capítulo 16

Ele ficou pensativo, então me animei muito mais. ── Acho que os meus pais não vão gostar de me ver lá. E eu não posso ir sozinho, não posso comer sozinho, você sabe disso. ── sua expressão emburrada não me passou despercebido.

── Que bobagem, Chad. Se estou te propondo isso, posso ir até lá com você. Eu não me importo, se você também não se importar para mim não haverá problemas em te acompanhar. ── falei com toda a sinceridade do meu coração, mas ele não parece totalmente convencido.

── E o que você quer em troca?

── Por Deus, você não consegue aceitar a ajuda dos outros de bom grado? Acha que tudo é interesse? ── voltei a ficar nervosa com ele ── Chad, você precisa parar com isso. Eu estou me dispondo a te ajudar, te acompanhar sem falsidade e é assim que você fala?

── O que você quer que eu faça, Esther? As pessoas nunca fazem o bem por fazer, é sempre esperando algo em troca. Além do mais, todos que se aproximam de mim têm interesse em algo. Você só precisa dar o seu p-

── Não, eu não aceito continuar ouvindo tantas barbaridades. Acho bom você ficar quieto, Chad. ── levantei da cama e recolhi todos itens usados por ele, empilhando tudo na bandeja de ferro que trouxe comigo ── Quer saber? Esqueça isso. Esqueça que eu tentei te ajudar, você não quer ser ajudado e eu só perdi o meu tempo tentando.

Quando fiz menção de sair pela porta, ouvi a voz dele: ── Tudo bem. Iremos jantar com a minha família hoje à noite. Por favor, esteja pronta pouco antes das oito, precisamos chegar cedo. ── era tudo o que eu precisava ouvir. Um sorriso cresceu em meus lábios, mas eu não respondi, só saí do quarto dele, o deixando sozinho.

Estou surpresa, não esperava que Chad fosse levar em consideração o que eu propus, mas fico feliz em saber que concordou. Só quero ver a cara da mãe dele quando nos ver em sua casa para jantar com a tia do filho dela. Provavelmente, ela vai me odiar mais por me envolver nos assuntos da família Ancelotti, mas eu não me importo. Só quero que Chad seja feliz e fique bem, se sinta vivo novamente e prendê-lo, escondê-lo das pessoas não vai ajudar nesse processo de superação e aceitação.

Minha animação foi evidente durante todo o dia, até mesmo a Maise percebeu e me questionou sobre isso. Quando eu falei o que faria mais tarde, ela ficou muito surpresa, e perguntou como eu consegui convencer o Chad a ir ao jantar, já que a família dele tem feito uma espécie de lavagem cerebral na cabeça daquele homem.

Nem eu sei o que fiz, mas é excitante saber que consegui. Estou super ansiosa para saber o que vai acontecer. Nunca me senti tão curiosa e ansiosa antes. Espero que não dê errado.

Chad me odiaria.

•••

Eu vasculhei meu closet em busca de roupas para o jantar, bem cedo para não acabar me atrasando. Tomei banho, lavei e hidratei o meu cabelo, logo em seguida sequei e escovei. Ficou muito bom, mas depois decidi fazer umas ondinhas para o penteado não ficar tão simples.

Coloquei as roupas que havia escolhido muito antes de entrar no banho. Eu optei por vestir preto, nada tão elaborado para não acabar chamando atenção indevida, além do mais, iremos só nos deslocar até a casa vizinha a do Chad no condomínio, então não é necessário que eu capriche tanto, mas ainda sim preciso cuidar da minha imagem. Porque eu quero passar uma boa impressão para os que me verão.

Também não quero envergonhar o Chad. Mesmo que eu não seja a mulher que ele escolheria para casar se não estivesse cego, se estivesse apto e afim de se unir matrimonialmente a alguém, eu ainda quero ficar bonita para dar um up no visual.

*****inspiração*****

Olhei-me no espelho e por gostar do que vi, eu sorri e fiz uma leve maquiagem, só para esconder algumas marquinhas no meu rosto e cravos que apareceram na última semana. Borrifei na minha pele o meu melhor perfume e quando me vi pronta, eu não demorei e já fui de encontro ao Chad.

