A espera

Esperar geralmente é algo chato né, mas, sei lá, a espera pode ser interessante também, podemos refletir sobre o que estamos esperando e podemos nos organizar e estarmos prontos para o momento em que aquilo que estamos esperando, finalmente chegar!

...Atena...

Escrevi todos os detalhes da nova Atena, ela seria uma garota alegre, apesar de todos os perrengues que já enfrentou na vida, é bastante estudiosa e está feliz com o novo rumo que a sua vida está tomando.

Aslan tem contatos na Universidade da Capital e conseguiu uma vaga real para mim, vou estudar estética e cosmética, é tudo que eu sempre quis, vou usar o sobrenome Anunciação, mas ao final do curso posso alterar para o meu nome real e terei o meu diploma depois de tudo isso.

Vai ser tensa essa coisa de morar e namorar com um estranho, e ainda criar um bebê, mas eu sinto que todo esse sacrifício vai valer a pena para mim.

Dias depois estava com a Nina no banheiro do mercado, onde ela resolveu fazer um teste de farmácia e verificar se estava grávida.

— Que ideia viu Nina. Para que isso se amanhã vamos fazer o Beta? — Reclamei na porta da cabine onde ela fazia o teste.

— Você sabe que sou ansiosa, não aguento mais esperar. — Ela falava enquanto colhia a urina. — Ta agora vamos ver. — Abriu a porta da cabine com o teste na mão. Fechou os olhos e apontou o teste para mim. — E aí?

— Bom, deu certo. Você é oficialmente barriga de aluguel. — Falei sem criar expectativa. Nossa ideia era justamente tratar o bebê como um parasita ou um inquilino que não nos pertencia. Tudo para evitar gerar um apego pelo bebê.

— Isso! Já posso receber parte do dinheiro e mandar para o Hernesto já comprar a nossa casa. — A Nina comemorava.

No dia seguinte fomos fazer o Beta, e a noite a Nina me ligou confirmando o resultado positivo.

Durante esse mês que passei esperando pelo Aslan eu pedi demissão do mercado e estava cumprindo o aviso prévio. Eu passei a visitar a minha mãe no hospital sempre que podia. Ela continuava estável, eu pedi ao medico que já agilizasse o processo de transferência dela, pois em breve eu já teria o dinheiro.

No tempo livre eu me dediquei a ficar com a Nina e com o Bento, esse início de gravidez é mais delicado então tenho ajudado ela em tudo que posso, inclusive no trabalho no mercado.

Enquanto esperava, eu repensei a minha vida, até então eu tinha vivido apenas sofrimento, e então nessa jornada inesperada, eu decidi que iria me jogar de cabeça nessa nova Atena, e tratei de desenvolve-la durante esse tempo, e assim encarnar na Atena feliz e sorridente.

— Atena! — O pai chegou gritando em casa. — Atena!

— Oi! — Respondi sem entender o motivo da gritaria.

— Me ligaram do hospital para dizer que já estava tudo certo com a transferência da sua mãe, disseram que agora só aguardavam o pagamento. — Ele continuava gritando. — Que história é essa menina?

Merda! Eu protelei essa conversa com o meu pai, o máximo que pude, mas eu sabia que uma hora ou outra eu ia precisar contar a ele que estava indo embora.

— E-eu, vou conseguir o dinheiro pra cirurgia e tratamento da mãe. — Falei quase num sussurro.

— Que dinheiro? Como vai fazer isso? — Ele ainda gritava nervoso.

— Lembra de quando fui barriga de aluguel? Bom farei isso novamente.

— Mas o que? Aquilo foi vergonhoso. E você disse que seria a única vez. — Ele parou de gritar, mas continuava nervoso.

— É, mas a mãe pode morrer.

— Se vai vender seu útero outra vez, vê se pede mais dinheiro e esquece essa loucura da sua mãe. — Ele se aproximou de mim. — Vamos usar o dinheiro pra coisa melhor.

— Eu vou salvar a minha mãe. — Falei com raiva. — E vou pra bem longe de você.

— Sua mãe vai morrer, é só questão de tempo. Podemos ter uma vida melhor, só nós dois, pai e filha, o que me diz? — Ele sorria.

— Você é um louco, um doente. Eu odeio você, eu queria tanto que você morresse. — Falei com ódio, e recebi um tapa na cara.

Olhei pra ele com ainda mais raiva e corri para o meu quarto. Eu queria tanto ser a Atena feliz, mas tudo isso era uma merda.

Enquanto estava deitada tentando dormir e esquecer que o meu pai existia, meu celular tocou e era o Aslan, respirei fundo para conter o choro preso e atendi.

— Alô... — No momento em que atendi as lágrimas começaram a jorrar.

— Oi namorada! — Ele sempre usava o meu tom de ironia ao me chamar de namorada. — Precisamos de um apelido melhor, posso te chamar de amorzinho, ou docinho... O que acha? — Ele estava tentando fazer graça, mas eu só chorava silenciosamente. — Ainda está aí?

— Sim... — Minha voz saiu embargada pelo choro.

— Está chorando? — Bastou essa pergunta para que toda a minha tristeza viesse a tona em forma de choro. Chorei de soluçar e não importava se ele estava ouvindo, eu só queria chorar. Larguei o telefone na cama e me deitei chorando.

Quando cansei de tanto chorar, me lembrei do Aslan e peguei o celular, e para minha surpresa a chamada não havia sido encerrada.

— Aslan? — Falei.

— Oi, estou aqui. Você... está melhor?

Nossa eu não esperava essa atenção dele.

— Sim, estou melhor. Me desculpa, eu tive uma discussão com o meu pai. Ele é uma pessoa horrível. — Falei ainda triste.

— Bom, pensa que em breve você estará com uma boa quantia nas mãos e não vai precisar voltar a vê-lo. — Aslan falava um tom compreensivo. — Ta vendo só, passar esse período ao meu lado vai ser bom para você, não só pelo dinheiro, e minha bela companhia, mas também vai te livrar do seu pai e você vai poder ser uma nova Atena.

— Sim, uma nova Atena. É a isso que tenho me dedicado enquanto espero você chegar. Ser uma Atena feliz!

— Pois então, sorria nova Atena. O seu príncipe está vindo te resgatar. — Eu acabei rindo da tentativa de piada dele. — O que acha de "minha princesa", para o seu apelido?

— Não mesmo. — Falei rindo muito. — Vamos pensar nisso com calma.

Conversamos mais um pouco até que adormeci. No final essa ligação melhorou o meu dia!

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