capítulo 3

No dia seguinte, bem cedo, eu já estava acordada. Na verdade, não consegui nem pregar o olho na noite anterior, simplesmente por estar em um lugar novo, além das palavras duras e nada gentis que Chad direcionou a mim. Ele realmente não foi nem um pouco cortês, e a cada vez que eu lembrava da forma como ele foi desnecessariamente grosso comigo, eu sentia uma pontada no coração.

Como já me era de costume, eu chorei. Chorei até quase desidratar e meu corpo cansar de tanta angústia e eu simplesmente cair no sono. Hoje, quando levantei e me olhei no espelho, notei as minhas lágrimas secas nas bochechas.

Tomei um bom banho, lavei o cabelo e tentei ao máximo relaxar. Assim que terminei, vesti roupas confortáveis e tomei um remédio para dor de cabeça, logo em seguida um antialérgico. Penteei os meus cabelos e coloquei um perfume, e pensei duas vezes antes de sair do quarto para dar de cara com a família Ancelotti, mesmo que estivesse com muita fome.

Eu fiquei realmente confusa e permaneci ali no quarto, até que bateram na porta e quando atendi, percebi se tratar da mesma mulher que me guiou até o quarto do bruto do Chad ontem. Ela ostentava a mesma expressão séria e foi cirúrgica em suas palavras, novamente, sem me dar brecha para retrucar: ── Estão te esperando para tomar café, Richards. ── e simplesmente virou as costas e saiu andando, agilmente desaparecendo das minhas vistas.

Respirei bem fundo e optei por ir, até porque estou morrendo de fome também. ── Bom dia, Esther. ── Jana disse alto e em bom som, e sorriu para mim alegremente, algo que eu vi como uma tremenda falsidade, mas não ia fazer cara de nojo logo agora, porque o pai de Chad também está aqui e ele me olha de cima a baixo, fazendo uma espécie de análise que eu não entendi muito bem, mas tentei ignorar para não ficar tão nervosa com isso.

── Bom dia. ── fingi um sorriso e me sentei ao lado de Chad, por sinal, a única cadeira que havia disponível. Parece até que fizeram isso de propósito.

── Você dormiu bem? Como foi a sua noite? ── Jana continuou fazendo perguntas, como se para quebrar o gelo e eu respirei fundo, sentindo meu coração acelerado.

── Foi boa, muito obrigada. Eu dormi muito bem também. ── ouvi Chad bufando ao meu lado, como sempre bem entediado e eu não posso julgá-lo por isso agora, porque eu também estou me sentindo assim. Na verdade, sequer queria estar aqui, mas eu não respondo por mim.

Infelizmente não respondo.

Vez ou outra, eu olhava para o rosto dele e me assustei ao notar o quanto é bonito. Chad tem longos cabelos pretos (na medida certa, claro), sua barba está um pouco grande, mas ele ainda continua muito bonito ao meu ver. Seu rosto, ao contrário do que muitos espalham por aí, é completamente limpo, além de algumas tatuagens espalhadas pela sua pele parda.

Mesmo estando sempre em casa, ele ainda tem algumas marcas de sol, o que me faz perceber que está bem cuidado. Jackson era um bom cuidador. ── Mãe, cadê o Jackson? Eu não o encontrei hoje pela manhã e quem foi me avisar da sua ausência foi a Maise. Por que ele não veio hoje? ── perguntou Chad, em um tom alto e bem rude, o que me faz perceber que ele quer uma reposta urgentemente.

── Filho, então... ── Jana ameaçou falar algo, mas seu marido foi mais rápido em a interromper.

── Jackson foi despedido, porque agora você tem uma esposa que tem condições para cuidar de você. ── disse o pai dele e foi muito mais rígido que o filho ao falar. O Sr. Ancelotti olhava para Chad com firmeza, mas como ele não pode ver, não tem como fazer muita coisa.

── Por que não me comunicaram antes de tomar uma decisão como essa? ── retrucou ele, com o maxilar travado ── Não podem me jogar nas mãos de uma qualquer e esperar que eu me vire. As coisas não funcionam assim, eu sou maior de idade! Posso tomar minhas próprias decisões sozinho. ── suas palavras voltaram a ser duras e sem nenhuma misericórdia ele me alfineta.

