Capítulo 17

Heloísa encara o espelho, esperando encontrar algo em si mesma que esteja mais parecida com a irmã, a garota já não conseguia achar sua aparência como a dela, algo dentro de si estava tão diferente, antes sentia que havia perdido a si mesma, no entanto neste momento ficava pensando que talvez o que de fato tinha perdido era sua própria irmã.

Conforme leu o diário e ouviu tudo o que disseram, notou que não conhece a pessoa que mais ama no mundo, Helena. Sua irmã neste momento é um grande mistério, não sabe se ela está viva, contudo teme que esteja e saiba tudo o que ela esta passando e mesmo assim não a ajude.

Seus cabelos ainda eram loiros, mas nem isso a diferenciava de si mesma, pois não podia se achar parecida com uma pessoa que ela não conhecia mais. A menina respira fundo e observa a roupa que está usando, roupa que não foi comprada para ela.

Um vestido azul, dois palmos acima do joelho, um pequeno decote nas costas e um sapato de salto na cor preta. A verdade é que essa não era ela, Helo jamais se vestiria assim para jantar, se fosse por ela estaria de pijama, todavia isso não dependia dela no momento.

Ela respira fundo e sai do quarto, seu cabelo penteado e solto bagunça um pouco por conta do vento que vem das janelas, seu maior alívio era que o tempo estava fresco. Tudo a fazia odiar aquela roupa, o vestido era curto demais e o calçado alto demais, nada estava de acordo com o que ela gostava e queria para si mesma.

Quando entrou na sala de estar, encarou uma mesa grande e cumprida, para sua surpresa não havia comida em cima dela, mas Arthur estava lá e isso a deixou espantada, pois mesmo sem desejar estava imaginando o que ele deveria estar fazendo com Andressa.

— Pensei que havia saído – diz conforme se aproxima.

— Eu não pude ir – confidencia encarando-a.

Seus olhos buscam respostas que nenhum dos dois quer dar, eles ficam por alguns minutos, olhando-se sem dizer uma única palavra, mas o tempo traz o constrangimento.

— Então foi por isso que Adélia falou para eu me arrumar para jantar – comenta parando de olhá-lo.

— Não precisa se arrumar para jantar comigo – murmura fazendo com que ela vire o rosto para encará-lo.

— Pensei que era obrigada – fala.

— Não é, vamos fazer assim, amanhã pode vir jantar como desejar – propõe.

A garota sorri, imaginando sua expressão ao vê-la de pijama, pois é assim que deseja estar, já que é deste jeito que se sente confortável. Arthur percebendo que ela parece mais tranquila, não consegue controlar um sorriso, ele jamais imaginou que vê-la bem lhe daria tanta paz.

— Onde vamos comer? - indaga Heloísa ao perceber que ninguém aparecia para servi-los nessa mesa grande.

— Vem comigo, vou lhe mostrar – convida.

Arthur segura sua mão e a leva para fora da casa, eles caminham pela noite fresca, as árvores ao redor trazendo tranquilidade e beleza para ser apreciada. O homem a conduz para uma pequena trilha e após passar algumas árvores eles chegam a uma árvore grande que fica próxima a um lago.

Pendurado na árvore tem algumas lampadas amarelas, elas clareiam o lugar, deixando a lua ainda prevalecer. Debaixo da árvore tem uma mesa com duas cadeiras bem próximas uma da outra, ao lado Adélia está acomodada apenas para cuidar da comida que já foi servida.

A lua reflete no lago, que com sua água azul escura deixa o cenário ainda mais bonito. Heloísa olha tudo com encanto, em seus lábios tem um sorriso que ela não consegue disfarçar, jamais imaginou ver algo tão lindo em sua vida, tudo o que só via em filmes agora podia vivenciar, por um momento esqueceu do que existia entre eles.

— Isso é lindo – murmura e ele coloca a mão em sua cintura.

Adélia sai em seguida, mantém sua postura séria, mas assim que passa por eles não consegue evitar de sorrir, ela desconfia de que tem algo diferente entre eles e por um momento, quando viu a garota sorrir chegou a ter certeza que essa jamais poderia ser a Helena.

— Eu imaginei que você ia gostar – fala e eles se encaram sorrindo.

Por um tempo ficam observando o lago, sua beleza, sua paz e tranquilidade, com a respiração tranquila eles se apoiam um no outro apreciando o lugar em que estão.

— Esse lugar é perfeito, nunca senti tantas paz – murmura Heloísa.

— Eu gosto de vir para cá quando estou muito sobrecarregado de trabalho, pois mesmo trabalhando no escritório que tenho aqui não me sinto tão carregado como no hotel – confessa olhando para o lago.

— Deveríamos morar aqui e só ir para o hotel quando for muito necessário – diz e sorri, no fundo sente que falou demais.

— Sim, nós deveríamos – concorda, sabendo que ela realmente estava diferente.

— Está com fome? - indaga curioso.

— Um pouco – assume e ele sorri.

— Venha, tenho certeza que Adélia preparou algo delicioso para nós – afirma e eles começam a caminhar até a mesa.

Sentam-se na mesa, a todo momento olhando-se, quando descobrem o prato Heloísa se espanta, algo dentro dela a dizia para ir embora.

— Tudo bem? Gostou da comida? - questiona encarando-a.

A heroína encontra-se em um momento delicado, ela não sabe ao certo o que fazer. Macarrão com almondegas é de fato sua comida favorita, no entanto Helena detesta. Seu coração se divide entre recusar a comida e aceitar apenas para não magoá-lo, mas o pior é saber que ele desconfia dela.

Tenta imaginar qual é de fato o seu erro, por que Arthur que de acordo com tudo o que leu sabe que não amava sua irmã, então por qual motivo queria tanto desmascará-la.

No fundo ela nunca quis mentir, e agora sabia do fundo do coração que não poderia de forma alguma recusar aquilo que ele lhe oferecia, não poderia viver em paz se o magoasse.

— É a minha preferida – diz e sorri.

Heloísa imaginava que se ele quisesse uma prova ai estava, depois de tudo o que aconteceu o justo seria ele saber, e por outro lado se ele a mandasse embora podia fugir de Ágata e Carlos, pelo menos uma coisa poderia afirmar, jamais voltaria a encontrar esses dois.

Arthur a encara e sorri, percebendo que ela sabia de suas dúvidas e pela primeira vez não havia negado.

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