capítulo 18

Logo após o jantar, um aparente clima mais leve pairou no ar. Uma música clássica começou a tocar e eu deixei Chad na companhia da tia dele por um momento, os encarando apenas de longe. O ajudei com sua comida, e percebi que ele estava bem tenso e nervoso, mas fiz o possível para o deixar confortável, sem nem entender o porquê.

Chad não me ama e eu não o amo. Nosso casamento é mais falso que a mãe dele, mas eu ainda sinto essa necessidade de... Cuidado, eu não sei a razão. Não sei se é pelo fato de ele ser uma pessoa tão sofrida e eu me compadecer da forma como sua família é injusta e o destrata, ainda é um mistério para mim. Mas eu me vejo tentando fazê-lo se sentir bem e confortável sem qualquer explicação plausível, porque desde que me conheceu, Chad só me humilha também.

Desde a nossa primeira interação, desde a primeira palavra que trocamos, eu me senti diferente a respeito dele. Senti algo estranho, que eu claramente não sei explicar. E também não quero.

Enquanto eu tentava entender a minha situação, bebia um pouco do champanhe que o pai de Chad abriu para comemorar a visita da sua irmã. Estava bem sozinha, só observando a interação do "meu marido" e da tia dele, até que Joshua chegou de repente, me assustando. ── Me desculpe por chegar assim, não queria te atrapalhar ou assustar. ── lamentou com um sotaque bem pesado, o que me fez perceber que ele pode não ter nascido nas redondezas.

── Ah... Está tudo bem! ── eu sorri, sem saber exatamente o que devo dizer em resposta ao seu comentário ── Eu só estava um pouco distraída, mas nada demais.

Quando respondi, fiquei em silêncio, porque não sabia se deveria falar mais alguma coisa. Todavia, Joshua parece convencido a conversar. Ele se aproximou mais e eu ergui uma sobrancelha, tomando mais um gole do meu champanhe. ── Seu casamento com o Chad é real mesmo ou meus tios só arranjaram ele para não deixar o meu primo sozinho? Ninguém se casaria com o Chad. Além de ser cego, é arrogante e presunçoso.

Eu não acreditei no que ouvi. Me senti extremamente ofendida com isso, mesmo que seja verdade. Eu me casei com o Chad através de um casamento arranjado, fui obrigada mesmo. Não nos amamos e eu sei que se estivéssemos em outras situações, ele jamais olharia para mim. Com certeza eu não serviria nem para lavar as cuecas dele, tendo em vista o seu patamar na sociedade. Mas falando desse jeito... Joshua soa totalmente sem noção e insensível.

Parece não nutrir nenhuma consideração pelo próprio primo. Um grande babaca! ── Não estou entendendo esse comentário, Joshua. ── falei com uma expressão séria e o vi revirar os olhos ── Você está me ofendendo. Está insinuando o quê, exatamente?

── Calma, Esther. Não me leve a mal... Só estou dizendo que você não precisa fingir que o ama e se importa. Você é uma garota bonita e elegante, porque perderia seu tempo com alguém como o Chad?

Eu não conheço este homem e agora eu realmente agradeço por isso. Será possível que não há ninguém nessa família que valha algo? Pelo amor de Deus. É simplesmente inadmissível a forma como tratam o Chad.

A cada dia que passa, e quando mais eu conheço esse pessoal, percebo que conviver com os meus pais adotivos é menos torturante do que conviver com eles. Acho que nunca precisei lidar com a superficialidade dos meus pais adotivos, porque eles só fingiam ser o que não eram perante pessoas ricas e com mais condições que eles, inclusive, a família a qual eles me obrigaram a fazer parte depois do casamento de Bryant com a irmã do Chad ter dado errado.

── Por favor, saia de perto de mim. Eu não quero ouvir nada do que você tem a dizer. ── eu mesma saí de perto dele sem esperar qualquer resposta, e fui andando com cuidado até chegar ao Chad, que já parece bastante entediado, então preciso dar um jeito e levá-lo para casa.

No caminho até a sala de estar, nem cheguei perto do Chad e acabei encontrando a minha sogra que ainda está muito brava. Iria passar direto e ignorá-la, mas senti sua mão agarrando o meu pulso, e quando tentei me soltar, ela apertou ainda mais e eu soltei um gemido baixo quando suas unhas entraram em contato com a minha pele e ela continuou apertando, como se quisesse rasgar e me ver sangrar.

── Me larga agora! ── eu exigi num tom rígido, olhando diretamente para os olhos dela, sem demonstrar quaisquer resquícios de estar intimidada com a sua cara velha.

