capítulo 5

── Achei que já tivesse ido embora daqui, Esther. ── ele disse cheio de si, nem sequer virou o rosto na minha direção. Claramente ele me odeia e isso não dói muito porque não o conheço, mas o sentimento de humilhação ainda se faz presente.

Sei que não sou bem-vinda, sei que estou incomodando e isso é tão chato. Eu o entendo e sei que não me sentiria bem caso estivesse em seu lugar, mas não tem nada que eu possa fazer para mudar isso. O que eu queria que ele entendesse é que eu também sou vítima nessa história, não só ele. ── Chad, você precisa se alimentar. ── eu ignorei sua mau criação e ele respirou fundo.

── Não estou com fome. ── disse sem qualquer emoção na voz

── Claro que está, não minta para mim. Você não come nada há horas, não pode ficar desse jeito. ── não esperei uma autorização sua ou qualquer merda do tipo, sabia que ele não iria reagir e também não temos opções.

Chad, surpreendentemente, não falou nada. Não retrucou ao me ouvir pegando uma poltrona e sentando em frente a ele, ou até mesmo quando nossos joelhos se encostaram mediante a nossa aproximação. ── Quanto você ganha para fingir que se importa? ── novamente ele me manda essas perguntas estúpidas e é a minha vez de bufar entediada.

── Por favor, Chad... Pare. ── apoiei a bandeja na cômoda e peguei um copo de suco, lhe entregando e guiando o canudo até a boca dele. ── Eu não quero falar sobre isso.

── Por que não? Parecia decidida a se defender ontem. ── rebateu, rígido.

── Você não vai acreditar em nada que eu disser, não vai adiantar muito eu tentar me defender. ── também o ofertei as frutas que eu trouxe, são as suas favoritas e ele as comeu em silêncio e eu fiquei alegre com isso, já que não vou me preocupar com o fato de ele sentir dores por agora. ── Mas eu só quero que você saiba que eu sinto muito e-

── Não sinta nada, você não me conhece. Não precisa fingir que se compadece, eu odeio isso. ── de repente, quando eu achei que ele iria dar uma trégua, tombei. ── Não vamos ser amigos nem nada do tipo, Esther. Eu não quero e você também não.

O olhei por alguns segundos e notei a sua expressão de mágoa, esta que acaba ofuscando a sua beleza. ── Chad, também não precisa ser assim. Eu só-

── Você só está aqui por dinheiro. Aceitou esse casamento por dinheiro e vai recebê-lo de qualquer jeito, não precisa tentar ser a minha amiga ou qualquer coisa do tipo. ── ele não me deixou falar e foi convicto em suas palavras. ── Não adianta fingir qualquer coisa só para amenizar a nossa situação, não tem como.

Me irritei profundamente com esse comentário, com o fato de ele não me deixar falar qualquer coisa e sempre estar me acusando, me alfinetando como se eu não valesse nada. Chad é um homem bem insuportável quando quer, então decidi não falar nada e deixar que ele pense de mim o que bem quiser. De fato, não vai adiantar eu tentar me defender, porque ele criou uma versão deturpada minha na sua cabeça e ainda acredita veementemente nela.

O que me resta é provar (com atitudes) que ele está errado ao meu respeito e que eu não sou esse monstro que ele está pensando.

•••

Logo depois de Chad comer, eu lhe dei o seu remédio e ele foi dormir. Não falou nem um "obrigado", mas eu não estava esperando por isso e nem me surpreendi pela sua falta de educação. Seria surpreendente mesmo se ele agradecesse, já que é um babaca arrogante e mal-agradecido.

Voltei a ficar enfurnada em meu quarto, não sai em nenhum momento. Comecei a ler o livro que estava planejando, só até o horário de Chad almoçar chegar.

Pelo visto, precisarei secundarizar a minha vida para viver a do Chad, mas olhando por um lado ("bom"), eu acho que isso vai tornar a minha vida menos tediosa e eu vou poder me distrair com algo, me ocupar com responsabilidades importantes e assim eu não vou ter tempo de ter pensamentos intrusivos e destrutivos.

Após alguns minutos, saí do quarto para conhecer as redondezas, analisar o jardim onde Chad passeava com seu antigo cuidador, porque sei que vou precisar andar com ele também. Não acho que seja bom se manter no quarto o dia inteiro, e Jana me disse que seu filho faz isso frequentemente, já que só aceitava sair com Jackson vez ou outra, e era muito raro de isso acontecer.

Chad tem uma casa simplesmente incrível. É grande, espaçosa, não é luxuosa mas é muito bonita, e aconchegante. É muito confortável, você pode se sentar na sala e observar o jardim, a piscina, daqui de dentro mesmo por causa das portas de vidro. Grande parte desse andar de baixo é revestido por vidros e isso me faz pensar no trabalho que deve dar para limpar. ── O que está fazendo aqui? ── foi Maise quem me perguntou isso, ao chegar de supetão.

── Eu só estava-

── Não deveria estar aqui. ── essa velha é bastante insuportável pelo que pude perceber. Isso me irrita bastante, porque, pelo que parece, ela simplesmente não dá um tempo e não sai do meu pé. Age como se eu fosse uma adolescente inconsequente e eu odeio isso! ── Por favor, me acompanhe.

── Só estava conhecendo o jardim, não estou fazendo nada demais. ── eu me defendi e a vi erguendo a sobrancelha ── Eu não sou uma criança, sei distinguir o certo do errado e não preciso que você fique no meu pé o tempo inteiro, Maise.

── Eu trabalho aqui e sou responsável pela organização dessa casa. ── ela me retrucou.

── Não estou desorganizando nada. Você está me vendo bagunçando qualquer coisa aqui? ── perguntei de forma rude e a resposta que recebi foi o silêncio ── Preciso conhecer a casa, você sabe que eu vou acompanhar Chad agora. Não estou entendendo essa perseguição. Qual é a sua?

Não costumo agir desse jeito com as pessoas, mas estou farta. Só estou aqui há dois dias e só fui tratada como um lixo. Sei que a situação que me trouxe aqui não foi nada agradável, mas custava algo pelo menos ela ser cortês comigo? Essa velha parece querer me esganar a cada passo que eu dou. ── Senhorita, você está me desrespeitando.

── E você? Está fazendo o que comigo agora? ── indaguei quase que instantaneamente. A olhei de cima a baixo e foi num lapso de segundos que sua expressão dura se desfez e ela suspirou

── Eu... Olha, me desculpe. Foi o Sr. Ancelotti que me pediu para te vigiar. Não costumo ser tão rude, mas ele me falou tantas coisas horríveis sobre você. ── ela disse com mais calma e eu enruguei as sobrancelhas.

── Não sei se acredito nisso. ── é claro que eu acredito, Chad me odeia e não faz questão de esconder isso.

── Chad não confia em você, senhorita. Digamos que o casamento de vocês foi um tanto quanto-

── Inesperado? Odiado? Não aceito por ele? ── mandei as respostas mais óbvias e ela não falou nada ── Bem como eu imaginava. Mas não se preocupe, estou voltando para o meu quarto agora mesmo. E eu também não ligo para o que o Chad pensa de mim. ── não esperei nem que ela me respondesse, só saí andando e não olhei para trás.

De qualquer forma, eu sei que Chad tem razão em não confiar em mim. Mas não consigo não ficar magoada pela rejeição, não que eu esperasse que seria aceita logo de cara.