Capítulo Dezeseis

Fiz minha prova há uma semana, acredito que fui bem, estudei muito para isso. As notas saem hoje e espero do fundo do coração que tenha passado.

Como falei, passando ou não nessa prova, irei morar na capital. Já está tudo organizado, hoje é meu último dia de trabalho aqui no restaurante.

Dona Lúcia me conseguiu um emprego com sua filha, para cuidar da bebê dela, pois ela e o marido trabalham durante o dia.

O emprego é bom, ela paga muito bem, não irá atrapalhar meus estudos pois caso passe na prova irei estudar no período da noite.

E com moradia também não vou me preocupar, pois na casa da filha de dona Lúcia tem um espaço para  o pessoal que trabalha lá, irei dividir o quarto com a outra babá, mas tudo bem, para quem morou na rua dividir um quarto é uma benção.

Realmente não voltei a ter notícias sobre Miguel, ele também nunca mais postou nada em suas redes sociais, sim, eu fico olhando as redes sociais dele.

Poderia lhe mandar uma mensagem e perguntar o que aconteceu, mas acredito eu que ele próprio poderia fazer isso e me mandar uma mensagem. Se até agora não mandou é porque não tem interesse em falar comigo.

Me sinto uma estúpida por ainda ficar pensando nele, gostaria de poder arrancá-lo de meu coração para sempre.

Talvez nunca o esqueça, bom, esquecer não irei, até porque ele foi importante em minha vida, o primeiro a gente nunca esquece, mas espero conseguir não sentir mais nada por ele algum dia.

Ir embora será melhor para mim, terei novas ocupações e obrigações, e além de tudo o lugar não será um cenário que me lembra dele.

Apesar desse contratempo, estou muito feliz que já tenho um emprego novo e provavelmente passei em minha prova, estou muito confiante.

Uma das coisas ruins, é que ficarei longe de Carol e do bebê, ainda não sabemos o sexo, mas sempre que puder virei vê-los. Outra coisa que também está me deixando triste é ter que deixar Meg, infelizmente não poderei levá-la, ainda, quando conseguir um lugar para mim e com espaço para ela venho buscá-la, por enquanto ela ficará com Carol, sei que ela será bem cuidada.

— Tudo pronto aqui. –digo para dona Lúcia quando termino minhas obrigações.

— Muito obrigada Malu por esses anos que passou aqui, obrigada por ter sido tão leal e competente.

— Imagina dona Lúcia, eu que agradeço por a senhora ter me dado esse emprego, foi muito importante na minha vida e jamais vou esquecer. E muito obrigada por ter me conseguido outro emprego com sua filha.

— Eu sei da sua capacidade, e queria uma pessoa de confiança para cuidar de minha neta. –ela me abraça e algumas lágrimas escapam de meus olhos.

— Muito obrigada de verdade. Já vou indo. –ela me dá um beijo no rosto e me entrega um envelope com o dinheiro da minha recisão.

Em casa encontro Carol e Danilo terminando de arrumar minhas coisas, esses dois são meus melhores amigos, na verdade os únicos que tenho.

— Vocês são muito rápidos. –digo entrando.

— Isso é muito triste. –Carol está chorando.

— Carol, não precisa chorar, sempre vou vir te visitar e você pode ir me visitar também. 

— Não será a mesma coisa.

— Claro que será, vamos nos falar todos os dias.

— De quem eu vou cuidar agora?

— Do seu bebê, seu marido e da Meg também, tem muitos seres para você cuidar. –digo a abraçando. – E você Danilo cuida bem deles também tá bom? Eu amo muito vocês e vou ficar com muita saudade. –danilo se junta ao nosso abraço.

— O que faço com todas as suas coisas? –Danilo pergunta.

— Vocês decidem, o que servir para vocês e vocês quiserem podem pegar, se não, doem pra quem precisa.

— Tudo bem. –Danilo diz.

Dou uma última olhada em minha casinha, não é minha de verdade, pois é alugada, mas foi meu lar por muito tempo, meu e de Meg.

— Quando sai o resultado da prova? –Carol pergunta.

— Só à noite.

— E que horas você vai pegar o ônibus?

— Às 17:00 horas.

— Ainda temos um tempinho para ficarmos juntas, vamos almoçar lá em casa! –não é um convite, é uma afirmação.

— Vamos. –digo.

As casas ficam bem próximas uma da outra, apenas alguns metros de distância, vamos andando, conversando e sorrindo, somos ótimos juntos, vou sentir saudade desses dois.

Carol caprichou no almoço, fez meu prato preferido, lasanha, segundo ela é de despedida. A única coisa que ela cozinha bem, é lasanha.

Tendo que me despedir de meus amigos e de Meg sinto um pouco do que minha mãe deve ter sentido quando teve que me deixar com minha avó para ir trabalhar.

É um sentimento estranho, uma saudade misturada com medo do desconhecido.

Terminamos o almoço e vou lavar a louça, sempre foi assim entre nós três, quem cozinha não lava a louça.

Danilo foi deitar para tirar um cochilo e Carol ficou me fazendo companhia na cozinha.

— Quando você terminar podemos assistir um filme. –ela diz.

— Pode ser.

— Tem certeza que você vai mesmo embora?

— Tenho.

— Tudo culpa daquele degenerado que deflorou você. –dou uma risada alta.

— Carol! Pelo o amor de Deus!

Óbvio que contei tudo o que aconteceu a Carol, ela sabe tudo, até os detalhes sórdidos.

— É verdade! Esse cretino fez isso e sumiu, e se você estivesse grávida?

— Deus me livre! Não é só por causa dele que vou embora, você sabe que quero melhorar de vida, estudar, e estou tendo oportunidade agora.

— É, eu sei.

— Então...

— Mas esse homem não presta, me culpo até hoje por ter te empurrado pra ele.

— Ninguém tem culpa de nada, eu só fiz o que quis. E quer saber? Não me arrependo.

— Maria Luíza! Você queria mais?

— Se eu falar que não, vou está mentindo, e você sabe que não gosto de mentiras.

— Manda mensagem pra ele então!

— Jamais, aí não, queria mais sim, mas se ele viesse me procurar.

— Sei.

Termino de lavar a louça e vamos para sala ver um filme. Passamos uma tarde muito agradável, sorrimos muito e conversamos besteiras.

Faltando uma hora para meu ônibus sair vou andando para o ponto juntamente com Carol e Danilo, dessa vez quem está chorando sou eu, deixar Meg para trás foi muito difícil, espero poder pegá-la de volta logo.

Eles dois ficam comigo até meu ônibus chegar, nos despedimos com abraços e enfim subo e vou à procura de meu assento.

Para minha total e agradável surpresa quem é meu companheiro de assento é José, olho em seus olhos tentando entender o que ele faz aqui e rindo internamente do destino e de como ele nos prega peças.

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