Capítulo 13

Fernanda

Eu estava nervosa...bem, acho que ansiosa, na verdade.

Esse jantar na casa dos Donartti me traria uma oportunidade para fazer algo que eu quero fazer desde o dia do sequestro. Mas vamos por parte, não é mesmo?!

Saímos do hotel e dessa vez, Marco não nos acompanhou, então fomos só eu e o Don, mais dois carros fazendo nossa escolta.

Durante todo o caminho eu me sentia nervosa e também notei Don Bruno mais tenso que o normal.

Fizemos todo o trajeto em silêncio, cada um perdido em seus próprios pensamentos.

O perfume do Don Bruno invadia minhas narinas, tomando conta do carro...tomando conta de mim e me fazendo puxar o ar lentamente, como se quisesse guardar esse cheiro na memória.

Se um dia esse homem soubesse o quanto ele significa pra mim, o quanto eu me sinto protegida e cuidada todas as vezes que acordo quietinha durante a noite e o vejo dormindo todo torto numa poltrona do meu quarto,só para velar meu sono...Ah, Don...como eu queria que um dia você me olhasse como mulher...me olhasse com amor e não só com gratidão...

Eu seria a pessoa mais feliz desse mundo, mas quem sou eu?

Uma moça de origem humilde, que nunca foi nada, sempre foi invisível aos olhos de todos, sempre foi desprezada e meu paizinho, a única pessoa que me amou, foi arrancado de mim pela bebida e pela culpa que o corroía por um dia ter abandonado a mulher que ele amava carregando um filho deles...tudo isso por medo de não conseguir ser um bom pai.

Se meu paizinho soubesse o quão bom ele foi pra mim. O exemplo de honestidade que ele me deu...

Saio dos meus pensamentos com a voz grave do Don Bruno.

- Chegamos! - ele diz, saindo do carro e o soldado abre a porta pra mim, me ajudando a sair também. Agradeço ao homem, que acena levemente. - Vamos entrar. - ele diz, sério como sempre. - E não quero que saia do meu lado, ouviu bem?

- Sim senhor, Don. - respondo, de cabeça baixa como sempre.

Uma curiosidade sobre o Don...A simples imponência da presença desse homem de quase 2 metros de altura já nos faz curvar a cabeça e nos sentir intimidados. Ele é alto, forte, imponente, frio e está sempre com um olhar mortal.

Mas é lindo, charmoso, cheiroso e desperta em mim sentimentos que me deixam tão confusa, e ao mesmo tempo triste, por saber que eu nunca terei nada dele, além do sentimento de gratidão por não ter entregue suas ínformações aos inimigos durante o sequestro.

Respiro fundo e entramos na mansão dos Donartti. O lugar é lindíssimo e extremamente luxuoso e de muito bom gosto.

Vejo alguns dos homens que estavam presentes na cabana no dia do relatório.

Logo o sr. Felipe vem em nossa direção, acompanhado de uma mulher linda...Nossa que mulher elegante!

- Boa noite, meu filho! - ele cumprimenta o Don, que acena levemente. - Boa noite, Fernanda. - eu estou prestes a fazer uma leve reverência, quando ele me puxa pra um abraço apertado, me deixando totalmente sem jeito. - Que bom que você veio, minha filha. - diz, ainda me abraçando.

- Ah, então você é a mocinha astuta e perspicaz - a esposa do sr. Felipe diz, também me puxando pra um abraço apertado. - Seja bem vinda, minha querida. - ela diz em meu ouvido. - Eu prometo cuidar muito bem de você. - ela se afasta e eu a encaro,franzindo a testa, mas ela só dá uma piscadinha pra mim e sorri. - Don Bruno, muito obrigada. Estamos honrados com a presença de vocês aqui essa noite. Vamos entrando...

Eles saem andando e nos mostrando a casa, mas sinto a mão do Don passar em minha cintura, me puxando mais pra ele, o que eu confesso, me deixou confusa porém me fez sentir uma sensação gostosa de pertencimento, e isso é estranho.

