A experiência do “namoro de mentirinha” com Johnny Black alimenta a vontade que tenho por ficar mais perto dele a medida que os dias se passam. Temos nossos momentos de papo e risadas na biblioteca, nas arquibancadas do campo de futebol, até no estacionamento, e claro, nos corredores. Alguns gestos acabam sendo tão imprevisíveis para mim que faz meus batimentos cardíacos dispararem. Às vezes ele pega minha mão, aperta minha orelha, afaga meus cabelos. Sempre fico sem jeito, e ele gosta de me ver assim.
Eu acho que ainda é cedo pra eu conseguir me acostumar com o quarterback popular da Barrycloth vir me buscar em casa de motocicleta pra me levar à escola e me trazer de volta durante os dias da semana. Na sexta passada, foi o último dia de cumprir a consequência do desafio de Steve, mas ele deixou bem claro que ainda faz questão de me levar na garupa do seu veículo e de me tratar como seu “namorado”. Eu não o impeço.
Na noite de domingo, estou saindo do banheiro depois de escovar os dentes quando me dou por conta do meu celular estar com a tela acesa sobre a cama. Apanho o aparelho, que está vibrando. O nome da minha mãe brilha na tela. Decido atender a ligação.
- Oi mãe – cumprimento com o objeto próximo ao ouvido.
- Filho. Oi. Desculpa. Eu ia ligar pra você ontem, mas Rubens comemorou a entrada dele no time do Flamengo e acabei indo com ele pra chácara. Então, como estão indo as coisas em Los Angeles?
Uma irritação cresce dentro de mim, fazendo com que eu cague pra suas desculpas insignificantes.
- Ótimas. Tá perfeito. Liam e meu pai me receberam com muito amor e carinho.
- Ah fico muito feliz em ouvir isso. E quando você começa a frequentar os estudos aí?
É inacreditável como ela tem a coragem de perguntar uma coisa que ela devia muito bem saber. Afinal, uma mãe sempre sabe quando seu filho começa a estudar. Pra isso, essas mães são as melhores. E a minha não é.
- Já faz uma semana que comecei a estudar na nova escola, mãe – respondo, secamente.
- Sério? Que rápido. Eu não fazia idéia. Como está se saindo? Bem, eu espero.
- Eu tô adorando a Barrycloth. Fiz amizade com os amigos do meu irmão. Bom, eu estou conseguindo me adaptar graças ao meu humor ter melhorado assim que cheguei aqui.
- E como estão seu irmão e o seu pai?
Agora ela tá conseguindo me tirar do sério.
- Por que não conversa com eles pra saber disso?
- Primeiro responda a minha pergunta – ordena ela. Odeio quando ela faz isso.
- Eles estão ótimos pra caramba e você não tem noção.
- Filho, o que há com você?
Finalmente ela percebeu que não estou pra dialogar com elegância.
- Eu deveria te fazer essa pergunta, mãe. Não adianta bancar a cuidadosa depois de tudo o que você fez pra me querer longe de você.
- Isso não é verdade - defende-se ela, deixando evidente seu nervosismo.
- Como consegue ainda sustentar essa máscara sendo que já tá tão rachada pelas forçadas que você dá?
- Você não sabe o que está dizendo, Junior. Pare com isso. Agora!
Isso faz um sorriso satisfatório se concretizar no meu rosto, por mais que me doa jogar o peso na cara dela.
- A verdade dói, né? Mas sabe o que você pode fazer agora? Aproveita ele. É o seu momento. Viva cada segundo e esqueça que você tem uma família do outro lado do mundo.
- Eu só liguei pra saber se você está bem. Estou vendo que não preciso me preocupar tanto assim.
- Você nunca se preocupou comigo. Rubens, Rubens, Rubens. Você só teve olhos pra ele.
Segue-se um longo silêncio até que ouço o retorno de sua voz do outro lado da linha, carregada de culpa.
- Filho, me desculpa.
- É um pouco tarde, né?
- Junior...
- Eu tenho que ir. Tem um dever de cálculo me esperando. Conversamos outra hora. Até.
Desligo a ligação rápido e arremesso o celular sobre as cobertas da cama, chateado. Essa é a pior parte da minha atualidade que gostaria muito que ficasse presa no Brasil e a onde eu vá agora não me deixará em paz. Mas é verdade. Sempre vou lembrar disso desde que minha mãe entrar em contato comigo.
Suspiro, inquieto, e resolvo descer até a cozinha para beber algo. Assim que alcanço o escorredor de louças na pia, avisto através da janela as cabeças de Liam e Blake emergidas na superfície da piscina. Pego um copo e o encho com a água gelada de uma garrafa da geladeira. Em seguida, fico assistindo aos dois boiando no plano aquático, dando para ouvir suas vozes interagindo.
- Nossa. Que água gelada. Assim tá ótimo – diz Blake, apreciando a sensação.
- Nada melhor do que isso pra relaxar depois do primeiro treino – Liam passa a mão no rosto, removendo um pouco da umidade.
- Liam, eu posso te perguntar uma coisa?
- Pergunte.
Há uma pausa pouco longa. Parece que o melhor amigo do meu irmão está relutando com um receio pessoal. Qual seria a sua pergunta?
- Tá gostando de alguém?
- Ah eu tô. E você também tá?
- Sim, sim.
- E quem é ela?
O nome dela é Liam, seu idiota. Tudo bem. Eu sei que meu irmão ainda não sabe que Blake tá afim dele, só que esse tipo de pergunta que ignora a possibilidade do interesse do homem também ser por um cara precisa acabar.
- É um cara.
- Ah foi mal. Eu não quis ofender. Eu não sabia que você gosta de homens.
Sério Liam?
- Agora você sabe.
- Por que não me contou antes? Eu sou o seu melhor amigo. Lembra?
- Eu precisava de um tempo pra me entender – justifica Blake.
- Sabe que pode confiar em mim. Eu não conto pra ninguém se você preferir.
- Mas eu quero que as pessoas saibam. Através de mim, é claro. Jamais devo esconder uma parte significativa de mim.
- Tem razão. E quem é o sortudo da fila?
- Se tudo der certo entre ele e eu, ai vou te contar.
- Promete?
- Prometo.
Os dois param de falar. Por fim, pego o caminho subindo a escada até o meu quarto, torcendo para que no futuro meu irmão corresponda aos sentimentos do seu melhor amigo. No entanto, Blake pode estar sendo incomodado pela mesma dúvida que me ocorre agora. Algo que vai custar tudo ou nada. Liam também gosta de homens?
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Atualizado até capítulo 40
Comments
Patricia Pinheiro
eu não respondia, mandava ela ir perguntar pra eles e pronto
2023-12-03
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