capítulo 19

Quando ele disse "quero", senti meu coração batendo mais rápido, mas precisei fazer o que é necessário. Independente de qualquer coisa, essa ainda é a minha obrigação, só não sei até quando.

Me aproximei a passos lentos e comecei a desabotoar os botões da camisa dele. Sentia sua respiração mais rápida na pele do meu braço, o que me deixou bastante nervosa, mas tentei ao máximo me controlar.

── Você está nervosa, Esther? ── perguntou baixo, meio que soprando as palavras.

── Claro que não, Chad. Não seja ridículo. ── respondi firme, agradecendo aos céus por minha voz ter saído mais forte e sem tremer, porque eu fiquei desconcertada por sentir o cheiro do perfume dele de tão perto, e até mesmo o cheiro do seu hálito, que só consta o champanhe que ele tomou no jantar com os pais dele também.

Não falamos mais nada, mas eu senti que ele estava prestando bastante atenção no meu comportamento, mesmo que não enxergue. Chad é um cínico e o ar do quarto dele já estava me sufocando, quando eu encerrei minhas atividades por esse dia e simplesmente saí do quarto dele, em silêncio.

•••

No dia seguinte, acordei mais cedo e bem empolgada para a minha aula, porque a partir de hoje tudo começa a se normalizar, já que aquele clima de volta às aulas não é tão intenso na faculdade quanto na escola. Pelo menos na que eu estudo, mas eu gosto disso e me sinto bastante confortável.

Vesti roupas casuais, bem como as que vesti ontem. Organizei a minha bolsa, cuidei da minha aparência e hoje me deu o trabalho de me comer algo no café da manhã, já que não estou tão ansiosa assim. Maise estava de bom humor também, por isso conversou bastante comigo enquanto eu comia e quando me despedi, ela até me desejou boa sorte e que eu tivesse um ótimo dia.

Depois que eu escovei meus dentes, finalmente sairia de casa. Edward já me espera, então eu só fui caminhando até a porta da frente, encontrando-me com o motorista bem na porta. Ele olhou para mim com sua típica formalidade e só acenou, caminhando na minha frente até o carro, abrindo a porta para mim.

Quando me acomodei, respirei fundo e comecei a refletir em tudo o que me aconteceu nas últimas horas. Ainda há muito para resolver com a mãe do Chad, porque eu sei que ela não vai acatar tão facilmente o que eu fiz, inclusive, fiquei checando o meu celular, as notícias mais recentes a todo momento, mas até agora não saiu nada sobre o Chad e a família dele.

Sei que eu não deveria, mas fiquei muito mais aliviada. E se Joshua não publicar nada? E se a visita dele não tinha segundas intenções?

Bom, tendo em vista as minhas primeiras impressões sobre ele, tenho certeza que só estou me iludindo. Mas, é sempre bom olhar as coisas ruins por um outro ângulo, não é? Eu espero realmente que ele não exponha o Chad, porque ele pode começar a me odiar ainda mais caso isso aconteça.

Eu tentei parar de pensar em todos os problemas que estou envolvida por um momento, até porque preciso focar nas minhas aulas, mas ainda tinha o Chad na mente, além de estar um pouco preocupada com a humilhação a qual a mãe dele pode me submeter por raiva. Eu realmente não quero ser massacrada em rede nacional, Chad já disse que não vai poder me ajudar, ou seja, estou sozinha nessa.

Estou bem ferrada.

Quando cheguei na faculdade, busquei a minha sala rapidamente e, antes do professor chegar, respirei fundo uma, duas, três vezes, tentando buscar calma no âmago do meu ser, porque eu precisarei disso para o meu resto de dia.

•••

"VENHA PARA CASA AGORA"

Foi a mensagem que o Chad me mandou, e olha que eu não estava nem na metade da minha aula. Todas as minhas tentativas de manter a calma foram vãs, comecei a ficar ansiosa ao ler aquilo, e nem prestei atenção nos detalhes mínimos, tais como: Como ele poderia estar escrevendo com letras maiúsculas? Ele é cego, então usa o microfone para que sua fala seja transcrita digitalmente, então como poderia conseguir este feito tão "maravilhoso"?