.

.

A noite correu tranquila...bom, pelo menos na medida do possível.

Durante o jantar eu me sentia ansiosa, pois tinha algo que eu precisava fazer, mas tinha que esperar o momento certo.

Também estava me sentindo estranha com os olhares do sr. Felipe que não Saiam de cima de mim. Estava sendo meio constrangedor a forma como o homem me olhava.

Não era um olhar de desejo, isso eu percebi logo de cara. Era um olhar de carinho, cuidado, afeto...

Meu pai me olhava exatamente assim...o que é estranho, porque olhando bem, o olhar do Senhor Donartti me lembra o olhar do meu paizinho.

Saio novamente dos meus pensamentos com a risada das crianças correndo para o jardim.

Peço licença à todos e vou ao banheiro. Assim que saio, vejo pela grande janela de vidro a senhorita Sofy e o Sr. Aaron observando as crianças brincarem. Então essa é a hora de fazer algo que me foi pedido...

Me aproximo deles devagar...

- Boa noite, desculpa atrapalhar, mas posso falar com o senhor um minuto? - pergunto, meio sem jeito.

Claro, Fernanda.- ele respondeu, aconchegando mais sua esposa em seus braços e a aquecendo pois já estava esfriando.

- Bem é..- esfreguei minhas mãos, nervosa. - Eu preciso te falar uma coisa..é sobre a Patrícia..- o semblante dele mudou instantaneamente.

- Desculpa, Fernanda, mas eu não tenho interesse em saber de nada que tenha a ver com a Patrícia. - diz, fechando as expressões.

- Eu sei e te entendo, mas foi o último desejo dela, então eu me senti meio que na obrigação de atender.

- Último desejo? Como assim?

- Eu vou te explicar..posso? - perguntei, apontando pro banco de frente pra eles.

- Claro, Nanda. - sorri pra mim. - Posso te chamar de Nanda, não é? - Sofy diz, carinhosa.

- Claro que sim. As pessoas que eu gosto me chamam assim, e eu gostei muito de você e da sua família. - sorrio, sincera.

- Também gostamos muito de te conhecer. Você é uma mulher muito astuta.

- Obrigada. - respondi, meio sem jeito. - Bom, mas eu preciso explicar o porquê eu estou aqui pra falar com vocês. - respirei fundo. - Há quase um ano atrás eu fui sequestrada por uma máfia rival à dos Massilli, e era comandada por um homem chamado Donatello.

- Aquele Desgraçado do Donatello te sequestrou? - Aaron disse, com raiva.

- Infelizmente sim! Eu sou o "homem de confiança" do Don Bruno, tenho acesso a muitas informações por ser sua secretária pessoal e principal hacker, e se eu abrisse a boca, eles teriam como acabar de uma vez com a máfia Massilli. Mas eu não contei nada, apesar de passar dias sem comer ou beber e ser surrada e torturada constantemente. - meus olhos marejaram ao lembrar de tudo o que passei e Sofy apertou minha mão, me consolando. - Bom, eu fiquei cerca de uma semana nas mãos deles e a Patrícia era membro dessa máfia, e uma das responsáveis por me torturar.

- Como ela pôde descer tão baixo assim..- Aaron disse, com cara de nojo.

- Eu nem sei o que dizer, senhor Aaron, mas ela parecia sentir prazer na minha dor. - respirei fundo. - Mas teve um dia, depois de uma das inúmeras sessões de tortura, que o Donatello tentou abusar de mim. - me senti mal com a lembrança, mas prossegui. - E quando ele estava prestes a conseguir praticar o ato, a Patrícia me salvou. Eu não sei porque, mas ela disse que aceitava que fizessem qualquer coisa comigo, menos me violentar. Depois disso o Don me encontrou e mandou matar todos eles, mas antes de ser pega, a Patrícia colocou uma carta no bolso da minha calça, e dentro do envelope tinha isso...- tirei uma correntinha do bolso e entreguei pra ele. - Ela contava na carta um pouco da sua história e pedia pra que eu te procurasse e pra entregar isso ao filho dela, pois assim, ele se lembraria dela de alguma forma.

