capítulo 15

Eu não vou mentir, até gosto de dar comida ao Chad. É bem legal e eu me distraio um pouco, além do mais, ele fica tão bonito comendo e concentrado que eu me perco em seus traços maravilhosos. Acho muito inacreditável como alguém pode ser tão bonito. Chega a ser injusto com outras pessoas. Claro que eu nunca vou falar nada para ele, já que é extremamente arrogante.

── Leve isso daqui, não quero tomar nenhum remédio. ── ele simplesmente mandou essa depois de almoçar e eu resmunguei silenciosamente. É sério que vai dar uma de criança mimada logo agora?

── Chad, você não pode negar tomar os seus remédios. Como vai melhorar? ── questionei sem nem perceber, ou pensar antes de falar.

── Eu não quero melhorar, Richards. Leva isso daqui agora, eu não vou tomar essa porcaria! ── falou mais alto, quase gritando comigo. Posso jurar que senti as janelas de vidro balançando com tamanha brutalidade, fiquei até assustada.

── Eu não vou sair daqui sem você tomar isso, Chad! É a minha responsabilidade, eu não quero que você acabe morrendo! ── rebati no mesmo tom, e ele parou por um segundo, sorrindo sem humor.

── Você não entende, nunca vai me entender.

── Como vou entender qualquer coisa se você não fala? Você só me afasta, Chad! Eu não sou mágica, não tenho uma bola de cristal para saber o que está acontecendo com você! ── respondi com bastante irritação e ele jogou o copo vazio na mesa, mas não quebrou. Inacreditavelmente.

── Do que vai adiantar eu te contar qualquer coisa? Você pode me ajudar, Richards? Você não pode fazer nada por mim! Não finja que se importa, eu sei muito bem que você está aqui por dinheiro, tudo o que move você, a minha família, a sua família, tudo o que move o mundo é dinheiro e eu já estou farto disso. Farto! ── ele meio que desabafou e eu juro que senti meu coração de despedaçar. Porque ele tem razão, em partes.

── Eu já disse um milhão de vezes que estou aqui porque fui obrigada, eu não aceitei dinheiro para me casar com você, Chad! Para de insistir com esse assunto, mas que saco! ── eu gesticulo enquanto falo, de tão nervosa que estou. É tão frustrante ter isso jogado na minha cara tantas vezes. Uma inverdade, meu Deus. Ele prefere acreditar numa mentira do que me ouvir.

── Mesmo assim. Você não entende que isso não importa? ── a voz dele ganhou um tom mais baixo, como se estivesse cansado. ── Já que você quer tanto saber, eu vou te dizer. O que aconteceu é que a minha família tem vergonha de mim, eles não me querem por perto nem nas reuniões de família por eu ser cego. Você tem ideia do que é ser rejeitado pela própria família, Esther? Eu estou sendo humilhado, posto para trás como se não valesse nada. Meus próprios pais viraram as costas para mim no momento que eu mais precisei, eu só precisava ser amado e eles me jogaram em casa sem qualquer contato com os seres humanos e agora me mantém em cárcere privado, dentro da minha própria casa!

Chad cuspiu as palavras com tanta seriedade e nervosismo que eu fiquei sem saber o que dizer por um momento. Porque a sua situação é realmente crítica, eu não faço ideia do que fazer para ajudá-lo, mas queria que ele entendesse que não precisa passar por tudo isso sozinho. Eu já estou aqui, então se estou na chuva, não vai custar nada me molhar, porque agora eu sei que ele não tem culpa de ser um cretino. Toda a sua amargura com as pessoas ao redor é culpa da família dele.

── Chad...

── Você não precisa tentar me ajudar ou dizer qualquer palavra "amiga" porque está estudando agora. Você não está em dívida comigo, eu só-

── Meu Deus, só cala a boca. ── o interrompi antes que falasse algo que fosse me deixar muito brava ── Você precisa parar com isso, Chad.