Simplesmente Chad Victor inovando a tecnologia ampliada para deficientes.

── Srta. Richards, está tudo bem aí?! ── o meu professor perguntou com uma expressão séria, até cheguei a perceber uma interrogação acima da cabeça dele. Suspirei e olhei em volta, a forma como as pessoas estavam me olhando me deixou apavorada, mas eu tentei ao máximo disfarçar e fingir naturalidade perante aquela atenção toda, que eu não estou acostumada e jurei que não iria receber.

── Ah, sim. Está tudo ótimo, só preciso sair. ── joguei todos os meus pertences dentro da bolsa e saí da sala com muita pressa, quase tropeçando nos meus próprios pés ao passar pela porta, mas alguma força suprema me manteve em pé e eu agradeci mentalmente por isso.

Meio que corri até o estacionamento, no caminho tentando digitar os números que condizem com o contato de Edward, porque é óbvio que ele não está aqui a essa hora, não é o horário certo. Eu não sei nem o que aconteceu, mas algo dentro de mim grita avisando que rolou alguma merda, então meu coração já bate acelerado no peito, e a sensação de pânico só piorou quando eu olhei em volta e notei os cochichos e sussurros das pessoas ao redor. Eu cheguei a ouvir até o nome "Chad Ancelotti" e foi isso o que me motivou a correr de verdade até o estacionamento, chegando lá bem rápido.

Não precisei nem procurar, porque, de repente, Edward apareceu na minha frente, me olhando como se eu estivesse louca. Eu sei que estou uma tremenda bagunça, mas ele não precisa me acusar com o olhar desse jeito, já estou me sentindo mal o suficiente.

── O Sr. Ancelotti me pediu para vir te buscar. Por favor, entre. ── quando ele falou isso, olhou em volta e eu arregalei os olhos ao notar algumas pessoas com câmeras em mãos correndo na direção do veículo, então Edward nem pensou e já entrou no carro e eu obviamente fiz a mesma coisa.

O rapaz dirigiu até a casa de Chad com tanta rapidez que eu nem pisquei direito e já estávamos entrando nos portões da casa do meu "marido". Desci do carro com agilidade e pressa e assim que empurrei a porta para abrí-la, já fui abordada com os gritos de Jana, que irrompiam o silêncio gostoso que essa casa costuma estar mergulhada, toda a esfera do ambiente se tornou turva pelo seu surto, eu senti isso sem nem respirar o ar daqui por três segundos.

── Sua desgraçada! ── ela gritou e já veio correndo em minha direção, mas Albert a segurou antes que pudesse encostar em um fio de cabelo meu ── Por culpa sua, todo mundo sabe o que está acontecendo, Esther! Todos sabem que Chad se casou com uma miserável como você, todos sabem de tudo e seu rosto está estampado em todos os jornais! Sua infeliz, eu vou acabar-

── Jana, por favor, se acalma! Não vamos resolver nada com tantas brigas e discussões. ── meu sogro tentou acalmar os ânimos da cobra, mas de nada adiantou. Ela parece possessa e sei que se pudesse acabaria comigo nesse exato momento.

── Eu não fiz nada, está louca?! ── rebati sem entender nada e foi aí que uma terceira voz entrou em cena e eu me arrepiei inteira com isso.

── Esther, cala a boca! ── ordenou Chad, surgindo atrás dos pais dele com a sua bengala em mãos.

── Eu vou acabar contigo, sua vagabunda. Você acabou com a nossa vida, você não merece viver! ── a maldita continuou gritando e eu olhei para o traste com o qual me casei, esperando que ele falasse alguma coisa, qualquer coisa, mas nada.

Chad não disse uma palavra em minha defesa, só deixou que sua mãe continuasse me humilhando de todas as formas possíveis. Ele sabe muito bem que o que eu fiz foi para o bem dele, foi para não vê-lo mofando em casa quando sua família estava jantando e sendo muito feliz sem a sua presença, mas ele não abriu a boca para me defender.

Silêncio da parte dele. Foi tudo o que eu recebi.

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