- Fernanda... Eu não tenho ideia da dor e do sofrimento que você passou. - ele respira fundo.- Mas eu tenho certeza que você, além de ser uma mulher muito forte, tem também um coração muito bom, porque mesmo a Patrícia tendo feito tanto mal à você, ainda assim, conseguiu realizar o último desejo dela.

- Eu acredito que todos merecem uma chance de se redimir, senhor Aaron. - digo, sorrindo pra eles. - Na verdade, eu me surpreendi quando descobri que você, o genro do senhor Donartti, era o Aaron Blake, pra quem eu tinha que entregar essa correntinha...Bom, eu fiz minha parte, mas a decisão de entregar ou não esse presente ao Nicolas é de vocês. - me levantei e pra minha surpresa, a Sofy me deu um abraço apertado.

- Você é uma mulher incrível,Fernanda. E tenha certeza de que será muito feliz e amada. - beijou meu rosto e sorriu. - Incrível como senti uma afeição quase instantânea por você, Nanda. Minha mãe chama isso de encontro de almas. - diz, pensativa.

- Obrigada! Você que é uma pessoa maravilhosa. Um seu humano que transmite paz e ilumina tudo ao seu redor. - falo, pois é exatamente como a vejo. - Sinceramente...- olho em seus olhos. - Tenho certeza de que o pequeno Nicolas não poderia ter uma mãe melhor do que você! - sorri e me despedi deles, me afastando.

Caminhei de volta à mansão, tomando um susto com o Don Bruno que apareceu do meu lado feito uma sombra...esse homem quer me matar do coração!

- Entregou a correntinha ao senhor Blake? - me perguntou, sério.

- Sim senhor. Era o certo a se fazer, não era? - questiono.

Ele dá um leve sorriso e põe as mãos nos bolsos.

- Você tem um bom coração, Fernanda...um bom coração...- diz, pensativo. - Vamos? Já está tarde.

- Posso só me despedir da dona Larissa? Eu...eu gostei dela.

- Não demore! - diz, sério como sempre.

Eu assinto e entro na casa. Vou até a sala, onde estão todos reunidos e logo a senhorita Sofy e o senhor Aaron chegam também, seguidos pelo Don Bruno, que parece mais sério que o normal.

- Bom família, estou feliz que estejamos aqui reunidos...- Senhor Felipe fala, e parece estar bem feliz. - Como todos aqui sabem, hoje livramos minha nora Alice de uma ameaça e graças a ajuda do Don Bruno isso foi possível, então nós seremos eternamente gratos, Don. - todos agradecem e Don Bruno acena, sorrindo de lado. - Meu filho Brian e minha nora estão indo para uma viagem de férias mais que merecida, pois precisam relaxar e aproveitar.

- Vida boa hen. - o senhor Igor diz, fazendo todos rirem. - Nós que pegamos no pesado e eles que viajam de férias...oh, injustiça, viu?!

- Fica quieto aí, sem noção! - sr.Felipe o repreende. - Como eu ia dizendo...- ele olha feio para o irmão, que faz um zíper imaginário na boca. - Hoje é uma noite especial para a minha família, mas principalmente para mim. - diz, me olhando diretamente, o que faz todos me olharem e eu me sinto constrangida e me encolho. - Sabe...- ele respira fundo. - Quando minha mãe engravidou, meu pai a abandonou assim que soube. Ela sofreu, me criou sozinha e quando eu tinha 10 anos nós Viemos para os Estados Unidos, pois como todos da família sabem, eu sou brasileiro. Pois bem, eu nunca quis saber do meu pai biológico, até por que a vida me presenteou com um pai incrível, que foi Erick Stewart, e que na bagagem trouxe o Igor, esse irmão mala que eu amo tanto. - sr Igor faz um coraçãozinho com as mãos, arrancando risadas de todos. - Bom, enfim...Eu nunca quis saber do meu pai...pelo menos não até agora..- ele olha pra mim. - Nanda...qual era o nome do seu pai?