── Eu não sei o que você quer que eu faça. Com certeza se estivesse na minha pele agiria da mesma forma, porque ninguém nessa droga de família me ama, Esther! Ninguém. Eu sou só um boneco que eles brincaram por muito tempo e agora que estou "quebrado", me jogaram no porão de casa e me esqueceram lá. Você tem ideia do que é se sentir desprezado? Sentir que não é amado? ── só agora eu notei que ele me chamou pelo nome e não imaginei que poderia ouví-lo se referir a mim com ele. ── Você não sabe o que é isso, então não sei como ainda acha que pode-

── Eu sei o que você está sentindo. Sei como é ser desprezado, sei como é ser tratado com indiferença e não ser amado de verdade. Eu sei de tudo, Chad. Eu sei porque também passei por isso, então para de me julgar por um segundo. Essas semanas que você passou comigo não são o suficiente para você saber tudo sobre mim. Você acha que sabe, mas não sabe de nada. Eu não sou esse monstro que você está pensando, eu não sei como pode pensar isso de mim. ── novamente eu me vi fazendo algo que não tenho o costume, que é interromper as pessoas quando estão falando.

Mas, poxa, até mesmo quando eu tento ajudar ao Chad ele faz isso. Por que ele sempre tem que me julgar? Por que ele sempre tem que agir como se me conhecesse há um longo prazo? Ele não pode fazer isso, e não vou parar de me defender, eu não mereço ser julgada assim. ── Você não é indigno e a sua cegueira não é empecilho para você viver em sociedade. Sua família está sendo injusta com você, mas você não precisa acatar isso, Chad. Você já é um adulto, é maior de idade e se sustenta sozinho. Você definitivamente não precisa de nenhum deles para viver, então por que ainda viver sob as rédeas dos seus pais?

Quando ele fez menção de responder, eu continuei ── Eles estão sendo uns babacas com você, mas é você quem está se deixando ser comandado por todos eles. Se você quer fazer algo, faça sem se importar com o que vão pensar. Acho melhor você viver a sua vida e parar de viver debaixo das asas da tua mãe, Chad. O que te impede de viver a tua vida? Por que você já é um adulto e pode cuidar de você mesmo. Tudo bem que tem seus cuidadores, mas não são eles que pagam o salário deles. Por que viver assim? Você acha que é justo com você? ── falei tudo o que eu penso de uma só vez e quando o analisei melhor, percebi que está um pouco ofegante.

Espero não ter dito qualquer besteira, mas é tudo o que eu acho. Eu sei que acabei de chegar, mas é inadmissível a forma como a família dele o trata. Eu fico brava com tudo isso, principalmente pelo fato de ele não fazer nada para mudar isso. Porque ele pode. Chad pode mudar essa situação e dar a volta por cima, mesmo que pense que não deve. ── O que você está querendo dizer? Você ouviu a conversa que tive com a minha mãe? ── perguntou meio chocado e eu arregalei os olhos, sem acreditar que depois de tudo o que eu disse, ele prestou atenção só nesse detalhe inútil.

── Você acabou de falar isso, Chad. Presta mais atenção no que importa, pelo amor de Deus!

── Seja mais clara, eu não estou entendendo o que você quer dizer. ── falou com tédio e eu me joguei na cama dele, bufando entediada. Agora é a minha vez de me sentir assim.

── Estou dizendo que você precisa se impor, Chad. Chega de agir como um adolescente regrado pelos pais, que depende deles para tudo. Sei que são seus pais e você os deve respeito, mas eu só estou te aconselhando a não deixar que eles controlem e te magoem assim.

Chad não me respondeu de imediato, somente digerindo as minhas palavras. Eu não estava esperando que ele acatasse os meus conselhos, mas pelo menos eu tentei. Só não quero me sentir totalmente inútil o vendo ser feito de palhaço pela própria família e ao menos tentar ajudar. Eu sei que nada que eu faça vai adiantar qualquer coisa, mas pelo menos estou tentando.

── Você acha que eu devo jantar com a minha tia hoje? ── já foi direto ao ponto, e eu me animei um tanto quando notei que seu tom de voz mudou. De repente, ele pareceu interessado no que eu tenho a dizer.

── Espera, eu não-

── Ah, não se faça de sonsa, Esther. Sei muito bem que estava ouvindo a minha conversa com a minha mãe, eu não sou idiota. ── me interrompeu impaciente ── E então? O que você acha que eu devo fazer?

Respirei fundo e não vi outra alternativa a não ser expor a minha opinião. Porque eu acho sim que ele deve ir. ── Depois de tudo o que eu falei, você ainda está em dúvida a respeito do que eu penso?

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