Afundei na cadeira em que estava sentada ao mesmo tempo que sentia minhas bochechas pegando fogo. Me sinto deslocada e humilhada, o pior é não ter o que fazer para mudar isso e simplesmente não poder sumir sem nem olhar para trás. Eu acho que estou começando a odiar os meus pais, que me obrigaram a isso por causa de alguns milhões de dólares.

── Todos sabemos que você é maior de idade, Chad. Mas está sob nossos cuidados por estar doente. Eu e a sua mãe achamos que seria bom te arranjar uma esposa, podemos confiar na Esther porque ela é uma boa mulher e vai te tratar bem, muito melhor do que o Jackson. ── eu queria pensar que Albert está falando isso para me defender, mas sei que é somente para defender os seus próprios interesses.

── Duvido muito que ela possa me tratar melhor que ele. Qual a formação dela? ── perguntou ele, ácido

── Não interessa qual a formação dela, garoto. Ela vai cuidar bem de você e ponto final. Sem birra, você é grandinho demais para isso. ── eu olhei para Jana e a notei nervosa enquanto observa seu marido e filho.

── Vocês não podem simplesmente me entregar na mão de uma adolescente e achar que ela vai cuidar de mim, eu sou um adulto cego e não uma criança. Vocês querem me matar? Era só me mandar para a Suíça, onde-

── Não fala besteiras, Chad! Nós te amamos, meu filho. Você é o nosso bebê, nosso primogênito. Nunca iríamos querer o seu mal. ── Jana interveio na discussão e Chad se remexeu desconfortavelmente na cadeira em que estava sentado ── Achamos que seria bom casar você com a Esther. Vocês podem criar laços e se tornarem mais íntimos, assim você será cuidado por alguém em que fica mais confortável. ── tentou explicar, mas não parecia adiantar muito.

Chad é insuportavelmente chato e irredutível quanto a uma ideia já formada em sua mente, pelo que pude perceber. ── E ela não é uma adolescente, tem 23 anos, Chad. Não seja tão chato, a menina só quer te ajudar.

── Ela não quer me ajudar, mãe. Só está aqui por dinheiro, será que você ainda não entendeu?

Nossa, como eu gostaria que um buraco se abrisse embaixo de mim e me engolisse nesse exato instante. ── Chad, por favor... ── eu tentei falar alguma coisa, tentar me defender, mas ele bateu com muita força na mesa

── Não fala comigo! Ninguém te chamou na conversa, sua interesseira! ── gritou alto e por alguns segundos, tudo ficou no mais puro e desconfortável silêncio ── Por que você simplesmente não vai embora?

── Eu...

── Chad, já chega de tanta briga! ── Albert retrucou, me impedindo até mesmo de falar algo que eu tenho certeza que me arrependeria mais tarde ── Mesmo que você seja contra esse casamento, o que foi feito não pode ser desfeito. Agora Esther é a sua esposa e você precisa aceitar isso. Como o seu pai eu a escolhi e exijo que você a respeite.

── Querido, coma um pouco. Esther vai te-

── Eu não quero, mãe! Mas que droga! ── ele está realmente muito bravo e não quer conversar e nem ouvir as explicações dos seus pais ao que fizeram.

Me sinto um lixo de ser humano, mas não é como se eu pudesse fazer alguma coisa. Não fui eu quem escolhi isso, não é por mim que estamos casados. Eu só não quero que ele continue me tratando como se eu fosse indigna até mesmo de estar respirando o mesmo ar que ele.

Depois de gritar e expelir toda a sua irritação, ele simplesmente pegou a sua bengala e, com a ajuda de Maise, ele saiu andando sem nem tocar no café da manhã. ── Eu só quero voltar para o meu quarto. ── falou antes de se retirar.

Os pais dele me olharam com um peso no rosto, e eu fiquei ainda mais envergonhada. Por sorte, não falamos nada. Até porque não precisava.

Bom, pelo visto, minha vida se tornou ainda mais difícil do que já era.

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