Eu franzo a testa, confusa.

- Francisco Dumas. - digo, confusa e envergonhada.

- E você poderia me dizer do que ele morreu? - ele pergunta, num tom carinhoso e eu sinto meus olhos encherem.

- ele. ..ele morreu de cirrose...há quatro anos atrás. ..

Senhor Felipe vem em minha direção e segura minha mão com carinho, virando minha palma e me mostrando um pequeno sinal que tenho no pulso esquerdo...

- Está vendo esse sinal? - eu aceno, concordando. - É a nossa marca...- ele abre o punho da camisa social e me mostra o pulso...A mesma marca.

A senhorita Sofy vem até nós e mostra o pulso também. ..

- Olha! eu também tenho! - diz, sorrindo. - Pai...ela é..ela é minha tia?? Filha do vovô Chico que a vó Diana contou a história?

- Sim, ela é. ..-senhor Felipe me abraça com força e eu ainda estou em choque. - Oh, minha irmãzinha...como eu estou feliz de ter te encontrado. - diz, me apertando.

- Caraca! Eu tenho uma irmã?! - senhor Igor diz, levantando da poltrona

- Sai pra lá, oh invejoso! - senhor Felipe diz, sem me soltar. - A irmã é minha!

- ihhh, a lá o cara! Vai querer se egoísta agora, Felipe? - pergunta, cruzando os braços.- Dividi meu pai contigo, cara! Então é justo que a Nanda seja minha irmã também.

- Tá,tá...mas eu sou o irmão preferido! - fala, emburrado.

- Ah, tá bom. Isso é nos seus sonhos. - senhor Igor me abraça de lado. - Fala pra ele maninha, que eu sou o irmão mais bonito. - eu olho de um pro outro, totalmente desesperada.

- Chega! - Dona Larissa fala, me tirando do meio deles e me abraçando, e eu me agarro à ela, realmente assustada. - Vocês estão assustando minha menina! Ela está nervosa...- passa as mãos nos em meus braços. - A coitadinha está gelada e tremendo. - ela olha feio pro senhor Felipe e pro senhor Igor. - Deixem ela assimilar tudo, depois vocês conversam. - ela respira fundo e me olha com carinho. - Bem vinda à essa família barulhenta e um pouco confusa, minha querida. Mas aqui você pode ter certeza que será muito, muito amada.

- Uma...uma família de verdade? - pergunto, chorando. - E vocês...vocês me aceitam?

- Mas é claro! - senhor Felipe diz, beijando minha testa. - Você agora é uma Donartti, minha filha!

Eu olho pra tantos rostos que me olham de volta com carinho, mas o único olhar que faz meu coração realmente bater mais forte, é o par de olhos escuros atentos que me observam um pouco afastados.

Eu olho o Don Bruno, que acena levemente e me dá um sorriso fraco, se virando pra sair.

Mas eu nem penso, corro até ele e o abraço, vendo a surpresa do meu gesto em seu rosto.

- O que foi, principessa? - ele pergunta, me olhando e afagando meus cabelos, enquanto seca minhas lágrimas com a outra mão. - Você encontrou sua família...

- Eu sei...mas...eu não quero perder o senhor, Don...eu não quero...- digo, chorando baixinho.- O senhor prometeu que nunca mais ia me deixar...- olho pra ele. - O senhor prometeu!

Eu não quero ter que me afastar dele...eu amo esse homem!

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Comments

Maria Alves

Maria Alves

Que capítulo marcante, foi muito bom ela encontrar pessoas da família e demonstrou quanto éles a amam.

2024-04-19

3

Isabel Vitoria Costa araujo Costa araujo

Isabel Vitoria Costa araujo Costa araujo

capítulo lindo, e estou cada vez mais apaixonada por suas histórias, seus livros são muito bom parabéns autora

2024-04-17

0

Vera Lúcia

Vera Lúcia

eita

2024-04-16

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