No final da tarde de segunda-feira, saio do meu quarto e desço a escada até a sala de estar, onde encontro meu pai, concentrado e cauteloso, sentado no sofá de frente pra tela do notebook. Antes, eu tinha ido até os aposentos do meu irmão e não havia nenhum sinal dele por lá. Acredito que ele tenha saído, mas para onde?
- Pai, cadê Liam? – pergunto, roubando um pouco do seu foco.
- Parece que ele esqueceu o casaco dele na casa do Blake. Então, ele resolveu ir até lá, mas logo ele volta. Eu acho.
Quando ele diz eu acho, significa que provavelmente meu irmão vá demorar voltar pra casa. Considerando o fato de que Blake e ele são quase inseparáveis. Imagina quando um possível romance brotar de vez na vida deles. Acho que serei convocado para ser um dos padrinhos no casamento.
Eu poderia fazer qualquer coisa para me ocupar agora. Preparar um suco de abacaxi, aparar a grama do jardim, adiantar um pouco do dever de casa. Ao invés dessas coisas, escolho essa hora para conversar com meu pai sobre algo que tá me incomodando desde a noite passada.
- A mamãe ligou ou mandou mensagem pro senhor nesses últimos dias? – mesmo eu já sabendo da resposta é assim que pretendo iniciar o papo.
- Eu diria que sua mãe deve estar muito ocupada para não responder minhas mensagens – capto a frustração na voz dele.
- Ah ela anda te ignorando – finjo surpresa.
- Como sabe? – ele franzi o cenho.
- Eu falei com ela ontem a noite por ligação e tá na cara que ela não se importa mais com você, Liam e eu – falo tudo de uma vez, sem arrependimentos.
- Não acho que ela faria isso. Somos importantes para ela. Pelo menos, você e seu irmão são.
- Queria que fosse verdade, mas não é.
- Vocês andaram brigando?
Tá aí uma coisa que eu ainda não tinha citado pra ele. Apesar de ser exaustivo, ele tem que saber. Ele é meu pai e tratar assuntos de família com ele parecem mais fáceis que convencer à mim mesmo de não bloquear o contato da minha mãe. Não consigo fazer isso, mesmo que eu deseje.
- Antes que eu decidisse vir pra Califórnia, começaram leves discussões. Depois só foi piorando. Qualquer coisa que eu fizesse parecendo errado, ela pegava no meu pé. Daí eu me dei por conta de que ela ia fazer de tudo pra ficar sozinha com Rubens.
- Vou falar com ela. Ela vai ter que me ouvir – garante ele.
- Como vai fazer pra chamar a atenção dela?
- Eu conheço a sua mãe. Sei o que move aquele coração. Fique tranquilo. Tenho jeito pra isso – então, ele me lança aquela piscadela cúmplice.
Ele conhece ela tanto quanto eu, o próprio filho. Não duvido disso. Afinal, foi por ela que ele se apaixonou. É óbvio que ele sabe quais são os gostos dela, os medos, os anseios. Eles eram felizes juntos. Um casal quase perfeito. E de repente...
- Pai.
- Sim?
- Eu lembro que você e a mamãe passaram a ter turbulências no casamento a dois anos atrás. O que tava acontecendo?
Tenho recordação de algumas cenas desagradáveis. Discussões que abriam um berreiro desnecessário. Como isso colocava Liam e eu num quarto fechado, ouvindo os piores insultos que nossos pais trocavam entre si. Não podíamos fazer nada. Como sempre tinha que ser.
- Até eu não entendi muito bem direito. Primeiro, a relação entre nós foi esfriando. Mas não foi culpa minha. Eu fiz de tudo pra dar certo – explica ele com sinceridade.
Ouvimos um som de sininho vindo da cozinha e só então me dou por conta de que estou respirando um cheiro agradável de comida.
- Espero que esteja com fome. Fiz alguns biscoitos. Já estão prontos.
Ele sai da sala e nesse instante toca a campainha.
- Eu atendo.
Não sei quem pode ser e não tenho tempo de adivinhar assim que abro a porta, pois uma figura de cabelos loiros ondulados e com roupas feminina fashion está de pé na minha frente.
- Você corre um grande risco de morrer hoje ou amanhã – diz Nina, um tanto preocupada.
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Atualizado até capítulo 40
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