Capítulo Quatorze

Já se passou um mês desde o meu último encontro com Miguel. Não soube mais nada dele, nem uma ligação recebi. Me custa muito fazer isso, mas acho melhor dar nossa história por encerrada, seguir minha vida e esquecer de uma vez por todas que isso aconteceu.

Vou encarar como se tivesse sido um sonho, um sonho muito bom por sinal, mas dos sonhos sempre temos que acordar.

Estou usando toda minha frustração para me dedicar aos meus estudos, estou fazendo de tudo para passar na prova do vestibular, que acontecerá em algumas semanas. Para alguém que vem de onde eu venho passar nessa prova é uma grande conquista.

Como minha avó sempre falava: "a única coisa que ninguém não pode lhe tirar é o conhecimento". Sempre quis estudar, sempre tive vontade de aprender, mas nunca tive oportunidade, e como agora tenho estou aproveitando.

As vezes me acho estranha, ou que não sei demonstrar sentimentos, porque deveria está chorando pelos cantos, ou tentando de tudo para encontar Miguel, mas eu não estou, estou dando tempo ao tempo e o que tiver de ser, será.

Já passei por coisas piores e perdi pessoas muito mais importantes em minha vida, não será uma desilusão amorosa que vai me parar.

Estou bem focada em meu trabalho, e desenvolvê-lo bem, para não decepcionar minha chefe. Por falar em trabalho, dona Lúcia chegou hoje de viagem.

Devo muito a essa mulher, ela foi um dos anjos que apareceram em minha vida, graças ao emprego que ela me deu tenho onde morar e o que comer todos os dias.

Um dia poderei retribuir o bem que cada pessoa me fez, não sei como, mas irei.

No meu trabalho não há nada de diferente, todos os dias é a mesma coisa, não há muita diferença.

Levo uma rotina muito repetitiva, como o próprio nome já diz; "rotina".

Me distraio arrumando uns doces e bolachas que ficam na prateleira, estou de costas para porta, e sinto alguém chegar e tapar meus olhos.

Meu coração acelera, minha garganta fica seca, me viro rapidamente para ver de quem se trata e para minha total e completa desilusão é Douglas.

— Nossa! Que cara de tristeza você fez agora, estava esperando outra pessoa?

— Não, você me assustou.

— Tem certeza?

— E por que não teria!

— Calma, só estou brincando.

— O que você quer?

— Te convidar para sair.

— Não estou com cabeça e nem com tempo para sair.

— Você sempre inventa uma desculpa, nunca tem tempo para mim. –respiro fundo e reúno toda minha paciência.

— Vou ser bem sincera com você Douglas, e espero que de uma vez por todas fique claro. Eu não tenho interesse nenhum em sair com você, sinto muito, mas foi você quem terminou comigo, então agora aguente as consequências dos seus atos. –falo tentando ser o mais educada possível.

— Me arrependo disso até hoje.

— Tarde demais para arrependimentos.

— Você sabe muito bem porquê terminei com você Lú. –ele é a única pessoa que me chama de Lú.

— Sei, porque você não soube esperar meu tempo.

— Então, acho que não deveria ter essa de esperar Lú, você é uma mulher e eu sou homem, por que não fazer... –o interrompo antes que termine.

— Chega Douglas, você já falou demais, pode ir embora por favor?

— Tudo bem, eu vou, mas espero que ainda me dê a chance de comer você, você me deve isso Maria Luíza, passei muito tempo esperando e o mínimo que pode fazer por mim é isso. –fico chocada com o que ele fala, não conhecia esse seu lado.

Douglas sempre se mostrou ser alguém diferente, sempre demonstrou ser compreensivo, carinhoso, romântico, mas a jugar por sua atitude de hoje vejo que me enganei e muito, a única coisa que ele sempre quis de verdade foi me levar para a cama.

— Vá embora Douglas! Agora! –não grito, pois têm clientes no restaurante, mas falo firme para ele sair.

Ele me olha, e seu olhar me dá um frio na espinha, nunca o tinha visto assim, confesso que me deu medo.

Sinto meu estômago embrulhar e corro para o banheiro, lá vomito muito, acho que comi algo que não me fez muito bem.

Faço minha nota mental para ver se a menstruação está em dia, e por sorte está, era só o que me faltava ficar grávida de um homem que nem sei onde se enfiou.

Todas as vezes que estivemos juntos usamos proteção, mas tudo pode falhar e Deus me livre que isso aconteça comigo.

Não gostaria de passar pelo que minha passou, mesmo tendo todo o apoio de minha avó ainda sim ela sofreu muito.

Ser mãe solteira é muito difícil, pude ver de perto minha mãe passar por isso, não cheguei a presenciar, pois ainda não era nascida, mas minha avó também foi mãe solteira. Meu avô morreu quanto minha mãe e minha tia eram muito pequenas e ela nunca casou de novo, trabalhou e criou as filhas sozinha.

Tenho plena certeza que também teria essa força, mas não quero e nem pretendo ter filhos, e se um dia tiver que seja com um pai presente. Não precisar ser meu marido, nem nada, só quero que assuma suas responsabilidades de pai.

Graças a providência divina está tudo ok comigo e vida que segue.

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