Meus amigos e eu estamos todos reunidos em nossa mesa do refeitório durante o horário do intervalo. O ambiente aparenta estar mais animado do que de costume. As pessoas estão empolgadas por uma coisa, comentando que vão caprichar em maquiagem, roupas e bandeiras. Tudo pra combinar com as cores preto e dourado. Eu sei por quê. Mas antes que eu diga em meus pensamentos, Liam, capitão dos Texugos, é quem fala à respeito disso.
- O grande jogo começa semana que vem. Então, todo mundo que não joga no time vai ter que ir torcer pra gente. Vamos pegar toda a energia positiva da nossa torcida e partir com tudo pra cima dos nossos adversários.
Já cheguei à assistir alguns jogos de futebol americano presencialmente em um estádio. Até mesmo as partidas em que meu irmão causava um destaque ousado quando ele era mais novo. Nosso pai nunca precisou incentiva-lo à jogar. Toda a força de vontade nasceu dentro do coração do pequeno Liam. Mas pra mim, que não sou fã desse esporte, admito que tô ansioso pra voltar a vê-lo em ação. Além dele, será a primeira vez que assistirei Blake e Johnny jogarem.
Sentado ao meu lado, Francis levanta a mão, pedindo a atenção do nosso grupo.
- Licença. O time que vocês vão enfrentar é de qual escola?
- Cornelius High School – responde Blake.
- Ah que droga – Francis baixa a cabeça e suspira, automaticamente frustrado.
- Que foi, Francis? Eles são muito bons? – pergunto à ele.
- Não é isso. Meu irmão postiço estuda lá. Ele é o capitão do time deles. Acontece que ele e eu não nos damos bem. Nem é culpa minha. Tentei ser legal com o cara, mas ele sempre me desprezou.
- Qual será o problema dele? – questiona Steve.
- Ele é assim mesmo. Um valentão babacão que só pensa em si mesmo. Odeio ele. E agora, como se não bastasse eu ter que vê-lo todos os dias sob o mesmo teto, ele também tá vindo contaminar o solo da minha escola.
- Ignora ele – instrui Lena, sentada entre Blake e Steve. – Esses são do tipo de pessoas que devemos nos afastar.
- Sabemos quem é o cara e a corte dele. Não são páreos pra nossa velocidade, e principalmente, nossa inteligência. Eles tão vindo só pra apanhar. Vamos humilha-los novamente – garante Johnny, com seu espírito de guerreiro valente.
- Sugiro que fiquem espertos. Eles jogam sujo. E quando ele tá presente, o cara fica mais obcecado pra ferrar com vocês – pela maneira como Francis se dirige ao irmão postiço é como se o sujeito não fosse só um adversário, mas sim, um inimigo.
O restante dos dias é dominado pelo fervor competitivo dos atletas dos Texugos. Os treinos se tornaram mais sagrados, estratégias são aprofundadas, o foco pelo triunfo nunca foi tão cobiçado antes. Tudo isso pra derrotarem o time da Cornelius, os Serpentes. Mas se tem uma coisa que vem contribuindo e muito pra determinação dos nossos jogadores é o bombardeamento de implicâncias entre os dois times nas redes sociais.
Nina me mostrou cada postagem que o @texugosfuriosos fez desde o anúncio da disputa. O @serpentesimpiedosos não economizou nos comentários de escárnio. Dos mais leves aos mais pesados. Isso deve tá sendo o maior entretenimento pros alunos das duas escolas nesse momento. Fico preocupado com a possibilidade de que uma pancadaria se instaure pelas arquibancadas durante o jogo.
- Deixa que eles venham. Tenho unhas afiadas e faço aulas de jiu-jitsu. Meus seguidores me aclamaram como a influenciadora mais mortífera da Barrycloth – revela Nina, mostrando-me suas garras pintadas de roxo com glitter.
Parece exagerado, mas é melhor não desconfiar da capacidade que o mundo tem pra causar violência por nada.
O dia que todos aguardavam finalmente chega. Sexta-feira. As aulas foram suspensas, pois o jogo foi marcado pra acontecer no horário da manhã às 9 horas. Sendo que, às 8 horas, todo já tá indo pro campo da Barrycloth. A capacidade máxima é de 5 mil pessoas. Todos os alunos, pais e professores se adiantam pra ocuparem os melhores lugares nas fileiras. Comigo não é diferente. Graças ao meu pai, ocupamos dois assentos aconchegantes no centro da arquibancada B. Por coincidência, acabamos próximos de Francis, Steve, Lena e Nina, que também trouxeram suas famílias.
- Foram vocês que fizeram? – reajo encantado ao ver meus amigos estenderem uma linda bandeira branca com as imagens de Johnny, Blake e Liam, comemorando o que seria uma vitória – Amei!
- Seu look tá maravilhoso, mas vai ficar melhor com isso – Nina me estende uma badana preta com a seguinte frase escrita em branco Johnny, Meu Texugo Favorito.
- Obrigado – agradeço, amarrando na minha cabeça.
Ela tem razão. Fica perfeito. De um lado do campo, estamos todos usando as cores dos Texugos. Do outro, uma enxurrada de gente vestindo vermelho e preto balançam suas bandeiras, propagando um coro de torcida, junto com a equipe de animadoras e o mascote com cabeça de serpente. As nossas também estão na ativa, acompanhadas pelo mascote texugo todo peludinho, a coisa mais fofa do momento. Tá me parecendo que toda essa preparação promete uma competição inesquecível.
- Os jogadores vão entrar no campo daqui à uns 5 minutos. Eles ainda estão no vestiário – ouço alguém próximo dizer.
- É isso – digo, já levantado.
- Onde você vai, filho? – pergunta o meu pai, curioso.
- Desejar boa sorte à estrela do time – ele já deve presumir à quem estou me referindo.
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Atualizado até capítulo 40
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