Fiquei sabendo que ele odeia atrasos. Gosta de chegar cedo aos seus compromissos, mas hoje é um dia especial, mais importante. Não sairemos do condomínio, mas é a primeira vez que ele vai desafiar e desobedecer aos seus pais, então eu acho que esse dia é memorável e se eu pudesse, colocaria uma câmera escondida em alguma parte de mim só para capturar a reação dos meus sogros ao nos verem lá para poder ficar assistindo quando estiver entediada.

Bati na porta de Chad e ele me pediu para esperar um pouco. Ouvi a voz de Maise lá dentro, então creio que ela esteja o ajudando a se arrumar.

Fiquei aguardando no corredor bem impaciente, a ansiedade parecia me queimar por dentro. Eu estou louca para chegar na mansão dos pais de Chad logo, creio que a reação dos dois vai ser impagável, principalmente por Jana ter mentido e dito a tia do filho que ele estava doente e por isso não poderia vê-la. Imagina a humilhação? Chad supostamente "doente" aparecer lá seria no mínino bem suspeito.

Só quero saber a desculpa que a cobra da Jana vai inventar para o que fez.

Quando eu já estava perdendo as esperanças de que Chad sairia do quarto, a porta se abriu e eu me surpreendi com a aparência dele (de novo). Sua barba está bem aparada, os cabelos bagunçados, e estava vestido com roupas pretas. Surpreendentemente, optou pela mesma paleta que eu hoje. Juro que meu queixo quase foi ao chão e a Maise percebeu tudo, pois até deu uma risadinha cínica.

*inspiração*

── Gostou da minha roupa, Esther? ── perguntou ele, meio que tentando reprimir um sorriso

── Gostei sim, está muito bonito. ── respondi, tentando fingir naturalidade. Mas na verdade, não consigo parar de olhar para ele. Senhor, que tentação esse homem é. Por que tinha que ser assim?

Me sinto até mesmo indigna de estar perto dele, mas ao mesmo tempo sei que só estou porque fui obrigada e se ele enxergasse e vivesse sua típica vida antiga, jamais olharia para mim. Jamais mesmo. ── Que bom. Podemos ir? ── ele estendeu o braço em minha direção, num gesto de cavalheirismo que até me surpreendeu, porque ele é tão cavalo no dia-a-dia que eu não imaginei que poderia haver um homem educado dentro dele, capaz de algumas bondades e cordialidades.

Entrelacei o meu braço ao dele para que pudesse o guiar até a saída. Maise nos acompanhou por segurança, porque eu já sei que ela não confia nem um pouco em mim, mas me acostumei e acho bom que ela esteja sempre averiguando quando estou com o Chad, porque eu também não confio em mim.

Saímos de casa e um dos seguranças se dispôs a guiar o Chad até o quadriciclo que nos levaria até a mansão dos pais dele. No fim, tudo ocorreu bem e quando chegamos, cerca de quinze segundos depois, eu o notei bem nervoso. ── Ei, você não precisa ficar desse jeito. É a sua família, Chad. ── eu entendo como ele se sente, por isso não julgo.

── Eles vão surtar por me ver aí. ── respondeu neutro, e quando eu o observei melhor, vi que não está nervoso coisa nenhuma. Tudo o que sente é excitação, a mesma que eu senti quando descobri que viríamos. ── Olhe em volta, Esther. Você está vendo algum outro carro que não seja a BMW do meu pai? ── perguntou com paciência e eu olhei em volta, e sorri ao ver um outro carro estacionado bem ao lado do veículo citado pelo homem ao meu lado.

── Sim, há uma Mercedez aqui também. ── quando eu respondi, ele sorriu baixo e balançou a cabeça em concordância, com o mesmo sorriso cafajeste no rosto. Fiquei alegre o vendo assim, animado. Nunca o vi desse jeito antes e posso garantir que é uma novidade, mas acho que quero vê-lo desse jeito mais vezes.

── Que bom. A minha tia já está aqui.

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