos são contabilizados pros Texugos no placar sobre nossas cabeças. Esperamos ansiosos por mais pontuações. Os jogadores estão dando o seu máximo. No entanto, de uma forma bem drástica, Liam começa a cometer erros, favorecendo os seus adversários.
- Mas o que tá pegando?! O resto dos caras tão de boa, mas Liam parece distraído! – frisa meu pai, apreensivo.
- Desse jeito, o time fica em apuros! – diz Lena.
- Força Blake! Segura firme! Não deixa eles invadirem! – exclamo.
Blake e seus companheiros dão tudo de si pra impedirem que a zona deles seja invadida pelos Serpentes. Nesse instante, Johnny faz da sua figura uma lenda, cruzando todo o campo. Desviando e enganando. Até passar da linha branca e conquistar outro esplêndido touchdown.
- Isso! Boa! Muito bom! – vibro, saltando do meu assento.
- Olha lá, Junior! É ele! O babaca do meu irmão postiço!
Seguindo a direção em que o dedo indicador de Francis aponta, avisto o tal sujeito. Alto, forte e ágil. Ele exibe o seu destaque no segundo quarto de 15 minutos assim que seu time assume o papel de ataque.
- Ele é bom.
- Por enquanto o jogo tá limpo! Não se deixe enganar! – avisa Francis.
A torcida dos Serpentes não se dispõe à deixar que o ânimo esfrie. Mesmo eles tendo uma prova bem nítida de que seus jogadores não estão indo bem. Ao contrário deles, os Texugos surpreende com uma defesa espetacular, quase que eliminado qualquer tentativa de progresso dos rivais.
- Boa Liam! Mostra pra eles! Honra a família! Esse é o meu menino! – meu pai é uma metralhadora de elogios.
É estonteante ver meu irmão mais velho somando pontos pro seu time após recuperar o seu avanço. Com o orgulho brilhando em meu coração, fico de pé e começo um coro com o nome dele. Os outros só me seguem. Logo, somos uma grande força venerando o herói da partida.
LIAM! LIAM! LIAM! LIAM! LIAM!
Liam aprova. Ele acena pra todos nós, e ainda se curva. Uma nova rodada tá prestes a começar. Todos marcam as suas posições. Percebo que dois membros dos Serpentes tão se comunicando. O irmão postiço de Francis e mais um cara. O juiz repreende o comportamento.
O apito soa. O irmão de Francis apanha a bola. Ele atira e o cara que conversou com ele recebe. Todos em minha volta tão seguros demais, achando que Liam conseguirá conter o alvo. Eu acreditaria nisso se uma sensação apavorante dentro do meu ser não se manifestasse.
O cara desliza. Liam cai. Suas mãos socam o gramado e seguram rapidamente a perna atingida. Não consigo ouvi-lo, mas reconheço o que ele sente. Dor.
- Não! – meu pai fica em choque e compartilhamos da mesma nuvem de preocupação.
- Maldito Drew! – xinga Francis.
- Drew? – da minha boca, o nome saí com um som de reconhecimento.
E lá está ele, no meio do campo. Tirando o capacete vermelho, a sua face é um pedaço de neve sob a luz do sol. Esse é o apelido que um dia eu dei à ele, quando ele ainda estava perto de mim... Cuidando de mim.
As palavras me partem ao meio, revelando-se mais poderosas do que pensei que nunca foram. Aquelas que soltei no hospital, de ante de Blake. Sobre o que influenciou meu ato imaturo de impedir seu melhor amigo de chegar até a garota que nunca se tornou a sua namorada.
Foi mal. Isso dói, tá legal? Essa coisa que você sente pelo Liam, eu sei como é. Não deu certo pra mim. Eu achei que ia entrar numa depressão. Eu só queria que a sua história tivesse um final diferente.
Um final distinto, colorido e cheio de amor. Aquele final que eu nunca tive com o cara que mandou seu companheiro de time ferir o meu irmão. Tem algo de errado. Isso não faz o menor sentido. Esse não é o Drew que eu conheci. Sei muito bem a recordação que tenho sobre ele. Agora, estou observando uma versão perigosa, traiçoeira e babaca dele.
- Oi Junior! Você viu, né? Foi ele quem deu a ordem pro outro cara fazer aquilo!
Eu vi, Francis. Eu vi. Que ato sujo. Definitivamente esse não é mais o Drew que um dia eu amei e me arrependi. Só por isso, os fragmentos de memória do nosso passado, do nosso último contato, despertam a minha pergunta e a sua resposta que mais me marcaram.
Então, você vai me dar as costas?
Não podemos mais ser amigos.
O vento sopra aquele seu cabelo loiro platinado. Os olhos azul bebê dele percorrem a multidão. Bum! O encontro é inesperado. Fico parado, inexpressivo, enquanto ele me fita. O que ele tá fazendo? Me reconhecendo. O sorriso vem nos lábios dele. Uma alegria genuína.
- Junior – ele me chama.
Ele tá feliz por me ver. Mas ao contrário dele, só sinto desprezo.
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Atualizado até capítulo 40
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