── Sei que essa palhaçada é coisa sua, Esther. E quero te dizer que sua autoridade aqui vai durar pouco. Você errou ao me desafiar desse jeito, se queria uma inimiga, acabou de conseguir. Não vou te perdoar pelo que me fez passar, você humilhou a mim, ao meu marido e ao meu filho. Sua desgraçada, você não merece nem estar viva! ── cuspiu as palavras com tanto ódio que chegou até a me surpreender, porque nunca presenciei algo assim antes. Ninguém nunca se dirigiu a mim dessa forma.

Nem mesmo a minha mãe, que tanto me odeia, simplesmente por eu não ter sido gerada dentro dela. ── Você ainda me culpa por não amar e respeitar o seu filho devidamente, Jana? ── questionei, neutra ── Pelo amor de Deus. É ridícula a forma como você age, como se eu tivesse cometido um crime contra a humanidade. Só trouxe o Chad para esse jantar porque ele queria muito participar desse momento com a tia dele. Nem você, nem o seu marido ou qualquer outra pessoa pode impedí-lo de viver. O fato de ele estar cego não o restringe de qualquer coisa. Você é simplesmente ridícula, Jana. Ridícula.

Somente quando eu falei tudo isso que me lembrei das palavras do Chad e da Maise. Eles me pediram para ter cuidado ao falar com a Jana, mas como eu poderia? Céus, essa mulher é tão estúpida e sem noção, é quase impossível me manter calma perto dela. É desumano o que ela faz com quem saiu do seu próprio útero, eu fico indignada com essa desconsideração.

A mulher não teve qualquer reação, mas foi levantando a mão para bater em mim novamente, mas não chegou nem a encostar no meu rosto, pois a voz de Chad interrompeu-a. ── O que está acontecendo aqui? ── indagou ele, chegando de supetão ao lado de Anastasia.

── Nada, filho. Só estou tendo uma conversa com a minha nora. Não é, querida? ── disfarçando, Jana tentou tocar em mim mas eu rapidamente desviei, a olhando mortalmente.

Me virei para o Chad e dei alguns passos até chegar bem perto dele. Agarrei a sua mão e olhei para a sua tia, que nos encara em choque, sem entender nada. ── Obrigada pela sua visita, Anastasia. Fico muito feliz em te conhecer, você é uma mulher incrível. ── eu falei sorrindo, pois estou dizendo a mais pura verdade. Ela só poderia ser irmã do Albert, porque não teria como ter o mesmo sangue de Jana.

── Querida, eu também adorei te conhecer. Estou muito feliz por vocês dois também, espero que bençãos recaiam sobre a vida de vocês e tenham muitas realizações. ── mesmo confusa ela também sorriu.

── Quando quiser ir lá em casa pode ficar à vontade. Chad vai adorar te receber! ── eu comentei olhando para ele, esse mesmo impulso que eu tenho, mas rapidamente tentei disfarçar.

── Sim, eu vou mesmo, tia. Obrigado pela sua visita, espero que apareça de novo, em breve.

Ao nos despedirmos devidamente, finalmente saímos daquela casa e eu pude respirar mais tranquilamente. Nem olhei para o Joshua, e também não tive qualquer contato com ele, nem mesmo visual. Que cara mais ridículo e sem graça, mesmo sendo um desgraçado, Chad ainda é melhor que ele.

── Você não ouviu nada do que eu te disse, Esther. Brigou com a minha mãe de novo! ── e eu nem superei a minha discussão com Jana e ele já vem com esse papo novamente.

── Você ouviu?

── Claro que eu ouvi. Minha mãe vai acabar com você e eu não vou poder fazer nada para ajudar. Entende isso? ── rebateu com muita raiva e eu respirei fundo.

Chegamos em casa e eu o guiei até o quarto dele. No caminho, viemos conversando; Chad insiste em achar que eu conseguiria ficar calada mediante tantas humilhações. Não sei em que mundo ele vive, mas com certeza não é o mesmo que o meu. ── Eu sei que é difícil, mas não é impossível. Esther, a minha mãe não suporta que a desafiem, e você já fez isso quando me levou ao jantar, só piorou tudo quando falou daquele jeito com ela.

O engraçado é que ele está realmente sério e está disposto a levar essa "discussão" à frente, mas eu não. Já estou cansada de brigar, e por hoje, já chega. Só quero tomar um banho, deitar na minha cama e dormir para que amanhã bem cedo eu possa estar na faculdade. Mas acho que é pedir muito.

Observei ele brigando com os botões da sua roupa, tentando tirá-los e falhando miseravelmente. ── Você quer ajuda com isso aí? ── perguntei, ignorando o seu surto.

── Com o quê?

── Com a roupa, oras. ── ofereci a minha ajuda sem nem pensar direito. Estou com dor de cabeça, com sono e quero dormir, mas também não posso sair sem ajudá-lo, porque está bem tarde e Maise não vai poder fazer isso agora.

Chad pensou um pouco, respirou fundo e então, vi as mãos dele caindo em suas pernas. ── Quero.

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