capítulo 7

O dia foi, surpreendentemente, normal. Digo isso pela forma como tudo tem sido extremamente caótico desde que cheguei aqui (e nem faz tanto tempo, o que me deixa apavorada e com medo do que possa acontecer nos próximos dias).

Eu, iludida, achei que Chad iria dar uma trégua pelo menos por hoje, mas num estalar de dedos ele ficou estressado, me dando diversas patadas, até que chegou a insistir para que eu lhe levasse de volta ao seu quarto. Ele garantiu que tinha umas ligações para fazer e eu só o estava atrapalhando.

Como sempre, não rebati as suas duras críticas, somente o levei de volta para o seu quarto. Quando saí de lá, me vi entediada e pensei no que fazer. Infelizmente, não tenho ninguém para conversar a não ser a Maise, mas não confio nela. É uma mulher muito rígida e adora me alfinetar também e eu, particularmente, acho que Chad já é o suficiente para eu lidar e ainda está sendo muito duro suportar essa barra.

Me sentei um pouco em um dos sofás da sala e fiquei por ali, refletindo um pouco. Até que Maise veio na minha direção com um telefone em mãos e estava séria. ── A Sra. Ancelotti quer falar com você, Esther. ── comentou e já entregou o aparelho nas minhas mãos e eu, sem pensar, atendi.

── Olá. ── falei formalmente e ouvi o seu suspiro do outro lado da linha.

── Oi, Esther. Como estão as coisas por aí? Só queria saber se você e o meu filho estão se dando bem. ── ela tentou ser simpática, mas sei que só está fingindo. Não a conheço muito bem, tampouco a sua família, mas sei que são uns atores.

Eles fingem se importar com o filho, mas é tudo mentira. Só se importam consigo mesmos e com dinheiro. ── Estamos nos dando bem, Sra. Ancelotti. Melhor do que eu imaginei que seria, Chad é um homem muito gentil. ── menti na cara dura, mas ela sorriu e eu suspirei inaudivelmente, porque não quero estragar o meu disfarce.

── Que bom que está tudo dando certo, sabia que vocês iriam se dar muito bem. Eu imaginei isso no momento em que te vi pela primeira vez! Sabia que você seria a esposa perfeita para o meu filho. ── eu encarei o anel em meu dedo anelar e me senti mal por tudo o que está acontecendo.

Eu queria me casar, mas preferencialmente, com um homem que eu amasse e me sentisse feliz em compartilhar a minha vida com ele. Chad só me humilha e nem convive muito comigo, mas o pouco que convive já é por obrigação e por não ter mais ninguém que faça qualquer coisa por ele. E também por não poder fazer sozinho, porque se pudesse, eu já estaria na rua. Disso eu tenho absoluta certeza.

── Fico muito feliz em saber disso. ── fingi uma falsa animação com o seu comentário, mas ela não parece se importar.

── Ah, outra coisa... Seus pais me ligaram, estavam perguntando sobre você, muito preocupados... E ficaram felizes também, em saber que você e o Chad estão se conhecendo melhor. Eu espero mesmo que esse sentimento continue e que evolua, porque vocês merecem ser felizes! ── enruguei as sobrancelhas, chocada com tamanho cinismo.

── Sim, Sra. Ancelotti. Eu tenho certeza disso também.

•••

Depois da sessão de tortura que tive com a minha "sogra", eu voltei ao meu quarto, já que queria fazer algumas pesquisas. O pouco que conheço sobre os Ancelotti é que são muito ricos e essa informação não é o suficiente para sanar as minhas dúvidas. Além, é claro, de todo o auê que a mídia criou para comentar sobre o acidente de Chad, dando credibilidade a boatos e espalhando mentiras, de modo que, agora, todos têm até medo e uma visão completamente distorcida dele.

Eu confesso que tinha dó pelo desrespeito que ele sofre diariamente com pessoas que ao menos o conhecem direito, e nem se deram o trabalho de conhecer, somente julgá-lo por causa de boatos que ninguém sabe se são verdadeiros. Hoje eu sei que são falsos, mas muitos por aí não sabem disso.

Já ouvi muito bem sobre a família Ancelotti, sobre a influência que eles exercem no meio social atual, mas nunca soube exatamente o porquê. Poderia ter pesquisado sobre eles antes, mas nunca tive curiosidade, e quando soube que me casaria com Chad, eu não tive forças para isso pois só pensava em chorar e imaginar várias maneiras de acabar com a minha própria vida.

Comecei pesquisando sobre o meu marido. Achei várias matérias sobre ele, boas e ruins, mas me atentei mesmo à sua biografia, onde contava tudo sobre a sua vida, desde que ele nasceu. Um compilado de informações super válidas que eu até me apoiei melhor na cama para ler.

No site, vi a idade de Chad e em quanto a sua fortuna está avaliada. Ele fundou uma editora poucos anos antes de sofrer o acidente, a Spaces. Em pouco tempo, ele se tornou referência na sua cidade e um ano depois, no país. Tudo isso resultado de um grande investimento em marketing e estratégias de divulgação muito eficientes e, claro, ele surfou "um pouco" no hype do seu pai.

E é aí que entra os pais dele. Albert Ancelotti é um jogador de truco profissional. Há anos ele vem fazendo isso, e foi daí que se tornou um ricaço, basicamente sem muitos esforços. Pelo que vi, ele é um viciado e compulsivo em jogos e apostas.

Sua viagem à Las Vegas ("a trabalho", como disse a Jana) foi justamente para um torneio internacional de truco. Eu não fazia ideia de que sua esposa o acompanhava nesses eventos, então foi meio que um grande choque para mim saber que o único da família que trabalha (ou trabalhava) é o Chad e a sua irmã, Charlotte. Jana, a mãe dos dois, não faz nada a não ser acompanhar o marido e apoiá-lo em seu vício.

E não é novidade, já que é através disso que eles são ricos e ostentam tantos luxos na mídia.

Mas toda a riqueza dele não é segura. Albert pode perder tudo a qualquer momento porque é assim que esses jogos funcionam. Ele acha mesmo que está livre de falir?

Ele é famoso por ser muito inteligente e não perder partidas de truco tão facilmente. Ele já venceu de vários outros jogadores, aparentemente muito melhores que ele e que já vinham colecionando prêmios e medalhas por seus esforços. Albert vem acumulando muitas vitórias e não perdeu nenhuma partida nos últimos três anos. Eu fiquei deveras chocada, porque imaginei que ele era um empresário ou algo do tipo.

Já a sua esposa... Ela é diretora de um grupo de leitura para senhoras mais velhas. Basicamente, Jana participa de reuniões para falar sobre livros e tomar chá. Algo tão estúpido que eu fico até sem jeito em saber disso.

Agora tudo faz sentido... Foi por isso que eles casaram o Chad comigo. Com uma qualquer mesmo, porque eu não faço o tipo de nenhuma das exs namoradas de Chad. Ele é bem seletivo, e só namorou com duas em toda a sua vida, e quando sofreu o acidente, já estava solteiro. Até li uma declaração feita por ele na época de seu último término, em que dizia: "agora, eu vou dar um tempo para mim. Não quero perder meu tempo com amores rasos".

Os pais dele precisam percorrer o mundo nas partidas de truco que os mantém ricos e ocupando posições importantes na sociedade. Eles "trabalham" com a sua imagem e é por isso que prenderam o Chad aqui.

Tudo é pior do que eu imaginei que fosse.

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