18. Momento Desabafo

A sala de instrumentos fica na ala leste do prédio. Só tomo as devidas precauções para que nenhum dos meus amigos, incluindo meu namorado, me sigam. De modo que invento o álibi de que estou indo ao banheiro e percorro um caminho tranquilo até chegar no destino onde está meu amigo. Quando abro a porta, encontro uma bateria, violões, guitarras, flautas, violinos, pratos, trompetes e um Blake quieto e deprimido isolado no canto.

- Blake – chamo ele, entrando.

- E ai, Junior?

Fecho a porta atrás de mim e afundo as mãos nos bolsos da frente do jeans.

- Como é que tá esse coração? – pergunto.

- Sobrevivendo ao máximo que conseguir, embora pareça impossível.

- Por que seria impossível?

Seus ombros sobem e ele dá aquele suspiro antes de responder.

- Liam está afim de uma garota. O que significa que minhas chances com ele são inexistentes, cara. Duvido muito ele compreender os meus sentimentos por ele.

- Talvez você possa estar errado. E se ele for bissexual? – é da minha natureza suscitar esperança nas pessoas.

- O que não mudaria nada. Ele já gosta de alguém, tá flertando com ela. E quem sabe daqui à alguns dias eles podem estar namorando – há uma dose de melancolia em seu tom de voz.

- Mas e se Lena vê ele apenas como um amigo?

- Não tenho certeza disso.

- Você conhece ela tanto quanto Liam. Existe a possibilidade de Lena estar afim dele?

- Queria eu ser aquela garota – fala ele com um olhar distante, obviamente se imaginando no lugar da amiga, andando de mãos dadas com seu amado.

Ando até que sento ao seu lado. Assim que toco o seu ombro, é pra chamar sua atenção pra uma coisa: a situação mais próxima dele.

- Olha, ser ela eu não sei se ajudaria, mas concerteza, ignorar ele não vai te ajudar. Só vai doer em você mais ainda.

- Você não entende. Eu não consigo mais ficar perto dele só pra continuar sendo tratado como o parça. Preciso de um tempo longe dele.

- E se você contar pra ele o que você sente?

- Ai eu vou perde-lo.

- Então, você vai mesmo se afastar dele?

Ele faz que “sim" com a cabeça, o que me deixa um pouco irritado, mas decido ainda permanecer metódico. Seria errado ser grosseiro com ele, sendo que minha atual missão é ajuda-lo.

- Isso não vai ser bom. Só vai machucar você mais ainda enquanto ele vai boiar no mar da dúvida.

- E o que eu faço, Junior? – ele me fita, desesperado.

- Você tá apaixonado. O que você quer?

- Eu quero Liam.

- Então, fala pra ele e defina uma condição. Se ele não te entender, ai você esquece ele. Mas se ele te ver só como amigo, isso ai já é contigo.

Ficamos quietos por uns segundos, escutando o som misturado de vozes, passadas e armários. Ele fica refletindo até que emerge falando:

- Já faz um tempinho que eu gosto dele. Tentei me desfazer dessa ideia, mas não adianta. Ele sempre vai estar no meu coração. Droga. Essa é a pior fase da vida pra se apaixonar.

- Todos nós temos que lidar com isso mais ou mais tarde, Blake. Não tenha medo de enfrentar seus medos. Faça a sua parte, Liam também fará a dele – respondo.

- Eu só quero que ele goste de mim de volta. Acha que ele pode me dar uma chance? – finalmente uma pergunta de esperança.

- Claro que sim. Sabemos que ele gosta de alguém. Sabia que eu shippo vocês dois?

- Sério? – ele fica surpreso.

- Quando vi vocês na cantina no meu primeiro dia, você dando comida na boca dele, foi um momento muito fofo.

Um sorriso alegre irradia em seu rosto. Isso é bom.

- Esses são os momentos que eu mais amo ter com ele. Não me vejo com outro cara que não seja ele. Eu quero cuidar dele.

Ouvir Blake dizer aquilo só me fez fazer um único pedido à ele.

- Ah por favor. Seja o meu cunhado.

Nós rimos. Conversamos mais um pouco até ele se sentir mais leve. Se Liam for mesmo afim de Lena – o que espero que não seja verdade, já que prefiro tanto Blake quanto ela (nada contra Lena, só acho que ela e meu irmão seriam um casal sem sal) – Blake ficará devastado e isso acabará com a amizade dele com Liam. Ou não, ele pode reprimir isso dentro dele e sofrer, o que é bem pior. Tomará que meu irmão ame esse cara no futuro.

Soa o toque da sineta e cada um segue para sua aula.

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